sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lição 2 — Judeus e Gentios, por Bob Hunsaker

Conquanto a maioria de nós, como cristãos do século 21, não está incomodada pela questão relacionada com a diferença entre a genética dos judeus e a genética dos gentios, todos nós ainda temos uma persistente sensação de que os problemas com que Paulo e os outros apóstolos estavam lidando, no primeiro século, têm especial aplicação a nós. Especialmente como cristãos modernos, que olhamos o mundo à nossa volta e vemos a frouxidão crescente de normas morais, há um crescente sentimento que precisamos ser únicos, diferentes, e “especiais" em comparação com o mundo que nos rodeia.

Em um sentido real, esta foi a preocupação dos cristãos judeus do primeiro século que achavam que os conversos gentios pareciam muito com o mundo do qual eles tinham supostamente saído. Assim, o Concílio de Jerusalém, para a qual Paulo apelou, de fato escolheu algumas normas externas, aplicáveis aos pagãos convertidos ao cristianismo. Interessante que eles escolheram as leis dietéticas e de pureza moral como essenciais à experiência cristã e harmonia uns com os outros.

Uma questão mais profunda está à base de todas as perguntas relativas às regras, regulamentos, conduta, leis, comportamento, desempenho, etc. A questão é esta: Quais são os objetivos de Deus em dar regras ou leis? Duas citações de Ellen White e dois textos escriturísticos podem nos ajudar a processar o papel do direito e/ou regras de experiência religiosa. A primeira nos leva de a volta a antes da criação do homem, para a função e necessidade da lei no céu:

"Quando Satanás se rebelou contra a lei de Jeová, a idéia de que existia uma lei ocorreu aos anjos quase como o despertar para uma coisa em que não se havia pensado. Em seu ministério, os anjos não são como servos, mas como filhos. Existe perfeita unidade entre eles e seu Criador. A obediência não lhes é pesada. O amor para com Deus torna o seu serviço uma alegria. Assim, em toda alma em que Cristo, a esperança da glória, habita, ecoam Suas palavras, "deleito-me em fazer a Tua vontade, ó Deus meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração," Salmo 40:8. (O Maior Discurso de Cristo, pág. 109, grifamos).

Incrível! Embora a lei de Deus sempre existisse, e os anjos, em algumas vagas lembranças, sentiam na memória que estavam cientes dela, a lei não tinha um lugar significativo em sua consciência ou pensamento diário. A lei existia, não em uma forma codificada, por escrito, tanto quanto um princípio existente, em, suas psiques angelicais. Estava lá, em seus corações e mentes, mas eles eram praticamente inconscientes dela. Não havia qualquer (*tábua de) 10 Mandamentos pendurada nas paredes celestiais ou nos seus vestíbulos angelicais. No entanto, sua obediência era irrepreensível — perfeita. Igualmente importante, a sua obediência era agradável!

"Se o homem houvesse guardado a lei de Deus, conforme fora dada a Adão depois de sua queda, preservada por Noé e observada por Abraão, não teria havido necessidade de se ordenar a circuncisão. E, se os descendentes de Abraão houvessem guardado o concerto, do qual a circuncisão era um sinal, nunca teriam sido induzidos à idolatria; tampouco lhes teria sido necessário sofrer vida de cativeiro no Egito; teriam conservado na mente a lei de Deus, e não teria havido necessidade de que ela fosse proclamada no Sinai, nem gravada em tábuas de pedra. E, se o povo houvesse praticado os princípios dos Dez Mandamentos, não teria havido necessidade de instruções adicionais dadas a Moisés” (Patriarcas e Profetas, pág. 364, grifamos).
Uma vez mais, a existência de regras ou leis codificadas, escritas, explícitas, tornou-se uma necessidade, a fim de lidar com situações de emergência — primeiramente no céu, e depois aqui na terra. Pense nisso, a história bíblica poderia ter sido completamente diferente! O registro bíblico poderia ter contado uma história completamente diferente! Nenhuma circuncisão. Nem 400 anos no Egito. Nenhum Êxodo. Nem Dez Mandamentos escritos em pedra. Nenhum serviço do santuário com todos os seus sacrifícios, festas, e regras.

A lei é necessária — de forma explícita, codificada — para lidar com rebeliões e motins no universo de Deus, e aqui no planeta Terra. Mas a lei foi intentada para existir não nesta forma externa, superficial, aparente, mas no íntimo, honorável e motivante, escrita na mente e no coração.

"Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões. . ." (Gal.3: 19). Ao as pessoas se tornarem menos sensíveis à voz mansa e delicada do Espírito Santo e, assim," transgressões" aumentarem, Deus foi obrigado a falar com a voz mais direta e contundente de codificação de comandos explícitos. Mas há um perigo nesta forma de comunicação. É que podemos começar a executar os comportamentos exigidos de nós, com (*duas) faltas que temos: as motivações do amor a Deus e ao nosso semelhante; que se destinam a ser a fonte e fundamento dos comportamentos. Em vez de fazer o que é certo, "porque é certo", nós fazemos o que é certo, porque a nossa salvação depende dela. Neste paradigma religioso, o amor a Deus e o amor ao próximo são reprimidos pelas cruas motivações de auto-preservação e de medo, embora, frequentemente, a nível sub-consciente.

Podemos estar servindo a Deus no exterior, em nosso comportamento, e servindo o “eu” no interior em nossas motivações. Satanás fica perfeitamente satisfeito com esta situação porque o nosso testemunho ainda valida sua afirmação de que o egoísmo é a motivação mais poderosa e mais influente princípio, em todo o universo. Satanás afirma que o próprio Deus é motivado pela auto-preservação (Gênesis 3, Jó 1 e 2) e, portanto, a vindicação de Satanás por vida eterna é validada.

"A abnegação, que é o princípio do reino de Deus, é o princípio que Satanás odeia; ele nega até a existência do mesmo. Desde o início do grande conflito tem ele se esforçado por provar que os princípios pelos quais Deus age são egoístas, e da mesma maneira ele considera a todos os que servem a Deus. A obra de Cristo e a de todos os que adotam o Seu nome, tem por fim refutar esta pretensão de Satanás (Educação, pág. 154, 3º§, grifamos).

Assim, conquanto Deus tenha feito uso da lei codificada, externa, para atender a emergência e a necessidade de nossa profunda e permanente transgressão, Ele deseja, desesperadamente, nos trazer de volta a uma condição em que, para nós, assim como para os anjos, o pensamento de que existe uma lei é quase como um despertar para algo impensado. Como isso pode ocorrer? Como podemos ser levados de volta ao lugar onde a lei é a fonte inconsciente de todos os nossos pensamentos, sentimentos e ações? É isso mesmo possível?

"Deixe-me colocar de outra maneira. A lei foi nosso guardião e professor para conduzir-nos (a) Cristo. .. Então, agora, através da fé em Cristo, somos feitos justos para com Deus" Gal.3: 24 (NLT, NVI). Ao contemplar a Cristo, somos capacitados e habilitados a experimentar não uma mera conformidade comportamental — se mesmo alguma vez devêssemos alcançar isso — mas um quadro real dos princípios e motivações da lei de Deus, de doação, de auto-sacrifício, o amor abnegado de nossos corações. Nossa constituição psicológica, na percepção do amor de Deus em Jesus Cristo, é transformada e restaurada, a uma condição onde a obediência "é um prazer inevitável.

"Toda verdadeira obediência vem do coração. Deste também procedia a de Cristo. E se consentirmos, Ele por tal forma Se identificará com os nossos pensamentos e ideais, dirigirá nosso coração e mentes em conformidade com o Seu querer, que, quando obedecendo-Lhe, não estaremos senão seguindo nossos próprios impulsos. A vontade, refinada, santificada, encontrará seu mais elevado deleite em fazer o Seu serviço. Quando conhecemos a Deus como nos é dado o privilégio de O conhecer, nossa vida será de contínua obediência. Mediante o apreço do caráter de Cristo, por meio da comunhão com Deus, o pecado vai se tornar detestável para nós” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 668, §3º)

Quer seja o dízimo, a circuncisão, a observância do sábado, a reforma de saúde, ou "o mais importante, o juízo, a misericórdia e a fé" (Mat.23: 23), que maravilhosa promessa, de que podemos avançar para uma nova experiência de "obediência do coração" (Rom.6: 17). Não precisa ser uma mera obediência obrigatória, mas uma harmonia profunda e interna, mais profunda, intelectual e espiritual harmonia com os princípios, as motivações e pensamentos que atuam no coração do próprio Deus. Isto é o que significa ser um “participante da natureza divina” (2ª Pedro 1:4). Minha oração, por você e por mim, é que, muito em breve — na medida em que nos aproximamos do momento dos rápidos "últimos acontecimentos" — vamos experimentar esta transformação.


—Bob Hunsaker


O irmão Roberto Hunsaker é médico, e diretor do ministério pessoal de uma Igreja Adventista do Sétimo Dia, na área de Boston, MA., U.S.A. Ele tem, também, um programa semanal na rádio (AM WEZE 590) aos domingos à noite, às 19:30 horas, em parceria com o Pr. Bill Brace, intitulado Portraits of God (Quadros de Deus). Ele é adventista por muitos anos e também professor de uma unidade evangelizadora em sua igreja local.