Ao eu ter a oportunidade de ler, estudar, diálogar e ouvir dezenas de pessoas honestas, pensativas, e tementes a Deus, irmãos e irmãs cristãos, tanto dentro do adventismo bem como do cristianismo em geral, eu cheguei à conclusão que há duas formas fundamentais de ver a salvação e religião. Para colocá-la de forma sucinta, em um sistema religioso, ou processo de pensamento, a salvação é uma mudança que ocorre em Deus, a fim de sermos aceitos por Ele ("salvos"). Enquanto no outro sistema religioso, ou processo de pensamento, a salvação é uma mudança que ocorre em nós, a fim de crer e amar a Deus.
Em círculos cristãos, isto pode ser um pouco mais sutil. Podemos ter a idéia, consciente ou inconsciente, de que coisas como a fé, o arrependimento, a confissão, o discipulado, etc, causarão Deus mudar Sua atitude ou sentimentos em relação a nós, a partir de uma condenação, ou falta de aceitação, por uma de aceitação. Mas, novamente, a idéia básica é a de que, algo que fazemos modifica ou altera a atitude ou postura de Deus para conosco.
Na sua forma mais sutil, a idéia não é de que tudo o que fazemos mude a aceitação de Deus ou a Sua atitude em relação a nós, mas que o que Jesus fez ou está fazendo, muda a atitude de Deus o Pai ou sentimentos em relação a nós. A idéia é expressa mais ou menos assim:
"–Nós somos pecadores e por isso Deus o Pai não pode aceitar-nos. Mas Jesus morreu em nosso lugar, e agora Deus o Pai pode nos aceitar por causa de Jesus, que está entre nós e Deus, o Pai."
Às vezes isto é expresso como a justiça de Cristo cobrindo-nos para que Deus possa nos aceitar.
A raiz do problema (*na mente destas pessoas) é a mesma: Deus está Se relacionando a nós de maneira um tanto hostil ou "Inaceitável" ou condenatória - talvez só um pouco - e Ele precisa ser mudado por algo, e neste caso Jesus faz com que a mudança ocorra em Deus, o Pai. Deus, o Pai muda de uma atitude de condenação para conosco, para uma atitude de aceitação em relação a nós.
Embora geralmente sejamos espiritualmente mais experientes, o suficiente para não usar palavras como apaziguamento ou aplacamento, para descrever o que está acontecendo neste sistema de pensamento religioso, parece bastante próximo à conciliação. Teríamos que ser muito cautelosos para que outras palavras como expiação ou propiciação não estejam comunicando o princípio de conciliação.
Vamos agora olhar para o segundo sistema de pensamento religioso. A idéia de que a salvação é Deus trabalhando para mudar nossa atitude para com Ele. Frequentemente nas Escrituras, somos descritos como se relacionando com Deus como inimigos. "A mente carnal é inimizade contra Deus" (Romanos 8:7, KJV). Somos por "natureza filhos da ira" (Efésios 2:4). Nós, “sendo inimigos..." (Romanos 5:10). Eramos "estranhos, e inimigos em nossas mentes" (Colossenses 1:21, KJV, *em “nosso entendimento”, Almeida). Etc. Em cada um desses versos, e muitos outros, a questão é que temos nos relacionado com Deus como nosso inimigo. Temos tido hostilidade e ira para com Ele. Deus, pelo contrário, tem Se relacionado para conosco como ovelhas perdidas e filhos pródigos, trabalhando para atrair e conquistar-nos de volta para Si mesmo. Deus não tem sido o nosso inimigo, mas nós temos sido Seu inimigo.
Quando vemos a salvação através deste paradigma percebemos que Deus realmente nos ama com um “amor eterno” (Jeremias 31:3). O problema tem sido que o pecado e Satanás introduziram em nossa mente e psique, pensamentos sombrios sobre quem é Deus e como Ele Se relaciona conosco. Nós O vemos como necessitando de apaziguamento, a fim de relacionar-nos com a aceitação e reconciliação. Em algumas religiões esta conciliação é cumprida pelo pecador, no cristianismo, é frequentemente visto como Jesus fornecendo a mudança de atitude e postura de Deus para conosco.
Ao longo de toda a Escritura, não há versos sobre Deus ser reconciliado conosco, mas eles são todos sobre nós sermos reconciliados com Ele. Deus nos reconciliou consigo mesmo (2ª Coríntios 5:18). “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2ª Coríntios 5:19). “Vos reconcilieis com Deus” (2ª Coríntios 5:20). “Cristo padeceu uma vez pelos pecados ... para levar-nos a Deus” (1 Pedro 3:18). “Com benignidade te atraí” (Jeremias 31:3). “Fomos reconciliados com Deus” (Romanos 5:10). Reconciliá-los a Deus, Efésios 2:16. Repetidamente nas Escrituras a mensagem é sobre Deus, trabalho, Se esforçando, indo em busca de nós, para nos ajudar a ver que Ele sempre Se relaciona conosco com a atitude do pai do filho pródigo (*ou do pastor em busca da ovelha perdida) - esperando que nós vejamos Seu imutável amor e aceitação – a despeito dos nossos abusos e hostilidades contra ele.
A justificação pela fé, então torna-se simplesmente, mas, oh, tão significativamente, uma mudança em nossa atitude para com Deus, ao nos conscientizarmos da graça e da bondade e da benevolência com que Ele sempre tem Se relacionado conosco. Somos "justificados", o que significa que somos mudados em nossos pensamentos e sentimentos em relação a Ele, pela "fé," que é uma apreciação de coração do amor que Ele sempre manifestou em relação a nós, e, especialmente, revelado na cruz.
Eu quero ter os meus mal-entendimentos, ainda existentes, removidos. Eles são sutis, e, às vezes, subconscientes, a respeito de Deus. Eu quero ser transformado (justificado) por uma apreciação sempre crescente e confiar (fé) na bondade e graça de Deus, especialmente porque são mais claramente reveladas na morte o Filho de Deus. Deus Filho, manifestando e revelando a Deus Pai, para aqueles que têm se relacionado com Ele como um inimigo. Que eu não O trate como um inimigo ou não O veja como precisando ser acalmado.
–Bob Hunsaker
O irmão Riberto Hunsaker é médico; adventista por muitos anos. É diretor do ministério pessoal de sua Igreja Adventista do Sétimo Dia, na área de Boston, MA., U.S.A., e também professor de sua unidade evangelizadora. Ele tem, também, um programa semanal na rádio (AM WEZE 590) aos domingos à noite, às 19:30 horas, em parceria com o Pr. Bill Brace, intitulado Portraits of God (Quadros de Deus).
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