segunda-feira, 19 de julho de 2010

Romanos, Cap. 15, Waggoner

CARTA AOS ROMANOS
Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani


Capítulo 15

Louvem ao Senhor Todos os Gentios
O capítulo precedente apresentou nosso dever para com os débeis na fé, e que têm exagerados escrúpulos de consciência quanto às coisas que não possuem, em si mesmas, relevância. Não somos juízes uns dos outros; antes, todos temos de comparecer perante o tribunal de Cristo. Se tivermos maior conhecimento que nosso irmão, não deveremos conformá-lo arbitrariamente à nossa própria norma, mais do que ele mesmo tente nos impor a sua. Nosso conhecimento mais amplo faz-nos mais responsáveis quanto ao dever de exercer a maior caridade e paciência.
Nestes versos encontramos a síntese de tudo o que antes foi dito: "Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar ou se ofender ou se enfraquecer”.

O dever de nos ajudarmos mutuamente: Romanos 15:1-7
1 Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos.
2 Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação.
3 Porque também Cristo não se agradou a Si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que Te ultrajavam caíram sobre Mim.
4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.
5 Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus,
6 para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
7 Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.

Suportar-nos uns aos outros: -Os versos que compõem este capítulo suplementam a instrução dada no precedente e lhe são prosseguimento. Desse modo, o capítulo 15 começa com a exortação: “Devemos suportar as debilidades dos fracos." O último verso dessa seção diz: "Acolhei-vos uns aos outros”.
Como podemos suportar-nos uns aos outros? A resposta é: “Como também Cristo nos suportou”. Isso enfatiza uma vez mais o fato de que o apóstolo não tinha a menor intenção de desprezar nenhum dos Dez Mandamentos quando escreveu, no capítulo anterior: “Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”.
Cristo não fez a mínima concessão com relação aos mandamentos, a fim de acomodar aqueles a quem aceitava. Ele disse:
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir”. (Mateus 5:17). "Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor; assim como também Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai e no Seu amor permaneço”. (João 15:10).
Os mandamentos de Cristo e os do Pai são os mesmos, porque Ele disse: "Eu e o Pai somos um”. (João 10:30). Certo dia declarou a um jovem que pretendia segui-Lo: “Guarda os mandamentos”. (Mateus 19:17) Portanto, é óbvio que ao se fazer concessões por causa da paz e da harmonia, nenhuma licença deveria ser dada com relação à observância dos mandamentos de Deus.

Como agradar aos demais? - Da mesma maneira que a exortação indica: "Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação”. Jamais somos exortados a ajudar um irmão a pecar a fim de agradá-lo. Nem fechar os olhos ao pecado de nosso irmão para não molestá-lo, permitindo com isso que persista na transgressão sem adverti-lo. Não existe bondade alguma nesse proceder. Está escrito: "Não aborrecerás teu irmão no teu íntimo; mas repreenderás o teu próximo e, por causa dele, não levarás sobre ti pecado.” (Levíticos 19:17). A mãe que, temerosa de contrariar o filho, nada fizesse para impedi-lo de pôr a mão no fogo, estaria sendo cruel e não bondosa. Devemos agradar ao nosso próximo, mas somente para o seu bem e não para sua perdição.

Suportar as fraquezas dos outros – Retornando ao primeiro verso vemos ainda mais sobressalente esta verdade: "Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos.” “Porque Cristo não Se agradou a Si mesmo.” Examine esse fato em relação a Gálatas 6:1 e 2: "Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigí-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.” Ao tolerar as fraquezas dos débeis, estamos cumprindo a lei de Cristo, Porém, suportar as cargas u ns dos outros não significa dizer-lhes que podem ignorar impunemente qualquer dos mandamentos. Guardá-los não é carga alguma, já que “os Seus mandamentos não são pesados”. (I João 5:3).
Como Cristo carrega nossos fardos? - Cristo os porta não removendo a lei de Deus, mas os nossos pecados e capacitando-nos para guardarmos a lei. "Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. (Romanos 8:3 e 4).

Ele nos diz: “Venham!” – Uma bênção no serviço do Senhor é que Ele não nos diz “vejam”, mas “venham”. Não nos envia a trabalhar por nós mesmos, mas nos chama a segui-Lo. Não pede de nós nada que Ele mesmo não faça ou tenha feito. Quando nos diz que devemos levar as cargas daqueles que são débeis, deveríamos fazer isso com ânimo e não como uma carga imposta, visto que Ele nos está lembrando o que realiza em nosso favor. Ele é o Todo-Poderoso, pois lemos:
“Outrora, falaste em visão aos Teus santos e disseste: A um herói concedi o poder de socorrer; do meio do povo, exaltei um escolhido”. (Salmo 89:19) “... Certamente, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si... Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos”. (Isaias 53: 4 e 6).

O que transforma isso em algo fácil? - Se sabemos que Cristo leva as nossas cargas, ser-nos-á um prazer levar as cargas de nossos semelhantes. O problema é que muito freqüentemente nos esquecemos de que Cristo é o Portador, e estando oprimidos pelo peso de nossas próprias debilidades, temos menos paciência com as dos demais. Mas quando sabemos que Cristo realmente é o Portador de cargas, lançamos toda a nossa solicitude sobre Ele, e então, quando fazemos nossa a carga do próximo, Ele também as leva.

O Deus de toda a consolação: –Deus é "o Deus da paciência e consolação", é o “Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus”. (II Coríntios 1:3 e 4). Ele assume todas as repreensões que caem sobre os homens. "As injúrias dos que Te ultrajavam caíram sobre Mim”. Lemos acerca dos filhos de Israel: “... Em toda a angústia deles, foi Ele angustiado...” (Isaías 63:9) Estas são palavras de Cristo: “Tu conheces a Minha afronta, a minha vergonha e o meu vexame... O opróbrio partiu-Me o coração...” (Salmo 69:19,20). Porém, Ele não mostrou a menor impaciência nem fez qualquer murmuração. Portanto, já levou as cargas do mundo em Sua carne e é completamente capaz de levar as nossas sem queixa alguma, para podermos ser “fortalecidos com todo o poder, segundo a força da Sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria”. (Colossenses 1:11).

O evangelho segundo Moisés – Esta é a lição que nos é ensinada ao longo das Escrituras: "Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. Isso é manifesto no livro de Jó. “Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo”. (Tiago 5:11) Também está claro nos livros de Moisés. Cristo disse: "Se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em Mim; porquanto ele escreveu a Meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas Minhas palavras? (João 5:46 e 47). Se você for negligente com relação ao evangelho segundo Moisés, de nada lhe servirá ler o evangelho segundo João, visto que o evangelho não pode ser dividido. O evangelho de Cristo, da mesma forma que Ele próprio, é único.

Como suportar ou aceitar os demais – Finalmente: “... Acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.” A quem Cristo acolhe? “Ele recebe pecadores...” Quantos deles? "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei”.
Como os receberá? "Estendi as mãos todo dia a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, seguindo os seus próprios pensamentos.” (Isaías 65:2). E se eles Lhe atenderem ao convite, que segurança terão? "Aquele que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Procure aprender d’Ele e lembrar-se de que onde quer que você abrir as Escrituras, elas darão testemunho d’Ele.

Permanecendo no início: -
Nosso estudo de Romanos, embora extenso, não foi exaustivo. Certamente é impossível estudar exaustivamente a Bíblia, já que por mais profundamente que abordemos qualquer de suas porções, continuaremos no início. Quanto mais investigarmos a Bíblia, mais teremos a impressão de que nossa melhor compreensão não foi senão a preliminar de um estudo mais profundo, de cuja necessidade não nos havemos apercebido. Mas, embora nunca possamos esperar esgotar a verdade até oi pondo de dizer que a conhecemos totalmente, podemos, contudo, ter a segurança de que até onde chegarmos, teremos só a verdade. E essa segurança procede, não de alguma sabedoria que possamos possuir, mas de nos apegarmos estritamente à Palavra de Deus e não permitirmos que se introduzam idéias de feitura humana mescladas com o puro ouro.

Gozo e paz no crer: Romanos 15:8-14
8 Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais;
9 e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da Sua misericórdia, como está escrito: Por isso, Eu Te glorificarei entre os gentios e cantarei louvores ao Teu nome.
10 E também diz: Alegrai-vos, ó gentios, com o Seu povo.
11 E ainda: Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos O louvem.
12 Também Isaías diz: Haverá a raiz de Jessé, Aquele que se levanta para governar os gentios; n’Ele os gentios esperarão.
13 E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo.
14 E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.
“Ministro da circuncisão”: –Não nos esqueçamos de que Jesus Cristo foi o ministro da circuncisão. Isso significa que Ele salva unicamente os judeus? Não, mas nos mostra que "a salvação vem dos judeus". (João 4:22). Diz-se “acerca de Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo" que nasceu “da linhagem de Davi segundo a carne". (Romanos 1:3). Ele é a “raiz de Jessé, Aquele que Se levanta para governar os gentios; n’Ele os gentios esperarão”. (Isaías 11:10; Romanos 15:12). Os gentios devem encontrar a salvação em Israel. Ninguém pode achá-la em outro lugar.

"A cidadania de Israel": -Ao escrever aos irmãos de Éfeso, Paulo se refere ao estado anterior à sua conversão como sendo “gentios segundo a carne”, e disse: “Naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.” (Efésios 2:11 e 12).
Isto é, além de Israel não há esperança para o homem. Os que estão excluídos da cidadania de Israel e estrangeiros estão sem Cristo e sem Deus no mundo. Em Cristo Jesus somos atraídos para Deus.
Sendo levados a Deus "já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus”. (Efésios 2:18 e 19). Assim, duas coisas são ensinadas de modo claro e positivo: (1) Ninguém que seja da casa de Israel pode ser salvo. (2) Somente os que estão em Cristo constituem a casa de Israel.

Confirmando as promessas: -"Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais”. Isso mostra que todas as promessas divinas aos pais foram feitas em Cristo. "Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm n’Ele o sim...” (II Coríntios 1:20). "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo”. (Gálatas 3:16). Nunca se fez promessa alguma aos pais que não houvesse de ser obtida somente em Cristo e mediante a justiça que há n’Ele.

Cristo não está dividido: -Ele é apresentado como ministro da circuncisão. Suponhamos que as promessas feitas aos pais sejam aplicadas apenas aos descendentes naturais de Abraão, Isaque e Jacó. A única conclusão possível seria, então, que só esses –os que foram circuncidados –podem ser salvos. Ou, ao menos, teríamos que admitir que Cristo fez algo por eles que não realizou pelo resto da humanidade.
Mas Cristo não está dividido. Tudo quanto fez por um homem, fê-lo por todos os homens. Tudo o que faz por alguém, fá-lo mediante a cruz; e Ele foi crucificado uma só vez. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Posto que Cristo seja o ministro da circuncisão para confirmar as promessas feitas aos pais, é evidente que essas promessas incluem a toda a humanidade. “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que O invocam”. (Romanos 10:12). “É, porventura, Deus somente dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, também dos gentios, visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso e, mediante a fé, o incircunciso”. (Romanos 3:29 e 30)

"O tabernáculo de David": -Quando os apóstolos e os anciãos se reuniram em Jerusalém, Pedro explicou como havia sido instrumento nas mãos divinas para levar o evangelho aos gentios. Ele disse: “Ora, Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé o coração”. (Atos 15:8 e 9)
Então, Tiago acrescentou: “Expôs Simão como Deus, primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o Seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o Meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos”. (Atos 15:14-18).
Somente mediante a pregação do evangelho aos gentios será edificado o tabernáculo de Davi. Dentre eles é tomado um povo para Deus. Tal foi o propósito de Deus “desde a eternidade”, e “dEle todos os profetas dão testemunho de que, por meio de Seu nome, todo aquele que nEle crê recebe remissão de pecados”. (Atos 10:43).

A bênção de Abraão”: –Lemos que “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se Ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. (Gálatas 3:13 e 14). As palavras omitidas no texto precedente indicam que a maldição que Cristo foi feito por nós é a cruz.
Portanto, concluímos que somente pela cruz de Cristo puderam eles assegurar-se das promessas feitas aos pais. Mas Cristo provou a morte por todos (Hebreus 2:9). "E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nEle crê tenha a vida eterna”. (João 3:14 e 15). Assim, as promessas feitas aos pais eram simplesmente as aquelas do evangelho, proclamadas “a cada criatura”. Mediante a cruz, Jesus confirma as promessas feitas aos pais, “para que os gentios glorifiquem a Deus por Sua misericórdia”.

“Um rebanho e um só Pastor”: –No décimo capítulo do evangelho de João encontramos algumas das mais belas, entranháveis e animadoras palavras do Senhor Jesus. Ele é o Bom Pastor. Ele é a porta através da qual as ovelhas entram no redil. Dá Sua vida para salvá-las. Ele diz: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a Mim Me convém conduzi-las; elas ouvirão a Minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor”. (Verso 16) Desse modo, quando Sua obra se completar, haverá um só rebanho e Ele será o Pastor. Vejamos agora quem comporá esse rebanho.

A ovelha perdida: –No capítulo 15 de Lucas, nesse maravilhoso conjunto de benditas ilustrações de amor e graça do Salvador, Jesus apresenta Sua obra como a de um pastor em busca da ovelha perdida e errante. Quem é essa ovelha? Cristo mesmo responde: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”. (Mateus 15:24) A afirmação não dá ensejo a confusão. Fica evidente que todas as ovelhas que Ele encontra e traz de volta ao redil serão o “Israel”. Também não é menos evidente que esse “rebanho” será o de Israel. Não haverá mais que “um rebanho”. Jesus será o seu Pastor. Hoje, da mesma forma que nos dias antigos, podemos orar: “Dá ouvidos, ó pastor de Israel, Tu que conduzes a José como um rebanho; Tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o Tu esplendor”. (Salmo 80:1)

O que distingue suas ovelhas: –Os que seguem a Cristo são Suas ovelhas. Porém, Ele possui “outras ovelhas”. Há muitos que hoje ainda não O seguem, mas são Suas ovelhas. Estão errantes e perdidos e Ele os busca.
O que determina quem são Suas ovelhas? Escute a própria resposta de Cristo: “Minhas ovelhas ouvem a Minha voz”. “Também tenho outras ovelhas que não são deste redil, a Mim me convém agregá-las; e elas ouvirão a Minha voz”. “Mas vós não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz; Eu as conheço, e elas Me seguem”. (João 10:3, 16, 26 e 27) Quando Cristo fala, aqueles que são Suas ovelhas ouvem-Lhe a voz e vêm a Ele. A palavra do Senhor é a prova que deixa claro quem são Suas ovelhas. Portanto, cada um que ouve e obedece à Palavra do Senhor é da família de Israel. E aqueles que a rejeitam ou negligenciam perder-se-ão eternamente. “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”. (Gálatas 3:29).

“Uma só fé”: –Deter-nos-emos agora para considerar como tudo isso que o apóstolo disse está relacionado com o que foi exposto no capítulo 14, com respeito a Cristo como ministro da circuncisão, para confirmar as promessas feitas aos pais, a fim de que os gentios glorifiquem a Deus.
"Ora, ao que é fraco na fé, acolhei-o, mas não para condenar-lhe os escrúpulos. Observe que esses temos que temos de receber "como também Cristo nos recebeu para a glória de Deus", são os que têm a fé. Agora, não há mais que “uma fé” como também somente “um Senhor” (Efésios 4:5). E a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10:17).
Visto que tem de haver um só rebanho, e posto que Cristo, seu Pastor, não está dividido, não pode haver nenhuma divisão no rebanho. As disputas que procedem da sabedoria e idéias humanas devem ser descartadas, e apenas observada a Palavra de Deus. Isso não dará lugar a qualquer disputa. Esta é a norma: "Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso”. (I Pedro 2:1-3)
Fé, esperança, alegria e paz: –"Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz na vossa fé, para que abundeis na esperança pelo poder do Espírito Santo”. Isso liga à instrução recebida a do capítulo 14, onde nos é dito que “o reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”.

O ministério triunfante de Paulo: – Romanos 15:15-33.
15 Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por Deus,
16 para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo.
17Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus.
18 Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras,
19 por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo,
20 esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio;
21 antes, como está escrito: Hão de vê-Lo aqueles que não tiveram notícia dEle, e compreendê-Lo os que nada tinham ouvido a Seu respeito.
22 Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti impedido de visitar-vos.
23 Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos,
24 penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia.
25 Mas, agora, estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos.
26 Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém.
27 Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais.
28 Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes consignado este fruto, passando por vós, irei à Espanha.
29 E bem sei que, ao visitar-vos, irei na plenitude da bênção de Cristo.
30 Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor,
31 para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos;
32 a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa recrear-me convosco.
33 E o Deus da paz seja com todos vós. Amém!

A comissão evangélica: –Estando Jesus prestes a deixar este mundo, disse a Seus discípulos que eles haveriam de receber poder pelo Espírito Santo. Então ordenou: “Sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da Terra”. (Atos 1:8) “Primeiramente do judeu e também do grego”, mas o evangelho deveria ser levado a todos. Assim Paulo declarou que sua obra como ministro do evangelho consistia em testificar solenemente “tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”. (Atos 20:21) É-nos dito nesse texto que “para ser ministro de Jesus Cristo aos gentios, ministrando o evangelho de Deus”, havia ele tinha “divulgado o evangelho de Cristo”, com poder, milagres e prodígios, pela virtude do Espírito de Deus, “desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico”.

Compartilhando a mesmas coisas espirituais – O apóstolo, expressando seu desejo de visitar os romanos, disse que esperava vê-los no transcurso de sua viagem à Espanha. Disse: “Mas agora vou a Jerusalém para ministrar aos santos. Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia levantar uma oferta fraternal para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. Isto, pois, lhes pareceu bem como devedores que são para com eles. Porque se os gentios foram participantes das bênçãos espirituais dos judeus, devem também servir a estes com as materiais”.
Uma declaração muito simples, mas que ilustra como os gentios não receberam nenhum bem espiritual que não proviesse dos judeus. As bênçãos espirituais de que participaram os gentios, eles as receberam dos judeus e por esses lhes foram ministradas. Ambos compartilharam o mesmo pão espiritual, de modo que os gentios demonstraram sua gratidão, ministrando as necessidades materiais dos judeus. Vemos aqui uma vez mais um só redil e um só Pastor.

O Deus de Israel: –Deus se dá a conhecer muitas vezes na Bíblia como o Deus de Israel. Pedro, cheio do Espírito Santo, imediatamente após a cura do coxo, disse ao povo: “O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a Seu Servo Jesus, a quem vós traístes e negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-lo”. (Atos 3:13). Mesmo nesse momento Deus Se identifica como Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó; o Deus de Israel.
Ele quer que O conheçamos e nos lembremos d’Ele. Assim lemos: “Tu, pois, falarás aos filhos de Israel e lhes dirás: Certamente, guardareis os Meus sábados; pois é sinal entre Mim e vós nas vossas gerações... Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre Mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a Terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento”. (Êxodo 31:13, 16 e 17) Deus é o Deus de Israel. Certamente. É também o Deus dos gentios, porém somente na medida em que esses O aceitem e venham a se tornar parte de Israel, mediante a justiça pela fé. Porém, Israel tem de guardar o sábado. Esse é o sinal de sua união com Deus.