Para 18 a 25/11/17
Muitas
pessoas estão confusas sobre exatamente o que Paulo está falando em Romanos
capítulo sete. Alguns acreditam que o "primeiro" marido é a nossa
condição de pré-conversão, e que Paulo está falando especificamente de sua
própria experiência pessoal. Outros alegam que, o “primeiro marido" é a
lei moral que é "contra nós" e precisa ser tirada do caminho, porque
nos condena. A primeira teoria nos deixa em desespero por jamais vencer o
pecado, a segunda condena a lei de Deus como sendo a raiz do problema. Mas há uma terceira opção,
que oferece melhor "boa nova" do que as outras duas idéias. Será que
Paulo aqui tem uma perspectiva mais ampla em mente?
O professor Alexander B. Bruce diz que sim: "Nós perdemos o
significado didático dessa passagem, se tomá-la como meramente biográfica, ao
invés de vê-la como típica e representativa. Que se destina a ser típica
é evidente a partir da forma abstrata em que a carne é tratada. Não se trata da
carne de São Paulo que está em falta, é a carne, a carne que todos os homens
têm a carne em que habita o pecado."[1]
A discussão em Romanos capítulo 7 não é sobre se
Paulo (ou qualquer pessoa) é convertida ou não. O apóstolo está falando sobre o
conceito mais amplo da natureza pecaminosa, em contraste com a justa lei de
Deus. Ele está se referindo ao problema universal da nossa condição caída e
condenada, e o remédio para ela. A mente carnal (Rom. 8: 7), o velho homem
(Romanos 6: 6; Ef. 4: 22), e o caráter, que é inclinado para o pecado, são
conceitos sinônimos na apresentação teológica de Paulo sobre o conceito de
pecado em sua carta aos romanos.
A ilustração em Romanos 7: 1 a 3 destina-se a esclarecer
sobre o que Paulo estava falando no capítulo 6, sobre "o velho
homem," escravo do pecado, e livre do pecado através da morte de Cristo
como nosso cordeiro sacrifical. Em 6: 6 Paulo nos diz que "o nosso velho
homem é crucificado com Ele; que o corpo do pecado deve ser destruído, para que
não mais sirvamos ao pecado" (cf. Gal. 2: 20, 2ª Coríntios 5: 14 e 15).
Essa ideia é paralela com a metáfora do casamento, do capítulo sete, e da
necessidade da morte do primeiro marido. Há quatro elementos na ilustração do
capítulo sete, a lei, a mulher, o primeiro e segundo maridos (ver Waggoner
sobre Romanos, pág. 118-121).
Alguns têm definido o primeiro marido como a lei
dos dez mandamentos de Deus, baseando a sua opinião sobre os versículos de 1 a 3 em que Paulo afirma que "a lei tem domínio sobre o homem"
(v. 1), e depois Paulo muda para "a
mulher" (v. 2) e que a mulher deve ser "livre da lei” do marido,
que "morto o marido, livre está da lei" (v. 3). Superficialmente,
estes versos parecem correlacionar a lei e o marido como um elemento da
história. No entanto, pela declaração de Paulo, não podemos culpar a lei como
sendo o marido faltoso, pois Paulo afirma que "a lei é santa" (vs.
12). Não há nenhuma culpa a ser encontrada em qualquer aspecto da lei, que é
uma transcrição do caráter santo de Deus.
Paulo define o que entende por lei no verso 7,
mostrando que ele está se referindo aos Dez Mandamentos de Deus, em que a
luxúria e a cobiça são condenados. A justa lei de Deus é impessoal, separada, elevada
e sublime, condenando o nosso “casamento" com [o] primeiro marido. A lei
moral não tem misericórdia, graça, e nenhum poder para perdoar. Por si só não
pode justificar ou endireitar nosso corrupto caráter, só pode condenar o que
está em oposição a ela. Mas isso não torna a lei pecado ou exige a sua remoção
ou alteração.
Vamos examinar os restantes três elementos.
Entende-se que nós (coletivamente falando) é a mulher envolvida no casamento
ruim. O segundo marido (o "bom marido”) é, obviamente, Cristo, como Paulo
indica, no versículo 4 (“Para que sejais
de outro, dAquele que ressuscitou dentre os mortos"). Paulo deixa
claro que nós não podemos nos casar com o segundo marido, desde que o primeiro
marido está vivo; tentar fazer isso é adultério. Por toda a Bíblia, Deus
declarou que Ele não vai participar em um relacionamento adúltero (cf. Jer.
3:9; 13:27, Eze. 16:17, 33; etc.)
Mas, quem é o primeiro marido? Do que Paulo
disse anteriormente sobre a escravidão do pecado no capítulo 6, evidência
contextual indica que ele está apresentando uma metáfora no capítulo 7. A força do pecado é
metaforicamente chamada de "lei do
pecado que está nos meus membros" (Rom. 7: 23). É o "velho
homem" de que fala o capítulo 6, que trabalha através da natureza
pecaminosa (com que toda pessoa nasce), buscando expressar-se através de atos
de rebelião contra Deus (veja Tiago 4:1-4). Ele identificou o "velho homem,"
como o que precisa morrer. É o velho homem, a natureza pecaminosa, que
permanece continuamente em rebelião contra Deus, que nos mantém na escravidão
do pecado e da morte.
A partir desta melancólica discussão no capítulo
6, Paulo rapidamente avança para proclamar a gloriosa nova de que o velho
homem, o nosso "corpo de pecado", não deveria ter domínio sobre nós (Rom.
6:14). Nós temos sido libertados da escravidão do pecado, e, pela fé em Cristo,
vamos servi-Lo em justiça (vs. 22). A partir desta declaração de nossa
libertação do poder do pecado — através de morte para o pecado — e para ir ao
mesmo ponto de um ângulo diferente, Paulo, em seguida, passa à sua ilustração
usando o casamento como metáfora.
No capítulo 7 Paulo diz que o primeiro marido
precisa morrer para que a “mulher" possa ser libertada de um casamento que
produz escravidão (vs. 3). Uma vez que tanto o velho homem como o primeiro
marido trazem escravidão, e ambos devem morrer, o primeiro marido e o
"homem velho" emergem como conceitos paralelos no pensamento de
Paulo. O que o primeiro marido representa nesta metáfora é indicado no
versículo 5: "Porque, quando
estávamos na carne [i.e., cedendo aos clamores da natureza pecaminosa;
essas palavras não significam que há, de modo algum, uma libertação da natureza
pecaminosa, antes da segunda vinda de Cristo como na ideia do movimento da
"carne santa"], as paixões dos
pecados [paixões pecaminosas que produzem atos pecaminosos], que são pela lei [isto é, definidos pelo
Dez Mandamentos, ver os versos 7 e 8], operavam
em nossos membros para darem fruto para a morte." E a nossa derrota ante
as exigências da carne (i. e, a natureza pecaminosa), que produz o
"fruto" da segunda morte (Tiago 1:14 -15).
O conceito bíblico de casamento é que os dois
devem se tornar uma só carne (Gen. 2: 24, Marcos 10: 8). Para serem unidos de
tal forma (e para ser uma união feliz) significa que os dois são de uma mesma mente
(opinião). Se eles precisam caminhar juntos em paz, eles devem estar de acordo
sobre como a vida deve ser vivida (Amós 3:3). Esta é precisamente a condição de
que Paulo fala entre a mulher e o primeiro marido. Nós nascemos em carne
pecaminosa, com inclinações e propensões para o pecado, e rebelião contra Deus.
Indulgência para com essas inclinações e propensões amadurecem em uma natureza
pecaminosa, ao hábitos de pecado se desenvolvem, e nosso caráter é
transtornado. Tornamo-nos casados com a natureza pecaminosa, desfrutando dos
“prazeres do pecado” que vêm desta união carnal.
Não há nenhum indício nos versículos 1-3 de que
a mulher é infeliz no casamento com seu primeiro marido. É observação externa
de Paulo que esse casamento é ilícito e deve ser dissolvido, mas ele admite que
essa dissolução só pode acontecer através da morte das partes envolvidas. A
trama se complica quando Paulo revela que existe um segundo Homem que deseja Se
casar com a mulher, mas Ele não pode enquanto o primeiro marido vive (esta
idéia é introduzida aqui, mas Paulo a explica no capítulo 8).
Apelando à Sessão da Conferência Geral de 1891,
Ellet J. Waggoner comenta sobre Romanos 7: "Nós descobrimos que estamos
unidos com o pecado e com o corpo do pecado. Então, Cristo vem a nós e Se
apresenta como Alguém completamente adorável. E, na realidade, Ele é o único
que tem qualquer reivindicação real sobre nós. "Tenho, porém, contra ti, que deixaste o teu primeiro amor" (*Apoc.
2:4). O apóstolo está escrevendo para aqueles que conhecem a lei e que deixaram
seu primeiro amor, e o que se aplica a eles também se aplica, em maior medida,
aos do mundo. Cristo vem até a porta do nosso coração e bate e suplica para
irmos a Ele"2 Com a
força desta afirmação, Romanos 7 é um apelo à Igreja de Laodicéia para
despertar de sua letargia de devoção ao egocentrismo. Para se entender isto
deve-se comparar Cantares de Salomão 5: 2 e 3 com Apocalipse 3:20 (*à luz da
rejeição da mensagem de 1888, tanto corporativa como individualmente, desde
então até hoje)..
Em Romanos 7: 15 e 16, a mulher é casada com o
ego. É a motivação do velho concerto, "eu
faço." “Eu não consigo realizar o bem" (vs. 18, ú.p.). "Eu", ou seja, o ego, é "o pecado que habita em mim" (vs. 20, ú.p.). Laodicéia se
deleita, tem “prazer na lei de Deus"
(vs. 22, ú.p.), mas não pode guardá-la por causa de "uma outra lei nos meus membros" (vs. 23). É a motivação
egoísta de obediência à lei de Deus, que é a esperança da recompensa (*da vida
eterna) e/ou (*o desejo de) evitar o inferno. O que é motivado pelo interesse
próprio é antinomianismo (*i.e., pelo desprezo à lei).
Todo o capítulo 6 fala da necessidade de morte
para um antigo caminho, que é a escravidão e a miséria sob a escravidão do
pecado (Rom. 6: 6, 7, 11-12 e 14). Como Paulo declarou nestes versos, a fim de
ser livre do pecado e da morte, devemos considerar-nos mortos para o pecado. O
velho homem deve morrer. Mas nós temos que morrer também. Em Gálatas 2:20,
Paulo deixa enfaticamente claro esse ponto quando afirma: "Estou crucificado com Cristo." Quando morremos para o
pecado, o nosso velho homem (a natureza pecaminosa), também perece. Assim, pela
fé no poder de Cristo sobre o pecado, nos rendemos a Ele; nós nos identificamos
com Cristo na Sua morte na cruz (Romanos 6:3). Através do batismo, que é uma
declaração pública da nossa vontade de morrer para o pecado e o eu (vs. 4), e
nos tornamos vivos em Cristo (vs. 5 e 8). Nos tornamos servos de Deus em
justiça, e não mais estamos recebendo o salário do pecado (vs. 22 e 23).
Paulo nos admoesta a "deixar estar em nós essa mente que houve também em Cristo
Jesus" (Filipenses 2:5, KJV); (*“Não
sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa
mente”), Rom. 12: 2, KJV. A natureza carnal (pecado) e a mente de Cristo, estão
em forte oposição uma à outra. "A
mente carnal é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em
verdade, o pode ser" (Rom. 8: 7, KJV).
A batalha é pela mente, e é uma escolha
nossa que mente vamos possuir, a mente de Cristo que está de acordo com toda a
vontade de Deus, ou a mente de Satanás, que está em inimizade com a vontade de
Deus.
—Ann Walper
Notas da autora:
[1] St. Paul’s Conception of Christianity
(A Concepção de Paulo do Cristianismo), pág. 139; edição de 1896, por Alexander
Balmain Bruce (1831-1899).
[2] General
Conference Daily Bulletin, (Boletim Diário da Conferência Geral) de 19 de
março de 1891, pág.172.
A irmã
Ana Walper é uma adventista dedicada à pesquisa bíblica e às atividades da
igreja. Atualmente ela é diretora dos departamentos de liberdade religiosa;
escola sabatina; saúde e temperança, e é coordenadora de uma das unidades
evangelizadoras da escola sabatina. É também ativa instrutora bíblica.
Profissionalmente é enfermeira padrão, e durante as férias escolares ela
trabalha como enfermeira voluntária em acampamentos da juventude adventista nos
estados de Tenneessee e Kentucky nos
EUA. Ela é também escritora independente já por 16 anos em jornais de sua
cidade, escrevendo sobre as boas novas de Cristo e Sua Justiça. Se você desejar
ler este estudo em inglês, sobre Romanos 7, mais detalhado, escrito pela a irmã
Ana Walper, acesse: http://www.1888mpm.org/book/lesson-8-man-romans-sabbath-august-21
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