Para 12-18 dezembro de 2017
Aconteceu
em 1992 ou 1993. Eu era um estudante. Tive que escolher entre pagar por comida
ou pagar o seguro do carro. Eu realmente gostava do meu Buick 1969, mas quando
a coisa apertou, eu optei por comprar comida.
Tudo
correu bem até o dia em que um policial me parou. Meu estômago se agitava
quando eu encostei no acostamento e o guarda constatou a minha falta do seguro
obrigatório. O oficial de casaco azul, de botões prateados, olhos azuis e com
ar arrogante, logo foi falando que teria que prender meu carro. Eu disse a ele
que, embora eu não tivesse seguro, eu tinha carteira de motorista válida. O
policial não ficou impressionado com isso. Ele apreendeu meu carro.
Eu forçosamente
me lembrei de que as autoridades que existem foram ordenadas por Deus, Romanos
13:1. Eu fui impelido a agradecer o guarda por dar-me uma multa, e apreender o
carro, já que, fazendo isso, ele estava cumprindo o que Deus o havia designado
a fazer — cumprir a lei.
O policial
olhou para mim como se eu tivesse precisando de um tratamento psiquiátrico. Eu
voltei a pé para casa, mas algumas das lições que aprendi naquele dia nunca
mais me esquecerei. Eu nunca mais fiquei sem seguro desde então, embora fizesse
apenas o mais simples e barato, na maioria das vezes.
Também passei a
desejar que todos os meus encontros com a lei fossem exemplares e cordiais. Às
vezes, tenho sido radical — como quando participei de protestos contra o regime
de segregação racial do repressivo governo Sul-Africano, no auge do apartheid.
Eu sou grato ao Senhor por Ele ter removido aquele governo injusto, sem a
violência que a minha resistência passiva poderia ter incitado.
A lei é tudo,
menos passiva. Me confronta de muitas maneiras diferentes. Os encontros mais
constantes e que mais ferem são aqueles no lar, onde o amor é mais
estreitamente testado. Como o amor se relaciona com a Lei?
Por muitos anos
eu vi a lei como um padrão, ao qual eu tinha que me adequar. Eu sabia que devia
manter-me perfeito, e, ao mesmo tempo, que eu era um fracasso — até que me
deparei com esta introspecção de mudança de vida que nos foi compartilhada pelo
pastor Ellet J. Waggoner:
“A dação da lei
foi uma das maiores manifestações de amor que poderia existir porque ela pregou
para o povo, em tons fortes, que havia vida em Cristo. Aquele que deu a lei foi
Aquele que os tirou do Egito. Ele foi O que jurou a Abraão que ele e sua
semente deveriam ser justos, e isto mostrou-lhes que eles não podiam obter
justiça da lei, mas que poderiam obtê-la através de Cristo. Assim havia uma
superabundância de graça, porque onde o pecado, pela promulgação da lei,
abundou, ali a graça muito mais se manifestou abundante. Isso é encenado a cada
vez que um pecador se converte. Antes de sua conversão ele não percebe a
pecaminosidade de seus atos. Então a lei entra e mostra-lhe como são horríveis
esses pecados, mas, com ela, vem a voz suave de Cristo, em Quem há graça e
vida.
“Quão precioso
é ter a convicção do pecado enviada aos nossos corações, pois sabemos que é uma
parte da obra do Consolador que Deus envia ao mundo para convencer do pecado. É
parte do conforto de Deus convencer do pecado, porque a mesma mão que convence do
pecado traz o perdão, porque, “assim como
o pecado reinou na morte, também a graça reina pela justiça para a vida eterna,
por Cristo Jesus nosso Senhor.”1 Nesta graça temos novamente as preciosas
palavras: ‘muito mais’. (Onde o
pecado abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20)” (Boletim da Conferência Geral de 1891, pág.139).
“De
maneira que a Lei nos serviu de aio [mestre], para nos conduzir a Cristo.”2 Na nossa fragilidade, desobediência, desordem e
culpa — ela nos leva a Cristo. Eu preciso de Cristo. E você? Eu preciso desse
penoso trabalho reconfortante na minha vida.
Há mais. Este
amor que Cristo tem por você não vai deixá-lo abatido, desobediente, sem lei,
ou culpado. A lei serve como uma barreira protetora.
Só recentemente
eu cheguei a um esclarecimento que tem sido útil no que diz respeito ao tom do “não,” aparentemente negativo da lei.
O Código
Napoleônico, em que grande parte da legislação européia baseia-se, desde por
volta de 1798, pressupõe que o que não é expressamente permitido é proibido. Em
contraste, o Código “Common Law”3 em que também
a lei americana é baseada, desde cerca de 1798, presume que o que não é
proibido é permitido.
As coisas fluem
muito mais suaves sob o Direito Comum. A Lei de Deus é afirmada pela forma
negativa, uma vez que sublinha o que é proibido, para que possamos ter acesso a
toda a liberdade que ela não proíbe. Ela
realmente é a lei da liberdade.
"Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus
Cristo" (João 1:17). "Assim
falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade" (Tiago
2:12).
—Ricky Kearns
O irmão Rick Kearns é um
enfermeiro padrão, natural da África do Sul, que estudou na Universidade Adventista Andrews, nos
EUA. Ele é casado e tem duas preciosas crianças. Ricky tem dedicado sua vida a
espalhar o evangelho de todas as maneiras possíveis. Atualmente ele está se
mudando para a Universidade Adventista de
Walla Walla, no estado de Washington, no extremo noroeste dos EUA., onde
ele vai continuar seu trabalho como coordenador da Missão Adventist Medical Evangelism Network (AMEN), um movimento popular
evangelístico de médicos e dentistas adventistas, fundado em 2005, com um único
foco — médico-evangelístico. (Veja o
site http://www.amensda.org).
Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da
Silveira.
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Notas do tradutor:
1)
Romanos 5: 21;
2)
Gálatas 3:24;
3)
Common Law (“direito comum") é o direito que se desenvolveu
em certos países por meio das decisões dos tribunais, e não mediante atos
legislativos ou executivos. Constitui, portanto, um sistema ou família do
direito diferente da família romano-germânica do direito, que enfatiza os atos
legislativos. Nos sistemas de common law,
o direito é criado ou aperfeiçoado pelos juízes: uma decisão a ser tomada num
caso depende das decisões adotadas para casos anteriores e afeta o direito a
ser aplicado a casos futuros. Nesse sistema, quando não existe um precedente,
os juízes possuem a autoridade para criar o direito, estabelecendo o
precedente.
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