quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Lição 9: Rispa: A Influência da Fidelidade, por Paul E. Penno

Para a semana de 21-27 de novembro de 2010

À primeira vista, aqui está uma clássica história das escrituras hebraicas de sangue e coragem que deve ser deixada onde está, reservada para o pouco obscuro capítulo de 2ª Samuel 21, em que foi inserida. Ela parece retratar Deus como enviando fome sobre a terra, por causa das violações de Saul do tratado com os gibeonitas, e, sedentos de sangue, necessitando de sacrifícios humanos para aplacar sua ira.

Será que Deus é como o deus pagão gibeonita — Baal — que precisa do sacrifício do (*deus) Mot1 (pela deusa Anat (*irmã de Baal), a fim de restaurar a fertilidade da terra? Se assim for, põe em dúvida toda a questão de como a expiação do pecado é realizada — se por sacrifício humano ou pelo sacrifício (*do Filho) de Deus? A fé de Rispa fornece a resposta.

Fomes frequentes eram uma parte da vida agrária antiga. Quando uma seca, particularmente severa, de três anos, assolou Israel, Davi consultou o Senhor sobre qual era a causa. Foi-lhe dito: "É por causa de Saul e da sua casa sanguinária, porque matou os gibeonitas" (2º Sam. 21:1). Saul violou um tratado que os gibeonitas enganosamente fizeram com Josué (Josué 9:15, 16).

Ao invés de consultar o Senhor para o remédio, David foi aos gibeonitas em busca de uma resposta para o dilema. "Que quereis que eu vos faça? E que satisfação vos darei, para que abençoeis a herança do Senhor?” (2º Sam. 21:3). O acomodamento de Davi para os gibeonitas, a fim de encontrar um meio de expiar a Deus é impressionante. A assimilação das idéias religiosas indica uma falta de discernimento de sua parte.

A resposta gibeonita é que não era uma questão de dinheiro, “nem tampouco pretendemos matar pessoa alguma em Israel” (*vs. 4), pois só o rei tem esse direito sobre os seus súditos. Davi pergunta: “que é, pois, que quereis que vos faça?” E eles respondem: (*Dê-nos) "Sete filhos de Saul." Davi concede seu pedido: dois filhos de Rispa e cinco filhos de Merabe, irmã mais velha de Mical (*KJV, margem) concubina de Saul.

Os gibeonitas levaram os sete para um lugar alto e, ritualmente, os sacrificaram por desmembramento "e expuseram seus corpos em um monte perante o Senhor" (2ª Sam. 21:9, NVI). De acordo com o rito pagão de fertilidade , esse sacrifício servia para restaurar Baal à vida; fazer com que as correntes de água fluíssem; para que chovesse gordura, e para pôr fim à seca que reinou na ausência de Baal. Será que isto cumpriu a sua finalidade? Nenhuma chuva veio. A única consequência deste tipo de violência, que se poderia esperar, era uma espiral em mais assassinatos de vingança por parte dos descendentes de Saul contra os gibeonitas ou mesmo contra os domésticos da casa de Davi.

No entanto, Rispa aparece de repente na cena da execução, quando as partes do corpo foram deixados expostos à desonra e indignidade. Ela retribui amor e paz, por vingança e violência. Ela estabelece uma vigília de seis meses em honra dos mortos defendendo-os de predadores e abutres. Seu luto e arrependimento solitário salvou o rei e a nação da ladeira escorregadia que absorve o conceito pagão de expiação.

Os gibeonitas acreditavam que eles deviam oferecer um sacrifício humano no lugar alto, a fim de apaziguar o irritado Baal, que desapareceu. Só isso vai trazer de volta as chuvas, (*diziam os gibeonitas).

A idéia de oferecer um sacrifício expiatório a uma divindade ofendida foi incorporado pelo cristianismo popular. A visão comum da expiação é que, desde que Deus está irado com os pecadores e Sua justiça foi ofendida, Jesus substitui vicariamente2 os pecadores, e a ira de Deus é apaziguada. A mais aproximada visão protestante é que Deus está zangado com os pecadores, mas porque Ele os ama Ele não derrama a Sua ira sobre eles, mas sobre Seu Filho. Em resumo, Deus que está zangado com os pecadores e precisa de um alvo.

Quando Deus deu o concerto a Abraão (Gên. 15:9-21), a antiga prática de caminhar entre as partes do animal solenizou a promessa de Deus. Abraão "reverentemente passou entre as partes do sacrifício, fazendo a Deus um voto solene de perpétua obediência" (Patriarcas e Profetas, pág. 137). Deus foi representado como um "forno de fumaça e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades" (v. 17), até "consumi-las totalmente," "as vítimas decepadas," apontando para Cristo (ibidem).

Antes do passar de Deus pelas vítimas, simbolizado pelo "forno de fumaça" e "tocha de fogo," Abraão passou entre as vítimas , "fazendo a Deus um voto solene de perpétua obediência " (ibidem). Ellen White escreve: "Vossas promessas e resoluções são como palavras escritas na areia" (Caminho a Cristo, pág. 47, grifamos). Deus não pede promessas de nós, a fim de entrarmos em um concerto com Ele. Deus encontrou "falha nelas" (Heb. 8:8), porque Israel prometera, "tudo o que o Senhor tem falado faremos" (Êxodo 19:8) — fé egocentricamente motivada. O amor de Deus nos leva a crer em Seu concerto "confirmado em melhores promessas" (Heb. 8:6) Suas próprias "melhores promessas".

Quando Abraão passou por entre as vítimas ele representou a Cristo, a verdadeira Semente, através de Quem a promessa de Deus seria cumprida (Gal. 3:16). "E se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão" (Gal. 3:29). Abraão fez um "voto de perpétua obediência a Deus" como o representante da Semente. "Porque todas quantas promessas há de Deus, são nEle sim, e por Ele o Amém" (2ª Coríntios. 1:20). As únicas promessas do concerto eterno em que vale a pena crer, são as mútuas promessas do Pai e do Filho.

Ellen White escreve: "O Senhor condescendeu em fazer um concerto com Seu servo, empregando as mesmas formas que eram usuais entre os homens para a ratificação de um contrato solene" (Patriarcas e Profetas, pág. 137). O costume pagão pela violação de mútuas promessas celebradas era a vítima ser desmembrada ou, ritualmente sacrificada em humilhação. No entanto, o concerto de Deus prometido a Abraão, era uma promessa de terra concedida unilateralmente. Deus divinamente transformou o ritual de desmembramento das vítimas por "totalmente consumi-las." Assim, as vítimas apontavam para Cristo, que carregou a "maldição" de abandonado por Deus na cruz, morrendo nossa segunda morte (Gálatas 3:13).

Cristo fez a escolha de morrer aparentemente amaldiçoado por Deus e totalmente esquecido — a segunda morte. A última tentação de Cristo foi descer da Sua cruz e estar com Seu Pai. Os escarnecedores disseram: "Se és o Filho de Deus, desce da cruz" (Mat. 27:40).

O Pai não abandonou o Seu Filho em Sua hora de maior necessidade. Ele estava lá com Ele. No entanto, o grande conflito com Satanás não permitiria que Ele visivelmente apoiasse Seu Filho, pois Cristo devia suportar a completa ira pelo pecado que assola por dentro, e vence pela fé somente. Como o Portador dos pecados do mundo, Ele sentiu a condenação que todo pecador sentirá quando, finalmente, se sentir abandonado por Deus por causa de sua própria escolha em se isolar dEle (*em O rejeitar).

Cristo orou: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" (Mat. 27:46). Sua oração foi ouvida. "Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dEle o Seu rosto, antes quando Ele clamou, O ouviu" (Salmo 22:24). Morreu vitorioso a despeito todas as evidências externas de derrota. Ele morreu vitorioso sobre as tentações que Lhe vinham do Seu interior para preservar, a todo o custo, o “eu” por rejeitar a vontade de Seu Pai — a cruz. Ele manteve a Sua promessa de ser o Fiador da raça humana. No último momento sua fé, declarou: "Está consumado" (João 19:30).

Ah, que preço pagou Ágape (Amor) pelos pecadores! O Pai e o Filho pagaram o preço por você. Foi com o objetivo de ganhar corações inimigos para Deus.

O que motivou Rispa? Ela entendeu a promessa do concerto eterno de Deus colocar-Se a Si mesmo como sacrifício expiatório dos pecados da nação. Ela escolheu responder pela fé ao grande amor de Deus. Ela nunca falou uma palavra, mas a sua vida e exemplo de arrependimento em uma montanha solitária na identificação com o rei e a nação que se desviavam para o paganismo, chamou a atenção de um mensageiro que relatou isto a Davi.

Em resposta ao "sermão" de Rispa o rei se arrependeu. Ele demonstrou por suas ações que ele estava verdadeiramente triste. Aos cadáveres negligenciados de Saul e Jônatas, e aos dos desmembrados filhos de Saul, foi dado um enterro digno, e a nação os pranteou. Apóso arrependimento corporativo de Rispa "água do céu caiu sobre eles" (2º Sam. 21:10).

Paul E. Penno

Paulo Penno é pastor evangelista da igreja adventista da cidade de Hayward, na Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, localizada no endereço 26400, Gading Road, Hayward, Telefone: 001 XX (510) 782-3422. Ele foi ordenado ao ministério há 38 anos. Após o curso de teologia ele fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente ele preparou uma extensiva antologia dos escritos de A.T. Jones e E. J. Waggoner, a qual está incluída na Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White. Recentemente também ele escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos na História da Ig. Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos, escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de 1888. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim nós usualmente escrevemos seu nome: Paul E. Penno Junior.

Nota do tradutor:

1) Mot era o deus da morte na natureza. Ele era o calor do verão que matava toda a vegetação, uma parte do ciclo da vida, matando assim os humanos, especialmente os fracos e doentes. Sua imagem era um leão, pronto a estraçalhar a humanidade. Ele era impostor (se fazia passar por Baal). Seu sacrifício era para ser executado pela deusa Anat, irmã de Baal. Ela era amável com os da família, mas terrível contra os inimgos de Baal.

2) A palavra “vicário” não aparece em nenhum lugar na Bíblia, nem Ellen White a usou em nenhum de seus livros. A Bíblia não ensina uma substituição vicária, mas uma substituição partilhada. Há uma grande diferença! A primeira é a idéia evangélica popular, e a última é a idéia da mensagem de 1888. Tem havido muita confusão e mesmo má interpretação da parte de pessoas sinceras.

Por identificar-Se corporativamente em cada sentido com nossa humanidade caída, Cristo Se qualificou para ser o segundo Adão; Ele foi assim legalmente qualificado para ser nosso substituto em Sua missão salvadora.

De acordo com esta visão, Cristo não simplesmente viveu uma vida perfeita em nosso lugar, Ele não simplesmente morreu em vez de nós. Ao contrário, Sua obra e Seu falecimento, Sua perfeita vida e morte sacrifical, em verdade mudaram a história da raça humana. Toda a humanidade foi legalmente justificada na cruz porque toda a humanidade estava em Cristo. Quando Ele viveu uma vida perfeita, toda a humanidade viveu uma vida perfeita nEle.Quando Ele morreu, toda a humanidade morreu nEle. Isto é bem diferente do que definir o evangelho como simplesmente uma salvação provisional, como o fazem aqueles que ensinam a visão vicária da substituição.

O conceito de expiação substitucionária presentemente ensinado pelo cristianismo evangélico, e mesmo por alguns adventistas, não nos leva a um completo entendimento da profunda verdade da expiação, especialmente como ensinada pelo apóstolo Paulo. Substituição, geralmente entendida, é uma troca de experiência.

Cristo não morreu de tal modo que nós, em troca possamos viver; mas Ele morreu e ressuscitou sendo nós, a fim de que nós possamos, pela fé, participar em Sua morte e ressurreição. Ao assumir nossa corpórea humanidade pecaminosa e condenada, que necessitava ser redimida, Cristo foi feito pecado, o que nós somos, a fim de que nós possamos ser feitos justiça de Deus nEle (veja 2ª Cor. 5:21). Como o segundo Adão (humanidade) Cristo tomou nosso lugar e morreu nossa morte a fim de que nós possamos ser identificados com Ele, tanto na Sua morte como na Sua ressurreição. Isto é o que o nosso batismo significa (veja Romanos 6:3-11).

Em verdade a palavra “Adão’, em hebraico, caldeu, siríaco, etíope e árabe, significa, primeiramente, o nome da espécie humana, principalmente na Bíblia. (Dicionário Webster, 2ª edição, “The Publishers Guild, inc”, Nova Yorque, 1957).

Aqui é onde a substituição vicária e a real substituição divergem. A primeira ensina uma troca de experiência; enquanto a última ensina uma experiência compartilhada. Somente quando nós, pela fé, nos identificarmos com a cruz de Cristo o evangelho se torna o poder de Deus para a salvação em nossas vidas (veja Gálatas 2:20 e 6:14). Este é o verdadeiro significado do batismo por imersão, que salva (veja Marcos 16:15 e 16).