sábado, 13 de março de 2010

Justiça, O Fruto do Espírito, por Ellet J. Waggoner

(Colhido da revista adventista The Present Truth, de 23 de março de 1893)

Antes de Jesus voltar da terra ao céu, Ele prometeu enviar o Consolador — o Espírito Santo — para habitar com o seu povo para sempre, como seu representante. Considerando que foi pela unção do Espírito que Ele cumpriu toda a Sua obra aqui na terra (ver Isaías 61:1-3), é evidente que a presença do Espírito é o mesmo que a presença do Senhor. O Espírito prossegue na mesma instrução, conselhos e obras de amor que vem de Cristo.

Ao prometer o Consolador, Jesus disse: "E quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo" (João 16:8). "Pela lei vem o conhecimento do pecado" (Romanos 3:20). Mas "a lei é espiritual" (Romanos 7:14). É a natureza do Espírito, pois a justiça da lei é o fruto do Espírito. Portanto, não há convicção do pecado, em qualquer alma na terra que não seja a obra do Espírito de Deus.

Mas, enquanto o Espírito convence do pecado é sempre um Consolador. É como um Consolador que convence. Poucas pessoas param para pensar nisso. Lembre-se de que em nenhum lugar é dito que o Espírito condena pelo pecado. Há uma diferença entre convicção e condenação. A convicção é a revelação do pecado. Mas depende, obviamente, da conduta da pessoa depois que ele foi convencido do pecado, se ele vai ser condenado ou não. Pois "a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más" (João 3:19). O simples apontar para uma pessoa que ele é um pecador não é condenação, a condenação vem de apegar-se ao pecado, depois que lho é revelado.

Deixe a mente captar o pensamento de que o mesmo Espírito que convence do pecado também convence da justiça. É sempre um Consolador. O Espírito não deixar de lado uma função, enquanto executa outra. Não deixa de lado a revelação da justiça quando convence do pecado, nem abandona o ofício de convencedor do pecado, quando revela a justiça. Ele faz as duas coisas ao mesmo tempo, e aqui está o conforto para todos aqueles que irão recebe-Lo. Ele convence do pecado, porque convence da justiça. Mas vamos considerar esta questão um pouco, e então meditar sobre ela.

O Espírito Santo é o Espírito de Deus — o Espírito do Pai e do Filho. Portanto, a justiça revelada por Ele é a justiça de Deus. Agora, é só por olhar para a justiça que nós podemos conhecer o pecado e sua pecaminosidade. A lei, pela qual vem o conhecimento do pecado, não é pecado, mas é a expressão da justiça de Deus. Um homem pode olhar para o pecado, e se ele nunca viu nada mais, ele vai pensar que está tudo certo. Mesmo quem conhece o direito, pode perder tal conhecimento, olhando para o pecado, devido à grande sedução do pecado. Assim, o Espírito deve revelar a justiça de Deus em Sua lei antes que o pecador possa conhecer o pecado como pecado. O apóstolo diz que, "eu não conheci o pecado, senão pela lei" (Romanos 7:7). Assim é como revelador da perfeita justiça de Deus que o Espírito convence do pecado.

É evidente, portanto, que quanto mais perto alguém se chega a Deus, obtendo assim uma visão mais perfeita dEle, maior será o seu senso de suas próprias imperfeições. Ele recebe este conhecimento do pecado, não se auto-estudando, mas por olhar a Deus. Como exemplo, tome o homem em relação às obras de Deus. Quando é que alguém sente a sua insignificância tanto como quando está no meio do oceano, ou de frente para ele? Sua vastidão lhe faz sentir a sua pequenez. Assim (*também), quando alguém está no meio das altas montanhas. Em tal ocasião, não se tem que olhar para si mesmo para perceber quão pequeno é. É olhando para cima — contemplando as maravilhas de Deus — que ele percebe que comparativamente não é nada. O salmista diz: "Quando vejo os Teus céus, obra dos Teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que Te lembres dele? e o filho do homem, que o visites?" (Salmo 8:3, 4).

Se isto é um resultado do contato com, e da contemplação das obras de Deus, qual deve ser o resultado quando se considera o caráter do próprio Deus? "Porque o Senhor Deus é um sol" (Salmo 84:11). Ele é maior do que todos os céus. "A tua justiça é como as grandes montanhas; os teus juízos são um grande abismo" (Salmo 36:6). Quando ao contemplarmos as obras visíveis das mãos de Deus sentimos a nossa própria insignificância física, também ao contemplarmos a justiça de Deus, tornamo-nos conscientes de nossa falta de espiritualidade. Agora, a mensagem de conforto que Deus envia a Seu povo, especialmente para os dias imediatamente anteriores à sua vinda, é esta: "Eis o vosso Deus!" (Isaías 35:4). Isso significa que, como uma preparação necessária para a Sua vinda, Ele quer que conheçamos a nossa própria falta de justiça, por contemplar a Sua justiça.

Até aqui falamos do conhecimento do pecado pela justiça de Deus. Agora, observe o conforto que existe nessa mesma convicção de pecado. Lembre-se que a sensibilidade pela falta de justiça é causada pela revelação da justiça de Deus. Lembre-se também que o Espírito que convence do pecado e da justiça, é dado aos homens. Cristo disse: "Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê, nem o conhece, mas vós O conheceis, porque Ele habita convosco e estará em vós" (João 14:16, 17).

O que necessariamente se conclui disso? Apenas isso, que quem aceita o Espírito (que, por revelação da justiça de Deus convence a alma do pecado e lhe permite permanecer com ele), desse modo recebe a justiça que Ele traz. O senso de necessidade é, em si, a promessa de provisão. É Deus que produz uma sensação de falta de justiça, que é a convicção do pecado. Mas Ele não faz isso para insultar o pecador, e levá-lo ao desespero. Ele faz isso com a finalidade de deixar o pecador saber que Ele tem o que lhe suprirá abundantemente tudo o que lhe falta. Na verdade, é pela própria provisão do fornecimento de justiça, que a alma conhece que é ingênua. Portanto, qualquer que tomar a Deus exatamente por Sua palavra, não precisa estar sob condenação por um único minuto, apesar de sempre e sempre de novo, consciente de suas próprias imperfeições. Ao cada novo defeito ser apontado, ele pode gritar: "Ó Senhor, agradeço-Te que tens essa nova coisa para me dar, e eu a tomo tão graciosamente como Tu a dás." Esta é a verdadeira alegria no Senhor.

Esta é a verdade que Deus estava tentando ensinar a Israel antigo, quando falou a Sua lei do Sinai, e é o que Ele tem sido ansioso para que nós possamos aprender todos estes anos. A lei foi ordenada "na mão de um Mediador" (Gálatas 3:19). Ou seja, nas mãos de Cristo, porque Ele é o "único Mediador entre Deus e o homem" (1ª Timóteo 2:5). Ele é mediador, porque Ele nos reconcilia com Deus. Desde que a inimizade consiste no fato de que não estamos sujeitos à lei de Deus, a reconciliação consiste em colocar a referida lei no coração e na mente. Portanto, Cristo é o Mediador porque Ele é o meio através do qual a justiça de Deus é transmitida para nós.

Isto foi fortemente ilustrado na outorga da lei no Sinai. Algum tempo antes o povo estava a perecer de sede, e “Deus disse a Moisés: Passa adiante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel; e toma na tua mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai. Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a Rocha em Horebe, e tu ferirás a Rocha, e dela sairão águas para que o povo possa beber" (Êxodo 17:5, 6). Isso foi feito, e o povo bebeu e foram revigorados. Mas a água que bebiam era milagrosamente dada por Cristo. Na verdade veio diretamente dEle. O apóstolo Paulo diz, "porque bebiam da Pedra espiritual que os seguia; e que a Pedra era Cristo" (1ª Coríntios 10:4). A Rocha que o povo viu, e que Moisés feriu, era um símbolo de Cristo.

Mas Horebe é outro nome para Sinai.2 Assim que a lei de Deus foi falada da própria montanha a partir do qual Deus tinha causado a água a fluir, que até então estava a saciar a sua sede. Quando Deus desceu sobre o monte, (*a Rocha) era a própria personificação dEle e de Sua lei. Nenhum homem poderia tocá-la sem morrer. No entanto, a partir dela, ao mesmo tempo a água que dava vida estava fluindo. Esta água que veio de Cristo, é um símbolo do Espírito, que é dado a todos os que crêem. Veja João 4:10, 13, 14; 7:37-39. Nesse evento Deus nos deu uma grande parábola. Embora a lei dê o conhecimento do pecado, e o pecado é a morte, a lei vem-nos nas mãos de um Mediador, ministrada a nós pelo Espírito, e "a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus"(*Rom 8:2), nos torna livres da lei do pecado e da morte. É assim que o mandamento de Deus é vida eterna.

Não há nisto a própria essência de conforto? No mesmo momento em que o conhecimento do pecado vem a nós, a justiça para cobrir e tirar todo o pecado é revelada. "Onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20). A lei que convence é espiritual, e o Espírito é a água da vida que é dada gratuitamente a todos que tomarem dela. Poderia alguma coisa superar a maravilhosa provisão da graça do " o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação"? (*2ª Cor. 1:3). Quem não vai beber e beber de novo, e será assim continuamente saciado?

"Ouvi Jesus a me dizer:
Da água viva Eu dou;
Ó vem, de graça vem beber,
Pois Eu a fonte Sou.”

Eu vim a Cristo e me prostrei
Às águas e bebi;
Jamais a sede sentirei,
Estando eu sempre aqui".1

Ver Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, págs. 91 e 92.

(*Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira)

Notas do tradutor:

1) Hino 465 do Hinário Adventista americano; 187 do Hinário Adventista brasileiro e 192 e 239 do nosso antigo hinário Cantai ao Senhor. Entre estes dois últimos há uma pequena variação de termos, mas o sentido é o mesmo.

2) O Monte Sinai ( também conhecido como Monte Horebe ou Jebel Musa, (Monte de Moisés”) em árabe, está situado no sul da península do Sinai, no Egito. Esta rigião é considerada sagrada por três religiões: cristianismo; judaísmo e islão. (pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Sinai).

3) As ênfases em negrito e sublinhado são de Waggoner, os itálicos nos textos bíblicos são nossos.

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