quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Lição 7 — O Sacerdote Abiatar—por Dmitry Dolgozhitel

Para a semana de 6 a 13 de novembro de 2010

O personagem principal desta semana é um sacerdote que ministrava perante a arca da aliança, e que orava a Deus e recebia respostas diretas das suas orações. E, no entanto, após uma vida de serviço fiel, ele não permaneceu fiel até ao fim. Se um homem de tão alta patente caiu, que esperança há para nós? É possível ter certeza de que ainda estaremos com o Senhor até o fim?

Vejamos um breve resumo da história. O rei no trono era Saul. O povo de Deus tinha implorado por um rei, a fim de "ser como as outras nações." Um rei não fazia parte do plano de Deus para o governo de Israel. Deus sabia que estabelecer um soberano humano traria discórdia ao Seu povo. O rei Saul logo provou que as preocupações de Deus eram justificadas. Quando através de seu sacerdote Deus apontou que Ele tinha "um outro homem ungido para ser rei no lugar de Saul," este ignorou a vontade de Deus e resistiu vigorosamente. No final, Saul matou todos os sacerdotes, porque um deles tinha ajudado a David. O rei, enlouquecido, também matou as famílias dos sacerdotes, e até mesmo o gado na cidade de Nobe, onde a Arca da Aliança estava naquela época. Quando os servos de Saul se recusaram a colocar as mãos sobre os sacerdotes ungidos de Deus, a tarefa foi dada a Doegue, um estrangeiro. Esse homem perverso matou oitenta e cinco sacerdotes.

Abiatar, o único sobrevivente, se refugiou com Davi. Com um profundo sentimento de culpa pelas almas inocentes que tinham morrido, Davi trouxe Abiatar em estreita associação com ele. Foi Abiatar a quem o rei e o povo vieram quando eles precisaram de alguém para falar com Deus por eles. Abiatar sofreu muito com o rei. Quando Absalão, filho de Davi, se revoltou, o sacerdote permaneceu fiel ao rei.

Mas quando chegou a hora de escolher o sucessor de Davi, Abiatar, apoiou o filho mais velho vivo de Davi, Adonias. Certamente ele sabia que Salomão era o escolhido de Deus, e que David planejara que o filho de Bate-Seba ocupasse o trono depois que ele morresse. No entanto, Abiatar colocou sua influência e apoio em um homem a quem a tradição teria feito rei. Desse momento em diante, Abiatar teve problemas. Todo mundo que apoiou Adonias, foi condenado à morte. Salomão disse que Abiatar também merecia morrer, mas tendo em consideração o fato de que ele tinha carregado "a arca da aliança" no tempo de Davi, ele foi autorizado a viver. Mesmo assim, ele foi afastado do sacerdócio e colocado sob prisão domiciliar.

Qual foi o erro de Abiatar? Ele era um político ruim que não pôde prever qual dos filhos de Davi estaria no trono? Certamente, Deus não deixou Abiatar na ignorância sobre este assunto tão importante. Pelo contrário, o Senhor abençoou a coroação de Salomão. Abiatar foi culpado diante de Deus. Mas qual foi o seu primeiro erro? É importante para nós obtermos a resposta a essa pergunta porque se relaciona com nossas próprias vidas.

1ª Pedro 2:9 diz: "Mas vós sois ... um sacerdócio real." Supõe-se que cada crente é, em certo sentido, um sacerdote. Esta é uma responsabilidade grande e tem um enorme significado. Mas o que deve fazer o sacerdote moderno? A resposta mais comum é: "Ele deve falar acerca de Deus." Isto é verdade e, mesmo importante. No entanto, há algo mais.

"E tudo isto provem de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus" (2ª Coríntios 5:18-20).

Desde a queda de Adão, um sacerdote foi chamado para fazer esse trabalho específico. Não é para aplacar um Deus enfurecido. Não é para perdoar pecados. O trabalho do sacerdote sempre foi reconciliar o homem com Deus. Isto continua a ser a atribuição do sacerdote moderno — o ministério da reconciliação. Toda cerimônia, ensino e doutrina deve levar a uma coisa — a oportunidade de um homem se tornar um bom amigo com Deus. Para se tornar amigos, é necessário o homem experimentar o perdão, para banir o medo e se entenderem. O Filho de Deus veio à Terra para cumprir essa missão.

Há dois mil anos, em Israel, uma nação inteira não aceitou o seu Salvador. Por quê? As pessoas tinham as Escrituras. Eles viram os milagres. A única resposta é que a tradição tornou-se o substituto para uma relação viva com o Senhor. Tudo o que minou o padrão habitual de Israel de vida religiosa foi interpretado como uma ameaça. O próprio Filho de Deus tornou-Se tal "ameaça". Conformidade com ritos e tradições sempre foi uma maneira de criar um deus substituto. Esse culto priva as pessoas de uma oportunidade de conhecer e amar o caráter de Deus, e, então, a os impede de habitar no centro da vontade de Deus.

A mesma tendência é vista na história de Abiatar. Algo em sua vida levou ao formalismo. Será que ele começou a tomar os ritos e cerimônias do sacerdócio como algo certo e suficiente para a salvação? Será que ele caiu em um formalismo sem sentido? Nós não sabemos. Mas, nós vemos que ele escolheu a tradição ao decidir a quem apoiar como sucessor no trono. Segundo o costume de longo tempo aceito, o sucessor direto seria Adonias. Abiatar parece ter esquecido que a vontade de Deus é mais importante do que a tradição.

Deus disse a Davi: "Eis que um filho que te nascer será homem de repouso, porque repouso lhe hei de dar de todos os seus inimigos em redor; porquanto Salomão será o seu nome, e paz e descanso darei a Israel nos seus dias. Ele edificará uma casa ao meu nome, e Me será por filho, e Eu Lhe serei por pai, e confirmarei o trono do seu reino sobre Israel para sempre" (1ª Crônicas 22:9-10). É claro que o sacerdote Abiatar não só rejeitou o plano de Davi, ele se opôs a vontade revelada de Deus. Da mesma forma que os judeus se opuseram ao Filho de Deus.

Existem paralelos entre esta história e o nosso tempo? Qual é o nosso ministério? Existe o perigo de que podemos ser seguidores da tradição, em vez de seguidores do Deus vivo, que revelou claramente a Sua vontade?

Por causa da malignidade do homem, este é tentado a colocar cerimônias no lugar de um relacionamento pessoal com Deus. Cerimônias, no decorrer do tempo, tornam-se "tradições sagradas." Simplificando, nós gostamos de manter as "habituais" regras, e presumir que estamos desfrutando de uma sensação de salvação pessoal.

Deus levantou o grande movimento do advento para um propósito. Muitas verdades foram abertas para a compreensão daqueles que estavam em busca da Bíblia. Depois disso, veio o perigo de superioridade arrogante e exclusivismo.1 O mundo, atolado no pecado, não consegue perceber a substituição do "dia de descanso" (o sábado). Poucas pessoas reconhecem o início do "juízo investigativo". Nos esforçamos para provar ao mundo que suas formas de culto são sem sentido, falhas e cegas. Nós pensamos que ao fazer isso nós estamos difundindo o evangelho. Mas, muitos de nós, nos esquecemos de que o que Deus nos confiou como o "povo do juízo" foi o ministério da reconciliação. Este ministério é, de fato, o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo. Nós, o povo de Deus, nos tornamos acostumados com a nossa exclusividade. Mantivemos a nossa "santa tradição" e não sentimos as impressões mais tranquilas do Espírito Santo. O plano de Deus não foi cumprido pela maioria do seu povo em 1888.

Deus enviou Sua “mui preciosa mensagem” (*T.M., p. 91) de reconciliação através de Alonzo T. Jones e Ellet J. Waggoner, com o endosso de Ellen White. Foi uma mensagem bonita e inspiradora, incentivando as pessoas a se reconciliarem com Deus. Esta é a mensagem que temos perdido de vista. "Mas o justo viverá pela fé" (*Habacuque 2:4; Romanos 1:17; Gal 3:11; Hebreus 10:38). Nem o conhecimento do juízo investigativo, nem rigorosa observância do sábado, nem conformidade com outras disposições regulamentares, pode nos dar a salvação. Somente Deus é capaz de nos salvar, e Ele já fez isto. Nossa obra é crer neste fato maravilhoso. "Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que Ele enviou" (João 6:29).

Como podemos ter certeza de que não vamos nos encontrar na mesma situação que Abiatar? Como você pode ter certeza que ainda está com o Senhor? Depende do que você irá escolher seguir: a "santa tradição" ou render-se livremente ao ministério de reconciliação de Deus.

—Dmitry Dolgozhitel

O irmão Dmitry Dolgozhitel vive na Ucrânia, é casado e tem três filhos, e é membro da Igreja Adventista desde 1992. Ele ajuda a organizar e apoiar novos pequenos grupos. Traduz do inglês para a língua russa e publica no site “Crer somente,” na internet, estes mesmos comentários das lições da Escola Sabatina, como neste nosso blog fazemos aqui no Brasil. No mesmo site Ele está disponibilizando, em língua russa, os Materiais de Ellen G. White sobre 1888. Que obra fenomenal!!! São 4 volumes, 1821 páginas.

Nota do tradutor:

1) O dicionário Caldas Aulete assim define exclusivismo, Sistema de exclusão: Exclusivismo de opiniões, de princípios. E cita Eça de Queirós: “Põem um orgulho ... insolente em se diferenciar do resto da nação em tudo ...Naturalmente, um exclusivismo tão acentuado é interpretado como hostilidade.” Cartas da Inglaterra, pág. 77, ed. De 1916.