domingo, 8 de janeiro de 2012

A Natureza da DIVINDADE, por João S. Silveira

Para todo o 1º trimestre de 2012

O pastor Paulo Penno iniciou sua introspecção da lição 1 deste trimestre, postado neste blog no final da semana passada, com a afirmação:
A ‘Divindade’ é um ensino bíblico, uma boa nova (Atos 17: 29; Rom. 1:20; Colossenses 2:9). A mensagem de 1888 concentra a nossa atenção sobre a natureza única das três pessoas da Divindade como Ágape (1ª João 4:8). Ágape é a fonte da fé, que é dada a cada homem (Gál. 5:6). Portanto, temos a capacidade de conhecer com a mente e crer com o coração que há um só Deus composto por três Seres (João 10:38).”
Deus é Ágape,” (1ª João 4: 8, ú. p., 16, 18) A palavra grega Ágape é uma misteriosa e radicalmente diferente idéia de amor, sonhada pelos filósofos e professores de ética do mundo. Ao João fazer esta declaração em sua carta, a humanidade deu-se conta de que o que eles estavam chamando de amor, era, na verdade, egoística adoração. A psicologia humana foi despida pela nova revelação.
E Paulo diz que ora para que nós possamos estar alicerçados e fundados em Ágape e possamos vir a conhecer a DIVINDADE, o Seu Ágape, – embora ele não possa ser completamente conhecido – e ser completamente cheio da própria natureza de Deus, Efésios 3: 17-19.
Desde os dias da eternidade “existiu amor dentro da família da Divindade. O Pai sempre teve um filho para amar desde a eternidade, e o Filho sempre expressou o seu amor para com o Pai, escolhendo subordinar-Se ao Pai. O Espírito Santo ama o Pai e o Filho e, do mesmo modo, o Pai e o Filho amam o Espírito Santo.”
Podemos ver como Ágape se diferenciou tanto da idéia comum de amor através de vários e nítidos contrastes entre as duas idéias:
A) O amor humano normal é dependente da beleza e bondade do seu objeto. Nós naturalmente escolhemos aqueles que são bons para nós, que nos agradam. Apaixonamos-nos com o nosso oposto sexual que seja bonito, feliz, inteligente e atrativo, e nos afastamos do feio, vil, ignorante, ou ofensivo.
Em contraste, Ágape não é despertado por beleza e bondade do seu objeto. Mantêm-se em pé sozinho, soberano, independente.
Deus mostra seu amor (Ágape) por nós, em que, quando nós éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós, “enquanto nós éramos inimigos” (Rom. 5: 8, 10).
B) O amor natural humano baseia-se no senso de necessidade.
Nós nos sentimos pobres e vazios em nós mesmo e necessitamos de um objeto para enriquecer a própria vida. Um esposo ama sua esposa porque necessita dela, e vice-versa. Dois amigos amam um ao outro porque necessitam um do outro. Cada um sente-se vazio e sozinho sem seu companheiro. Nós amamos a Deus porque necessitamos dEle.
Em contraste a razão pela qual Deus nos ama, não é porque Ele precisa de nós, mas porque, Ele é Ágape, “você conhece a graça do nosso senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que por sua pobreza vos tornásseis ricos”. (2ª Cor. 8: 9). Ficamos confusos com a idéia de um amor que “não busca os seus interesses” (1ª Cor. 13: 5). Neste sentido podemos dizer Deus necessita de nós porque é Ágape (????);
C) O amor natural humano baseia-se em um sentido de valor. Nós avaliamos uns aos outros. Poucos tratam o lixeiro cortes e atenciosamente como tratamos uma elevada autoridade.
Em contraste, Ágape é agradavelmente diferente. Ao invés de ser dependente do valor do Seu objeto, Ele cria valores no Seu objeto.
De nós mesmos não valemos nada mais do que o duvidoso valor químico dos ingredientes de nosso corpo. Mas o amor de Deus nos transforma em um valor equivalente ao do Seu próprio Filho: “Farei que o homem seja mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir” (Isaias 13: 12).
Sem dúvida que você conheceu algum exemplo de trapos humanos que foram transformados em pessoas de infinito valor. João Newton (1725-1807) foi um desses. Ele era um marinheiro que negociava com o tráfico de escravos africanos. Tornou-se um bêbado miserável, que caiu vítima do povo que ele tentou escravizar. Com o tempo Ágape tocou seu coração. Largou seu vil negócio, e transformou-se em um honroso mensageiro de boas novas. Milhões lembram-se dele pelo seu hino que mostra o “fino ouro” em que ele se transformou:
“Oh, graça excelsa de Jesus!
Perdido, me encontrou!
Estando cego, me fez ver;
Da morte me livrou!
A graça libertou-me assim,
E meu temor levou.
Oh! quão preciosa é para mim
A hora em que me achou. (Hinário Adventista, hino nº 208)
D) O amor natural humano vai em busca de Deus. As pessoas imaginam que Deus está brincando de esconde-esconde e ocultou-Se dos seres humanos. Apenas alguns são suficientemente sábios e inteligentes para descobrir onde Ele Se escondeu. Milhares vão em longas caminhadas para Meca, Roma, Jerusalém, ou outros santuários, em busca dEle.
Outra vez, Ágape demonstra ser o oposto. Não são humanos procurando Deus, mas Deus procurando o homem: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Luc. 19: 10). O pastor deixou as 99 ovelhas que estavam seguras e arriscou sua vida para achar a que estava perdida; a mulher ascende uma candeia e procura em sua casa até achar a moeda perdida; o Espírito de Deus procura pelo coração do filho pródigo e o traz de volta à casa. Não há, em toda a Bíblia, nenhuma história de uma ovelha perdida, da qual se exige que vá em busca do pastor.
O Bom Pastor está sempre em safári nos “caçando”.
E) Nosso amor humano está sempre procurando subir cada vez mais alto. Ninguém que procure emprego quer demissão ao invés de promoção. O político estadual sonha em fazer parte dos bastidores federais, e, possivelmente, cada senador, alguma vez, sonhou com a idéia de chegar à presidência.
Quem alguma vez ouviu de um presidente voluntariamente renunciar a fim de se tornar um cidadão comum? A Idéia de Platão sobre o amor nunca poderia imaginar tal coisa. Nem mesmo nós o poderíamos.
Em contraste, o que nos torna fascinados por Deus são os sete distintos passos descendentes que Cristo tomou mostrando-nos o que é Ágape:
1º) Embora “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação o ser igual a Deus”. Quando nós atingimos altas posições em política, negócios, ou até mesmo na igreja, é da nossa natureza preocuparmo-nos em não cair. “Preocupada torna-se a cabeça que tem uma coroa”. Mas o Filho de Deus abdicou de Sua coroa, voluntariamente, motivado por Ágape.
2º) Ele "esvasiou-Se, ou “Se fez sem reputação”. Nós humanos lutaremos até à morte para manter nossa honra ou nossa reputação. E destemidos feitos de valor nem sempre são o mesmo que “esvaziar-Se,” como Cristo fez, pois alguém pode dar seu “corpo para ser queimado”, e ainda não ter Ágape. Quando Paulo disse que Cristo esvaziou-Se,” ele estava falando a respeito de uma voluntária entrega de Si mesmo pela eternidade de tudo que tinha valor para Si, algo completamente impossível fora de Ágape.
3º) Ele tomou “a forma de Servo [escravo]”. Pode você imaginar uma mais desanimadora vida, do que sempre ser forçado a trabalhar sem salários e agradecimentos? Anjos são chamados de servos, “espíritos ministradores” enviados para nos servir (Heb. 1: 14); Se o filho de Deus Se tornasse como um deles, isto teria sido uma grande condescendência da Sua parte, porque Ele era o Comandante deles. Mas Ele desceu ainda mais baixo;
4º) Ele “nasceu semelhante aos homens”, “inferior aos anjos” (veja Sal. 8: 5). Não o coroado sol, com esplendor majestoso com que Gênesis diz ter Adão sido criado, mas no nível degradante do homem caído, na degradação do abismo humano, comum ao mundo greco-romano. Nenhum ser humano caiu jamais tão baixo, mas o Filho de Deus veio à profundidade suficiente para alcançá-lo. E uma vez que permitamos este Ágape achar guarida em nossos corações, todos hesitantes traços de espírito, que fazem nos considerarmos mais santos do que os outros, se dissolvem na presença dEle, e nós também descobrimos ser possível atingir os corações de outros.
5º) “E achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo”. Em outras palavras, Ele não nasceu em berço de ouro, quer no palácio de César ou de Herodes. Ele nasceu em um mal cheiroso abrigo de gado, e Sua mãe foi forçada a enrolar seu pequenino em trapos e a deitá-Lo em uma manjedoura. Sua vida tornou-se a de um camponês fatigante. Mas isto não foi suficiente:
6º) “Sendo obediente até à morte”. Esta marcante frase significa algo diferente do que o pulo suicida de um louco no escuro. Nenhum suicida é, jamais, “obediente até à morte”. Se ele fosse, ele ou ela, iria aguardar e encarar a realidade. O suicida é desobediente. O tipo de morte à qual Cristo foi “obediente”, não foi uma fuga da responsabilidade. Não foi como Sócrates bebendo a sua cicuta. Foi uma jornada para o inferno: a viva condenação da consciência de cada célula de um ser, tudo sob o presumido ou compreendido olhar de Deus.
O sétimo condescendente degrau que Ele desceu torna isto mais claro;
7º) “E morte de cruz”. Nos dias de Jesus, a morte de cruz era a mais humilhante e desesperante possível. Não somente era ela a mais cruel jamais inventada, não unicamente a mais vergonhosa — sendo amarrado despido ante à escarnecedora turba que olhava sua agonia com alegria. A morte na cruz carregava um intrínseco horror mais profundo do que tudo isto. Significava que o céu te amaldiçoou.
O respeitável escritor antigo, Moisés, tinha declarado que qualquer um que morre “no madeiro é maldito de Deus” (Deut. 21:23). E, sem dúvida, todo mundo cria nisto. Se um criminoso condenado fosse sentenciado para ser morto com uma espada ou mesmo queimado vivo, ele poderia, ainda assim, orar e confiar que Deus o perdoaria, e olharia para ele amavelmente. Ele podia sentir algum suporte em sua morte.
Mas se o juiz dissesse, “você tem que morrer no madeiro”, toda esperança se esvaia. Todos achavam que Deus tivesse voltado Suas costas ao desgraçado para sempre. Eis porque Paulo diz que Cristo foi feito “maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gal. 3:13). O tipo de morte que Jesus morreu foi a do perdido que deveria finalmente morrer em desespero e sem esperança, o que Apocalipse chama de “a segunda morte” (*Apoc. 20:6 e 21:8). Sem dúvida foi um milhão de vezes pior para Cristo suportar do que será para eles, porque Sua sensibilidade para com o sofredor foi infinitamente maior do que para cada um de nós.
Imagine um homem crucificado numa cruz ... Multidões vêm para escarnecer dele, como nós hoje nos reunimos para um jogo de futebol. Como um velho carro danificado, que crianças apedrejam, ele é um humano descartado, abandonado para ser zombado, abusado em horror inexprimível. Você não deve sentir ou expressar simpatia por ele, porque, se você o fizer, estará em desacordo com o julgamento de Deus a respeito dele. Você está ao lado de Deus se lhe atirar ovos e tomates estragados. Assim o povo pensava.
Esta foi a morte a que Jesus tornou-Se “obediente”. No Seu desespero Ele clamou, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mat. 27: 46). Fique parado e reverente enquanto você pensa nisto. Você e eu somos os que teríamos que passar por aquilo se Ele não tivesse tomado o nosso lugar.
A idéia de Ágape tem sido apagada entre muitos professos seguidores de Cristo devido a uma noção pagã que se infiltrou na mente deles. Eu me refiro à doutrina da imortalidade natural da alma. Se não há tal coisa como a morte real, então Cristo não morreu realmente. Se Ele foi para o paraíso o dia em que Ele esteve na cruz (como muitos erroneamente crêem ao lerem uma mal colocada vírgula em Luc. 23:43), então não houve um verdadeiro esvaziamento de Si mesmo, uma morte verdadeira na cruz, o morrer equivalente à segunda morte, a qual é a grande realidade.
A doutrina da imortalidade natural da alma transforma o sacrifício de Cristo em uma fraude, um drama fingido — tolerar a ira de Deus por pecadores, quando de fato Ele era sustentado, do começo ao fim, por confiança da recompensa. Mas quando a escuridão O surpreendeu no Calvário, a luz da face de Seu Pai foi, em realidade, completamente ocultada. Seu clamor: “por que Me desamparaste?” (*Mat. 27:46; Mar. 15:34), não foi uma lamuria teatral. Isaias estava certo: “Ele derramou a Sua alma na morte” (Isaias 52:12), a saber, “a segunda morte” (Apoc. 2:11).
A infiltração desta falsa idéia do antigo paganismo começou cedo depois do tempo dos apóstolos, pois Jesus adverte a primeira das sete simbólicas igrejas de Apocalipse: “deixaste o teu primeiro amor [Ápape]” (vs. 4). Quando o inimigo de Deus viu o poder contido na idéia de amor, ele levou a primitiva igreja à apostasia neste ponto essencial. Nós podemos documentar, passo a passo, o progressivo abandono da idéia de Ágape pelos pais da igreja. Agostinho elaborou uma síntese de Ágape e (*um) amor centralizado em si mesmo que tornou-se o fundamento do catolicismo medieval. Lutero tentou restaurar Ágape ao seu lugar certo, mas, é triste dizer, seus seguidores retornaram à doutrina da imortalidade natural, e, outra vez, (*a idéia de) Ágape quase se apagou. O mundo agora está maduro para Sua chegada.
A esta altura nós podemos, possivelmente, começar a sentir o abismo que separa o amor humano de Ágape. A menos que enriquecido com Ágape, o amor humano é, realmente, egoísmo disfarçado. Mesmo o amor paternal pode ser uma mera busca do que nos interessa.
Nossa presente epidemia de infidelidade conjugal é evidência suficiente do aspecto egocêntrico do amor sexual (“eros” no grego). Frequentemente o amor de amigos (“philia” no grego) um pelo outro, é baseado em motivações egocêntricas. Em contraste, Ágape não busca os seus interesses” e “nunca falha” (1ª Cor. 13:5 e 8).
Tendo dito tudo isto, resta ainda um contraste adicional entre o amor humano e amor de DeusO natural amor humano deseja a recompensa da imortalidade: Ágape ousa renunciá-la. Isto foi o que revolucionou todos os antigos sistemas de valores.
Deus não escreveu um artigo de enciclopédia para nós com a exposição sistemática de Ágape. Ele, entretanto enviou Seu Filho para morrer numa cruz para que possamos ver o amor, Ágape, a natureza da DIVINDADE. O verdadeiro sentido deste sacrifício é que ele é infinito, completo e eterno. Cristo foi ao túmulo por nós, não porque Ele o merecia, mas porque nós o merecíamos. Naquelas últimas poucas horas ao Ele estar pendurado lá nas trevas, Cristo sorveu as derradeiras fezes da taça da miséria humana5. A brilhante luz do sol na qual Ele andou quando esteve na terra se foi. Todo pensamento de recompensa fugiu de Sua mente. Deus é Ágape, e Cristo é Deus, e lá está Ele — padecendo a morte que nós merecemos.
E o “outro CONSOLADOR,” a terceira pessoa da DIVINDADE,” intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rom. 8:27).
Porque o amor [Ágape] de Cristo nos constrange,” que nós “não mais vivamos para [nós mesmos] mas para Aquele que morreu e ressuscitou [por nós]” (2ª Cor.5:14 e 15).
Nós perdemos a essência do Novo Testamento se não enxergarmos Ágape nele. Nós também permanecemos nas trevas sobre o que fé é, pois a fé no Novo Testamento é uma apreciação humana de coração da “largura, e comprimento, e altura, e profundidade do Ágape de Cristo” (Ef. 3:18 e 19). Não pode haver Justificação pela fé sem uma verdadeira apreciação de coração de Ágape! Sem um verdadeiro conhecimento da DIVINDADE.

Adaptado do artigo do Pr. Roberto Wieland

intitulado: “Amor, A Palavra que Alvoroçou o Mundo.”