segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Boas Novas, WAGGONER, Cap. 6, A Glória da Cruz


É provável que o leitor apressado chegue à conclusão que existe uma divisão natural entre o quinto e sexto capítulo, de tal um modo que a última parte se refere a aspectos práticos da vida espiritual, enquanto o primeiro expõe doutrinas teóricas. É um grande erro. Nada na Bíblia é mera teoria; tudo é ação. Não há na Bíblia qualquer coisa que não seja profundamente espiritual e prático. Ao mesmo tempo, tudo é doutrina. Doutrina significa ensino. O que conhecemos por “Sermão” do Monte é de fato pura doutrina, já que abrindo sua boca lhes ensinava, dizendo...” Alguns parecem sentir uma tipo de desprezo pela doutrina. Se referem a ela com leviandade, como se pertencesse ao reino da teologia especulativa e fixasse um contraste com o prático e diário. Os tais desonram sem conhecer a pregação de Cristo, que era pura doutrina, posto que Jesus sempre ensinou às pessoas. Toda a verdadeira doutrina é intensamente prática; é dado ao homem com o único propósito de que a ponha em prática.
A confusão precedente se deve a uma eleição questionável das condições. O que alguns chamam de doutrina, e que tacham – com razão – de não prática, não é de fato nenhuma doutrina, mas sim sermão vulgar. Não há no evangelho nenhum lugar para ele. Nenhum verdadeiro pregador do evangelho dará jamais “um sermão”. Se faz isto é porque decidiu fazer alguma coisa diferente do que pregar o evangelho durante algum tempo. Cristo nunca pregou sermões. O que fazia era oferecer doutrina a seus ouvintes, ensinar-lhes. E “todo aquele que prevarica, e não permanece na doutrina de Cristo, não tem a Deus. E o que permanece na doutrina de Cristo, tem o Pai e o Filho” (2 João 9). Assim, o evangelho é todo ele doutrina, é instrução que vem da vida de Cristo.
A última seção da epístola revela seu objetivo claramente. É não prover o material apropriado para a controvérsia, mas pôr um fim, levando os leitores a submeter-se ao Espírito. O propósito é restabelecer os que estão pecando contra Deus, enquanto eles tentam serví-lo por seu próprio e defeituoso modo, e os levar a serví-lo verdadeiramente, em novidade de Espírito. O argumento da seção precedente da epístola gira ao redor da verificação de que só é possível escapar das obras da carne (que é pecado), por meio da circuncisão da cruz de Cristo: servindo a Deus no Espírito, e não pondo a confiança na carne.
1 Irmãos, se alguém algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.
Quando os homens começam a fazer-se justos a si mesmos, o orgulho, a jactância e o espírito de crítica os levam à disputa aberta. Aconteceu deste modo aos gálatas, e acontecerá deste modo sempre. Não poderia ser de outra maneira. Cada indivíduo tem sua própria concepção da lei, a fim de ser ele mesmo o juiz. Não pode evitar examinar os irmãos tanto quanto a si e conferir se eles alcançam a altura devida, de acordo com sua medida. Se seus olhos críticos descobrem um que não caminha de acordo com a regra, cai imediatamente sobre o ofensor. Os que estão cheios de justiça própria se levantam em guardar a seus irmãos até o ponto de mantê-los distante de sua companhia, para não contaminar-se entrando em contato com eles. Em contraste marcado com este espírito, tão comum na igreja, achamos a exortação com que o capítulo começa. Em vez de ir à caça de faltas para condenar, temos que ir em busca de pecadores para salvar.
Deus disse a Caim: “Se fizeres certo, não serás aceito? Mas se não trabalhares bem, o pecado está à porta para dominar-te. Mas tu deves dominá-lo” (Gên. 4:7). O pecado é uma besta selvagem que se esconde, esperando a menor oportunidade para atacar e vencer ao descuidado. É mais forte que nós, mas fomos dotados de poder para o dominar. “Não reine o pecado em vosso corpo mortal” (Rom. 6:12). Porém, é possível (não necessário) que conquiste até o mais cuidadoso. “Meus filhos, isto lhes escrevo para que não pequeis. Mas se alguém pecar, temos advogado perante o Pai, Jesus Cristo o Justo. Ele é a vítima por nossos pecados. E não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro” (1 João 2:1 e 2). Deste modo, embora a pessoa possa tropeçar, é restabelecida; não é rejeitada.
O Senhor apresenta o trabalho por meio do pastor que procura a ovelha que se perdeu. O trabalho do evangelho tem uma natureza individual. Até mesmo pela pregação do evangelho milhares podem aceitá-lo em um só dia, o sucesso depende de seu efeito no coração de cada pessoa. Quando o pregador que fala a milhares chega individualmente a cada um deles, está fazendo o trabalho de Cristo. Deste modo, se alguém cai em uma falta, restabeleça-o com espírito de mansidão. Não há tempo que possa ser tão precioso, embora se considere desperdiçado, que o dedicado para salvar ainda que uma única pessoa. Algumas das verdades mais importantes e gloriosas das Escrituras, foram comunicadas por Cristo a uma única alma. O que se esforça procurando a ovelha solitária do rebanho, é um bom pastor.
"Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, e não atribuindo aos homens seus pecados. E nos encarregou a palavra da reconciliação” (2 Cor. 5:19). “Ele mesmo levou nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro” (1 Ped. 2:24). Não nos imputou nossos pecados, mas o levou todos eles em si mesmo. “A calma aplaca a ira” (Prov. 15:1). Cristo vem a nós com palavras de carinho para ganhar nosso coração. Nos chama para que nos acheguemos a Ele e achemos descanso, de forma que trocamos nosso jugo amargo de escravidão para o jugo fácil de sua carga leve.
Todos os cristãos são um em Cristo, o Representante do homem. Então, “como ele é, assim somos nós neste mundo” (1 João 4:17). Cristo estava neste mundo como um exemplo do que os homens deveriam ser, e do que os verdadeiros seguidores são quando se consagram a Ele. Diz aos seus discípulos: “Como me enviou o Pai, igualmente eu também vos envio” (João 20:21). É com este objetivo que os reveste de seu próprio poder por meio do Espírito. “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3:17). Então, não nos envia a condenar, mas a salvar. Daí a repreensão: “Se alguém tem caído em alguma falta... restaurai-o”. O âmbito da exortação não se reduz aos que nos associamos na igreja. Nos envia como embaixadores de Cristo de forma que roguemos a todo homem que se reconcilie com Deus (2 Cor. 5:20). Nenhuma outra ocupação no céu ou na terra comporta uma honra maior que a de ser embaixador de Cristo, e é de fato essa tarefa que é dada até ao mais insignificante e rejeitado pecador que se reconcilia com Deus.
" Vós que sois espirituais”
Só para estes é recomendada a restauração dos que caíram. Nenhum outro pode fazer isto. O Espírito Santo há de falar por meio dos que têm que repreender e corrigir. É o mesmo trabalho de Cristo, e é somente pelo poder do Espírito que alguém pode ser sua testemunha.
Mas isto, talvez, não seja um ato da maior presunção, que alguém possa restabelecer um irmão? Não equivale pretender que esse alguém é espiritual?
Verdadeiramente não é uma questão banal o estar em lugar de Cristo, perante o homem caído. O plano de Deus é que cada um se cuide: “Cuidando para que você também não seja tentado”. A regra que aqui é exposta é calculada para produzir um reavivamento na igreja. Assim que alguém caia em alguma falta, o dever de cada um não é ir espalhar a notícia, nem mesmo ir diretamente para o que caiu, mas perguntar-se à si mesmo: 'Como estou eu? Qual é minha situação? Acaso não sou culpado, se não da mesma falta, talvez de alguma outra igualmente reprovável? Não poderia ser que alguma falta em mim haja levado à sua falta? Estou andando no Espírito, de forma que possa reestabelecê-lo, em vez de afastá-lo ainda mais?' Isso resultaria em uma reforma completa na igreja, e bem poderia acontecer que quando os demais houvessem chegado à condição na qual possam ir ao que caiu, este tenha já escapado da armadilha do diabo.
Com relação à forma de tentar ao que caiu em transgressão (Mat. 18:15-18), Jesus disse: “Eu asseguro que tudo aquilo que ligares na terra, terá sido ligado no céu; e tudo aquilo que desligares na terra, será desligado no céu” (vers. 18). Significa que Deus se submete a qualquer decisão que uma reunião de crentes, que se considere sua igreja, possa tomar? Certamente que não. Nada que seja feito na terra pode mudar a vontade de Deus. A história da igreja nos dois mil anos passados, é um monte de erros e absurdos, uma carreira de exaltação própria e de pôr o eu no lugar de Deus.
Que quis dizer então Cristo com isso? Exatamente o que disse. Que a igreja tem que ser espiritual, cheia do espírito de mansidão; e que cada um, quando falando, tem que fazê-lo como porta-voz de Deus. Apenas palavra de Cristo deve estar no coração e na boca daquele que tenha de tratar com o transgressor. Quando assim acontece, dado que a palavra de Deus sempre é estabelecida nos céus, resulta que tudo aquilo que você ligar na terra “terá sido ligado no céu”. Mas isso não acontecerá a menos que seja seguindo a Escritura estritamente, na letra e no espírito.
2 Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.
A “Lei de Cristo” se cumpre quando cada um leva a carga do outro, como a lei da vida de Cristo é levar cargas. “Levou ele mesmo nossas enfermidades, e carregou nossas doenças”. Todo aquele que queira cumprir sua lei há de continuar a mesma obra em favor dos cansados e abatidos.
"Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos... Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Heb. 2:17 e 18). Ele sabe o que é ser tentado penosamente, e sabe também como vencer. Ainda que “não conheceu pecado”, foi feito pecado por nós de forma que nos pode fazer justiça de Deus nEle (2 Cor. 5:21). Tomou cada um dos nossos pecados e os apresentou perante Deus como se fossem seus.
E é assim que vem a nós. Em vez de nos recriminar por nossos pecados, nos abre o coração e nos faz saber quanto sofreu com a mesma angústia, dor, pena e vergonha. Ganha com isto nossa confiança. Sabendo que Ele passou pela mesma experiência, que esteve prostrado nas mesmas dificuldades, prepara-nos para o ouvir quando nos apresenta a via de escape. Sabemos que fala por experiência.
Portanto, o mais importante ao resgatar pecadores, é mostrar que somos um com eles. É mostrando nossas próprias faltas que salvamos a outro. O que se sente sem pecado, não é certamente o que poderá restabelecer o pecador. Se você diz a alguém que caiu em transgressão: 'Como você pôde fazer uma coisa destas? Eu nunca fiz qualquer coisa semelhança em toda minha vida! Eu não entendo como alguém com o mínimo de respeito próprio pôde cair nisso!', se você fala deste modo a ele, você teria feito melhor ficando em casa. Deus escolheu um fariseu, e só a um, para ser seu apóstolo. E não foi enviado até não ter-se reconhecido como o principal entre os pecadores.
É humilhante confessar o pecado, mas o caminho da salvação é o caminho da cruz. É só mediante a cruz que Cristo pode ser o Salvador dos pecadores. Então, se temos que compartilhar a alegria, temos que também sofrer a cruz com Ele “menosprezando a vergonha”. Lembre-se: É somente confessando nossos próprios pecados que podemos salvar a outros de seus próprios pecados. Só assim podemos lhes mostrar o caminho da salvação. O que confessa seus pecados é o único que obtém purificação deles, podendo assim dirigir outros à Fonte.
3 Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo.
4 Mas prove cada um a sua própria obra, e terá gloria apenas em si mesmo, e não noutro.
Note as palavras: “não sendo nada”. Não diz que nós não deveríamos acreditar tanto em algo que não tenhamos chegado a ser. Pelo contrário, é a verificação plena de um fato: que nós não somos nada. Não só um único indivíduo; também todas as nações reunidas, são nada perante o Senhor. Sempre que acreditamos que somos algo, estaremos nos enganando a nós mesmos. E fazemos frequentemente isto, em detrimento do trabalho do Senhor.
Você se lembra da “Lei de Cristo”? Embora Ele tudo fosse, “se despojou de si mesmo” de forma que pudesse ser feita a vontade de Deus. “O servo não é maior que o seu senhor” (João 13:16). Só Deus é grande. “Certamente é vaidade completa todo o homem que vive” (Sal. 39:5). Deus sempre é verdadeiro, embora “todo homem seja mentiroso” (Rom. 3:4). Quando reconhecemos o anterior, e vivemos conscientes dele, nos colocamos na situação na qual o Espírito Santo pode alcançar-nos, tornando possível que Deus trabalhe por nós. O “homem de pecado” é quem se exalta (2 Tes. 2:3 e 4). O filho de Deus é o que se humilha.
5 Porque cada qual levará a sua própria carga.
Se contradiz o versículo dois? De modo nenhum. A Escritura nos fala que levemos cada um a carga do outro, não que lancemos as nossas neles!” “Lança sobre o Eterno tua carga" (Sal 55:22). Cada um tem que pôr a carga sobre o Senhor. Ele leva a carga da humanidade inteira, não em massa, mas individualmente. Não colocamos nossas cargas nEle, juntando em nossas mãos ou em nossa mente, e os lançando para Alguém distante de nós. Deste modo é impossível. Muitos tem procurado desta forma ser libertado de sua carga de pecado, dor, angústia e castigo, sem conseguir. Voltavam a senti-la pairando cada vez mais pesada sobre eles, até deixa-los às portas do desespero. Onde estava o problema? Olharam a Cristo como alguém distante, e pensaram que correspondia a eles estender a ponte sobre o abismo. Mas isso não é possível. O homem (quando ainda éramos fracos) não pode tirar de si a carga, nem na distância pequena dos próprios braços. Por muito tempo mantivemos o Senhor afastado, embora só na longitude de nossos braços, privando-nos do descanso da pesada carga. É somente quando reconhecemos e confessamos que nada somos, e desaparecendo em nossa insignificância – deixando de nos enganarmos a nós mesmos –, é então quando Lhe permitimos levar nossa carga. Cristo sabe como manejá-la. E levando seu jugo, aprendemos dEle como levar as cargas de outros.
O que há, então, no propósito de levar nossa própria carga? É “o poder que opera em nós” que a leva! ”Com Cristo estou crucificado, e já não vivo eu, mas Cristo vive em mim” (Gál. 2:20). Trata-se de mim; mas não eu, se não Ele.
Aprendi o segredo! Não cansarei a qualquer outro fazendo-lhe participante de minha carga pesada, mas eu mesmo a levarei; mas não eu, e sim, Cristo em mim. Há muitos no mundo que ainda não aprenderam esta lição de Cristo, todo o filho de Deus achará ocasião de tomar as cargas de algum outro. A sua própria, confiará ao Senhor. Não é maravilhoso que “aquele que é poderoso” leve sempre nossa carga?
Aprendemos essa lição na vida de Cristo. Andava fazendo o bem porque Deus estava com Ele. Consolou aos tristes, curou os de coração quebrantado, libertou os que foram oprimidos pelo diabo. Nem um só dos que foram a Ele levando seus sofrimentos e enfermidades saíram sem alívio. “Assim se cumpriu o que disse o profeta Isaías: ‘Ele mesmo tomou nossas enfermidades e levou nossas dores’ ” (Mat. 8:17).
E depois, quando à noite as multidões se colocavam no leito, Jesus procurava as montanhas ou a floresta, para que em comunhão com o Pai (para quem vivia) pudesse obter provisão renovada de vida e força para sua própria alma. “Cada um examine seu próprio trabalho”. “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2 Cor. 13:5). “Porque embora crucificado em fraqueza, vive pelo poder de Deus. Também nós somos fracos, mas pelo poder de Deus, viveremos com ele pelo poder de Deus em vós” (vers. 4). Deste modo, se nossa fé prova que Cristo está em nós (e a fé demonstra a realidade do fato), teremos do que nos alegrar perante nós, e não ante outro. Nos alegramos em Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, e nosso gozo não depende de qualquer outra pessoa no mundo. Mesmo que todos desanimem e caiam, resistiremos, uma vez que “o fundamento de Deus permanece firme” (2 Tim. 2:19).
Então, que ninguém que se tem por cristão conforme-se em apoiar-se em algum outro. Embora sejas o mais fraco entre o fracos, sempre sejas um carregador de cargas, um obreiro juntamente com Deus, levando em Cristo sua própria carga e a de seu próximo, sem reclamações nem impaciência. Pode inclusive descobrir algumas das cargas pelas que seu irmão não expresse lamento algum, e também levá-las. E a mesma coisa pode fazer o outro. O fraco então, se regozijará assim: “Minha força e minha canção é o Eterno, o Senhor, que tem sido minha salvação” (Isa. 12:2).
6 E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.
Sem dúvida alguma isso se refere principalmente aos recursos temporais. Se um homem se dedica inteiramente ao ministério da Palavra, é evidente que as coisas necessárias para sua manutenção devem vir daqueles a quem ensina. Agora então, o significado da exortação não se esgota aí. Quem recebe instrução na Palavra, deve compartilhar com o instrutor “em todas as coisas boas”. O tópico do capítulo presente é a ajuda mútua. “Levando cada um as cargas do outro”. Também aquele que instrui aos demais, e recebe deles o alimento material, tem que usar o dinheiro para assistir outros. Cristo e os apóstolos, que não possuíam nada – posto que Cristo era o mais pobre entre o pobres - e os discípulos, tinham deixado tudo para o seguir –, assistiram aos pobres com seus recursos minúsculos (João 13:29).
Quando os discípulos propuseram a Jesus que despedisse as multidões de forma que elas mesmas pudessem se prover, Ele respondeu: “Eles não precisam partir. Dai-lhes vós de comer” (Mat. 14:16). Jesus não estava brincando. Quis dizer o que disse de fato. Sabia que os discípulos não tinham nada que dar às pessoas, mas tinham tanto quanto Ele tinha. Eles não entenderam o poder das palavras, então, Ele mesmo tomou os pãezinhos e os deu aos discípulos, de forma que eles deram de comer aos famintos. Mas as palavras que lhes dirigiu significam que deveriam fazer exatamente como Ele. Quantas vezes nossa falta de fé na palavra de Cristo nos privou de trabalhar o bem e compartilhar o que temos. E é uma pena, porque “tais sacrifícios agradam a Deus” (Heb. 13:16).
Visto que quem ensina não somente compartilha a Palavra, mas também coopera com o apoio material; de um mesmo modo, os que recebem o ensino da palavra não deveriam limitar a liberalidade somente para as coisas temporárias. É um erro a suposição que os ministros do evangelho não estão nunca em necessidade de refrigério espiritual, ou que eles não podem receber isto até do mais fraco no rebanho. É impossível descrever até que ponto provêem encorajamento para a alma do instrutor os testemunhos de gozo e fé no Senhor dado pelos que recebem a Palavra. Não se trata de simples verificação que seu trabalho não foi em vão. Pode muito bem ser que o testemunho não contenha referências imediatas ao que foi dado, mas o alegre e humilde testemunho do que Deus tem feito pelo ouvinte, influenciará positivamente o instrutor, e frequentemente redundará no fortalecimento de centenas de almas.
7 Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
8 Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.
Não é possível expressar com mais clareza essa declaração de princípios. A colheita, que será feita no fim do mundo, revelará se a semente era trigo ou joio (discórdia). “Semeai para vós segundo a justiça, colhei conforme o amor, preparai para vós um terreno novo: é tempo de procurar a Iahweh, até que ele venha e faça chover a justiça sobre vós” (Oséias 10:12, Bíblia de Jerusalém). “O que confia em seu próprio coração é louco” (Prov. 28:26). A mesma coisa é necessária dizer de quem confia em outros homens, como se deduz do verso 13 de Oséias 10: “Arastes impiedade, colhestes iniquidade. Tú comerás o fruto da mentira, porque confiaste em tua própria força, na multidão de seus próprios guerreiros”. “Maldito o que confia no homem, e que se apóia na carne”, seja a sua própria ou de algum outro homem. “Bendito o que confia no Eterno, e põe sua esperança Nele” (Jer. 17:5, 7).
Todo o que perdura vem do Espírito. A carne está corrompida, e é fonte de corrupção. Quem consulta nada mais que sua própria conveniência, obedecendo aos desejos da carne e da mente, apanhará uma colheita de corrupção e morte. “O espírito é vida por causa da justiça” (Rom. 8:10, Bíblia de Jerusalém), e o que consulta só a mente do Espírito, colherá eterna glória. “Se vives conforme a carne, morrereis. Mas se pelo Espírito deres morte às obras da carne, vivereis” (Rom. 8:13). Maravilhoso! Se vivemos, morremos; e se morremos, vivemos. Este é testemunho de Jesus: “O que quiser salvar sua vida, a perderá; e o que perde sua vida por causa de mim, a achará” (Mat. 16:25).
Isso não equivale a perda da alegria no presente. Não implica contínua depravação e penúria, a carência de algo que desejamos, com o propósito de obter outra coisa. Não significa que a existência presente deva ser uma morte em vida, uma agonia lenta. Longe disto! Isso é uma concepção errônea e falsa da vida cristã: uma vida que mais seria chamar morte. Não; todo o que vem a Cristo e bebe do Espírito, tem “nele uma fonte de água, que brota para a vida eterna” (João 4:14). A alegria da eternidade é agora dele. Seu gozo é completo dia após dia. É “plenamente saciado da plenitude de sua casa” (Sal. 36:8), bebendo do manancial do próprio deleite de Deus. Possui tudo, aquele que deseja, uma vez que o coração clama somente por Deus, e em quem mora toda a plenitude. Uma vez acreditara estar descobrindo a vida, mas agora sabe que de fato não estava fazendo mais que olhar para a tumba, para o sepulcro da corrupção. Agora é quando realmente começa a viver, e a alegria da nova vida é inefável e gloriosa”, de forma que canta:
A terna voz do Salvador
Nos fala comovida.
Ouça o Médico de amor,
aquele dá aos mortos vida.
Nunca os homens cantarão,
nunca os anjos em luz
nota mas doce entoarão
que o nome de Jesus.
(P. Castro, #124)
Um exército sagaz sempre tenta bater as posições inimigas de maior valor estratégico. Deste modo se esconde uma promessa significativa para os crentes, Satanás a distorce, transformando-a em motivo de desânimo. Muitos podem querer pretender que a palavra “O que semeia para sua carne, da carne colherá corrupção”, significa que, até mesmo depois de ter nascido do Espírito, devem continuar sofrendo as consequências de sua vida anterior de pecado. Alguns acabam supondo que até mesmo na eternidade eles levarão as cicatrizes dos pecados antigos e lamentando-se em palavras como estas: ‘Nunca poderei ser o que deveria ter sido se nunca tivesse pecado’.
Que calúnia da graça de Deus, e da redenção em Cristo Jesus! Não é essa a liberdade na qual Cristo nos faz livres. A exortação diz: “Como também você oferecia seus membros a impurezas e a iniquidade, apresente agora vossos membros para servir a justiça que conduz à santidade” (Rom. 6:19). Se o que sofre de tal modo a justiça, sempre deve estar limitado por causa dos hábitos ruins do passado, seria demonstrado que o poder da justiça é inferior ao do pecado. Mas a graça de Deus é tão poderosa quanto os céus.
Imagine alguém que foi condenado a prisão perpétua por seus crimes. Depois de ter ficado alguns anos na prisão, é perdoado e posto em liberdade. Algum tempo depois o encontramos, e descobrimos uma bola de ferro de trinta quilos algemada a seu tornozelo por meio de uma corrente espessa, de forma que só a duras penas pode rastejar de um lugar para outro. ‘Como? O que significa isto?’, – lhe perguntamos surpresos. ‘Não te permitiram partir livre?’.
‘Oh sim!’, nos responde, ‘Sou livre, mas tenho que levar esta bola como lembrança de meus crimes passados”.
Toda pregação inspirada pelo Espírito Santo é uma promessa de Deus. Uma delas, transbordando de graça, é esta: “Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões: mas, segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor” (Sal. 25:7).
Quando Deus perdoa e esquece nossos pecados, nos proporciona um poder tal para escapar deles, que venhamos a ser como se nunca houvéssemos pecado. Mediante as “preciosas e grandíssimas promessas”, que nos tem dado, faz que “cheguemos a participar da natureza divina, e nos livremos da corrupção que está no mundo por causa dos maus desejos” (2 Ped. 1:4). O homem caiu quando comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal. O evangelho apresenta uma tal redenção da raça caída, que todas as negras memórias do pecado são apagadas. Os redimidos acabarão sabendo só o bem, com Cristo, que “não conheceu pecado”.
Os que semeiam para a carne, da carne colherão corrupção, como todos nós tivemos a ocasião de verificar pessoalmente. “Mas vós não viveis de acordo com a carne, mas de acordo com o Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós” (Rom. 8:9). O Espírito tem poder para nos liberar do poder da carne, e de todas as suas consequências. “Cristo amou a igreja, e se entregou a si mesmo por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra, para apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efe. 5:25-27). “Por suas feridas fomos sarados”. A memória do pecado, não dos pecados individuais, persistirá pela eternidade nas cicatrizes das mãos, nos pés e no lado de Cristo. Constituem o selo de nossa perfeita redenção.
9 E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecidos.
Nos cansamos muito facilmente de fazer o bem, quando não olhamos à Jesus. Perdemos o descanso, porque imaginamos que a prática contínua do bem deveria ser extenuante. Mas isso só é assim porque não temos compreendido plenamente a alegria do Senhor, a força que nos impede desfalecer. “Os que esperam no Eterno terão forças novas, erguerão o vôo como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se cansarão (Isa. 40:31).
Da mesma maneira que mostra o contexto, o tópico principal simplesmente não é o resistir à tentação em nossa própria carne, mas ajudar a outros. Precisamos neste ponto aprender a lição de Cristo, que “não se cansará nem desmaiará, até que estabeleça a justiça na terra” (Isa. 42:4). Embora muitos dos que curou nunca demonstraram o mínimo agradecimento, isto não o fez mudar em qualquer coisa. Veio fazer o bem, não para oferecer-se a avaliação dos outros. Então, “de manhã, semeies a tua semente, e a tarde não permitas descansar sua mão; porque não sabes o que é melhor, se isto ou aquilo, ou se as duas coisas são boas” (Ecl. 11:6).
Não é determinado saber quanto recolheremos nós, nem qual será a semeadura a partir da qual colheremos. Uma parte dela pode ter caído a beira do caminho e sendo arrebatada antes de poder lançar raízes; outra pode cair em terra pedregosa e pode secar; e até mesmo outra pode cair entre espinhos, sendo sufocada. Mas uma coisa é certa: colheremos! Não sabemos se prosperará a semeadura de amanhã, ou o que fez pela tarde, ou se ambos o farão. Mas não existe a possibilidade que ambas fracassem. Ou prosperará uma, ou outra... Ou ambas!
Isso não é incentivo suficiente para não cansarmos de fazer o bem? A terra pode parecer pobre, e a estação pouco promissora. Os piores pronunciamentos podem ser dados para a colheita, e podemos ser tentados a pensar que todo nosso trabalho foi


Atenção:

Estão faltando traduzir, no final deste último capítulo do livro Boas Novas, de Ellet J. Waggoner da páginas 135, no meio da página, até à página 144.

Nesta última página do livro (144), Waggoner termina o livro com um poema de autor desconhecido 

"Na cruz de Cristo eu me glorio,
Elevando-me por sobre os destroços do tempo;
Toda a luz da história sagrada
Se reúne em torno de sua cabeça sublime."

 Por isso,    
"Desde que eu, que estava destruído e perdido,
Tive perdão através do Seu nome e Palavra;
De modo nenhum, então, eu devo me gloriar,
Senão na cruz de Cristo, meu Senhor ".

Onde quer que eu vá, vou contar a história
Da cruz, da cruz,
Em nada mais a minha alma se gloriará,
Só na cruz, só na cruz.
E esse será meu constante tema,
Através do tempo e da eternidade,
Que Jesus provou a morte por mim
Na cruz, na cruz.

Autor desconhecido;
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