sexta-feira, 16 de julho de 2010

Romanos, Cap. 7, Waggoner

CARTA AOS ROMANOS
Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani


Capítulo 7

Casados Com um Péssimo Marido.
Todo o capítulo sete de Romanos está realmente contido no sexto. Quem entende o capítulo anterior não terá problemas com este. Somos tornados justos pela obediência de Cristo. Isso se deve ao fato dEle nos dar Sua vida agora. Ele vive em nós.
Chegamos a essa união com Cristo ao sermos crucificados com Ele. Nessa morte é destruído o corpo do pecado, a fim de que, a partir de então, não sirvamos mais ao pecado. Dito de outro modo, não transgredimos mais a lei. Estamos tão estreitamente identificados com o pecado, que sendo esse a nossa vida, não pode ser destruído sem que morramos. Entretanto, em Cristo não há pecado, de forma que quando somos ressuscitados com Ele, o pecado permanece morto. Sendo, pois, ressuscitados com Ele, vivemos com Ele, algo que era impossível anteriormente devido ao pecado; o pecado não pode morar com Ele.

Uma ilustração surpreendente: – Romanos 7:1-7.
1 Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem toda a sua vida?
2 Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal.
3 De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias.
4 Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus.
5 Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte.
6 Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra.
7 Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.

A ilustração: –É algo simples e que todos podem compreender. A lei de Deus diz acerca do homem e da mulher: “e serão uma só carne”. Estando vivo o marido, casar-se com outro significaria adultério para ambos. A lei nunca sancionaria uma união tal.
Devido a razões que serão apresentadas mais adiante, a ilustração fala somente do caso da mulher que abandonasse a seu marido. A lei une marido e mulher. Mantém a mulher sujeita ao marido por tanto tempo quanto ele estiver vivo. Caso ela se unisse em matrimônio com outro homem, encontrar-se-ia sob a condenação da lei. Porém, se o marido falece, então está livre para casar-se com outro homem e perfeitamente livre de condenação.
Nesse caso, a mulher “está livre da lei”, embora a lei em nada haja mudado. Longe de haver sido abolida, essa lei que manteria a mulher sujeita a seu primeiro marido e que a haveria condenado por casar-se com outro homem se aquele vivesse, agora a une a outro e a conserva sujeita a ele tão estreitamente quanto a manteve com o primeiro. Se nos ativermos a essa ilustração elementar, não encontraremos dificuldade em entender o que se segue.

A aplicação: –De mesma forma que na ilustração existem quatro personagens, assim também na aplicação: a lei, a mulher, o primeiro e o segundo maridos.
Somos aí representados pela mulher. Isso está claro na afirmação “pertencerdes a outro, Àquele que ressurgiu dentre os mortos”, que é Cristo. Cristo é, portanto, o segundo marido. O primeiro é descrito no verso 5: “Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte”. A morte é o fruto do pecado. O primeiro marido, portanto, era a carne, o “corpo do pecado”.

“Mortos para a lei”: –Essa é a expressão que preocupa a muitos. Porém, não há motivo algum de preocupação se tivermos presente a ilustração e a natureza das partes envolvidas no ensino. Para o que estamos mortos para a lei? Para podermos casar-nos com outro. Como pode ser que morremos para casar-nos com outro? Na ilustração, é o primeiro marido quem morre antes que a mulher possa casar-se com outro. O mesmo tem lugar aqui, como veremos depois.

Uma carne: –A lei matrimonial consiste em que “serão os dois uma só carne”. O que acontece aqui? O primeiro marido é a carne, o corpo do pecado. Verdadeiramente éramos uma carne com ele. Estávamos, por natureza, perfeitamente unidos ao pecado. Era ele a nossa vida. Ele nos controlava. Fazíamos aquilo que o pecado ditava. Podíamos até fazê-lo sem nos dar conta disso, porém, seja como for, nós o praticávamos. O pecado reinava em nossos corpos mortais, de maneira que o obedecíamos em suas concupiscências. Os desejos do pecado eram lei para nós. Éramos uma carne com ele.

À procura do divórcio: – Chega então um momento em nossa experiência no qual queremos libertar-nos do pecado. Isso acontece quando chegamos a vislumbrar algo da beleza da santidade. Em alguns indivíduos, tal desejo é meramente ocasional; em outros, mais constante. Reconheçam-no ou não, é Cristo quem os está chamando a deixar o pecado, a unir-se com Ele a fim de viver com Ele. Então eles se esforçam por conseguir uma separação. Porém, o pecado não consente. Apesar de tudo quanto possamos fazer, o pecado segue apegado a nós. Somos “uma carne” e existe uma união por toda a vida, posto que se trata de um enlace de nossa vida com o pecado. Nesse matrimônio não cabe o divórcio.

Liberdade na morte: –Não há esperança alguma de separação do pecado com a utilização de métodos comuns. Não importa o quanto possamos desejar estar unidos a Cristo, não pode acontecer tal coisa enquanto permanecermos unidos ao pecado. A lei nunca aprovaria tal união e Cristo jamais participaria de uma ligação que não fosse lícita.
Se pudéssemos fazer com que o pecado morresse, então ficaríamos livres, porém o pecado se nega a morrer. Há uma só forma pela qual podemos ser libertados desse sinistro consórcio: nós próprios morrendo. Se anelarmos libertação até o ponto de permitir que nosso eu seja crucificado, então ela ocorrerá. A separação torna-se efetiva na morte, já que é pelo corpo de Cristo que “nós” morremos. Somos crucificados com Ele. O corpo do pecado também é crucificado. Porém, embora o corpo do pecado seja destruído, somos ressuscitados com Cristo. A mesma circunstância que nos livra do primeiro marido, une-nos ao segundo.

Nova criatura: –Vemos agora em que consiste o ser mortos para a lei. Fomos mortos em Cristo e ressuscitados com Ele. Assim, “se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. Mas todas as coisas provêm de Deus...” (II Coríntios 5:17 e 18). Podemos agora estar unidos com Cristo e a lei dará testemunho e aprovação dessa união. Não é somente porque o primeiro marido morreu, mas nós mesmos o fizemos, de forma que embora estejamos vivos, não somos a mesma criatura que antes. “Já estou crucificado com Cristo e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. (Gálatas 2:20) Somos um. A mesma lei que no princípio nos declarava pecadores, agora nos mantém unidos a Cristo.

Um serviço diferente: –Após efetuar-se a união com Cristo, servimos em novidade de espírito e não na velhice da letra. No casamento, a mulher deve estar sujeita ao marido. Assim, quando estávamos unidos ao pecado, éramos sujeitos a ele em todos os aspectos. Por um tempo, não se tratava de um serviço voluntário; contudo, quando vimos o Senhor e sentimos Sua atração, o pecado converteu-se em tediosa servidão. Tentávamos guardar a lei de Deus, porém estávamos algemados e não podíamos fazê-lo. Agora, no entanto, fomos libertados. O pecado já não nos prende mais, e nosso serviço é liberdade. Prestamos alegremente a Cristo todo o serviço que a lei requer de nós. Fazemo-lo devido à perfeita união existente. Sua vida é a nossa, uma vez que fomos ressuscitados exclusivamente pelo poder de Sua vida. Portanto, nossa obediência é simplesmente Sua lealdade e fidelidade em nós.

O pecado pela lei: –O apóstolo disse que “quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte”. Que diremos, pois? É a lei pecado? De forma nenhuma! A lei é justiça. Porém, é somente através da lei que se conhece o pecado. “Não se imputa pecado não havendo lei”. “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei”. Assim, não pode haver pecado se não existir lei. Entretanto, a lei não é pecado; se assim fosse, não poderia reprovar o pecado. Convencer do pecado é a obra do Espírito Santo e não de Satanás. O arquiinimigo quer fazer-nos crer que o pecado é bom.

“Não cobiçarás”: –Poderia parecer estranho que o apóstolo citasse apenas esse mandamento ao expor como ficou convencido do pecado. A razão é clara: esse mandamento inclui todos os demais. Sabemos (Colossenses 3:5) que a cobiça é idolatria. Desse modo, a lei termina da mesma forma que começa. Traça um círculo completo que inclui todo dever de cada pessoa no Universo. “Porque eu não conheceria a concupiscência” –o desejo ilícito –“se a lei não dissesse: não cobiçarás”. À vista disso, a concupiscência é o princípio de todo pecado, porque ela “tendo concebido, dá à luz o pecado” (Tiago 1:15). E o pecado é a transgressão da lei.
Porém, o décimo mandamento é aquele que proíbe a concupiscência ou desejo ilícito. Conseguintemente, se esse mandamento for guardado perfeitamente, os outros também o serão. Se não, então nenhum outro mandamento da lei é observado. Vemos, pois, que ao citar o décimo mandamento como aquele que o convenceu do pecado, o apóstolo inclui de fato toda a lei.

Vivendo com Ele: –Antes de concluir esta seção, temos de prestar atenção à força do quanto expresso no oitavo versículo do capítulo sexto: “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com Ele viveremos”. Podemos ver quão apropriado é isso, ao compreendermos que é nossa morte com Cristo o que nos livra da união com o monstro do pecado, e nos une em matrimônio com Ele. As pessoas se casam com o propósito de viver juntas. Desse modo, unimo-nos com Cristo a fim de podermos viver com Ele aqui e no mundo por vir. Se quisermos viver com Ele na eternidade, temos de viver com Ele aqui neste mundo.
Nos primeiros sete versículos do capítulo 7 de Romanos, vimos a relação que por natureza mantemos com o pecado, e a que – mediante a graça – realizamos depois com Cristo, representadas sob a figura do casamento com o primeiro e o segundo maridos. A união com o segundo marido não pode ter lugar enquanto vive o primeiro. O matrimônio é tão perfeito, sendo ambas as partes literalmente uma carne e um sangue, que um não pode morrer sem o outro. Temos de morrer com o pecado antes de podermos separar-nos dele.
Todavia, morremos em Cristo, e visto que Ele vive, embora tenha sido morto, nós também vivemos com Ele. Porém, em Sua vida não há pecado, de forma que o corpo do pecado foi desfeito, enquanto que nós somos ressuscitados. Desse modo, somos na morte separados do primeiro marido, o pecado, e unidos ao segundo, Cristo.
Nos versículos seguintes, o apóstolo descreve a luta com o pecado, porque esse se converteu em algo aborrecível. Eles são, em realidade, um desenvolvimento daquilo que foi apresentado nos primeiros versículos.

A luta pela libertação: – Romanos 7:8-25.
8 Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado.
9 Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri.
10 E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte.
11 Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou.
12 Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom.
13 Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno.
14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.
15 Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
17 Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.
18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
19 Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.
20 Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.
21 Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim.
22 Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
23 mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.

Uma personificação do pecado: –É preciso observar que ao longo de todo o capítulo o pecado é representado como uma pessoa – o primeiro marido a que estávamos unidos. Porém, a união se tornou insuportável, porquanto depois de havermos visto a Jesus e sido atraídos a Ele por Seu amor, demo-nos conta de que estávamos unidos a um espectro. A união matrimonial converteu-se num jugo amargo e nosso único pensamento era como nos livrarmos do monstro com o qual nos consorciamos, e que nos estava arrastando à morte certa. A cena descrita por este capítulo é uma das mais vívidas de toda a Bíblia.

A força do pecado: –“O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei”. (I Coríntios 15:56). “Sem a lei, está morto o pecado”. “O pecado não é imputado não havendo lei”. “Onde não há lei não há transgressão”. “Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência”. O pecado não tem força alguma, salvo aquela que a lei lhe concede. A lei não é pecado, porém, mantém-nos unidos ao pecado, isto é, testifica do pecado e não nos provê qualquer escapatória, pela simples razão de que não pode dar falso testemunho.

A lei da vida e a lei da morte: –“O mandamento que era para a vida, esse achei que me era para a morte”. A lei de Deus é a vida de Deus. “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”. (Mateus 5:48). Sua vida é a norma para todas as criaturas. Aqueles em quem se torna perfeitamente manifesta a vida de Deus, guardam Sua lei. É, portanto, muito evidente que o desígnio da lei é a vida, posto que ela própria é vida. Porém, o oposto da vida é a morte. Assim, a transgressão da lei significa morte ao transgressor.

Um inimigo mortal: –“Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou e por ele me matou”. O inimigo não é a lei, mas o pecado. É o pecado quem mata, porque “o aguilhão da morte é o pecado”. O pecado leva em si mesmo a peçonha da morte. O pecado nos enganou de tal maneira que por um tempo nos fez crer que era nosso amigo, e nós nos apegamos a ele, deleitando-nos nessa união. Porém, quando a lei nos iluminou, descobrimos que o abraço do pecado é o amplexo da morte.

A absolvição da lei: –A lei assinalou o fato de que o pecado nos estava matando. “De modo que a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom.” Não temos mais motivos para afrontar a lei, do que teríamos para odiar a pessoa que nos informasse de que o que estávamos comendo tranqüilamente era, em realidade, um veneno. Ela é nossa amiga. Não o seria se nos ocultasse o perigo. O fato de que não é capaz de curar os males que o veneno ingerido produz, não a faz menos amiga. Advertiu-nos do perigo e podemos agora solicitar assistência médica. Assim, no final, a própria lei não nos foi mortal, mas sua função é que fazer com que o “pecado se mostrasse excessivamente maligno”
.
“A lei é espiritual”: –“Porque sabemos que a lei é espiritual”. Se esse fato fosse mais cabalmente reconhecido, existiria muito menos legislação religiosa entre as chamadas nações cristãs. Ninguém trataria de impor pela força os mandamentos de Deus. Posto ser a lei espiritual, somente pode ser obedecida pelo poder do Espírito de Deus. “Deus é Espírito”. (João 4:24), portanto, a lei é a natureza de Deus. Espiritual é o oposto de carnal, ou da carne. Por isso os que estão na carne não podem agradar a Deus.

Um escravo: –“Mas eu sou carnal, vendido sob o pecado”. O que foi vendido é um escravo, e a evidência da escravidão é muito clara nessa expressão. Os homens livres fazem aquilo que desejam. Somente os escravos fazem o que não querem, e são continuamente impedidos de consumarem o que desejam. “Pois o que faço, não o entendo; porque o que eu quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço”. É impossível imaginar uma situação mais desgraçada do que essa. A vida, nesse estado, não pode ser outra coisa mais que um fardo.

Convicção, mas não conversão: –“E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa”. O fato de não querermos praticar os pecados que cometemos mostra que reconhecemos a justiça daquilo que a lei nos proíbe. Porém, estar convencido não é o mesmo que estar convertido, embora seja um passo imperioso para a conversão. Não basta querer fazer o que é certo. A bênção é pronunciada sobre aqueles que cumprem seus mandamentos, e não sobre os que pretendem guardá-los, e tampouco sobre os que tencionam cumpri-los. Verdadeiramente, se não fosse possível ao professo seguidor de Deus uma posição mais elevada do que a descrita nesse versículo, esse ficaria numa situação muito pior do que o pecador empedernido. Ambos são escravos, só que o último está tão endurecido que encontra prazer em sua escravidão.
Se é que alguém deve ser escravo por toda a vida, é preferível que esteja inconsciente de sua escravidão, a passar toda a vida consumindo-se continuamente com o conhecimento do fato inevitável. Porém, há algo melhor. É uma bênção que estejamos convencidos do pecado, e que nossa escravidão venha a resultar tão desagradável quanto possível.

Duas “leis”: –“Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros”. Considere isso juntamente com o versículo 5.
Lembre-se de que tudo o que lemos anteriormente foi escrito para os que conhecem a lei. Não foi dirigido aos pagãos, que a ignoram, mas aos que professam conhecer a Deus. Havendo conhecido a lei, estamos unidos em casamento com o pecado. O pecado está em nossa carne, posto que os que são casados se tornam uma só carne. É a lei que dá testemunho de que somos pecadores, e isso não nos permite escapar ao fato. Somos escravos. Quem quer que cometa pecado é servo do pecado (João 8:34). A lei, pois, nessa situação, não nos permite ser outra coisa que aquilo que somos, mantendo-nos nessa servidão. Enquanto permanecermos nessa condição, ela não é para nós uma lei de liberdade.

O corpo da morte: –Estamos unidos em matrimônio com o pecado. Porém, o pecado traz em si mesmo a morte, porque “o aguilhão da morte é o pecado”. O pecado é aquilo com que a morte nos extermina. Portanto, o corpo do pecado a que estamos unidos, enquanto na carne, é, não mais nem menos, um corpo de morte. Terrível condição! Estamos juntos nessa união estreita e somos uma só carne com aquilo que é a própria morte – uma morte em vida.

“A força do pecado é a lei”. A lei dá testemunho de nossa união com o pecado e nos mantém assim na escravidão mortal. Se não houvesse esperança de escape, bem poderíamos maldizer a lei por não permitir que morrêssemos na ignorância. Contudo, embora poderia parecer que a lei estivesse desprovida de piedade, não obstante, é nossa melhor amiga. Leva-nos a sentir o caráter mortífero de nossa escravidão, até que clamemos angustiados: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Se alguém não nos livrar, pereceremos.

Há um Libertador: –Diz um provérbio popular que Deus ajuda aos que se ajudam a si mesmos. Porém, a verdade é que Deus ajuda a quem não pode ajudar-se. Ninguém que clame por socorro o fará em vão. Se suplicarmos auxílio, aí estará o Libertador, próximo, à mão. Embora o pecado opere a morte em nós pelo poder da lei, podemos exclamar: “Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo”. (I Coríntios 15:57) “Virá de Sião o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades”. (Romanos 11:26)
“Deus suscitou a Seu Servo, e a vós primeiramente vo-Lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos a cada um das vossas maldades.” (Atos 3:26) “Graças a Deus por Seu dom inefável”.

Um homem dividido: –“... Com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado”. Isso diz respeito, é claro, enquanto se está na condição dos versos precedentes. Em propósito, serve à lei de Deus, porém, na prática, serve à lei do pecado. Como lemos em outro lugar: “A carne luta contra o Espírito e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis”. (Gálatas 5:17). Não é um estado de serviço real a Deus, pois lemos no capítulo seguinte que “os que estão na carne não podem agradar a Deus”. Trata-se de um estado no qual a pessoa pode suplicar para ser libertado, de tal forma que tenha condições de servir ao Senhor não apenas com a mente, mas com o ser integral. “E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, e Ele também o fará”. (I Tessalonicenses 5:23 e 24).