segunda-feira, 19 de julho de 2010

Romanos, Cap. 10, Waggoner

CARTA AOS ROMANOS
Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani


Capítulo 10

Boas Novas de Grande Alegria
O capítulo nono estabelece a condição do Israel segundo a carne, o Israel literal. Ele buscou a justiça da lei, porém, não a alcançou porque não a seguiu pela fé, mas pelas obras da lei. Por isso, os gentios lhe tomaram a dianteira ao seguir a justiça de modo acertado, isto é, pela fé.
Cumpriram-se assim as palavras de Jesus aos judeus auto-suficientes: “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus... Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos”. (Mateus 21:31,43)
Todavia, o Senhor não rejeitou Seu povo devido ao tropeço na Rocha que havia posto como fundamento. Ele os suportou com paciência infinita, até mesmo os vasos da ira votados à destruição. O apóstolo continua o tema nestes termos:

O glorioso evangelho – Romanos 10:1-21
1 Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos.
2 Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento.
3 Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus.
4 Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê.
5 Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela.
6 Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu? isto é, para trazer do alto a Cristo;
7 ou: Quem descerá ao abismo? isto é, para levantar Cristo dentre os mortos.
8 Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos.
9 Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
10 Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.
11 Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido.
12 Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que O invocam.
13 Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
14 Como, porém, invocarão Aquele em quem não creram? E como crerão nAquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?
15 E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!
16 Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação?
17 E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.
18 Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a Sua voz, e as Suas palavras, até aos confins do mundo.
19 Pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata Eu vos provocarei à ira.
20 E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não Me procuravam, revelei-Me aos que não perguntavam por Mim.
21 Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente.

Zelo sem entendimento: –“É saudável sempre mostrar zelo pelo bom.” O zelo é muito necessário na consecução de todo ideal, porém, zelo sem entendimento é como um cavalo selvagem sem arreios ou freio. Há febricitante atividade, mas sem utilidade. É como alguém que mostra grande determinação para chegar a certo lugar, enquanto caminha na direção oposta. Pouco importa o empenho que coloque em chegar a um lugar que está diametralmente oposto a ele. Enquanto se dirigir em rumo contrário, jamais chegará a seu objetivo. A ignorância converte o zelo numa característica ineficaz. “Meu povo foi destruído porque lhe faltou conhecimento”. (Oséias 4:6)

A insipiência de Israel: –Esse desconhecimento consistia em “ignorar a justiça de Deus”. Trata-se de um tipo de ignorância que não se extinguiu com a aquela geração e não está confinada a nenhum povo em especial. Todavia, o que se tornou muito mais grave no caso de Israel, foi que a ignorância sobre a justiça de Deus se associou à mais alta profissão de serviço ao Senhor.

A justiça de Deus – A justiça de Deus é muito mais que uma simplex expressão lingüística ou conjunto de palavras. Ela compreende muito mais que uma definição. É nada mais nada menos do que a vida e o caráter de Deus. Da mesma maneira que não se pode conceber a doçura na ausência de algo doce, assim tampouco existe a justiça como algo abstrato. A justiça deve estar necessariamente ligada a um ser animado. Porém, somente Deus é justo (Marcos 10:18). Por isso, onde houver justiça, Deus Se encontra em ação. A justiça é a característica essencial de Deus.

A forma e a substância: –Os judeus tinham a forma do conhecimento e a verdade na lei, porém careciam da própria verdade. A lei de Deus, escrita em tábuas de pedra ou em um livro, é tão perfeita como sempre o foi. Contudo, há exatamente a mesma diferença entre isso e a lei legítima, como entre a fotografia de um indivíduo e ele próprio, em pessoa. A lei escrita não era mais que uma sombra. Na letra não havia vida e, por ela mesma, nada podia fazer. Não era mais do que uma declaração de que a vida existe tão-somente em Deus.

Justiça oca: –Os judeus sabiam muito bem que as palavras escritas nas tábuas de pedra ou no livro, não podiam fazer nada; e como ignorassem a justiça que aquelas palavras descreviam, procuraram estabelecer sua própria justiça. Conheciam a justiça de Deus, mas nunca a haviam praticado. Disse o salmista: “A tua justiça é como as montanhas de Deus”. (Salmo 36:6). Tentavam produzir por eles mesmos aquilo que é atributo essencial de Deus.
Um esforço assim, por mais zelo que nele seja posto, tinha de levar ao fracasso mais retumbante. Saulo de Tarso era “extremamente zeloso das tradições dos [seus] pais”, mas, quando compreendeu corretamente a questão, as coisas que antes lhe pareciam lucro, reputou-as por perda. Isto é, quanto mais zelosamente procurava estabelecer sua própria justiça, mais se distanciava dela.
Submeter-se à justiça – Se os judeus não houvessem ignorado a justiça de Deus, não haveriam procurado estabelecer a sua própria. Tentaram sujeitar a si mesmos a justiça de Deus, quando eram eles é que deveriam haver-se submetido à justiça divina. A justiça de Deus é ativa. É Sua própria vida. Da mesma forma que o ar preenche o vácuo, assim também a vida justa de Deus locupletará cada coração que estiver aberto para recebê-Lo. Quando o homem procura manejar a lei de Deus, perverte-a invariavelmente, modelando-a segundo suas próprias idéias. A única maneira de discernir a perfeição da lei é submeter-se a ela, permitindo que exerça o governo da vida. Então ela operará na vida, “porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Filipenses 2:13).

O fim da lei: –“Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de um coração puro e uma consciência boa, e de fé sem hipocrisia”. (I Tim. 1:5) “... O cumprimento da lei é o amor”. Portanto, a finalidade da lei é seu perfeito cumprimento. É algo que se explica a si mesmo. A forma como se interpreta a palavra “fim” não muda as coisas. Se você lhe der o significado de “objetivo” ou “propósito”, é evidente que aquilo que a lei exige terá de ser efetuado. Se pela palavra “fim” entendermos a extensão final de algo, chegamos à idêntica conclusão. Você atinge o fim da lei somente quando alcança o limite máximo de seus reclamos.

O fim da lei é Cristo: –Vimos que o fim ou objetivo da lei é a justiça por ela requerida. Desse modo, lemos que Cristo é o fim da lei “para a justiça”. A lei de Deus é a justiça de Deus (Isaías 51:6 e 7). Entretanto, essa justiça é a própria vida divina, e as palavras da lei não são mais que sua própria sombra. Somente em Cristo encontramos essa vida, já que somente Ele reivindica ser a justiça de Deus (Romanos 3:24 e 25). Sua vida é a lei de Deus, posto que Deus estava nEle. Aquilo que os judeus tinham meramente na forma, encontramo-lo em sua genuína substância unicamente em Cristo. O fim da lei está nEle. Será que alguém irá pretender que “o fim da lei” signifique sua abolição? Pois bem, quando houver a abolição de Cristo, então haverá o banimento da lei. Não antes. Unicamente o estudo da vida de Cristo revelará a justiça que a lei de Deus exige.

Para quem?: –Cristo é o fim da lei para a justiça de quem? Para “todo aquele que crê”. Cristo habita no coração pela fé (Efésios 3:17). Somente nEle se encontra a perfeita justiça da lei. NEle está a perfeição absoluta. Assim, desde que Cristo habite no coração do crente, somente nEle é alcançado o fim da lei. “A obra de Deus é esta: que creiais nAquele que por Ele foi enviado.” (João 6:29) “Com o coração se crê para a justiça”.

Trabalhar para viver e viver para trabalhar: –A justiça que é pela lei, isto é, a justiça própria do homem (Filipenses 3:9), baseia-se no princípio de fazer algo para viver. O mero enunciado já basta para dar conta de sua impossibilidade, visto que a vida deve necessariamente preceder a ação. Um corpo morto nada pode fazer a fim de viver; ele precisa receber a vida antes de poder fazer algo. Pedro não pediu a Dorcas, morta como estava, que fizesse alguma obra de caridade, que confeccionasse alguns vestidos mais para que pudesse viver, mas, em nome de Jesus, restaurou-lhe primeiro a vida a fim de que pudesse continuar a praticar suas boas obras. O homem que fizer essas coisas viverá por elas; porém, primeiramente tem de viver antes de poder efetuá-las. Portanto, a justiça pela lei nada mais é que uma quimera. Cristo dá a vida, a eterna e justa vida de Deus, e essa opera justiça na alma reavivada.

Cristo, a Palavra: –Os versos 6 a 18 são uma citação integral de Deuteronômio 30:11-14. Moisés terminara de repetir a lei ao povo e os havia exortado à obediência. Dissera que o mandamento não estava “longe” deles, de modo que não precisavam enviar ninguém para que lho trouxesse, “pois esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a cumprires”. Paulo, escrevendo sob a inspiração do Espírito, menciona as palavras de Moisés e mostra que elas se referem a Cristo. Cristo é a Palavra, o mandamento que não está “longe”, que não precisa descer do Céu e nem trazido dentre os mortos. Compare cuidadosamente essas partes da Escritura e descobrirá que o autêntico mandamento do Senhor é nada menos que Cristo.

Lei e vida: –Essa verdade não estava necessariamente encoberta desde os tempos do Novo Testamento. O judeu pensante dos dias de Moisés podia claramente compreender que só na vida de Deus é possível achar a justiça da lei. Disse Moisés: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, dando ouvidos à Sua voz e apegando-te a Ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade...” (Deuteronômio 30:19 e 20)
Ao apresentar a lei ao povo, Moisés desdobrou perante eles a vida de Deus, que pode ser encontrada apenas em Cristo. “E sei que o Seu mandamento é a vida eterna”. (João 12:50) “E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. (João 17:3)
A proximidade da Palavra – Recordando-nos de que Cristo é a Palavra, lemos que: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos.” Será que Cristo está tão próximo assim? Sim, certamente, pois Ele mesmo disse: “Eis que estou à porta e bato.” (Apocalipse 3:20). Não está apenas próximo dos bons, se bem que não está longe de cada um de nós”. (Atos 17:27). Tão próximo, que “nEle vivemos, e nos movemos, e existimos”.
Não podemos estender nosso braço sem alcançá-Lo. Cristo está junto ao coração, inclusive dos ímpios, esperando e procurando fazer com que O reconheçam em todos os seus caminhos. Então Ele poderá morar nesses corações “pela fé”, dirigindo-os em todos os seus caminhos. Em nenhuma outra coisa é mostrado mais plenamente o amor de Cristo, do que em Sua moradia com o homem pecador, sofrendo sua inimizade a fim de, por Sua divina paciência, poder resgatá-lo de seus maus caminhos.

Crer na ressurreição: –“Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”. (Romanos 4:25) “Morreu por todos”. Provou a morte por todos. E foi ressuscitado para a justificação de todos. Crer com o coração que Deus O ergueu dentre os mortos, é acreditar que Ele me justifica. Aquele que não crê que Jesus purifica do pecado, realmente não acredita que Deus O ressuscitou dos mortos. Efetivamente, não creremos na ressurreição de Cristo, a menos que tenhamos fé no motivo e no propósito desse ressurgir. A ressurreição de Jesus é um fato muito menos aceito do que pensamos.

“Não será envergonhado”: –A raiz da palavra “crer” traz implícita a idéia de fundamento, de algo sólido sobre o qual construir. Crer em Jesus é edificar sobre Ele. Ele é a Pedra Angular, a Pedra Fundamental, “solidamente assentada” (Isaías 28:16). Quem edificar sobre Ele não será confundido no dia da chuva e da inundação, quando os ventos arremeterem contra sua casa. Ele edificou sobre a Rocha dos séculos.

Não há diferença – A nota predominante do chamamento evangélico é “todo aquele”. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (João 3:16). “Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”. (Apocalipse 22:17). “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, “pois não há distinção entre judeu e grego”.

Torne a ler os capítulos 2, 3 e 4 de Romanos. Verdadeiramente, todo o livro de Romanos é uma sentença de morte à malévola suposição de que Deus é parcial, e favorece a certas pessoas em detrimento de outras. A idéia de que o Senhor tem bênçãos especiais para uma nação da Terra, e não para as demais, sejam judeus, ingleses, alemães ou qualquer outro povo, significa uma negação direta do evangelho da graça de Deus.

O evangelho para todos: –Os versos 13, 14 e 15 indicam os passos necessários para a salvação. O homem deve invocar primeiramente ao Senhor, porém, a fim de invocá-Lo, deve crer nEle. Para que possa fazer isso, carece de que alguém lhe seja enviado. Não tem havido falta de pregadores, porém, nem todos creram e obedeceram, embora todos tenham ouvido.
O que todos ouviram? A Palavra de Deus. Para demonstrar essa assertiva, o apóstolo diz que a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus, e acrescenta: “Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a Terra se fez ouvir a Sua voz, e as Suas palavras, até aos confins do mundo”. “Todo homem que vem a este mundo” ouviu, e ninguém tem desculpas para a incredulidade. Leia novamente Romanos 1:16-20.

Gloriosos pregadores: –As boas novas gloriosas são o evangelho de Cristo. Seus raios abrem caminho até o coração (Ver II Coríntios 4:4; I Timóteo 1:11). Portanto, aqueles que as pregam participam de um ministério glorioso. O Sol, a Lua e as estrelas são os maravilhosos “pregadores”, cujas palavras atingem os confins do mundo. Pregam o glorioso evangelho de Cristo. São um exemplo permanente da forma adequada de pregar o evangelho: brilhar para a glória de Deus.
Assim, o apóstolo diz a nós os que temos ouvido e crido no evangelho: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.” (I Pedro 2:9) O evangelho é a revelação de Deus ao homem. Deus é luz e, portanto, a pregação do evangelho consiste em fazer brilhar essa luz. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. (Mateus 5:16)