quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Lição 5 — A fé de Abraão por, Ann Walper




Para 28 de out. a 4 de Nov. de 2017


Quando Deus chamou Abrão de Ur(*Ur dos caudeus, Gên. 15: 7) qual era a sua condição espiritual? Sabemos que pouco depois do dilúvio, Nimrode estabeleceu o reino de Babel em rebelião contra Deus (Gên. 10: 8-10), e Ur era uma área nesse reino. Sabemos que, neste lugar, os habitantes adoraram os deuses da lua crescente chamado Sin. Ele foi o criador de todas as coisas, o pai de todos os deuses, inclusive o pai do deus sol. Nós também sabemos que o pai de Abrão, Terá, adorava ídolos e ficou tão apegado a eles que, quando eles deixaram Ur, ele levou seus ídolos com ele.
 “...Terá, pai de Abraão e pai de Naor;... serviram a outrs deuses” (Josué 24: 2). Abraão e sua família não só tinham estátuas em suas prateleiras para lembrá-los dos deuses que eles adoravam, como algumas cruzes ou fotos de Cristo em seus muros, mas "serviram a outros deuses". Os deuses falsos eram uma parte muito real de sua experiência espiritual e diária. A família de Abrão era pagã através de uma mistura supersticiosa das coisas deificadas da natureza, com um conhecimento desbotado do verdadeiro Criador. Eles possuíam um conhecimento remanescente da experiência pré-diluviana dos descendentes de Caim e Sete, mas confundiam esse conhecimento com ideias pagãs sobre Deus.
Embora o "pai dos fiéis" tenha começado sua carreira na escuridão pagã, Terá e Abrão tiveram acesso a um conhecimento completo de Deus através do testemunho de Sem, que viveu por 502 anos após o dilúvio (Gen. 11:10, 11). Sem, filho de Noé, ainda estava vivo quando Isaque, filho da promessa, nasceu a Abraão. Deus nunca esteve sem uma testemunha fiel que poderia chamar as pessoas das trevas para a luz do Seu amor redentor.
Apesar de apagado, era o conhecimento remanescente do único Deus verdadeiro, mantido vivo por Sem, e a evidência do Dilúvio como julgamento contra o pecado, que manteve aberta a porta do coração, permitindo que o Espírito Santo atuasse sobre o coração de Abrão. Vivendo entre uma multidão de deidades silenciosas e impotentes, havia Um que, com crescente clareza, falou com Abrão através de sua consciência. "A fé em Cristo não é obra da natureza, mas sim operação de Deus sobre o espírito humano, efetuada na própria alma pelo Espírito Santo, que revela a Cristo, como Cristo revelou o Pai".1
"Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai da tua terra, e da tua parentela e da casa de teu pai, para uma terra que Eu te mostrarei ... Assim partiu Abrão como o Senhor lhe tinha dito" (Gênesis 12: 1, 4). "Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia" (Heb. 11: 8).
Obediência inquestionável, essa é a característica da fé verdadeira. A fé "funciona" em oposição da natureza humana, ou do que o "senso comum" nos diz para fazer. O senso comum teria sido manter-se, exatamente onde a família de Terá empre vivia. O senso comum teria questionado aquela "voz mansa e suave" que chamava Abrão da terra fértil e próspera ao longo do rio Eufrates, dizendo que fosse para uma terra onde seria "um estrangeiro e peregrino" o resto de sua vida (Heb. 11: 8-10, 13). Abrão teve que ser removido de sua "zona de conforto" para que pudesse estar preparado para o que Deus queria fazer com ele. Teve que ser levado à condição espiritual de total dependência da palavra de Deus, ou ele nunca se tornaria o "pai dos fiéis".
Uma série de provações lhe sobrevieram que testaram a confiança de Abraão na palavra criadora de Deus antes de estar "totalmente persuadido" do poder inerente à palavra de Deus. Só então pode ser verdadeiramente dito de Abraão: "O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E não enfraquecendo na fé, não atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois já era de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara; E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, E estando certíssimo de que o que Ele tinha prometido, também era poderoso para o fazer. Assim isso lhe foi também imputado como justiça"(Romanos 4: 18-22).
No início de sua jornada espiritual, Abraão não tinha evidência de que o que Deus lhe prometeu (ter um filho e tornar-se herdeiro do mundo) se tornaria uma realidade. Mas o dom de Deus da medida da fé (Romanos 12: 3) foi apreciado por Abraão e, como ele a exercitou, cresceu em força. O conhecimento remanescente de que o Deus de Sete era o verdadeiro Criador, em oposição a todos os outros deuses, como Sin, foi a chave para o desenvolvimento espiritual de Abraão.
"O que diremos, pois,ter alcançado Abraão, nosso pai, segundo a carne?" (Romanos 4: 1). O que foi que Abraão "alcançou"? "Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua sua posteridade, mas pela justiça da fé" (Romanos 4:13). Abraão "alcançou" justiça por crer na Palavra de Deus. "E creu ele no Senhor, e imputou-lhe isso por justiça" (Gên. 15: 6). Abraão não podia "ganhar" essa justiça por meio da guarda da lei, nem pelo rito da circuncisão. "E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que crêem" (Romanos 4:11). O rito da circuncisão não fez Abraão, nem nenhum dos seus descendentes, justo. "Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor" (Gálatas 5: 6).
A justiça de Abraão não era "de dívida", como se fosse por suas próprias "boas obras" Deus devia a salvação a ele. Nada que possamos fazer colocará Deus em obrigação para conosco. Ellet J. Waggoner, um dos "mensageiros" de 1888, entendeu este conceito: "Se alguém pudesse fazer algo pelo Senhor para o qual o Senhor lhe seria obrigado, então tudo não seria dele. Quer dizer, a idéia de justificação pelas obras se opõe ao fato de que Deus é o Criador de todas as coisas. E, inversamente, o reconhecimento de Deus como Criador é o reconhecimento de que a justiça vem dEle somente".2
E assim, o descanso sabático sagrado de Deus é o sinal e o selo da justiça dno povo remanescente final que reconhece o Criador como a única fonte de poder para vencer o pecado e desenvolver caracteres semelhantes a Cristo (Apocalipse 14: 6-12). Através da fé testada e comprovada de Jesus Cristo — o dom de Deus para nós — nossos corações são rendidos, nossa vontade submetida e nossas afeições são firmemente fixadas sobre o Salvador, e tudo neste mundo perde sua atratividade. A justiça pela fé é o dom de Deus através de Cristo, o Autor e Consumador daquela fé.
A justiça pela fé depende da palavra de Deus apenas para realizar o que prometeu: que ela pode criar nos seres humanos caídos o que não existe sem o Seu poder e presença na vida. "A fé é a expectativa de que a própria Palavra de Deus faça o que a palavra diz, e dependendo da própria palavra para fazer o que a palavra diz. Como a palavra de Deus é, por si só, criativa e, assim, é capaz de produzir e fazer aparecer o que de outra forma nunca existiria nem seria visto, e uma vez que a fé é esperar que a palavra de Deus apenas faça exatamente essa coisa e, dependendo da "única palavra" para fazê-la, é claro que a fé é "a prova das coisas que se não vêem."3 " Assim é a palavra de Deus que deve operar em você para agir. ... Você não deve operar para fazer a palavra de Deus: a palavra deve trabalhar em você para agir. ... A palavra de Deus sendo viva e cheia de poder, quando é permitida atuar na vida, será poderosa para obrar naquele indivíduo".4
Considere agora a promessa de Deus de que Abraão seria "herdeiro do mundo" (Romanos 4:13). Do que Paulo fala aqui? "E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão" (Gên. 17: 8). Em seu testemunho perante o Sinédrio, Estêvão falou um fato bem conhecido sobre Abraão e a possessão da terra, que Deus "E não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço o suficiente para colocar o pé" (Atos 7: 5; NKJV). Como reconciliar essa aparente contradição?
"Primeiro, notemos o fato de que a herança prometida é uma herança eterna. O próprio Abraão deve tê-lo por uma possessão eterna. Mas o único modo pelo qual Abraão e sua semente podem ter a possessão eterna de uma herança é ter a vida eterna. Portanto, vemos que, nesta promessa a Abraão, temos a garantia da vida eterna para desfrutar a possessão".5
"Não se esqueça de que o concerto e a promessa são a mesma coisa, e que transmitem a terra, mesmo a terra inteira feita nova, a Abraão e seus filhos [espirituais]. Lembre-se também de que, uma vez que somente a justiça habitará nos novos céus e na nova terra, a promessa inclui tornar justos todos os que crêem".6
"Deus não disse que, se acreditarmos em certas declarações e dogmas, Eele, em troca, nos dará uma herança eterna. A herança é de justiça e, como a fé significa a recepção da vida de Cristo no coração, juntamente com a fé de Deus a justiça, é evidente que não existe outra maneira pela qual a herança possa ser recebida".7
"E isso nos leva à conclusão do assunto, a saber, que a promessa a Abraão e à sua semente de que eles seriam herdeiros do mundo, é a promessa da vinda de Cristo ... E então entendemos que nós temos grande interesse pela promessa a Abraão como ele próprio tinha. Essa promessa ainda está aberta para todos aceitarem. Ela abraça nada menos do que uma vida eterna de justiça na terra tornada nova como era no início. A esperança da promessa de Deus aos pais era a esperança da vinda do Senhor para ressuscitar os mortos, e assim dar a herança".8

 
Notas finais:                                                            

1) Ellen G. White, “Nos Lugares Celestiais”, pág.  51;
2) Ellet J. Wagoner, “Waggoner  sobre Romanos,” pág. 81;
3) Alonzo T. Jones, Review and Herald, de 3 de janeiro de 1899; Jones e Wagsoner, “Lições de Fé”, pág. 19;
4) Idem, pág. 108;
5) Ellet J. Wagoner, “Waggoner  sobre Romanos,” pág. 84;
6) Ellet J. Wagoner, Boas Novas”, um estudo verso por verso de Gálatas, pág. 72, edição CFI (2016); Gal. 3:29;
7) Ellet J. Wagoner, “Waggoner  sobre Romanos,” pág. 88;
8) Idem, págs. 86, 87.
 
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Notas:                                                                    

O vídeo do pastor Paul Penno, em inglês, desta lição está na Internet em: https://youtu.be/x_hffE_NaD0

Esta lição, em ingles, está na Internet em: http://1888message.org/sst.htm

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Biografia da autora, Anna Walper

A irmã Ana Walper é uma adventista dedicada à pesquisa bíblica e às atividades da igreja. Atualmente ela é diretora dos departamentos de liberdade religiosa; escola sabatina; saúde e temperança, e é coordenadora de uma das unidades evangelizadoras da escola sabatina. É também ativa instrutora bíblica. Profissionalmente é enfermeira padrão, e durante as férias escolares ela trabalha como enfermeira voluntária em acampamentos da juventude adventista nos estados de Tenneessee e Kentucky nos EUA. Ela é também escritora independente já por 16 anos em jornais de sua cidade sobre as boas novas de Cristo e Sua Justiça.

Atenção: Asteriscos (*) indicam acréscimos do tradutor.
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