sexta-feira, 4 de junho de 2010

Lição 10 — Integridade, por Patti Guthrie

Quando eu tinha sete ou oito anos, meus pais me levavam para a Escola Sabatina a cada semana na Igreja Sligo, (*na cidade de) Silver Spring, (*Estado de) Maryland (*nos EUA). Meu pai, na época, lecionava no Colégio da União Colúmbia e Sligo era a mais próxima igreja da nossa casa na avenida Carroll. Não me lembro de muita coisa sobre a minha principal classe da Escola Sab, exceto que ela era grande, e eu tinha que usar meias sociais e sapatos de couro preto para ir à igreja.

Depois do início da Escola Sabatina, dirigiamo-nos para classes menores de seis ou sete alunos para o estudo da lição. Nós nos sentavamos em volta da mesa, e antes de começar a aula, o professor abria o livro de registro e perguntava a cada um de nós; "Você estudou sua lição da Escola Sabatina a cada dia desta semana?"

"Sim", eu respondia. A pressão dos colegas era terrível. Eu sempre levantava a minha mão afirmando que eu tinha estudado a lição, e cada sábado, depois da igreja, levava para minha casa a lição dos primários e uma carga de culpa. Eu não queria mentir, mas era mais importante impressionar o professor e os alunos do que não admitir que eu não havia estudado a lição diariamente. Não, eu realmente não tinha estudado a lição a cada dia da semana. Eu carreguei a carga deste (e outros pecados) por anos. Eu senti que, para ser perdoada, devia confessar. Mas, para quem? Nesse meio tempo, nós nos mudamos para longe, e eu não conseguia lembrar o nome do meu professor. Como eu poderia confessar a ele minha mentira?

Os adventistas do sétimo dia apegam-se a um padrão elevado. Quando eu estava crescendo, expressões como "perfeição", “vencer o pecado,” "arrependimento", e o "remanescente," faziam parte do vocabulário da igreja adventista. Eu nasci em uma família que havia escolhido fazer parte dos que guardam os mandamentos de Deus. Isso é o que pretendemos ser. Mas no meu coração eu sabia que eu não estava vivendo uma vida de integridade. Talvez eu pudesse enganar meus pais ou professores algumas vezes, mas por dentro eu senti que até a minha alma estava podre.

Integridade é uma questão de coração. É mais do que fazer a coisa certa quando alguém está olhando ou quando queremos dar uma boa impressão. Uma vida de integridade é a consciência de que todas as nossas ações, intenções e pensamentos estão abertos ao Deus do universo. Nós podemos nos enganar a nós mesmos, a outros membros da igreja, talvez até mesmo ao nosso cônjuge (o que é mais difícil de se fazer!), ou os nossos vizinhos a pensarem que somos muito bons, mas não podemos enganar a Deus. Ele nos vê como somos - "infelizes, miseráveis, pobres cegos e nus" (Apocalipse 3:17).

Paulo expressa eloquentemente esta condição em Romanos capítulo 7: "Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que quando quero fazer o bem o mal está comigo, porque segundo o homem interior tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" (Vs. 19-24)

Essa é a pergunta que todos queremos seja respondida, não é? Não é que nós não queiramos viver uma vida de integridade, mas é porque estamos aprisionados em corpos que não querem colaborar. Se Paulo tivesse terminado seu tratado ali, estaríamos sem esperança. Mas graças a Deus, há mais! Paulo diz: "Dou graças a Deus — por Cristo nosso Senhor! Assim que com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado" (vs.25).

Como podemos servir a lei de Deus com nossas mentes, em vez da lei do pecado com a nossa carne?

Eis aí como a beleza da mensagem do evangelho, tal como apresentada em 1888, tem sido uma fonte de grande conforto e encorajamento para mim. Não é nada complicado — é apenas a mensagem preciosa de Jesus e o que Ele fez por cada um de nós pessoalmente, para nos libertar deste “corpo desta morte”.

O que Ele fez?

Paulo explica ainda em Romanos, capítulo 8: "Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, por causa do pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne, mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz" (vs. 2-6).

Parece-me que Paulo está nos dizendo que Cristo tem lidado com o problema do pecado que habita em nossa própria natureza, tomando-a sobre Si, e crucificando-a cada dia. Nem uma única vez cedeu Ele aos desejos ardentes da nossa natureza pecaminosa. Manteve-a sob sujeição à mente como dirigida pelo Espírito Santo.

A única maneira de viver uma vida de verdadeira integridade é crucificar a carne com seus desejos e viver com a mente de Cristo. Devemos pedir a Deus para nos dar corações honestos. Eu não tenho vivido uma vida de integridade, e você? Estamos nós simplesmente escondendo esse fato, pedindo a Deus que nos perdoe, e esperando que ninguém descubra o quão ruim realmente somos?

Anos mais tarde, tanto quanto posso me lembrar, eu escrevi uma carta ao superintendente da Escola Sabatina da igreja Sligo. Eu não sabia o nome dele, mas confessei o que eu tinha feito. Eu sabia que Deus havia me perdoado, mas eu queria que alguém lá soubesse o que eu tinha feito.

Se você, como eu, lutou para viver uma vida de integridade e falhou, o que a Bíblia nos diz para fazer? A Bíblia tem uma resposta para cada coisa. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos pecado, fazemo-lo mentiroso, e a Sua palavra não está em nós" (1ª João 1:9 e 10). "Confessai as vossas culpas [pecados] uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tiago 5:16).

E a quem devemos confessar? Àqueles que são afetados pelos nossos erros. Alguns pecados são privados e conhecidos apenas por Deus, mas muito mais afetam aqueles ao nosso redor. Quando percebemos o que temos feito, tentamos manter isso em segredo para preservar a nossa reputação? Não, nós "confessamos os nossos pecados uns aos outros."

Para o culto familiar, todas as noites, passamos por volta dos três últimos meses lendo O Lar Adventista. Agora que meus filhos estão na adolescência ou mais velhos, eu leio estas páginas com novos olhos. Eu me Vejo em maneiras que eu não tinha me enxergado antes. Você sabia que quando uma mãe é inquieta, impaciente, e xingadora, ela está ferindo o coração de seu filho e perdendo os afetos dele? Eu acho que eu esqueci.

Eu já havia lido aquele livro antes, mas desta vez estas palavras me chocaram. Quando nossos filhos eram pequenos, eu era frequentemente uma mãe inquieta, impaciente, e xingadora, e agora era impossível voltar atrás aos primeiros anos passados. Eu nunca poderia recuperar as duras palavras proferidas. Chorei por três dias quando me conscientizei da enormidade do meu pecado. Para quem devo confessar? Para Deus? Certamente que sim. Mas as minhas palavras ferem mais do que a Ele. Elas feriram meus filhos e meu marido também. Eles também merecem a minha confissão, sem desculpa.

Para onde vamos quando somos sobressaltados por nossos pecados? Para a cruz de Cristo. Pode você se unir a mim lá? Há espaço para todos nós. Quando vemos o que os nossos pecados fizeram ao nosso Salvador — e aos nossos amigos e familiares — vamos confessá-los francamente — mesmo que seja com lágrimas — e orando para que Deus nos dê coragem e honestidade para viver uma vida transparente na luz do sol que emana do Calvário.

"Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para Mim, a quem traspassaram; Sim, e prantearão sobre Ele, como quem pranteia pelo filho unigênito, e prantearão amargamente por Ele, como se chora amargamente pelo primogênito” (Zac. 12:10).


—Patti Guthrie



A irmã Patti Guthrie é uma adventista de berço. Esposa, mãe e professora dos próprios filhos. Ela é estudante da Bíblia, escritora e musicista. Faz parte do comitê de música para leigos adventistas. A família Guthrie aparece no canal de televisão adventista Three Angels Broadcasting Network [Canal de Televisão Três Anjos] com música tanto vocal quanto instrumental. O marido de Patti, Todd Guthrie, que nos escreveu uma das duas introspecções da semana passada, é médico e membro da Mesa administrativa do Comitê de Estudos de Mensagem de 1888. Ele também é ancião na sua igreja adventista local, e constantemente está envolvido em organizar e executar programas musicais para acontecimentos importantes da Igreja Adventista nos EUA e em outros países.

Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.


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