quarta-feira, 19 de julho de 2017

Lição 4 — Justificação pela fé, por Ann Walper



Para 15 a 22 de julho de 2017


Quinhentos anos atrás, em 1517, um monge agostiniano chamado Martinho Lutero sacudiu o mundo teológico europeu ao fazer a afirmação de que a justiça era apenas pela fé. Após intenso estudo dos Livros de Gálatas e Romanos, ele afirmou que a justiça não era adinistrada através da igreja nem administrada por sacerdotes ou papas, mas era produto da fé. Neste outono (no hemisfério Sul é Primavera) as organizações cristãs em todo o mundo estão comemorando a revolta teológica de Lutero, incluindo o catolicismo romano.
A visão de Lutero sobre a fé como meio de salvação tornou-se o tema unificador entre protestantismo e catolicismo, como evidenciado em um documento ecumênico de 1994, conhecido como "Evangélicos e Católicos Juntos", assinado pelos principais estudiosos evangélicos e católicos nos Estados Unidos. A Igreja Católica Romana começou sua celebração da Reforma há um ano, quando o Papa Francisco viajou para a Suécia, onde se juntou aos líderes da Federação Luterana do Mundo em Lund (*condado de Escânia, no sul da Suécia ) para um culto de oração ecumênico em 31 de outubro e 1 de novembro de 2016.
Quando Lutero fez sua estupenda declaração de que a salvação era por "fé somente", isso provocou não só a Reforma Protestante, mas também a Reforma Católica Romana e o Conselho de Trento (*região norte da Itália ) de dezoito anos de duração (*1545 e 1563). Naquela época, como uma pessoa recebia a  justificação e tornava-se justa era a linha divisória teológica fundamental. Roma condenava a "sola fide" e proclamou anátema sobre todos os que a aceitavam como verdade. Essa proibição nunca foi oficialmente levantada por Roma. A tendência teológica desde 1994 ao esteder as mãos através do abismo para se unir com Roma neste momento é, na realidade, reverter a Reforma Protestante, assim como Roma planejou desde o início.
O ponto vital que Martinho Lutero perdeu na declaração de "sola fide" é que os humanos não contribuem para o processo de salvação. Nossa "fé" e nossas "obras de fé" não têm mérito e não produzem justiça. Se eu sou salvo através da minha fé em Jesus, então todo o foco está em mim e minha capacidade de manter essa "fé" o tempo suficiente para entrar no céu. Concentrar-se em mim e o que posso fazer através da "obediência à lei" para ajudar Jesus a passar pelos portões de pérola é uma sutil negação do ensinamento bíblico simples que “em mim não ... não habita bem algum” (Romanos 7:18).
Ellet J. Wagoner viu isso claramente: "Os fariseus não estão extintos, há muitos nestes dias que esperam obter a justiça por suas próprias ações. Eles confiam em si mesmos (*dizendo) que são justos". No entanto, o "pecador condenado tenta repetidas vezes obter a justiça da lei, mas esta resiste a todos os seus avanços. Não pode ser subornada por nenhuma quantidade de penitência ou professas boas ações". É absolutamente verdade que "as ações realizadas por uma pessoa pecadora não têm qualquer efeito para torná-la justa, mas, pelo contrário, provenientes de um coração maligno, são más e, assim, aumentam a soma de sua pecaminosidade;"1
"Uma vez que o evangelho é contrário à natureza humana, nos tornamos cumpridores da lei não por obras, mas crendo. Se trabalhássemos para a justiça, estaríamos exercendo apenas nossa própria natureza humana pecaminosa, e assim não nos aproximaríamos da justiça, mas nos desviaríamos para longe dela. Ao crer nas "grandíssimas e preciosas promessas", nos tornamos "participantes da natureza divina" (2ª Pedro 1: 4), e então todas as nossas obras são manifestas em Deus" (*João 3:21; Isaias 26:12 e Salmo 138:8).2
Nem Lutero, nem Calvino, nem Arminio tiveram um vislumbre do conceito da verdadeira justificação legal. Para todos esses reformadores, grandioso como o trabalho deles foi em começar a restaurar a verdade da Bíblia e remover o paganismo que se insinuara na igreja durante o milênio anterior à Reforma, eles nunca compreenderam a profundidade completa do sacrifício de Cristo ou o verdadeiro significado de fé. O Reformador e, portanto, a visão evangélica da salvação, é egocêntrica porque começa com a necessidade humana de segurança eterna.
Portanto, na visão evangélica, a justificação é a recompensa da fé de uma pessoa. Ensina que a fé é "confiança" no sentido de compreender a segurança pessoal de um Deus irado que deve ser apaziguado através de arrependimento e penitência antes que Ele conceda graça e salvação. Esta explicação da justificação como um ato judicial de contabilidade nos livros de registro do céu, em que o homem injusto, ainda injusto, é declarado justo enquanto continua satisfazendo motivação pecaminosa, nega a mensagem de Daniel 8:14 e Apocalipse 14:12, e é responsável pelo longo atraso da segunda vinda de Cristo.
Tal visão de Deus é uma distorção grosseira de Seu caráter santo de Ágape — Seu amor de sacrifício altruísta, centrado no outro, que motivou a Divindade a declarar o concerto eterno que enviaria o Filho para salvar o mundo do pecado. Que o "envio" doi desde a fundação do mundo; Cristo é "o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" (Apocalipse 13: 8). "Tão logo houve pecado, houve um Salvador. Cristo sabia que teria de sofrer, e contudo tornou-Se o substituto do homem. Tão logo Adão pecou, o Filho de Deus Se apresentou como garantia para a humanidade apenas com tanto poder para desviar a maldição pronunciada sobre o culpado como quando morreu sobre a cruz do Calvário.”3 Esta é a justificação que Deus pretende que seja pregada, e uma verdadeira apreciação do coração desse fato quebrará a resistência aos apelos de Deus pelo pecador. "A fé não faz fatos. Ela apenas deles se apropria."4
 A salvação somente pela fé é uma verdade bíblica absoluta, mas as concessões ao relativismo e à visão humanista (centrada no homem) pós-modernista estão prejudicando o que o apóstolo Paulo escreveu em Romanos, Gálatas e Efésios sobre a verdade vital da justificação e justiça pela fé. Nosso verso para memorizar, diz: "E a vida que agora vivo na carne vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim". Se você está familiarizado com a versão King James, talvez tenha notado a mudança de uma única palavra. É uma mudança sutil, e muitas pessoas sentem que é uma diferença insignificante.
Na Bíblia King James, o texto reza: "e a vida que hoje vivo na carne vivo pela fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim". A mudança de uma pequena palavra de duas letras faz uma profunda diferença de significado. O autor do guia de estudos deste Trimestre iluminou a diferença em seu livro, Galatians, A Fiery Response to a Struggling Church (Gálatas Uma Resposta Efervecente a uma Igreja que Luta).
*Há, entretanto, uma diferença inédita enter os guias de estudo da lição em inglês e em português. A CPB optou pela forma que a mensagem de 1888 entende ser correta.
No guia de estudo da lição em inglês citando a versão padronizada inglesa, diz: "E a vida que agora vivo na carne vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim". Se você está familiarizado com a versão King James, talvez tenha notado a mudança desta única palavra. É uma mudança sutil, e muitas pessoas sentem que é uma diferença insignificante.A 
* E como ficou o guia de estudos em portugês?
Citando a versão ARC diz: "E a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, O qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim".
Também na Bíblia King James, o texto reza: "e a vida que hoje vivo na carne vivo pela fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim". A mudança de uma pequena palavra de duas letras faz uma profunda diferença de significado. O autor de nosso guia de estudos (*o doutor Carl Cosaert, Ph. D.) esclareceu a diferença em seu livro, Gálatas, Uma Efervecente Salvação apenas pela fé é uma verdade bíblica absoluta, mas as concessões ao relativismo e à visão humanista (centrada no homem) pós-modernista estão minando o que o apóstolo Paulo escreveu em Romanos, Gálatas e Efésios sobre a verdade vital da justificação e da justiça pela fé. Nosso texto para memorizar no guia de estudos em inglês para essa semana, inadvertidamente, aponta essa mudança de pensamento. Citando a versão padronizada inglesa, diz: "E a vida que agora vivo na carne vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim". Se você está familiarizado com a versão King James, talvez tenha notado a mudança de uma única palavra. É uma mudança sutil, e muitas pessoas sentem que é uma diferença insignificante. Response to a Struggling Church. (Resposta a uma Igreja que Luta) Carl Cosaert.
"Para a fé de Paulo não é apenas um conceito abstrato — está inseparavelmente ligado a Jesus. Na verdade, a frase grega traduzida duas vezes como "fé em Jesus Cristo" em Gálatas 2:16 é muito mais rica do que qualquer interpretação pode realmente abranger (ver Romanos 3:22, 26, Gálatas 3:22, Efésios 3:12, Filipenses 3: 9). No grego, a frase significa literalmente "a fé de Jesus" ou "a fidelidade de Jesus". Ela revela o poderoso contraste que o apóstolo faz entre as obras da lei [isto é, o legalismo] e o trabalho que Cristo realizou em nosso favor. Para Paulo, a principal ênfase não é a nossa fé em Jesus, mas a fidelidade de Jesus. Assim, a questão não é nossas obras versus nossa fé — isso quase tornaria nossa fé meritória, o que não é. Em vez disso, a fé é apenas o caminho pelo qual nos apossamos de Cristo. Somos justificados, não com base em nossa fé, mas com base na fidelidade de Cristo."5
Cristo foi fiel ao concerto eterno feitoa entre os membros da Divindade antes do pecado entrar neste mundo. A partir desse concerto feito no céu, através da Sua vida de sofrimento na carne humana caída e, finalmente, a Sua resistência à angústia do Getsêmani e à vergonha da cruz, Cristo jamais vacilou na Sua fidelidade à promessa eterna do concerto de salvar a humanidade do pecado . Ele foi fiel à sua palavra. E é a evidência de Sua fidelidade revelada nas Escrituras às quais nos apegamos quando acreditamos que Ele é capaz de "nos guardar de tropeçar, e apresentar-nos irrepreensíveis com alegria perante a Sua glória" (Judas 24). 
É essa “fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12: 3) a cada ser humano. É essa fé que uma vez permitiu operar em nós, produzirá a justiça necessária que nos tornará aptos para o Céu. "O coração orgulhoso esforça-se por alcançar a salvação; mas tanto o nosso título ao Céu, como a nossa idoneidade (*aptidão) para ele, encontram-se na justiça de Cristo. O Senhor nada pode fazer para a restauração do homem enquanto ele, convicto de sua própria fraqueza e despido de toda presunção, não se entrega à guia divina. Pode então receber o dom que Deus está à espera de conceder. Coisa alguma é recusada à alma que sente a própria necessidade."6
Você pode argumentar que este é um ponto minúsculo, uma diferença sutil (*uma simples questão de semântica); nada sobre o que realmente se preocupar. Afinal, é apenas uma palavra de duas letras! Como pode ter alguma importância significativa para a minha salvação?
É uma distinção sutil que fez com que a Reforma vacile e hesite por 500 anos. Não precisamos voltar para a teologia da Reforma, precisamos retornar ao que o Senhor nos enviou em 1888. A mensagem trazida através de A. T. Jones e E. J. Wagoner é uma mensagem distinta que elevou o Salvador como o Redentor que perdoa o pecado que é o sacrifício pelos pecados do mundo inteiro. "Esta é a mensagem que Deus manda proclamar ao mundo" (*TM pág. 92) não aquecido pelo evangelicalismoB que se concentra no esforço humano, onde "fé" é um entendimento para a recompensa que rejeita a verdade de que o perdão e o apagamento do pecado é o inteiro ponto do Evangelho. A mensagem de Cristo e a Sua justiça proclamada por Wagoner e Jones "é a mensagem do terceiro anjo em verdade, que deve ser proclamada com grande voz, e acompanhada com o derramamento de Seu Espírito em grande medida."7
A mensagem da cruz "coloca a glória do homem no pó" e é ofensiva para o coração orgulhoso. O apóstolo Paulo submeteu-se com prazer à "ofensa" dizendo: "Eu sou crucificado com Cristo; no entanto, eu vivo, mas não eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo pela fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim" (Gálatas 2:21). "A cruz nos transmite o conhecimento de Deus, porque nos mostra o Seu poder como Criador. Através da cruz somos crucificados para o mundo e o mundo para nós. Na cruz somos santificados. A santificação é a obra de Deus, não de Homem. Somente Seu poder divino pode realizar o excelente trabalho."8
--Ann Walper



Notas finais (As notas com letras são do tradutor):                               
1) Ellet J. Waggoner, Christ and His Righteousness (Cristo e Sua Justiça) págs. 66, 70, 63; Glad Tidings (Boas Novas) ed. de 1999).
2) Ellet J. Waggoner, Christ and His Righteousness (Cristo e Sua Justiça) pág. 56; Glad Tidings (Boas Novas) ed. de 2016).
3) Ellen G. White, "Lessons From the Christ-Life," (Lições da Vida de Cristo) Review and Herald, 12 de março de 1901.
4) Ellet J. Waggoner, The Glad Tidings (Boas Novas) pág. 107    
A) Alguns podem até enteder que é apenas uma questão semântica. Em linguística, a Semântica estuda o significado e a interpretação do significado de uma palavra, de um signo, de uma frase ou de uma expressão em um determinado contexto. Nesse campo de estudo se analisa, também, as mudanças de sentido que ocorrem nas formas linguísticas devido a alguns fatores, tais como tempo e espaço geográfico.
5) Carl P. Cosaert, autor deste guia de estudos sobre Gálatas: A Fiery Response to a Struggling Church, (Gálatas, Uma Efervecente Salvação a uma Igreja em Luta) pág. 42 (ênfase do original), Review and Herald Publishing Association (2011).
6) Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág.  300.                          
B) O evangelicalismo ou cristianismo evangélico é um movimento cristão, surgido no século XVII, depois da Reforma Protestante, tornando-se uma vertente organizada com o surgimento, dos metodistas entre os anglicanos, dos puritanos entre os calvinistas, ambos na Inglaterra e dos pietistas entre os luteranos na Alemanha e Escandinávia. O movimento tornou-se ainda mais significativo nos Estados Unidos durante o grande despertamento dos séculos XVIII e XIX, onde conseguiu muito mais membros do que na Europa. O movimento continua a atrair adeptos em nível mundial no século XXI, especialmente no mundo em desenvolvimento. É um movimento que reúne vários sub-movimentos, como Igreja Batista, Pentecostalismo, Movimento Carismático, Cristianismo não denominacional. O evangelicalismo desenfatiza o ritual e enfatiza a piedade do indivíduo, exigindo-lhe que cumpra certos compromissos ativos.
7) Veja Ellen G. White, Testemunhos aos Ministros e Obreiros Evangélicos, págs. 91, 92.
8) The Glad Tidings (Boas Novas), pág. 141                                               

Notas:                                                                 
O vídeo do pr. Paulo Peno sobre esta lição está na internet no sítio https://youtu.be/HKjh2GIgum4
Esta lição está na internet em: 1888message.org/sst.htm
Biografia da autora:
A irmã Ana Walper é uma adventista dedicada à pesquisa bíblica e às atividades da igreja. Atualmente ela é diretora dos departamentos de liberdade religiosa; escola sabatina; saúde e temperança, e é coordenadora de uma das unidades evangelizadoras da escola sabatina. É também ativa instrutora bíblica. Profissionalmente é enfermeira padrão, e durante as férias escolares ela trabalha como enfermeira voluntária em acampamentos da juventude adventista nos estados de Tenneessee e Kentucky nos EUA. Ela é também escritora independente já por 16 anos em jornais de sua cidade sobre as boas novas de Cristo e Sua Justiça.
Atenção: Asteriscos (*) indicam acréscimos do tradutor.
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