(Colhido da revista adventista The Present Truth, de 23 de março de 1893)
Antes de Jesus voltar da terra ao céu, Ele prometeu enviar o Consolador — o Espírito Santo — para habitar com o seu povo para sempre, como seu representante. Considerando que foi pela unção do Espírito que Ele cumpriu toda a Sua obra aqui na terra (ver Isaías 61:1-3), é evidente que a presença do Espírito é o mesmo que a presença do Senhor. O Espírito prossegue na mesma instrução, conselhos e obras de amor que vem de Cristo.
Ao prometer o Consolador, Jesus disse: "E quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo" (João 16:8). "Pela lei vem o conhecimento do pecado" (Romanos 3:20). Mas "a lei é espiritual" (Romanos 7:14). É a natureza do Espírito, pois a justiça da lei é o fruto do Espírito. Portanto, não há convicção do pecado, em qualquer alma na terra que não seja a obra do Espírito de Deus.
Mas, enquanto o Espírito convence do pecado é sempre um Consolador. É como um Consolador que convence. Poucas pessoas param para pensar nisso. Lembre-se de que em nenhum lugar é dito que o Espírito condena pelo pecado. Há uma diferença entre convicção e condenação. A convicção é a revelação do pecado. Mas depende, obviamente, da conduta da pessoa depois que ele foi convencido do pecado, se ele vai ser condenado ou não. Pois "a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" (João 3:19). O simples apontar para uma pessoa que ele é um pecador não é condenação, a condenação vem de apegar-se ao pecado, depois que lho é revelado.
Deixe a mente captar o pensamento de que o mesmo Espírito que convence do pecado também convence da justiça. É sempre um Consolador. O Espírito não deixar de lado uma função, enquanto executa outra. Não deixa de lado a revelação da justiça quando convence do pecado, nem abandona o ofício de convencedor do pecado, quando revela a justiça. Ele faz as duas coisas ao mesmo tempo, e aqui está o conforto para todos aqueles que irão recebe-Lo. Ele convence do pecado, porque convence da justiça. Mas vamos considerar esta questão um pouco, e então meditar sobre ela.
O Espírito Santo é o Espírito de Deus — o Espírito do Pai e do Filho. Portanto, a justiça revelada por Ele é a justiça de Deus. Agora, é só por olhar para a justiça que nós podemos conhecer o pecado e sua pecaminosidade. A lei, pela qual vem o conhecimento do pecado, não é pecado, mas é a expressão da justiça de Deus. Um homem pode olhar para o pecado, e se ele nunca viu nada mais, ele vai pensar que está tudo certo. Mesmo quem conhece o direito, pode perder tal conhecimento, olhando para o pecado, devido à grande sedução do pecado. Assim, o Espírito deve revelar a justiça de Deus em Sua lei antes que o pecador possa conhecer o pecado como pecado. O apóstolo diz que, "eu não conheci o pecado, senão pela lei" (Romanos 7:7). Assim é como revelador da perfeita justiça de Deus que o Espírito convence do pecado.
É evidente, portanto, que quanto mais perto alguém se chega a Deus, obtendo assim uma visão mais perfeita dEle, maior será o seu senso de suas próprias imperfeições. Ele recebe este conhecimento do pecado, não se auto-estudando, mas por olhar a Deus. Como exemplo, tome o homem em relação às obras de Deus. Quando é que alguém sente a sua insignificância tanto como quando está no meio do oceano, ou de frente para ele? Sua vastidão lhe faz sentir a sua pequenez. Assim (*também), quando alguém está no meio das altas montanhas. Em tal ocasião, não se tem que olhar para si mesmo para perceber quão pequeno é. É olhando para cima — contemplando as maravilhas de Deus — que ele percebe que comparativamente não é nada. O salmista diz: "Quando vejo os Teus céus, obra dos Teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que Te lembres dele? e o filho do homem, que o visites?" (Salmo 8:3, 4).
Se isto é um resultado do contato com, e da contemplação das obras de Deus, qual deve ser o resultado quando se considera o caráter do próprio Deus? "Porque o Senhor Deus é um sol" (Salmo 84:11). Ele é maior do que todos os céus. "A tua justiça é como as grandes montanhas; os teus juízos são um grande abismo" (Salmo 36:6). Quando ao contemplarmos as obras visíveis das mãos de Deus sentimos a nossa própria insignificância física, também ao contemplarmos a justiça de Deus, tornamo-nos conscientes de nossa falta de espiritualidade. Agora, a mensagem de conforto que Deus envia a Seu povo, especialmente para os dias imediatamente anteriores à sua vinda, é esta: "Eis o vosso Deus!" (Isaías 35:4). Isso significa que, como uma preparação necessária para a Sua vinda, Ele quer que conheçamos a nossa própria falta de justiça, por contemplar a Sua justiça.
Até aqui falamos do conhecimento do pecado pela justiça de Deus. Agora, observe o conforto que existe nessa mesma convicção de pecado. Lembre-se que a sensibilidade pela falta de justiça é causada pela revelação da justiça de Deus. Lembre-se também que o Espírito que convence do pecado e da justiça, é dado aos homens. Cristo disse: "Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê, nem o conhece, mas vós O conheceis, porque Ele habita convosco e estará em vós" (João 14:16, 17).
O que necessariamente se conclui disso? Apenas isso, que quem aceita o Espírito (que, por revelação da justiça de Deus convence a alma do pecado e lhe permite permanecer com ele), desse modo recebe a justiça que Ele traz. O senso de necessidade é, em si, a promessa de provisão. É Deus que produz uma sensação de falta de justiça, que é a convicção do pecado. Mas Ele não faz isso para insultar o pecador, e levá-lo ao desespero. Ele faz isso com a finalidade de deixar o pecador saber que Ele tem o que lhe suprirá abundantemente tudo o que lhe falta. Na verdade, é pela própria provisão do fornecimento de justiça, que a alma conhece que é ingênua. Portanto, qualquer que tomar a Deus exatamente por Sua palavra, não precisa estar sob condenação por um único minuto, apesar de sempre e sempre de novo, consciente de suas próprias imperfeições. Ao cada novo defeito ser apontado, ele pode gritar: "Ó Senhor, agradeço-Te que tens essa nova coisa para me dar, e eu a tomo tão graciosamente como Tu a dás." Esta é a verdadeira alegria no Senhor.
Esta é a verdade que Deus estava tentando ensinar a Israel antigo, quando falou a Sua lei do Sinai, e é o que Ele tem sido ansioso para que nós possamos aprender todos estes anos. A lei foi ordenada "na mão de um Mediador" (Gálatas 3:19). Ou seja, nas mãos de Cristo, porque Ele é o "único Mediador entre Deus e o homem" (1ª Timóteo 2:5). Ele é mediador, porque Ele nos reconcilia com Deus. Desde que a inimizade consiste no fato de que não estamos sujeitos à lei de Deus, a reconciliação consiste em colocar a referida lei no coração e na mente. Portanto, Cristo é o Mediador porque Ele é o meio através do qual a justiça de Deus é transmitida para nós.
Isto foi fortemente ilustrado na outorga da lei no Sinai. Algum tempo antes o povo estava a perecer de sede, e “Deus disse a Moisés: Passa adiante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel; e toma na tua mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai. Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a Rocha em Horebe, e tu ferirás a Rocha, e dela sairão águas para que o povo possa beber" (Êxodo 17:5, 6). Isso foi feito, e o povo bebeu e foram revigorados. Mas a água que bebiam era milagrosamente dada por Cristo. Na verdade veio diretamente dEle. O apóstolo Paulo diz, "porque bebiam da Pedra espiritual que os seguia; e que a Pedra era Cristo" (1ª Coríntios 10:4). A Rocha que o povo viu, e que Moisés feriu, era um símbolo de Cristo.
Mas Horebe é outro nome para Sinai.2 Assim que a lei de Deus foi falada da própria montanha a partir do qual Deus tinha causado a água a fluir, que até então estava a saciar a sua sede. Quando Deus desceu sobre o monte, (*a Rocha) era a própria personificação dEle e de Sua lei. Nenhum homem poderia tocá-la sem morrer. No entanto, a partir dela, ao mesmo tempo a água que dava vida estava fluindo. Esta água que veio de Cristo, é um símbolo do Espírito, que é dado a todos os que crêem. Veja João 4:10, 13, 14; 7:37-39. Nesse evento Deus nos deu uma grande parábola. Embora a lei dê o conhecimento do pecado, e o pecado é a morte, a lei vem-nos nas mãos de um Mediador, ministrada a nós pelo Espírito, e "a lei do Espírito de vida,
Não há nisto a própria essência de conforto? No mesmo momento em que o conhecimento do pecado vem a nós, a justiça para cobrir e tirar todo o pecado é revelada. "Onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20). A lei que convence é espiritual, e o Espírito é a água da vida que é dada gratuitamente a todos que tomarem dela. Poderia alguma coisa superar a maravilhosa provisão da graça do " o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação"? (*2ª Cor. 1:3). Quem não vai beber e beber de novo, e será assim continuamente saciado?
"Ouvi Jesus a me dizer:
‘Da água viva Eu dou;
Ó vem, de graça vem beber,
Pois Eu a fonte Sou.”
Eu vim a Cristo e me prostrei
Às águas e bebi;
Jamais a sede sentirei,
Estando eu sempre aqui".1
Ver Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, págs. 91 e 92.
(*Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira)
Notas do tradutor:
1) Hino 465 do Hinário Adventista americano; 187 do Hinário Adventista brasileiro e 192 e 239 do nosso antigo hinário Cantai ao Senhor. Entre estes dois últimos há uma pequena variação de termos, mas o sentido é o mesmo.
2) O Monte Sinai ( também conhecido como Monte Horebe ou Jebel Musa, (Monte de Moisés”) em árabe, está situado no sul da península do Sinai, no Egito. Esta rigião é considerada sagrada por três religiões: cristianismo; judaísmo e islão. (pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Sinai).
3) As ênfases em negrito e sublinhado são de Waggoner, os itálicos nos textos bíblicos são nossos.
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