sexta-feira, 9 de julho de 2010

Romanos, Cap.´1, Waggoner

CARTA AOS ROMANOS, Por Ellet J. Waggoner, Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição César L. Pagani


Capítulo 1
O Poder de Deus Está no Evangelho

(*O prefácio e) a saudação. Romanos 1:1-7:
1 Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus.
2 O qual antes prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras,
3 Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne,
4 Declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor,
5 Pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome,
6 Entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo.
7 A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Um servo (escravo) -"Paulo, servo de Jesus Cristo". O apóstolo assim se apresenta aos romanos. Em outras epístolas ele utiliza a mesma expressão. Alguns se sentiriam envergonhados de definir-se como servos; mas tal não foi o caso dos apóstolos.
Há uma grande diferença, dependendo de quem servimos. A importância do servo deriva da dignidade daquele a quem serve. Paulo servia ao Senhor Jesus Cristo. Está ao alcance de todos servir ao mesmo Mestre. “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Rom. 6:16). Até o próprio empregado da casa que se entrega ao Senhor, é servo do Senhor e não do homem. "Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus. E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” (Colossenses 3:22-24).

Uma consideração tal não pode senão dignificar o trabalho mais humilde e rotineiro que se possa imaginar. Nossa versão não expressa toda a força do termo que o apóstolo usa ao chamar-se "servo". Em realidade é "servo-escravo". Ele usou o termo que normalmente era aplicado aos escravos. Se realmente somos servos do Senhor, somos Seus escravos por toda a vida. Mas esse é o tipo de escravidão que traz em si mesmo a liberdade. "Pois o que foi chamado no Senhor, mesmo sendo escravo, é um liberto do Senhor; e assim também o que foi chamado sendo livre, escravo é de Cristo". (1ª Coríntios 7:22, ARA e ARC).

Separado -O apóstolo Paulo foi "separado para o evangelho". Assim ocorre com todo aquele que realmente serve ao Senhor. "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se dedicar-se a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a mamom." (Mateus 6:24). Ninguém pode servir a Deus e, ao mesmo tempo, a outro senhor.
Isso significa que um empresário ou homem de negócios não pode ser um bom cristão? Nada o impede. O que estamos dizendo é que um homem não pode servir ao Senhor e ao mesmo tempo a outro mestre. "E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai" (Colossenses-3:17). Se um homem de negócios não está servindo ao Senhor em sua atividade profissional, então não O serve, absolutamente. O verdadeiro servo está, de fato, "separado para..."
Isso, porém, não quer dizer que ele se isola do contato pessoal com o mundo. A Bíblia não justifica a reclusão monástica. O pecador de quem menos se pode esperar é aquele que se sente demasiado bom para associar-se com pecadores. Como, pois, somos separados para o evangelho? Pela presença de Deus no coração. Moisés disse ao Senhor: “Se Tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui. Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos Teus olhos, eu e o Teu povo? Acaso não é por andares Tu conosco, de modo a sermos separados, eu e o Teu povo, de todos os povos que há sobre a face da Terra?" (Êxodo 33:15, 16).
Porém, aquele que é separado para o ministério público do evangelho, tal como foi o apóstolo Paulo, é apartado no especial sentido de não poder envolver-se em outros negócios cujo fim seja a ganância pessoal. "Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra" (2ª Timóteo 2:4). Não pode se achar em nenhuma posição ante os governos da Terra, por mais elevada que seja. Tal coisa desonraria o seu Senhor e comprometeria seu serviço. O ministro do evangelho é embaixador de Cristo, e nenhuma outra posição lhe pode ser comparada em honra.

O evangelho de Deus. - O apóstolo afirmou que havia sido "separado para o evangelho de Deus". É o evangelho de Deus "acerca de Seu Filho". Cristo é Deus e, portanto, o evangelho de Deus a que se refere o primeiro versículo da epístola, é idêntico ao "evangelho de Seu Filho", mostrado no verso 9.
Muitas pessoas separam o Pai e o Filho na obra do evangelho. Muitos fazem isso inconscientemente. Deus o Pai, tanto como o Filho, é nosso Salvador. "Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu filho Unigênito" (João 3:16). "Deus estava em Cristo reconciliando Consigo mesmo o mundo" (2ª Coríntios 5:19), "... e conselho de paz haverá entre eles ambos” (Zacarias 6:13).(1)
Cristo veio à Terra como representante do Pai. Quem via a Cristo, via também o Pai, João 14:9. As obras que Cristo fez eram as obras do Pai que n’Ele habitava (João 14:10). Até as palavras que Ele dizia eram as palavras do Pai, João 10:24. Quando ouvimos Cristo dizer: "Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei” (*2ª Cor. 5:19), estamos ouvindo o convite cheio da graça de Deus, o Pai. Quando contemplamos Cristo tomando em Seus braços as criancinhas e abençoando-as, testemunhamos o afeto do Pai. Quando vemos a Cristo recebendo pecadores e Se misturando com eles, comendo com eles, perdoando seus pecados e purificando aos desprezados leprosos por meio de Seu toque curador, estamos ante a condescendência e compaixão do Pai. Até quando vemos nosso Senhor na cruz, com o sangue manando de Seu lado ferido, o sangue pelo qual somos reconciliados com Deus, não devemos olvidar-nos de que "Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo" (*2ª Cor. 5:19), de forma que o apóstolo Paulo pôde dizer: "a igreja de Deus, que Ele comprou com o Seu próprio sangue". (Atos 20:28, ARA).

O evangelho no Velho Testamento -O evangelho de Deus, para o qual o apóstolo Paulo afirmava ter sido separado, era aquele "era o qual antes prometeu pelos Seus profetas nas Santas Escrituras" (Romanos 1:2); literalmente, o evangelho que Ele havia previamente anunciado ou pregado. Isso nos mostra que o Velho Testamento contém o evangelho, e também que o evangelho do Velho Testamento (veterotestamentário) é o mesmo que o do Novo. É o único evangelho que o apóstolo pregou. Considerando que isso é assim, ninguém deveria estranhar nossa fé no Velho Testamento, e que o consideremos como tendo a mesma autoridade que o Novo.
Lemos que Deus "anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: ‘Todas as nações serão bendidas em ti’" (Gálatas 3:8). O evangelho pregado nos dias de Paulo era o mesmo ensinado aos israelitas do passado, Hebreus 4:2. Moisés escreveu acerca de Cristo, e seus escritos contém tanto do evangelho que alguém que não cria no que ele escreveu, não podia crer em Cristo, João 5:46,47. "DEle todos os profetas dão testemunho a que, por meio de Seu nome, todo o que nEle crê recebe remissão de pecados" (Atos 10:43, ARA).
Quando Paulo foi para Tessalônica, dispunha somente do Velho Testamento, e "segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos..." (Atos 17:2,3, ARA).
Timóteo, em sua mocidade, não teve outra coisa que não fosse as escrituras do Velho Testamento, e o apóstolo Paulo que lhe escreveu: "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido. E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus" (2ª Timóteo 3:14,15).
Portanto, vá ao Velho Testamento esperando encontrar ali a Cristo e Sua justiça, e você se tornará sábio para a salvação. Não separe Moisés de Paulo, Davi de Pedro, Jeremias de Tiago, nem Isaías de João.

A semente de Davi - O evangelho de Deus é "a cerca de Seu Filho, que nasceu da descendência de Davi, segundo a carne" (Romanos 1:3). Leia a história de Davi e dos reis que dele descenderam, que foram ancestrais de Jesus, e comprovará que no aspecto humano, o Senhor foi afetado negativamente por seus antepassados, como qualquer outro homem jamais poderia tê-lo sido. Muitos deles eram idólatras, licenciosos e cruéis. Embora Jesus estivesse rodeado de fraquezas, "não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano" (1ª Pedro 2:22). Isso está escrito com o propósito de prover ânimo à pessoa na pior condição imaginável em sua vida. Isso assim é para mostrar que o poder do evangelho da graça de Deus triunfa sobre a herança.
O fato de Jesus haver nascido da semente de Davi significa que Ele é herdeiro do trono de Davi. Referindo-se a esse trono, disse o Senhor: "Porém a tua casa [de Davi] e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre" (2ª Samuel 7:16). O reinado de Davi é, por conseguinte, essencial para a herança prometida a Abraão, ou seja, a Terra toda, Romanos 4:13.

De Jesus, disse o anjo: "O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, Seu pai; e Ele reinará eternamente na casa de Jacó; e o Seu reino não terá fim" (Lucas 1:32,33). Porém, isso implicava que também levaria a maldição da herança, sofrendo a morte. "... pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta..." (Hebreus 12:2). "Por isso, também Deus O exaltou sobremaneira, e Lhe deu o nome que é sobre todo o nome" (Filipenses 2:9).
Assim como foi com Cristo, igualmente ocorre conosco. É através de grande tribulação que entramos no reino. Aquele que recua ante a censura, que faz de sua humilde condição de nascimento ou de suas características herdadas uma desculpa para as derrotas, perderá o reino dos céus. Jesus Cristo desceu às mais baixas profundidades da humilhação, a fim de que todos quantos ali estavam pudessem, se assim o desejassem, subir com Ele aos lugares mais elevados.

O poder da ressurreição: –Conquanto Jesus Cristo tenha tido um nascimento humilde, “foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos" (Romanos 1:4, ARA). Acaso não era Ele Filho de Deus antes da ressurreição? Não Se havia o Senhor declarado como tal? Certamente! E o poder da ressurreição manifestou-se durante toda a Sua vida. Sem precisar ir mais longe, o poder da ressurreição ficou demonstrado no fato dEle erguer-Se dos mortos, algo que realizou pelo poder que habitava em Si mesmo. Porém, foi a ressurreição dos mortos que estabeleceu esse fato além de toda a dúvida à vista dos homens.
Depois de haver ressuscitado, foi até os discípulos e lhes disse: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra" (Mateus 28:18). A morte de Cristo havia destruído todas as esperanças que eles tinham nEle, mas quando "se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias..." (Atos 1:3), tiveram ampla demonstração de Seu poder.
Sua única obra, a partir de então, seria dar testemunho de Sua ressurreição e poder. O poder da ressurreição é de acordo com o espírito de santidade, já que por meio do Espírito foi Ele ressuscitado. O poder concedido para tornar um homem santo é o poder que ressuscitou a Cristo dos mortos. "Visto como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e à santidade, pelo pleno conhecimento dAquele que nos chamou por Sua própria glória e virtude". (2ª Pedro 1:3, KJV).

A obediência da fé: -Paulo diz que mediante Cristo havia recebido graça e apostolado para a obediência da fé entre todos os gentios. A verdadeira fé é obediência. "A obra de Deus é esta: Que creiais nAquele que Ele enviou" (João 6:29). Cristo disse: "E por que Me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu vos digo?" (Lucas 6:46). Uma profissão de fé em Cristo, não acompanhada de obediência, é inútil. "Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma” (Tiago 2:17). "Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta" (v. 26).
O homem não respira para demonstrar que está vivo; está vivo e por isso respira. A respiração é sua vida. Assim também, o homem não deve fazer boas obras para demonstrar que tem fé, mas as realiza porque são o resultado inevitável de sua fé. Até Abraão foi justificado pelas obras, porque “a fé cooperou com as suas obras, e... pelas obras a fé foi aperfeiçoada, e cumpriu-se a escritura que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça..." (Tiago 2:22 e 23).

Amados de Deus: -Essa foi uma consoladora segurança para todos os que estavam em Roma, Rom 1:7. Quantos teriam desejado ouvir dos lábios de um anjo vindo diretamente da glória o que Gabriel disse a Daniel: "... És muito amado!" (*Daniel 9:23). O apóstolo Paulo escreveu por inspiração direta do Espírito Santo, de forma que a mensagem de amor dirigiu-se aos romanos tão diretamente do Céu como a de Daniel. O Senhor destacou por nome alguns favoritos, mas afirmou que todos em Roma eram amados de Deus.
Deus não faz acepção de pessoas, e essa mensagem de amor é também para nós outros. Eles eram "amados de Deus", simplesmente “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). "Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei..." (Jeremias 31:3). Esse amor eterno para com os homens nunca hesitou, embora esses se houvessem esquecido disso. Àqueles que se separaram e caíram em iniqüidade, Ele disse: "Eu sararei a sua apostasia, Eu voluntariamente os amarei..." (Oséias 14:4, ARC). "Se formos infiéis, Ele permanece fiel; porque não pode negar-Se a Si mesmo" (2ª Timóteo 2:13, ARIB).

Chamados para serem santos: -Deus chama a todos os homens para serem santos, porém àqueles que O aceitam, os chama santos.(2) Tal é seu título. Se Deus os chama de santos, eles são santos.
Essas palavras foram dirigidas à igreja em Roma e não à igreja de Roma. A igreja "de Roma" sempre foi apóstata e pagã. Abusou da palavra "santo" até convertê-la em pouco menos que uma banalidade de calendários. Poucos pecados tão graves cometeu Roma como fazer distinção entre os "santos" e os cristãos comuns, criando com isso duas escalas de bondade. Levou as pessoas a acreditarem que o trabalhador e a dona de casa não são e nem podem chegar a ser santos, rebaixando assim a verdadeira piedade prática diária, ao mesmo tempo que exaltando a piedade indolente e os atos de justiça própria.
Mas Deus não tem duas normas de piedade e a todos os fiéis de Roma, pobres e desconhecidos como eram muitos deles, Ele os chama santos. A mesma coisa acontece hoje com Deus, embora possam os homens não reconhecer esse fato.
Os primeiros sete versículos do capítulo um de Romanos são dedicados a saudações. Jamais uma carta não inspirada abarcou tanto em seus cumprimentos. Tão firmado estava o apóstolo no amor de Deus que foi incapaz de escrever uma carta sem expressar a quase totalidade do evangelho numa saudação introdutória. Os oito versículos seguintes podem bem ser resumidos em: "sou devedor [a todos]", já que mostram a plenitude da devoção do apóstolo para com os outros. Leiamo-los cuidadosamente e não nos contentemos com uma única leitura:

(*O Amor de Paulo pelos Cristãos de Roma) — Romanos 1: 8-15:
8
¶ Primeiramente dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.
9
Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós,
10
Pedindo sempre em minhas orações que nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco.
11
Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados;
12
Isto é, para que juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua, assim vossa como minha.
13
Não quero, porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco (mas até agora tenho sido impedido) para também ter entre vós algum fruto, como também entre os demais gentios.
14
Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.
15
E assim, quanto está em mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma.

Um grande contraste: -Nos dias do apóstolo Paulo, a fé da igreja que estava em Roma era conhecida no mundo inteiro. Fé significa obediência, já que ela é contada como justiça e Deus nunca considera uma coisa pelo que ela não é. A fé "opera por amor" (Gálatas 5:6). E essa ação é a "obra da vossa fé" (1ª Tessalonicenses 1:3). Fé também significa humildade, como demonstram as palavras do profeta: "Eis que a sua alma está orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá" (Hab. 2:4). Aquele cuja alma é reta é um homem justo; aquele que se orgulha não é justo e sua alma carece de retidão. Mas o justo assim é por sua fé, portanto, somente possui fé aquele cuja alma não se ensoberbeça. Nos tempos de Paulo, os irmãos romanos eram, pois, humildes. Hoje é muito diferente. O Catholic Times, de 15 de junho de 1894, nos dá uma amostra disso. O Papa disse: "Temos dado autoridade aos bispos do ritual sírio, para que se reúnam em sínodo em Mossul", e recomendou uma "mui fiel submissão" desses prelados, ratificando a eleição do patriarca por meio de "nossa autoridade apostólica". Uma publicação anglicana expressou sua surpresa, declarando: "Trata-se de uma união livre de igrejas num plano de igualdade, ou se trata de submissão a uma cabeça suprema e monárquica?" A réplica do Catholic Times assim se apresentava: "Não é uma união livre e igualitária entre igrejas, mas, de preferência, uma submissão a uma cabeça suprema e monárquica… Queremos dizer ao nosso orador anglicano: Você não está realmente surpreso. E sabe muito bem o que Roma reclama e sempre reclamará: obediência. Essa é a exigência que colocamos diante do mundo, se não o fizemos previamente."(3)
Mas tal pretensão não existia na época de Paulo. Naquele tempo tratava-se da igreja em Roma; agora é a igreja de Roma. A igreja em Roma era conhecida por sua humildade e obediência a Deus. A igreja de Roma é conhecida por sua altiva pretensão de possuir o poder de Deus, e por exigir que a ela se obedeça.

Orai sem cessar: –O apóstolo exortou aos tessalonicenses a orarem incessantemente, 1ª Tessalonicenses 5:17. Não encorajava a outros a que fizessem aquilo que ele mesmo não fazia, já que disse aos romanos que os mencionava ininterruptamente em suas orações. Não é necessário supor que o apóstolo tinha em mente os irmãos de Roma a cada hora do dia, visto que nesse caso ele não teria podido ocupar-se de nada mais. Ninguém pode estar conscientemente em oração sem interrupção, mas todos podem ser "constantes na oração", ou "perseverar em oração". (Romanos 12:12).
Isso se harmoniza com a palavra do Salvador "sobre o dever de orar sempre e nunca desfalecer" (Lucas 18:1). Na parábola a que Lucas se refere em seguida, o juiz injusto reclama das insistentes visitas da viúva pobre. Essa é uma ilustração do que constitui orar sem cessar. Não significa que deveríamos estar todo momento em oração consciente; nesse caso negligenciaríamos os deveres importantes, mas que jamais devemos cansar-nos de orar.

Um homem de oração: -Esse era Paulo. Mencionava os romanos em todas as suas orações. Ele escreveu aos coríntios: "Sempre dou graças a meu Deus por vós..." (1ª Coríntios 1:4). Aos colossenses disse: "graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, orando sempre por vós" (Colossenses 1:3). Com mais ênfase ainda escreveu aos filipenses, "Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo sempre, com alegria, orações por vós, em todas as minhas orações..." (Filipenses 1:3,4). Aos tessalonicenses: "Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos, sem cessar, da obra da vossa fé, do trabalho do amor, e da paciência da esperança, em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Pai e Deus" (1ª Tessalonicenses 1:2,3) e "orando abundantemente dia e noite, para que possamos ver o vosso rosto e supramos o que falta à vossa fé”? (1ª Tessalonicenses 3:10). A seu querido filho na fé escreveu, "Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com uma consciência pura, de que sem cessar, faço memória de ti nas minhas orações, noite e dia". (2ª Timóteo 1:3).

Sede sempre jubilosos: -O segredo de assim ser está em "orar sem cessar” (1ª Tessalonicenses 5:16,17). O apóstolo Paulo orava tanto pelos outros que não tinha tempo para preocupar-se consigo mesmo. Nunca vira os romanos, porém orava tão fervorosamente por eles como pelas igrejas que havia fundado. Ao falar de seus trabalhos e sofrimentos, diz que "me oprime cada dia, o cuidado de todas as igrejas". (2ª Coríntios 11:28). "Entristecidos mas, sempre alegres" (*2ª Cor. 6:10). Cumpriu a lei de Cristo levando as cargas dos outros. Assim pôde ele gloriar-se na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Cristo sofreu na cruz pelos outros, "pelo gozo que lhe estava proposto" (*Hebreus 12:2). Os que são plenamente dedicados aos outros compartilham da alegria de seu Senhor, e podem alegrar-se n’Ele.

Uma viagem próspera: -Paulo orava ferventemente para poder ter uma próspera viagem de visita a Roma, pela vontade de Deus. Se você ler o capítulo 27 de Atos, verá o tipo de viagem que ele teve. Aparentemente poderíamos aplicar qualquer qualificativo a essa jornada, exceto o de próspera. Porém, não ouvimos sequer uma queixa do apóstolo. E quem disse que não foi uma viagem bem-sucedida? "Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus" (*Hebreus 8:28), portanto, deve ter sido realmente uma viagem próspera. Quantas lamentações poderíamos evitar se nos lembrássemos sempre que Deus sabe muito melhor que nós como responder às nossas orações.

Dons espirituais: -Quando Cristo “subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens" (Efésios 4:8). Esses dons eram dádivas do Espírito, uma vez que Jesus falou sobre a conveniência de ir para o Céu, "porque, se Eu não for, o Consolador não virá para vós; mas, quando Eu for, O enviarei a vós" (João 16:7). Pedro afirmou no dia de Pentecostes: "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis" (Atos 2:32 e 33).
Esses dons são descritos nestes termos: "Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las. Mas, um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente. (1ª Coríntios 12:4-11).

Estabelecidos por dons espirituais: –"...Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo". (Efésios 4:12,13).
Os dons do Espírito devem acompanhar o Espírito. Tão logo os primeiros discípulos receberam o Espírito, de acordo com a promessa, também entraram na posse dos dons. Um deles, o falar em novas línguas, manifestou-se no mesmo dia. Deduz-se, portanto, que a ausência dos dons do Espírito em qualquer grau notável na igreja, é prova da ausência do Espírito. Não completamente, é claro, mas também não na medida que Deus prometeu.
O Espírito deveria habitar com os discípulos para sempre, por conseguinte, os dons do Espírito devem manifestar-se na verdadeira igreja até a segunda vinda do Senhor. Como já vimos, qualquer ausência marcante da manifestação dos dons do Espírito, é indício de ausência da abundância do Espírito. Essa é a causa da fraqueza da igreja, como também das grandes divisões que nela existem. Os dons espirituais estabelecem a igreja, portanto, a igreja que não possui esses dons não pode considerar-se firmada.
Quem pode ter o Espírito? - Aquele que pedir com fervente desejo. Ver Lucas 11:13. O Espírito já foi derramado e Deus nunca retirou o dom; a única coisa que falta é que os cristãos o peçam e aceitem.

"Sou devedor": -Isso era capital na vida de Paulo e o segredo de seu êxito. Hoje ouvimos as pessoas dizer: "O mundo está em dívida comigo", mas Paulo considerava ser ele mesmo devedor do mundo. No entanto, não recebia do mundo senão açoites e abusos. Tudo o que recebera antes de Cristo encontrá-lo, era tido como perda total. Porém, Cristo fora ao seu encontro e Se tinha dado a ele; por conseguinte, pôde dizer: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo se entregou por mim". (Gálatas 2:20).
Uma vez que a vida de Cristo era a vida de Paulo, e posto que Cristo Se entregou a Si mesmo ao mundo, Paulo tornou-se devedor ao mundo. Esse é o caso de todos aqueles que se tornam servos do Senhor. "Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu..." (Atos 13:36). "... e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos".(Mateus 20:27 e 28).

Trabalho pessoal: -Predomina a errônea noção de que os trabalhos comuns são degradantes, especialmente para um ministro do evangelho. A culpa não é toda dos ministros, mas em grande parte de quem os cercam. Crêem eles que os ministros devem se vestir sempre impecavelmente, e que jamais devem manchar suas mãos com trabalho manual comum. Tais idéias não procedem da Bíblia. Mesmo Cristo foi carpinteiro; porém, muitos de Seus seguidores professos ficariam estupefatos se vissem um ministro do Senhor serrando e lixando pranchas, cavando na terra ou carregando pacotes. Prevalece um falso senso de dignidade que é oposto ao espírito do evangelho. O trabalho não produzia vergonha nem receios em Paulo. Ele não o realizava apenas ocasional, mas cotidianamente, enquanto se ocupava da pregação. Ver Atos 18:3 e 4. Ele disse: "Vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo". (Atos 20:34). Estava ele falando aos dirigentes da igreja quando afirmou: "Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber". (Verso 35).

Paulo difamado: -Na segunda convenção internacional do Movimento de Estudantes Voluntários Para as Missões, o tópico principal de uma das sessões vespertinas era: "Paulo, o Grande Missionário". O orador disse que "Paulo tinha grande facilidade para organizar o trabalho, de tal maneira que podia assumir pessoalmente pequena parte dele". Essa foi uma injusta e infeliz invencionice apresentada perante jovens voluntários ao serviço missionário, já que se constitui o supra-sumo da falsidade e é qualquer coisa, menos um elogio para o apóstolo.
Além do que foi dito, leia o que se segue: "Nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós". (II Tessalonicenses 3:8). "Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma". (II Coríntios 12:15). "São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes". (II Coríntios 11:23). "Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo". (I Cor. 15:10).
A graça de Deus se manifesta no serviço pelos outros. A graça levou Cristo a entregar-Se por nós e assumir a forma e a condição de servo. Portanto, aquele que mais tem da graça de Cristo é o que mais trabalha. Não recuará ante o trabalho mesmo que esse seja de caráter mais servil. Cristo desceu às mais baixas profundezas por amor ao homem; O que pensa, por outro lado, que algum serviço é incompatível com sua dignidade, sente-se muito superior para associar-se com Cristo.

A liberdade do evangelho: -É a liberdade que Deus dá ao homem por meio do evangelho. Este expressa o conceito divino da liberdade. É a liberdade que se observa em a Natureza e em todas as obras de Suas mãos. É a liberdade do vento, soprando como quer; a liberdade das flores esparzidas em todos lugares, nos gramados e nas montanhas,; a liberdade dos pássaros, planando num céu sem fronteiras; a liberdade dos raios solares abrindo caminho por entre as nuvens e cumes elevados. A liberdade das estrelas no céu, singrando sem cessar o espaço infinito. A liberdade que provém do grande Criador através de todas as Suas obras.

Desfrutando essa liberdade agora: -Foi o pecado que produziu todo sofrimento, toda limitação e confinamento. Ele ergueu barreiras e transformou o homem num ser mesquinho e mau. Todavia, o pecado há de ser destruído e uma vez mais a liberdade florescerá em toda a Criação. Até mesmo agora é possível usufruir dessa liberdade, quando o pecado é afastado de nosso coração. O fruir dessa liberdade pela vida eterna é o privilégio glorioso que o evangelho já oferece a cada homem. Que amante da liberdade quererá deixar passar essa oportunidade?
Consideramos a partir de agora a introdução ao corpo principal da epístola. Os primeiros sete versos constituem a saudação; os oito seguintes abordam assuntos pessoais concernentes ao próprio Paulo e aos irmãos em Roma. O verso quinze é a ligação que une a introdução com a parte doutrinária da epístola.
Atente para os versos citados e você verificará que não se trata de uma divisão arbitrária, mas de algo evidente. Se na leitura de um capítulo você anotar os diferentes temas abordados, e as mudanças de um assunto para o outro, ficará surpreso sobre como é fácil captar o conteúdo do capítulo e retê-lo na mente. A razão pela qual muitos acham difícil lembrar-se do que estudam na Bíblia, é por que tentam rememorá-lo "empacotando-o", sem prestar atenção especial aos detalhes.
Ao expressar seu desejo de encontrar-se com os irmãos romanos, o apóstolo se declara devedor tanto a gregos como a bárbaros, a sábios e a ignorantes e, portanto, disposto a pregar o evangelho também em Roma, a capital do mundo. O verso quinze e a expressão "anunciar o evangelho" constituem a nota predominante de toda essa epístola, e Paulo entra então no assunto de um modo natural e espontâneo. De acordo com ele, o que encontramos a seguir é

O evangelho definido. (*A Justificação pela fé) — Romanos 1:16 e 17:
16
¶ Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.
17
Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.

"Não me envergonho": –Não há razão alguma pela qual alguém poderia envergonhar-se do evangelho. Porém, muitos se sentem envergonhados. e a tal ponto que não estão dispostos a rebaixar-se fazendo profissão dele. E a muitos que o professam produz vergonha patente. Qual é a causa dessa vergonha? É o desconhecimento do que constitui o evangelho. Ninguém que o conheça realmente ficará envergonhado dele, nem de alguma de suas facetas.

Desejo de poder: -Nada o homem deseja tanto quanto o poder. Trata-se de um anseio que o próprio Deus implantou nele. Desafortunadamente, o diabo enganou a maioria dos homens de tal modo que procuram o poder de forma equivocada. Crêem que ele é encontrado na posse de riquezas ou de posição política, e se lançam à busca de tais coisas. Mas elas não provêem o poder para satisfazer o desejo que Deus implantou em nós, como demonstra o próprio fato de não produzirem satisfação.
Nenhum homem jamais se satisfez com o poder oriundo das riquezas ou posição. Por mais que tenha sempre deseja mais. Ninguém acha nelas o que desejava, de forma que se afana para conseguir sempre mais, julgando que assim satisfará o desejo do seu coração, mas tudo em vão. Cristo é "o Desejado de Todas as Nações" (Ageu 2:7), a única fonte de satisfação completa, já que Ele é a encarnação de todo poder autêntico que existe no Universo: o poder de Deus. "Cristo é o poder de Deus" (I Cor. 1:24).

Poder e sabedoria: -Sabe-se que o conhecimento é poder. Isso depende… Se nós ativermos à frase do poeta, "o estudo apropriado para o gênero humano é o "estudo do homem", então, realmente, o conhecimento é qualquer coisa, menos poder. Todo homem sabe que é pecador, que faz o que não deve; porém, esse conhecimento não lhe confere poder para mudar seu curso de ação. Você pode apontar para alguém todas suas faltas, contudo, se não faz mais do que isso, debilitou-o em lugar de fortalecê-lo.
No entanto, aquele que decide, juntamente com o apóstolo Paulo, não saber nada, "senão Jesus Cristo e Esse crucificado", possui sabedoria que é poder. "E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". (João 17:3) Conhecer a Cristo é entrar na posse do poder de Sua vida infinita. É por falta desse conhecimento que o homem é destruído (Oséias 4:6). Porém, visto que Cristo é o poder de Deus, é absolutamente correto dizer que o poder é o que o homem necessita; e o único poder genuíno, o poder de Deus, se revela no evangelho.

A glória do poder: -Todos os homens honram o poder. Onde esse se manifeste, você achará uma nuvem de admiradores. Não há ninguém que deixe de admirá-lo ou aplaudi-lo de alguma maneira. Uma musculatura poderosa é objeto freqüente de admiração e orgulho, quer pertença a um ser humano, ou a um animal irracional. Uma máquina poderosa que move toneladas sem esforço aparente, chama sempre a atenção, assim como aquele que a construiu. O homem rico, cujo dinheiro pode pagar o serviço de milhares, sempre tem admiradores, não importando como o adquiriu. O homem de ascendência nobre e posição, ou o rei de uma grande nação, têm multidões de seguidores que aplaudem seu poder. Os homens anseiam relacionar-se com eles, já que de tal relação deriva certa dignidade, embora o poder em si mesmo seja intransferível.
Entretanto, todo o poder terreno é frágil e temporário, enquanto que o poder de Deus é eterno. O evangelho é o poder, e se os homens quisessem reconhecê-lo apenas pelo que ele é não haveria ninguém que se envergonharia dele. Paulo disse: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo." (Gálatas 6:14). A razão disso é que a cruz é o poder de Deus (I Coríntios 1:18). O poder de Deus manifestado do modo que é, significa glória: nada para envergonhar-se.

Cristo não se envergonha: -Com respeito a Cristo, lemos: "Pois, tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que Ele não Se envergonha de lhes chamar irmãos". (Hebreus 2:11). "Por isso, Deus não Se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus..." (Hebreus 11:16). Se o Senhor não se envergonha de Se chamar irmão dos pobres, débeis e mortais pecadores, o homem não tem nenhuma razão de envergonhar-se d’Ele. "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus..." (I João 3:1). Envergonhar-se do evangelho de Cristo! Poderia existir um caso pior de exaltação do eu acima de Deus? Envergonhar-se do evangelho de Cristo, que é o poder de Deus, é uma evidência de que aquele que assim faz se crê, realmente, superior a Deus. Parece que rebaixa sua dignidade ao associar-se com o Senhor.
Jesus, graças Te damos porque Tu não Te envergonhaste de tornar-Se humano, sendo nosso Criador. Graças por haveres "menosprezado a vergonha", quando Teu corpo pendia desnudo entre o céu e a terra, cravado no madeiro. Para Ti não havia nenhuma folha de figueira. Nenhuma pele de animal Te cobriu nessa hora. Só medo e escuridão. Graças por haveres sorvido até as fezes essa taça. Graças por levar em Teu corpo a vergonha de nossos pecados. Graças porque Tu consideras ter sido ferido "na casa de Teus amigos" quando, em realidade, éramos "inimigos". Graças por termos no Céu um representante como Tu, que apesar de tudo, "não Se envergonha de nos chamar de irmãos". Ao contemplar essa misericórdia, sentimos vergonha por haver-Te negado tantas vezes. Aborrecemos nosso orgulho e nos apegamos a esse amor com que Tu nos atrais a Ti mesmo. Como o discípulo amado, aceitamos recostar nossa cabeça em Teu peito, Tu que não tiveste onde repousar a Tua, desde a manjedoura até a cruz. (L.B.).

Salvos pela fé: –O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deu". (Efésios 2:8). "Quem crer e for batizado será salvo..." (Marcos 16:16). "Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no Seu nome".(João 1:12). "Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação". (Romanos 10:10). A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado". (João 6:29). A fé que opera.
Faltar-nos-á tempo para falar daqueles que "por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas,... da fraqueza tiraram força..." (Hebreus 11:33 e 34). Os homens podem dizer: "não vejo como uma pessoa pode ser feita justa simplesmente crendo." O que você vê não tem nenhuma transcendência: você não é salvo pela vista, mas pela fé, já que é o Senhor quem opera a salvação. Cristo habita no coração pela fé (Efésios 3:17), e uma vez que Ele é a nossa justiça, também "é minha salvação, confiarei e não temerei" (Isaías 12:2). Veremos mais amplamente ilustrada a salvação pela fé, à medida que prosseguirmos no estudo, posto que o livro de Romanos é totalmente dedicado a isso.

"Primeiro do judeu": -Quando Pedro, a pedido de Cornélio – o centurião romano – por mandado do Senhor, foi a Cesaréia para pregar o evangelho aos gentios, suas primeiras palavras, depois de haver escutado a história de Cornélio, foram: "Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável". (Atos 10:34 e 35).
Foi a primeira vez que Pedro percebeu essa verdade, mas não a primeira vez que isso era verdade. Tal verdade é tão antiga quanto o próprio Deus. Ele nunca escolheu uma pessoa com exclusão dos demais. "A sabedoria, porém, lá do alto é... imparcial". (Tiago 3:17). É certo que os judeus, como nação, foram maravilhosamente favorecidos pelo Senhor, porém perderam todos os seus privilégios simplesmente porque supuseram que Deus os amou mais do que a qualquer outro, e que tinham exclusividade. Ao longo de toda a sua história, Deus tentou fazer com que compreendessem que aquilo que lhes oferecia era para o mundo inteiro, e que tinham de ministrar aos demais a luz e os privilégios de que participavam.
Casos como o de Naamã, o sírio, ou dos ninivitas, a quem Jonas foi enviado, figuram entre muitos outros por meio dos quais Deus queria ensinar aos judeus que Ele não faz acepção de pessoas.
Então, por que o evangelho foi pregado "primeiro ao judeu"? Simplesmente porque estavam mais próximos. Cristo foi crucificado em Jerusalém. Ali Ele comissionou Seus discípulos para a pregação do evangelho. Ao ascender, disse: "Sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra". (Atos 1:8) Era muito natural que devessem começar a pregação do evangelho no lugar e para as pessoas que estavam mais próximas a eles. Esse é o segredo de toda ação missionária. Aquele que não trabalha de acordo com o evangelho em sua própria casa, não fará nenhuma obra evangélica, embora possa viajar a um distante país.
A justiça de Deus - O Senhor disse: "Levantai os olhos para os céus e olhai para a terra embaixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra envelhecerá como um vestido, e os seus moradores morrerão como mosquitos, mas a Minha salvação durará para sempre, e a Minha justiça não será anulada. Ouvi-Me, vós que conheceis a justiça, vós, povo em cujo coração está a Minha lei..." (Isaías 51:6 e 7). "A minha língua celebre a tua lei, pois todos os Teus mandamentos são justiça". (Salmo 119:172).
Portanto, a justiça de Deus é Sua lei. Não podemos nos esquecer disso. A expressão "a justiça de Deus" ocorre freqüentemente no livro de Romanos, e defini-la de modo diversificado e arbitrário produziu considerável confusão. Se aceitarmos a definição dada pela Bíblia e nunca a abandonarmos, as coisas ficarão mui simplificadas: A justiça de Deus é Sua lei perfeita.

Justiça e vida: -Os Dez Mandamentos, seja os que estão gravados em tábuas de pedra ou escritos num livro, não são senão uma declaração da justiça de Deus. Justiça significa a prática do bem, a retidão. Ela é ativa. A justiça de Deus é a Sua prática do bem, Sua forma de ser. E posto que todos os Seus caminhos são justiça, deduz-se que a justiça de Deus é nada menos que a vida de Deus. A lei escrita não é nenhuma ação, mas só uma descrição da ação. É uma descrição do caráter de Deus.
A vida e o caráter de Deus são vistos em Jesus Cristo, no coração de quem a lei de Deus habitava. Não pode haver justiça sem ação. E assim como não há ninguém bom, senão Deus, infere-se que não há justiça, exceto na vida de Deus. A justiça e a vida de Deus são uma só e a mesma coisa.

Justiça no evangelho: -"A justiça que vem de Deus se revela de fé em fé". Onde é revelada? "No evangelho". Não se esqueça de que a justiça de Deus é Sua lei perfeita, da qual encontramos uma declaração nos Dez Mandamentos. Não existe conflito algum entre a lei e o evangelho. Na realidade, não existem duas coisas separadas tais como lei e evangelho: a verdadeira lei de Deus é o evangelho, já que a lei é a vida de Deus e somos "salvos por Sua vida". O evangelho revela a lei justa de Deus, posto que ele comporta a lei em si mesmo. Não pode haver evangelho sem lei. Qualquer que ignore ou rejeite a lei de Deus, desconhece o evangelho.

A primeira aproximação: -Jesus disse que o Espírito Santo convenceria o mundo do pecado e da justiça (João 16:8). Essa é a revelação da justiça de Deus no evangelho. "Onde não há lei, também não há transgressão". (Romanos 4:15). O conhecimento do pecado vem pela lei (Romanos 7:7). Daí se depreende que o Espírito convence do pecado dando a conhecer a lei de Deus. O primeiro vislumbre da justiça de Deus tem como efeito fazer com que o homem sinta sua pecaminosidade, algo assim como a percepção que sentimos de nossa pequenez ante a contemplação de uma magnífica montanha. O mesmo que acontece diante da visão da imensidão da montanha – "A Tua justiça é como as montanhas de Deus". (Salmo 36:6), "cresce" ante nossa visão, à medida que a contemplamos. Então, o que olha continuamente para a justiça de Deus, reconhecerá continuamente sua pecaminosidade.
A segunda e mais profunda aproximação - Jesus Cristo é a justiça de Deus. E Deus não enviou Seu Filho ao mundo "para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele". (João 3:17). Deus não nos revela Sua justiça no evangelho para que fiquemos encolhidos perante ela devido à nossa injustiça, senão para que possamos receber Sua justiça e viver por ela. de forma que nós é encolhido antes de Ele, devido a nossa injustiça, mas de forma que nós podem levar suas justiças e viver para ela. Somos injustos e Deus deseja que nos demos conta disso, de maneira que desejemos receber Sua justiça perfeita. É uma revelação de amor porque Sua justiça é Sua lei e Sua lei é amor (I João 5:3).
Assim, "se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça". (I João 1:9). Quando a pregação do evangelho nos revelar a lei de Deus, nós a rejeitarmos e a ela nos opusermos porque condena nosso curso de ação, o que estamos dizendo é simplesmente que não queremos que Deus coloque Sua justiça em nós.

Vivendo pela fé: –"Como está escrito: mas o justo viverá da fé?" Cristo é "a nossa vida". (Colossenses 3:4). Somos "salvos por Sua vida". (Romanos 5:10). É pela fé que recebemos a Jesus Cristo, já que Ele mora em nossos corações pela fé (Efésios 3:17). Ao habitar em nossos corações isso significa vida, já que do coração "procedem as fontes da vida". (Provérbios 4:23).
Agora vem a palavra: "Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai n’Ele, n’Ele radicados, e edificados, e confirmados na fé..." (Colossenses 2:6 e 7). Ao recebê-Lo pela fé e andar com Ele da mesma forma que O havemos recebido, "andamos pela fé e não por vista".

"De fé em fé": -Esta expressão aparentemente complexa, que foi objeto de não pequena controvérsia, é em realidade muito simples quando permitimos que a Escritura explique-se a si mesma. No evangelho "a justiça que procede de Deus é revelada de fé em fé. Como é escrito: Mas o justo viverá da fé". Observe-se o paralelismo entre "de fé em fé" e "o justo viverá da fé". Justo significa reto.
Na primeira epístola de João 1:9 lemos que Ele (Deus), é fiel e "justo". A vida de Deus é justiça. É Seu desejo que a nossa também seja assim, de forma que nos oferece Sua própria vida. Essa vida se torna nossa pela fé. Da mesma maneira que respiramos, assim temos de viver espiritualmente pela fé; e toda a nossa vida há de ser espiritual. A fé é o alento (respiração) de vida para o cristão. Por conseguinte, do mesmo jeito que vivemos fisicamente de respiração em respiração, deveríamos viver espiritualmente de fé em fé.
Somente podemos viver pelo que respiramos neste momento; assim, só podemos viver espiritualmente pela fé que temos agora. Se vivermos uma vida de consciente dependência de Deus, Sua justiça será nossa, já que a respiraremos continuamente. A fé nos dá força, uma vez que os que a exercitam "tiraram força da fraqueza". (Hebreus 11:34).
Dos que aceitam a revelação da justiça de Deus "de fé em fé", se diz que "vão indo de força em força". (Salmo 84:7).
Não nos esqueçamos de que é das próprias palavras da Bíblia que temos de aprender. Toda a real ajuda que um instrutor pode dar a alguém, no estudo da Bíblia, consiste em ensinar-lhe como fixar sua mente com maior clareza nas exatas palavras do registro sagrado. Portanto, primeiramente, leia o texto várias vezes. Não o faça com precipitação, mas cuidadosamente, prestando atenção especial a cada declaração. Nem desperdice um único momento especulando sobre o possível significado do texto. Não há nada pior do que elaborar sobre o significado de um texto da Escritura, para fazê-lo dizer o que alguém pensa. Ninguém pode saber mais sobre a Bíblia do que a própria Bíblia. Ela está tão disposta a contar sua história a uma pessoa como a qualquer outra.
Pergunte atentamente ao texto. Examine-o uma e outra vez, sempre com um espírito reverente, de oração, para que o texto se explique a si mesmo. Não desanime se você não for capaz de compreender de uma só vez todo o conteúdo do texto. Lembre-se de que se trata da Palavra de Deus e que ela é infinita em profundidade, de maneira que jamais chegará a esgotá-la. Quando chegar a uma passagem difícil, volte atrás e considere-a em relação ao que a precede. Não pense que lhe será possível capturar o significado mais pleno isolando-a de seu contexto. Aplicando-se com perseverança às palavras do texto, a fim de ficar seguro de conhecer exatamente o que ele quer dizer, logo você chegará a gravá-lo em sua mente; é então que você começará a saborear alguns dos mais ricos frutos do estudo da Bíblia. Quando menos esperar, brilhará nova luz dessas passagens, e através delas, enquanto estuda outras partes das Escrituras.

A justiça do juízo. — Romanos 1:18-20:
18
Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.
19
¶ Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.
20
Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;

O homem perdeu o conhecimento de Deus. Romanos 1:21-23:
21
Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
22
Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.
23
E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.

O resultado de ignorar a Deus. — Romanos 1:24 a 32:
24
Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;
25
Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
26
Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.
27
E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
28
E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;
29
Estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade;
30
Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães;
31
Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia;
32
Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.

Toda injustiça é condenada: -A ira de Deus se manifesta desde o Céu contra toda maldade e injustiça dos homens. "Toda injustiça é pecado..."(I João 5:17). "mas o pecado não é levado em conta quando não há lei". (Romanos 5:13). Portanto, a todo o mundo manifestou suficiente quantidade da lei de Deus, como para deixar a todos sem desculpas para o pecado. O que expõe esse verso equivale ao que encontramos no seguinte capítulo: "Deus não faz acepção de pessoas". Sua ira se manifesta contra toda injustiça. Não há em todo o mundo uma pessoa tão importante que possa pecar impunemente, nem tampouco uma pessoa tão insignificante que seu pecado passe despercebido. Deus é estritamente imparcial. "... Invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um..." (I Pedro 1:17).

Detendo a verdade: -Lemos "dos homens que detêm a verdade pela injustiça". Alguns concluíram superficialmente, a partir de Romanos 1:18, que o homem pode possuir a verdade ao mesmo tempo que é injusto. O texto não diz tal coisa. Encontramos evidência suficiente de que isso não é assim, no fato de o apóstolo estar falando nesse capítulo especialmente dos que não possuem a verdade; mas que a transmudaram em mentira. Tendo perdido todo o conhecimento da verdade, estão condenados por seu pecado.
Isso significa que os homens detêm a verdade com injustiça. Quando Jesus foi para Sua própria região natal "não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles". (Mateus 13:58). Porém, no texto de que estamos nos ocupando, o apóstolo quer dizer muito mais que isso. Como mostra claramente o contexto, quer dizer ele que os homens, por sua perversidade, impedem o trabalho da verdade divina em suas próprias almas. Se não fosse pela resistência à verdade, ela os santificaria. E o resultado é: A justiça da ira de Deus -A ira de Deus se manifesta desde o Céu contra toda impiedade e injustiça dos homens, e se deve ao que "de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou". Não importa quão cegamente o homem possa pecar, persiste o fato de que está pecando contrariamente a grande luz, pois "o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou". Com um tal conhecimento, não somente ante seus olhos, senão de fato em seu interior, é fácil reconhecer a justiça da ira de Deus contra todo pecado, não importando quem o pratique.
Embora não nos esteja perfeitamente clara a forma pela qual o conhecimento de Deus é posto em todo homem, podemos aceitar a constatação que o apóstolo faz desse fato. Na maravilhosa descrição dada a Isaías sobre a loucura da idolatria, é-nos dito que o homem que faz para si um ídolo mente contra a verdade que ele mesmo possui. "... Seu coração enganado o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Não é mentira aquilo em que confio?" (Isaías 44:20).

Vendo o Invisível: -É-nos dito sobre Moisés que ele "permaneceu firme como quem vê Aquele que é invisível". (Hebreus 11:27). Não se trata de um privilégio especial de Moisés. Todos podem fazer o mesmo. Como? "Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a Sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas". (Romanos 1:20) Nunca houve um tempo, desde que o mundo foi criado, em que os homens não tivessem à disposição o conhecimento de Deus. "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos". Salmo 19:1.

Seu eterno poder e divindade: –As coisas invisíveis de Deus que são dadas a conhecer através das coisas criadas, são Seu eterno poder e divindade. "Cristo [é o] poder de Deus e sabedoria de Deus". (I Coríntios 1:24). "Pois n’Ele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”.
Ele é antes de todas as coisas. N’Ele, tudo subsiste". (Colossenses 1:16 e 17) "Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir." (Salmo 33:9) Ele é "o Primogênito de toda a criação" (Colossenses 1:15). É a origem, o princípio da criação de Deus (Apocalipse 3:14).
Isto é, toda a criação provém de Jesus Cristo, que é o poder de Deus. Chamou os mundos à existência a partir de Seu próprio Ser. Portanto, tudo quanto foi criado leva o selo do poder externo e a divindade de Deus. Não podemos abrir nossos olhos, nem sequer sentir a brisa fresca no rosto sem ter uma clara revelação do poder de Deus.

Somos a "geração de Deus": -Quando Paulo repreendeu os atenienses por sua idolatria, disse que Deus não está longe de cada um de nós. "Pois n’Ele vivemos, e nos movemos, e existimos..." (Atos 17:28) Paulo estava falando a pagãos e, portanto, o conceito era tão certo para eles como é para nós. Mencionou, então, seus poetas, que disseram: "Porque somos geração d’Ele", e pôs nessa declaração o selo da verdade ao acrescentar: "Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem". (verso 29).
Cada movimento do homem e cada respiração, são obra do poder externo de Deus. Assim, o eterno poder e a divindade são manifestos a todo o homem. Não que o homem seja divino em qualquer sentido, nem que possua por si mesmo algum poder. Muito pelo contrário, o homem é como a erva. "Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade". (Sal. 39:5). O fato de o homem não ser nada por si mesmo - "menos que nada é o que ele é", evidencia o poder de Deus que se manifesta nele.

O poder de Deus na erva: -Observe uma pequena folha de erva abrindo caminho desde o solo, em busca da luz solar. É algo realmente frágil. Arranque-a e comprovará que não tem força para suster-se por si mesma. O simples ato de desenraizá-la faz com que perca sua relativa rigidez. Depende do solo para seu sustento e, portanto, precisa atravessá-lo e emergir. Disseque essa folha tão minuciosamente quanto possível, e você não achará nada que indique a posse de um poder próprio. Esfregue-a entre os dedos e veja que ela se converte em quase nada. É uma das coisas mais frágeis na Natureza, contudo, é capaz de erguer grandes pedras que se interponham no caminho de seu crescimento.
De onde vem sua força? É exterior à erva. Não é nada menos que o poder da vida de Deus, operando de acordo com Sua palavra, que no princípio ordenou: "Produza a terra relva".

O evangelho na criação: -Já vimos como em todas as coisas criadas se manifesta o poder de Deus. Consideramos também como "o evangelho... é o poder de Deus para a salvação". O poder de Deus é sempre o mesmo, uma vez que o texto nos fala de "Seu eterno poder". O poder que se manifesta nas coisas que Deus criou, por conseguinte, é o mesmo que opera nos corações dos homens para salvá-los do pecado e da morte. Podemos ter assim a certeza de que Deus designou que cada parte do Universo seja um pregador do evangelho. Dessa maneira, não é somente certo que a partir das coisas feitas por Deus o homem possa conhecer Sua existência, mas também o eterno poder divino para salvá-lo. O verso 20 do primeiro capítulo de Romanos é o desenvolvimento do dezesseis. Ele nos diz como podemos conhecer o poder do evangelho.

As estrelas como pregadores: - "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo". (Salmo 19:1-4).
Agora leia Romanos 10:13-18: "Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão Aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo".
Nesse texto é dada a resposta a toda objeção que o homem possa fazer a propósito do castigo dos pagãos. Como é dito no primeiro capítulo, ninguém tem desculpa. O evangelho foi dado a conhecer a toda a criatura debaixo do céu. Admite-se que o homem não pode invocar Àquele em quem não creu, e que não pode crer sobre quem nada foi dito; e também não pode ouvir sem que alguém pregue. E aquilo que deveria ouvir, e ao qual não pôde obedecer, é o evangelho.
Tendo afirmado isso, o apóstolo pergunta: "Não ouviram, realmente?", e então responde categoricamente à pergunta que acaba de fazer, citando as palavras do Salmo 19: "Claro que ouviram. 'Por toda a terra se faz ouvir a Sua voz, e as Suas palavras, até aos confins do mundo". Conseguintemente, podemos saber que essa palavra que os céus contam dia a dia, é o evangelho, e que essa sabedoria que se declara uma noite após outra é o conhecimento de Deus.

Os céus declaram justiça: -Sabendo que aquilo que os céus declaram é o evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para a salvação, podemos seguir facilmente a linha do Salmo 19. Ao leitor acidental parece que há uma interrupção na continuidade desse salmo. Ele começa falando dos céus e, de repente, passa a abordar a perfeição da lei, bem como seu poder convertedor. "A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma". (verso 7). Entretanto, não há nenhuma interrupção alguns. A lei de Deus é a justiça de Deus; o evangelho revela a justiça de Deus e os céus revelam o evangelho. Então, se deduz que os céus revelam a justiça de Deus. "Os céus anunciam a Sua justiça, e todos os povos vêem a sua glória". (Salmo 97:6).
A glória de Deus é a Sua bondade, já que nos é dito que devido ao pecado todos os homens estão destituídos de Sua glória (Romanos 3:23). Portanto, podemos saber que todo aquele que ergue com reverência seus olhos para o céu, discernindo nele o poder do Criador e estando disposto a colocar-se nas mãos desse poder, será levada à justiça salvadora de Deus. Até o Sol, a Lua e as estrelas – cuja luz não é mais que uma parte da glória do Senhor – iluminarão sua alma com tal glória (Ver Filhos e Filhas de Deus, pág. 19).
Sem desculpa - Quão evidente é, por conseguinte, que os homens não têm desculpas para suas práticas idólatras. Quando o Deus verdadeiro Se revela a Si mesmo em tudo e dá a conhecer Seu amor mediante o próprio poder, que desculpa poderá apresentar o homem para não reconhecê-Lo nem adorá-Lo? Porém, é verdade que Deus faz com que todos os homens saibam de Seu amor? Sim, tão certo como Ele Se revela, porque "Deus é amor." Qualquer que conheça o Senhor, saberá de Seu amor. Se tal acontece aos pagãos, quão indesculpável é a situação daqueles que vivem em países onde o evangelho é pregado com voz audível, a partir da Palavra escrita!

A origem da idolatria: -Por que há tantos ainda que O ignoram completamente se Ele Se revelou de maneira tão clara? Eis a resposta: "Porque tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças..." Há algo que Deus deu como sinal e selo de Sua divindade – o sábado. Referindo-se ao homem, disse: "Também lhes dei os Meus sábados, para servirem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu Sou o Senhor que os santifica". (Ezequiel 20:12). Isso se harmoniza com o que aprendemos em Romanos. Vimos nesse livro que o homem sábio percebe o poder e a divindade de Deus por meio das coisas que Ele criou; o sábado é o grande memorial da criação. "Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou." (Êxodo 20:8-11). Se o homem houvesse guardado o sábado tal como foi dado jamais existiria a idolatria, porquanto ele revela o poder da Palavra do Senhor para criar e operar justiça.

Nulos em seus próprios raciocínios: -O homem se rendeu à vaidade de pensamento, e "seu coração insensato foi obscurecido." Com respeito às especulações dos antigos filósofos, disse Gibbon: "Sua razão era freqüentemente guiada pela imaginação, e a imaginação por sua vaidade". O itinerário de sua queda foi o mesmo que do anjo que se converteu em Satanás. "Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo". (Isaías 14:12-14).
Qual foi a causa de sua exaltação e queda? "Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor..." (Ezequiel 28:17) Uma vez que sua sabedoria e a glória que possuía dependiam inteiramente de Deus, não O glorificou, mas achou que todos os seus talentos originavam-se em si mesmo; conseqüentemente, ao desligar-se, em seu orgulho, da Fonte de luz, converteu-se no príncipe das trevas. Assim também aconteceu com o homem.

Mudaram a verdade de Deus em mentira: -"Não há poder senão de Deus". Em a Natureza vemos a manifestação de um magnífico poder que é, em realidade, a obra de Deus. As diversas formas de poder que os filósofos classificam e crêem serem inerentes à matéria, não são mais que a atuação da vida de Deus nas coisas que Ele criou. Cristo "é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste" ou se mantém (Colossenses 1:17). A coesão, portanto, deriva do poder direto da vida de Cristo. A força da gravidade também, como vemos na relação entre os corpos celestes. "Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o Seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais Ele chama pelo nome; por ser Ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar". (Isaías 40:26). Mas os homens observaram os fenômenos da Natureza, e em vez de discernir neles o poder do Deus supremo, atribuíram-lhes divindade.
Desse modo, olhando para si mesmos e vendo quão grandes coisas poderiam alcançar, em vez de honrar a Deus como o Doador e Sustentador de todas as coisas -Aquele em quem nos movemos e existimos, –supuseram ser eles próprios, por natureza, divinos. Assim mudaram a verdade de Deus em mentira.
A verdade é que a vida e o poder de Deus são manifestos em tudo o que Ele criou; a mentira é que o poder que se manifesta em todas as coisas é inerente a elas próprias. O homem põe assim a criatura em lugar do Criador.
Olhando para dentro - Marco Aurélio, reputado como o maior dos filósofos pagãos, afirmou: "Olhem para dentro. No interior está a fonte do bem, e dali brotará sempre o que procuram." Isso expressa a essência de todo paganismo. O eu era supremo. Mas esse espírito não é exclusivo daquilo que é conhecido por paganismo, algo muito comum em nossos dias; portanto, não é em realidade outra coisa que o espírito do paganismo. É uma parte da adoração da criatura em lugar do Criador. Para eles é natural por se em lugar d’Ele; e uma vez feito isso, é conseqüência necessária olharem para si mesmos como fonte da bondade, em vez de a Deus.
Quando os olhares de homem convergem para si, qual é a única coisa que pode ver? "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura." (Marcos 7:21 e 22). Disse Paulo: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum..." (Romanos 7:18). Agora, quando o homem olha para todo esse mal que está por natureza em si, e pensa que é bom e que pode obter o bem a partir de si mesmo, o resultado não pode ser outro senão a mais degradante maldade. Está virtualmente dizendo: "Mal, sê tu o meu bem".

A sabedoria deste mundo: -"O mundo, em sua sabedoria, não conheceu a Deus em Sua divina sabedoria". A agudeza de intelecto não é fé, nem a pode substituir. Um brilhante erudito pode abrigar a maior baixeza humana. Há alguns anos foi enforcado um homem acusado de mais de dez crimes brutais, o qual era ilustrado cientista e tinha ocupado alta posição na sociedade. Instrução não é equivalente a cristianismo, embora o cristão possa ser um homem instruído. As invenções modernas nunca salvarão o homem da perdição. Certo filósofo moderno disse que "a idolatria não pode encontrar seu lugar junto à arte e à cultura mais refinadas que o mundo conheceu". Porém, os homens estavam se afundando na maldade, tal como descreve o apóstolo na última parte do primeiro capítulo de Romanos (Nota: O autor, escrevendo em 1895, dificilmente poderia haver imaginado os horrores da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, provocadas pelos homens mais educados e cultos que o mundo havia conhecido). Até mesmo os homens reputados como sábios eram tais como estão ali descritos. Foi o resultado natural de buscar a justiça em si mesmos.

Nos últimos dias: -Se você quiser ver uma descrição do mundo nos últimos dias, leia os últimos versículos do primeiro capítulo de Romanos. Os que crêem num milênio de paz e justiça antes da vinda do Senhor, achá-los-ão muito chocantes; e oxalá seja isso para seu próprio bem. Leia cuidadosamente a lista de pecados e logo verá como ela corresponde exatamente ao seguinte: "Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder". Tudo isso provêm do eu, a autêntica fonte do mal que Paulo atribuiu aos pagãos. Essas são as obras da carne (Gálatas 5:19-21). São o resultado natural de confiar no eu.
Apesar da declaração do apóstolo, são bem poucos os que crêem que esse estado de coisas chegará a ser geral, especialmente entre aqueles que fazem profissão de piedade. Porém a semente que produz essa colheita está já semeada em todo lugar. O papado, o "homem do pecado, o filho da perdição, opondo-se e levantando-se contra tudo o que se chama Deus, ou que se adora", é a força mais poderosa no professo cristianismo; seu poder aumenta dia a dia. Como progride dessa maneira? Nem tanto por méritos próprios como pela cega aceitação de seus princípios por parte dos professos protestantes. O papado se exaltou acima de Deus ao tentar mudar Sua lei (Dan. 7:25).

Ousadamente aceitou o dia de festa pagão de adoração ao Sol: –O domingo [sunday ou dia do Sol, em inglês] – em lugar do sábado do Senhor, o memorial da criação. Ele assinala desafiadoramente essa mudança como selo de sua autoridade. A maioria dos protestantes segue viajando nesse trem, aceitando uma instituição que coloca o homem acima de Deus; o símbolo da justificação pelas obras em lugar da justificação pela fé. Quando os professos cristãos aceitam ordenanças humanas apesar do expresso mandamento do Senhor, e sustentam sua instituição evocando os Pais – homens educados na filosofia do paganismo – a execução de todo mal que seus corações possam imaginar não é mais que o passo seguinte no caminho descendente. "Quem tem ouvidos ouça".

Notas desta edição:

1) “... e reinará perfeita união em ambos os ofícios". (Almeida Fiel);
2) “Deus chama a todos os homens para serem santos, porém àqueles que O aceitam, os chama santos”. Há uma pequena corrente de defensores da “mui preciosa mensagem,” a mensagem dada por Deus através dos irmãos Waggoner e Jones, em descartar a palavra “aceitar,” quando referindo-se à salvação. Ela não ocorre na Bíblia, somente a palavra crer. Faça esta pesquisa em sua Bíblia. Aceitar é uma sutil salvação pelas obras. Deus nos resgatou, mas temos que aceitar? Então a salvação é Deus e eu.
Aceitar é fácil, Crer depende da fé. E é Deus que a efetua em nós. Pergunte ao seu interlocutor “—Vou depositar R$100.000,00 em sua conta, você aceita?” Via de regra ele responderá: “—aceito”; então replique; “—quero que você, sem consultar a sua conta, vá a uma agência de automóveis e emita um cheque para a compra do carro dos seus sonhos, pois estou transferindo a importância imediatamente. Você vai fazer isto, você crê?” ”. Assim, a se aplicar esta “nova luz” a frase de Waggoner assim ficaria redigida: “—Deus chama a todos os homens para serem santos, porém àqueles que nEle creem, os chama santos

3) Em 1890 o Papa era Leão XIII, que foi o pontífice máximo da Igreja Católica de 20/02/1878, até 20de julho de 1903, quando faleceu. Mossul (al-Mawsil em árabe) é uma cidade no norte do Iraque, numa planice fértil entre os rios Tigre e Eufrates. Seu nome, Mossul é associado à musselina tecido que a cidade exporta.