sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lição 2 — Judeus e Gentios, por Arlene Hill

"Os judeus disseram uns aos outros, Para onde irá este, que não O acharemos? Irá porventura para os dispersos entre os gregos, e ensinará os gregos?" (João 7:35).

O povo judeu tinha se tornado tão exclusivo, que estava além de sua compreensão que alguém fosse pregar para quem não fosse judeu. A referência à "dispersão" sugere que eles estavam limitando a ação de testemunhar só para os judeus dispersos entre os gregos. A implicação é que eles consideravam a salvação impossível para alguém, além do judeu, portanto, evangelismo era desnecessário. Os esforços evangelísticos de Paulo entre os gentios, deve ter tornado alguns dos judeus cristãos agitados.

Se alguém era judeu, todos o sabiam por causa de suas roupas, costumes e hábitos alimentares. Os gentios não tinham estes costumes culturais, o que tornava difícil dizer quem pertencia (*ao povo judeu) e quem não. Toda vez que, um grupo crê que é importante distinguir os membros dos não-membros, regras são necessárias. Havia liberdade neste novo cristianismo, e no Concílio de Jerusalém concluiu-se que apenas o mínimo de restrições seriam colocados sobre os novos conversos, Atos 15:20. Durante séculos, os judeus acreditavam que se você mantivesse todas as regras corretamente, o céu seria seu. Para os novos cristãos colocar de lado todo esse esforço não era bem recebido por muitos judeus antigos com velhos preconceitos.

Paulo aborda esses preconceitos no início de sua epístola aos cristãos romanos provando as deficiências de ambos, judeus e gentios, concluindo: "Não há um justo, nem um sequer" (Romanos 3:10). A heresia dos gálatas de que Deus salva somente os circuncidados tinha acabado de consumir o tempo e a energia da liderança.

Provavelmente o melhor cenário no qual se entender esse preconceito judeu é olhar para como eles chegaram a compreender as promessas do concerto do Deus de Israel. Os judeus, invariavelmente descreveram que as promessas de Deus foram feitas a seu pai Abraão. Na verdade, elas foram, mas isto não foi a primeira vez que a promessa de um Salvador fora feita.

"O concerto da graça foi feito primeiramente com o homem no Éden, quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente. ... Este mesmo concerto foi renovado com Abraão na promessa: ‘Em tua semente serão benditas todas as nações da terra’ (Gen. 22:18) ... Se bem que este concerto houvesse sido feito com Adão e renovado a Abraão, não poderia ser ratificado antes da morte de Cristo. ... contudo ao ser ratificado por Cristo, é chamado um novo concerto" (Patriarcas e Profetas, págs. 370, 371).

Se as promessas feitas a Adão e Abraão foram as mesmas, os judeus não tinham nenhuma base para crer que era praticamente impossível para um gentio ser salvo. Mas um outro concerto, formado no Sinai poderia ter sido enganoso. Por que outro concerto foi formado no Sinai? "Em cativeiro as pessoas tinham em grande parte perdido o conhecimento de Deus ... Vivendo no meio da idolatria e corrupção, não tinham uma concepção verdadeira da santidade de Deus, da excessiva pecaminosidade do seu próprio coração, de sua completa incapacidade para, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e de sua necessidade de um Salvador. Tudo isso deveria ser-lhes ensinado" (idem, pág. 371). Israel demonstrou a verdade desta afirmação quando ingenuamente respondeu no Sinai que faria tudo o que Deus tinha dito. Eles tiveram de ser ensinados que eram incapazes de fazer o que prometeram.

Nada disto, incluindo o seu fracasso com o bezerro de ouro, surpreendeu um Deus onisciente. Assim começou uma longa viagem com ciclos de Israel tentando guardar a lei, desistindo, caindo na idolatria, e, em seguida, começando de novo com uma nova geração. Quando o Messias cumpriu as promessas do “novo” concerto de Deus, eles estavam muito imersos em seu antigo concerto de obras para reconhecê-Lo.

Waggoner viu a diferença entre os dois concertos: "Mas estas [promessas de Deus a Abraão] não foram um concerto como o feito com os israelitas no monte Horeb(1), que não continha uma referência a Cristo, e nenhuma provisão para o perdão dos pecados (*grifos nossos); por outro lado o concerto feito com Abraão foi “confirmado em Cristo" (Gal. 3:17) e foi feito não na condição de que ele deve ser justo por seus próprios esforços, mas foi feita sob a condição de ele ter a justiça da fé. Compare Rom. 4:11 com 3:22-25" (E. J. .Waggoner, "Comentários sobre Gálatas 3, nº 3," publicado em Signs of the Times, em 22 de julho de 1886).

Os judeus passaram a ver a lei cerimonial e a lei moral como uma entidade única, com todos os elementos vinculativos para aqueles que querem entrar no céu. Muitos cristãos veem as duas leis da mesma maneira, e pregam a coisa toda na cruz, sem nada dizer da lei moral ainda em vigor. A liderança na assembléia da Conferência Geral de 1888 assumiu a posição de que somente a lei moral é obrigatória, e não a cerimonial. Esta parece ser a posição de conciliação, mas pode ser entendida de forma diferente.

Algo que é obrigatório pode ser usado para punir por violação, e recompensado por seu cumprimento. Se ambas as partes concordam em celebrar um contrato, cada uma tem o direito de exigir o desempenho da outra. Mas, mesmo que os tribunais reconhecam que, se uma das partes do contrato não tem a capacidade de cumprir o que prometeu, nunca houve uma reunião das mentes suficiente para dizer que um contrato mutuamente vinculativo foi formado.(2) .

Se um governo exige um desempenho perfeito de todas as suas leis, desde que a obediência seja perfeita, a cidadania está garantida. Adão não teve nenhum problema com o concerto “obedecer e viver” antes de cair. Depois que ele pecou, seu coração estava em inimizade com Deus e com a lei que descrevia Seu caráter. Deus precisou fazer um novo concerto com a humanidade para resolver este problema, porque o pacto original (antigo) não continha qualquer referência a Cristo, ou da provisão para o perdão dos pecados.

A fim de nos salvar, Deus tinha que fazer tudo. Waggoner entendeu que, através da graça, Deus dá à humanidade a justiça de Jesus, Quem, sozinho, viveu uma vida sem pecado. Pela fé o crente aceita a justiça, fazendo o crente, em Cristo, um guardador da lei. É importante compreender que esta justiça não é adicionada porque a justificação obtida por Cristo na cruz precise de reforço para autorizar a raça humana ir para o céu. Quando Cristo proclamou: "está consumado", Ele não quis dizer que estava acabado, exceto para o processo de santificação que nos fará justos.

Waggoner viu isto da seguinte maneira: "O significado da palavra 'justificado' é: 'feito justo.’" A palavra latina para justiça é justitia. Ser justo é ser moralmente correto. Em seguida, adicionamos ao final da palavra “ficação”, a partir da palavra latina, que significa 'fazer', e temos (*justificação), o equivalente exato do termo mais simples, "tornar justos" (Boas Novas, pág. 40).

Deus providenciou um Salvador que Se tornou “pecado por nós” e pagou o preço pelo pecado, a segunda morte. Então, através da aceitação do dom do Espírito Santo habitando no coração, Ele muda nossos corações que estão em inimizade contra a lei do amor. Aqui é onde Waggoner viu que os concertos, novo e antigo, foram duas experiências distintas, que correm ao longo de duas faixas paralelas a partir do tempo de Caim e Abel até a marca da besta e o selo de Deus, de que fala o livro do Apocalipse. A lei não se importa de modo algum com o estado do seu coração, mas o Novo Concerto de graça muda o seu coração de pedra para o de amor Ágape de Deus.

—Arlene Hill

A irmã Arlene Hill é uma advogada aposentada da Califórnia, EUA. Ela agora mora na cidade de Reno, estado de Nevada, onde é professora da Escola Sabatina na igreja adventista local. Ela foi um dos principais oradores no seminário “É a Justiça Pela Fé, Relevante Hoje?”, que se realizou em maio de 2010, na
Igreja Adventista do Sétimo Dia
7125 Weest 4th Street ,
Reno, Nevada, USA.,
Telefone 001 XX (775) 327-4545.


Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira

Notas do tradutor:
1) O Monte Horebe é o mesmo Monte Sinai, ou Jebel Musa, que significa “Monte de Moisés,” em árabe. Está situado ao sul da península do Sinai.

2) A melhor exposição sobre os dois concertos que o cristianismo já teve está no capítulo “A LEI E OS CONCERTOS,” em Patriarcas e Profetas, págs. 363 a 373. Mas além do que acima já foi transcrito do mesmo, ressaltamos o seguinte:
“O povo não compreendia a pecaminosidade de seus corações, e que, sem Cristo, lhes era impossível guardar a lei” (final da pág. 371 e início da 372, grifamos).
“A mesma lei que fora gravada em taboas de pedra, é escrita pelo Espírito Santo nas taboas do coração. Em vez de cuidarmos em estabelece nossa própria justiça, aceitamos a justiça de Cristo. Seu sangue expia os nossos pecados. Sua obediência é aceita em nosso favor. Então o coração renovado pelo Espírito Santo produzirá os ‘frutos do Espírito.’ Mediante a graça de Cristo viveremos em obediência à lei de Deus escrita em nosso coração. Tendo o Espírito de Cristo, andaremos como Ele andou” (idem, pág. 372, grifamos).