O Pr. Julius Gilbert White (1878-1955) escreveu um interessante livro intitulado “A Experiência do Cristão na Conquista do Pecado”1, e à pág. 70 ele aborda muito sobre a inspiração da Bíblia
O texto chave para este tema é Salmo 119:11, “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.”
Ele começa citando um texto de Ellen White, que aparece em Fundamentos da Educação Cristã, pág. 189: “A razão por que muitos professos cristãos não têm uma experiência clara e bem definida, é que não julgam ser seu privilégio entender o que Deus declarou mediante a Sua Palavra.”
A Bíblia é um Guia para uma crença correta.
“A Palavra contém a revelação de Deus como Criador e Redentor, e todos os Seus planos e pensamentos nos quais estamos envolvidos—os pensamentos de Deus a respeito de tudo quanto nos preocupa. Revela os Seus ideais aos quais devemos nos conformar. Nos comunica a Sua definição de pecado—todo pecado e nosso pecado em particular. Faz a distinção e traça os limites entre tudo quanto é certo e errado. O único problema de Deus com os homens é o pecado—o pecado deles. O problema do pastor, no que concerne às pessoas é leva-las a verem seus próprios pecados à luz da Palavra de Deus.”
Assim, como vê, essas idéias aqui apresentadas torna-nos claro que a inspiração é a direção divina no desdobrar da vontade de Deus na mente humana. Ele faz isso primeiramente mediante seres humanos que são inspirados a escrever as palavras que Ele os leva a registrar. Daí, essa palavra é comunicada a nós ao lermos tais palavras e assimila-las, tornando-as parte de nosso próprio ser.
Mais adiante esse pastor nos diz:
“A Palavra é o padrão pelo qual todos os indivíduos e todas as suas idéias devem ser medidas, e quando há um conflito com nossas próprias idéias e a Palavra, nossas idéias e opiniões devem ser renunciadas. Sempre devemos recorrer ao estudo da Palavra com nova submissão, buscando luz nova que conflitará com nossas idéias, à qual devemos nos submeter. Esta é a única maneira pela qual devemos ser mudados. Se não o fizermos neste espírito, Ele não nos pode ensinar.
“Temos que estudar a Palavra não meramente para aprender fatos, mas para instrução concernente à nossa própria experiência” (Idem, Pág. 71).
No dia-a-dia, logicamente, defrontamos muitos objetos, armadilhas, fontes de encorajamento, e assim por diante. Há uma lista infindável de coisas com que deparamos no decurso de apenas um dia de nossa vida. Agora, ao aplicar-nos na assimilação das verdades que nos foram dadas por inspiração, podemos encontrar-nos fortificados diante dos ardis e operações do inimigo. Podemos ser fortalecidos para a hora antes do momento da tentação. Podemos receber guia e sabedoria ao buscarmos solução aos problemas do mundo. Assim nos é dito:
“Após revelar nossos pecados, a Palavra explica a penalidade para o pecado,—as conseqüências de pecar; e quem pode conhecer essas conseqüências e não se arrepender dos seus pecados? Assim a Palavra inspira o arrependimento. ... Após o arrependimento a Palavra revela o remédio,—perdão, pois revela Jesus e Seu terno amor pelo pecador, e que Ele está esperando para dar perdão, e, então, poder para obedecer. Quem pode saber que Jesus está esperando para perdoar e não entristecer-se por seus pecados? Então, juntamente com o conhecimento do perdão, a Palavra revela o maravilhoso preço que o amor pagou para propiciar o perdão—a vida do cordeiro imaculado de Deus foi requerida para propiciar perdão para o menor pecado. Quão terrível! Quem poderia entender isso e não ser levado ao arrependimento profundo e sincero? Em todas estas coisas a Palavra nos está mostrando nosso dever para com Deus e o homem, como sumariado na Lei de Deus. A mesma palavra revela o perfeito Padrão (*O Verbo) que viveu como um Homem entre os homens para mostrar uma tradução da lei de Deus em conduta humana, para que possamos contemplar a sua aparência e também a possibilidade de prestar tal obediência.
“Por todas estas razões, a Palavra devia ser estudada diariamente para manter nossa visão clara e para torná-la ainda mais clara. Da Palavra recebemos sabedoria, guia e instrução para todo dever e experiência,—coragem para a batalha, alento para o desânimo e conforto no sofrimento. Dela obtemos amor pelo certo, amor por Deus e o homem; amor pelo perdido, pelo mais baixo pecador e mesmo por nossos inimigos. Dela aprendemos como trabalhar pelas almas. Dela adquirimos esperança para o futuro, pois nossa eterna recompensa é ali descrita” (ibidem).
Isto é o que vem a ser inspiração: O grande, maravilhoso guia para os seres humanos perdidos em pecado, de modo que possamos encontrar o caminho de volta a esse precioso redil onde os eleitos de Deus são reunidos, especialmente aqueles que foram resgatados do grande fosso da iniqüidade no qual a raça humana caiu.
Falando da Fonte da Fé o pr. Júlio White, na mesma pág. 71, nos diz:
“A Palavra é a fonte da fé e a base da fé,—fé deriva de sua leitura e também revela aquilo sobre que repousa a nossa fé.
Ele então cita de Educação, págs. 253 e 254:
“A fé que nos habilita a receber os dons de Deus é em si mesma um dom, do qual certa medida é comunicada a todo ser humano. Ela cresce quando exercitada no apropriar-se da Palavra de Deus. A fim de fortalecer a fé devemos freqüentemente trazê-la em contato com a Palavra.”
E o Pr. Julio White continua: “Quanto mais estudarmos a palavra mais fé teremos e mais forte a nossa fé será. Ninguém necessita ter falta dela, porque é dada em toda a sua abundância que poderíamos desejar.”
É por isso que podemos entender, por exemplo, a fé em seu sentido neotestamentário, é uma apreciação de coração do amor de Deus como revelado na cruz. Nosso alimentar-nos da Palavra de Deus nos traz, como nada mais pode, a demonstração do amor de Deus na entrega de Seu Filho para morrer na cruz do Calvário.
Também encontramos desse autor estas palavras com respeito à Bíblia como Veículo do Poder de Deus. Se a Bíblia é inspirada, como temos buscado destacar, a inspiração, logicamente, se torna o veículo de Seu poder.
“Todos quantos querem ser cristãos são fracos, e essa fraqueza é a fonte de muitas falhas porque as pessoas não entendem como apegar-se ao poder divino que nos é oferecido. É contido nas palavras de Deus. Isto é verdade, e veremos agora como este poder opera na vida dos homens. Em João 6: 48-50, 53, 58 e 63 encontramos pensamentos que ressaltam essa idéia: “as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (idem, págs. 71 e 72).
Que é inspiração?: é Espírito e Vida, porque a inspiração nos dá a Palavra de Deus. Do livro Atos dos Apóstolos, ò Pr. Júlio nos cita da pág. 520: “A Palavra de Deus—a verdade—é o conduto pelo qual o Senhor manifesta o Seu espírito e poder.”
“Poder da Palavra”—é o próximo tópico na página 72. Leia antes Mat. 13: 16-23 e Lucas 8: 11, a parábola do semeador.
A Palavra de Deus, que nos vem por inspiração, é para nós a preciosa semente lançada em nosso solo. Nós somos capazes de determinar se esse solo será do tipo que nos é descrito aqui como bom terreno, e aquele que ouve a Palavra, a atende, e produz frutos, multiplicando-o alguns cem vezes, outros sessenta, outros trinta. Agora ouça alguns pensamentos do pr. Júlio White:
“Cada grão de trigo tem em si mesmo poder para produzir sua própria espécie até 100 vezes mais. Essa multiplicação do grão é ato de Deus, e está inteiramente além do poder do homem praticar. Após relatar a parábola, Jesus declarou: ‘A semente é a Palavra de Deus que é semeada na mente dos homens, contendo, essa semente, o mesmo poder miraculoso da multiplicação. Assim a pessoa recebe em sua mente um dos pensamentos divinos e ali o mantém. Como o solo conserva a semente ele produzirá mais pensamentos divinos na mente—começará uma série de pensamentos, todos sendo divinos como o primeiro recebido. Se homens e mulheres, meninos e meninas receberem somente bons pensamentos em suas mentes, no tempo devido suas mentes estarão cheias de pensamentos divinos e o mal será vencido pelo poder de Deus que está em Sua Palavra” (Idem, pág. 72).
Podemos obter disso a verdadeira natureza da inspiração. É o soprar do próprio Deus, por assim dizer, na vida de homens e mulheres que compreendem a humanidade caída em pecado. O grande plano de Deus é resgatar homens e mulheres, meninos e meninas, desse pântano de iniqüidade no redil do Seu Reino. E Ele faz isto mediante essa questão da inspiração. É o meio pelo qual a Sua Palavra nos vem e se revela a nós como o caminho que conduz ao Reino dos Céus automaticamente. Outro parágrafo nos diz:
“A multiplicação de pensamentos divinos é tanto um milagre além do poder do homem realizar, como a multiplicação das sementes lançadas sobre o solo. E Jesus quer que aprendamos a lição do poder contido na Palavra de Deus, do poder que sabemos estar na semente. Esse é o divino ministério que à Palavra de Deus é dado operar nos corações humanos. Mas nossa dificuldade é que freqüentemente semeamos o bem com o mal. Fixamos nossos olhos sobre o mal e pensamos a seu respeito. Muitas pessoas, jovens e velhos, lêem literatura falsa, irreal, um lixo sem sentido, o que seria como empregar ‘madeira, palha e feno’ (*1ª Cor. 3:12), para construir um edifício que esperamos vá durar para sempre. Muitas pessoas ouvem coisas sem proveito no rádio (*e poderíamos acrescentar hoje, vêem coisas na televisão e na intenet), para fofocar, e de muitos modos enchem a mente com pensamentos que conduzem para baixo.
“Deve ser claramente entendido que os pensamentos são as sementes da qual crescem palavras e atos que constituem a vida, e que a vida, ações, e palavras não podem ser renovadas enquanto pensamentos maus são continuamente recebidos pelo uso errado dos cinco sentidos. Pensamos sobre o que vemos, ouvimos, tocamos, provamos e cheiramos. Esses sentidos são as fontes do pensamento. Seja o que entre na mente mediante esses portais, mais tarde surgirão como palavras ou ações. A única maneira de controlar o sai é controlar o que entra’ (Ibidem).
Como você vê, a inspiração torna possível a Palavra de Deus ser levada à mente humana. Essa palavra tem um poder transformador. Isso é inspiração. Esta obra de produzir o tipo de multiplicação de pensamento que se desenvolve em palavras e atos—inspiração, é o meio pelo qual Deus é capaz de imbuir-nos de Seu poder, encher-nos de Seu Espírito, Seu caráter, transformar-nos à Sua semelhança, e então fazer-nos caminhar de modo como Ele escolhe. É o caminho pelo qual nós nos tornamos o sal da terra e a luz do mundo, é o caminho que conduzirá finalmente aos portais de pérola da cidade eterna e do Reino de Deus.
“O uso que fazemos de nossos cinco sentidos determina o caráter e destino. Esse uso determina se nos valemos da Palavra de Deus que é o veículo de Seu poder.”
Henry Varnum, no livro Caráter, à pág. 44, nos diz que “a fim de que seus pensamentos sejam como queira que sejam você deve cuidadosamente escolher o seu alimento mental.”
E de Educação, pág. 126 e 127: “A mente e a alma são constituídas por aquilo de que se alimentam; fica a nosso cargo decidir com que se alimentem. Está dentro das possibilidades de qualquer pessoa escolher os tópicos que ocuparão os pensamentos e moldarão o caráter.”
E de Testimonies, vol. 5, pág. 544: “Os pensamentos serão do mesmo caráter que o alimento que provemos para a mente.”
O que a inspiração fez? Nos deu um desdobramento dos planos de Deus para nós. O que fazemos com ela é nossa responsabilidade. Deus não forçará nossa liberdade de escolha. Não nos obriga a assimilar o que Ele nos deu. Se a inspiração proveu para nós a Palavra de Deus, nós fazemos a escolha se esta Palavra se tornará parte de nossas mentes e do nosso ser.
Notem esta bela citação de Caminho a Cristo, pág. 93 do original, (pág. 75 da edição de bolso, mas em outras edições está à pág. 88, 3º §):
“Enchei o coração todo com as palavras de Deus. São elas a água viva, a mitigar vossa sede ardente. São o pão vivo do Céu. Jesus declara: ‘Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos’ (João 6:53). E Ele mesmo explica essa declaração, dizendo: ‘As palavras que Eu vos disse são espírito e vida’ (João 6: 53 e 63). Nosso corpo é formado pelo que comemos e bebemos; e como se dá na economia natural, assim também na espiritual; é aquilo em que meditamos, que dará força e vigor à nossa natureza espiritual.”
Tenha um feliz sábado,
Lhe deseja o irmão em Cristo,
João Soares da Silveira.
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