segunda-feira, 19 de julho de 2010

Romanos, Cap. 13, Waggoner

CARTA AOS ROMANOS
Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani


Capítulo 13

O Crente e os Governos Terrestres
1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.
2 De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.
3 Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela,
4 visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.
5 É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência.
6 Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço.
7 Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.
8 A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.
9 Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
10 O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.
11 E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos.
12 Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz.
13 Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes;
14 mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências.

Chegamos ao segundo dos capítulos de caráter puramente exortativo. Ele contém material da mais alta importância; porém, costuma ser a seção do livro a que se costuma dar pouca atenção.

A quem se dirige?: –Quiçá seja interessante recordar aqui que a epístola é dirigida a professos seguidores de Jesus. “Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei...” (Romanos 2:17 e 18) “Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei)...” (Romanos 7:1). A última parte do capítulo volta a pôr a questão em destaque.
Portanto, é erro supor que esse capítulo tenha por objetivo estabelecer obrigações dos governantes terrenos, o que pretenderia ser um tratado sobre a forma correta de governar, assim como tampouco é instruir quanto à relação que deviam manter a igreja e Estado. Posto que a epístola se dirige a cristãos professos, é evidente que tinha como objetivo dizer-lhes como se comportar em relação às autoridades civis, sob cuja tutela viviam.

Deus, a origem de todo poder: –“Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus”. (Salmo 62:11) “Não há potestade que não proceda de Deus”. Isso é absolutamente certo; não há exceções. O poder romano, inclusive nos dias do famigerado e cruel Nero, derivava do poder de Deus, tanto como o dos judeus nos dias de Davi. Quando Pilatos disse a Cristo que tinha poder para crucificá-Lo ou para libertá-lo, Jesus replicou: “Nenhuma autoridade terias sobre Mim, se de cima não te fosse dada...” (João 19:11) Não obstante, esse fato em nada implica que as ações desse poder sejam devidas ao Senhor ou contem com a aprovação divina. Considerando os indivíduos, isso se torna mais claro. Todo poder humano provém de Deus. É tão certo para os pagãos como para os cristãos, que “n’Ele vivemos, e nos movemos, e existimos... porque d’Ele também somos geração”. Pode-se dizer com veracidade que os indivíduos e também os governos, são ordenados ou estabelecidos por Deus. Ele tem um plano para a vida de cada um.
No entanto, isso não torna Deus responsável pelas ações do homem, porque esse dispõe de liberdade para agir segundo sua própria escolha. É o homem quem se rebela contra o plano de Deus e perverte Seus dons. O poder com que o escarnecedor blasfema de Deus procede d’Ele, tão certamente como o poder com que o cristão O serve. Porém, ninguém suporá que Deus aprove a blasfêmia. De igual forma, não podemos admitir que Deus aprove necessariamente os atos dos governos terrestres, pelo simples fato de terem sido ordenados por Ele.

Instituídas (estabelecidas): –Ninguém entenda que essa expressão implique necessariamente na concessão de algum poder espiritual. Ela significa simplesmente estabelecida ou assinalada. Em Atos 28:23 encontramos novamente o termo grego, a partir do qual se traduziu marcado: “Havendo-lhe eles marcado um dia, vieram em grande número ao encontro de Paulo na sua própria residência...” Os judeus de Roma estavam de acordo em marcar um dia determinado para que Paulo lhes falasse do evangelho. Pode-se dizer que haviam estabelecido ou marcado um dia para o encontro com o apóstolo.

Deus é sobre todos: –As “potestades superiores” não estão acima do Altíssimo. “Porque dEle é a sabedoria e o poder; é Ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis...” (Dan. 2:20 e 21) Ele colocou a Nabucodonosor, soberano de Babilônia, como rei sobre todos os domínios da Terra (Jeremias 27:5-8; Daniel 2:37 e 38). Porém, quando Nabucodonosor atribuiu-se o poder divino, foi lançado entre os animais do campo, a fim de reconhecer que “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer”. (Daniel 4:32).
Resistindo a Deus: –Visto que somente em Deus há poder, “de modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação”. Há aqui uma advertência contra a rebelião e a insubordinação. Deus é quem coloca e retira os reis. Portanto, quem pretende destronar um rei está tentando usurpar a prerrogativa que só a Deus pertence. É como se soubesse melhor do que Deus o momento em que um governo deve ser mudado. A menos que possa demonstrar a existência de uma revelação direta do Céu, que o invista de uma obra tal, quem se levanta contra um governo terreno está tomando posição contra Deus, e procurando transgredir um mandamento por Ele dado. Está-se colocando adiante do Senhor.

Resistir ou derribar: –O ato de resistir à autoridade civil está no mesmo nível de procurar sua queda. Quem se opõe pela força a um poder, derrotá-lo-ia se para isso dispusesse de meios. Os seguidores de Cristo são proibidos terminantemente de fazer tal coisa.
O exemplo de Jesus: –Cristo padeceu “deixando-vos exemplo para seguirdes os Seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em Sua boca”. (I Pedro 2:21 e 22). É bom lembrar que Jesus foi condenado sob acusação política e por motivos políticos; porém, não ofereceu resistência apesar de dispor de poder para fazer isso (Ver João 18:5-11; Mateus 26:51-53). Pode-se acrescentar que Cristo sabia que havia chegado Sua hora. Tampouco em ocasiões anteriores levantou oposição. Encomendava-Se continuamente ao cuidado do Pai. Ele é o exemplo de Seus seguidores. Se você, amado leitor, se colocar sob o cuidado divino, não sofrerá opressão e indignidade que Ele não saiba ou permita; não é possível que você sofra dano algum antes de haver chegado sua hora. É mais fácil fazer profissão de fé em Cristo, do que demonstrar verdadeira fé seguindo Seu exemplo.

Outro exemplo relevante: –Saul havia sido ungido rei de Israel por ordem divina. Foi rejeitado posteriormente devido a seu curso de ação inconseqüente. Então, Davi foi ungido em seu lugar. A ascensão de Davi despertou ciúmes em Saul, que tentou contra sua vida. Davi não lhe ofereceu resistência, mas fugiu de sua presença. Em mais de uma vez Saul ficou exposto a Davi, porém, nem sequer por um momento ele levantou sua mão contra o rei. Se é que há algum pretexto para se opor a um governante, Davi certamente o tinha.
Em primeiro lugar, se Davi houvesse tirado partido das circunstâncias, não teria feito mais do que se conhece como “agir em legítima defesa”. Em segundo lugar, ele já havia recebido a unção real para substituir Saul. Contudo, quando um companheiro seu lhe pediu autorização para matar Saul, ele replicou: “Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do Senhor e fique inocente?... Tão certo como vive o Senhor, Este o ferirá, ou o seu dia chegará em que morra, ou em que, descendo à batalha, seja morto.
O Senhor me guarde de que eu estenda a mão contra o Seu ungido...” (I Samuel 26:9-11) Mas Saul era um homem ímpio, que havia dado de mão a toda fidelidade a Deus, e já não era mais idôneo para governar.

Sujeitos a Deus: –As Escrituras Sagradas nos ordenam estar sujeitos aos poderes constituídos, porém jamais autoriza a desobediência a Deus. O Senhor jamais permitiu que poder algum se situe acima dEle. Seria o cúmulo da loucura pretender inferir, a partir deste capítulo, que é dever dos cristãos obedecer às leis humanas quanto essas se achem em conflito com a lei de Deus. Ele não é indulgente com o pecado, e muito menos nos mandaria pecar! Não devemos ser sujeitos aos poderes porque suplantam a Deus, mas porque estamos sujeitos a Deus. “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai”. (Colossenses 3:17)

Sujeição e obediência: –Por sujeição costumamos entender obediência. Quando lemos que Jesus era sujeito a Seus pais, entendemos que os obedecia. Assim, quando somos exortados a estar sujeitos às potestades, a conclusão natural é que devemos render obediência às leis. Porém, jamais deveríamos nos esquecer de que Deus está acima de todos, e que tanto o poder individual como o nacional provêm dEle, de forma que Deus possui o direito do serviço indivisível de cada alma. Sempre é nossa obrigação obedecer a Deus e sempre devemos estar sujeitos às potestades humanas, porém apenas até onde essa sujeição não implique em desobediência a Deus.

Não podemos servir a dois senhores – “Ninguém pode servir a dois senhores... não podeis servir a Deus e a Mamom”. A razão é que Deus e Mamom apresentam requerimentos opostos. Todos sabem que com certa freqüência tem havido leis humanas em conflito com os mandamentos de Deus. Nos dias da escravatura, promulgou-se na América, em certa ocasião, uma lei que requeria que todos fizessem o que estivesse ao seu alcance para devolver os escravos fugitivos a seus senhores. Porém, a Palavra de Deus dizia: “Não entregarás ao seu senhor o escravo que, tendo fugido dele, se acolher a ti”. (Deuteronômio 23:15) Nessa ocasião era impossível obedecer a lei terrena sem desobedecer a Deus; e a obediência a Deus tornava absolutamente necessário desobedecer à lei humana. As pessoas eram obrigadas a fazer sua escolha sobre quem iriam servir.
O cristão não pode vacilar um só momento em sua escolha. A lei que contraria a lei de Deus nada é. “Não há sabedoria, nem inteligência, nem mesmo conselho contra o Senhor”. (Provérbios 21:30).

"Toda instituição humana": -Alguém poderia mencionar I Pedro 2:13 como evidência contra o supracitado. Ali lemos: "Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano”. Outros dirão que deveríamos estar sujeitos a toda instituição, exceto quando essa se opuser à lei de Deus. Porém, não há ai nenhuma exceção, nem é necessário que haja. O texto em nenhum caso ensina que seja obrigatório obedecer a leis humanas que contradizem a lei de Deus.
O problema se origina na confusão do termo "instituição". Normalmente se considera que significa lei ou ordenança, mas uma leitura cuidadosa demonstrará o erro de tal suposição. Leiamos cuidadosamente os versos de I Pedro 2:13 e 14: "Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor...” Quais são essas instituições ou ordenações a que devemos estar sujeitos? “Quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por Ele...” É evidente que o texto nada diz com respeito a leis, mas só com respeito a autoridades ou governadores. A exortação harmoniza-se perfeitamente com a do capítulo 13 de Romanos.

“Sujeitos, embora desobedientes?” - Ao continuar a leitura do capítulo 13, tem-se a comprovação de que a sujeição para a qual somos exortados não inclui a obediência a leis ímpias. “Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei”. Devemos estar sujeitos à autoridade legítima, seja ela amável ou rude, no exercício de seu mister. Continuamos lendo: "Porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus”. (I Pedro 2:17-19).
Pois bem, ninguém pode sofrer aborrecimentos injustamente por causa de sua consciência perante Deus, a menos que seja forçado a desobedecer alguma ordem contrária à ordem divina. Essa observação, feita imediatamente após a exortação para sujeição às autoridades, mostra claramente que a desobediência é vista como uma possibilidade, quando os que exercem autoridade não são "bons" nem "afáveis" (no que tange à sua consciência perante o Senhor). A idéia é reforçada ao ser apresentado o exemplo de Cristo, que sofreu injustamente sem opor resistência. “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os Seus tosquiadores, Ele não abriu a boca.” (Isaías 53:7).
Foi condenado por Sua lealdade à verdade. Ele não comprometeu, no mínimo que fosse, essa fidelidade, porém, sujeitou-se à autoridade dos dirigentes. Disse o apóstolo que ao agir Ele assim, deixou-nos um exemplo para que seguíssemos Suas pegadas.

O cristão e as autoridades civis:
–"Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”. (Filipenses 3:20). Aqueles que por meio de Cristo têm acesso por um mesmo Espírito ao Pai, já não são “estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus”. (Efésios 2:19). Preocupe-se cada com os assuntos de seu próprio país, não com os de outro. Se um americano fosse para a Inglaterra e pretendesse dar aulas ao Parlamento quanto à maneira de governar, ou se um inglês achasse por bem viajar para a América a fim de aconselhar às autoridades locais, isso seria considerado como o cúmulo da impertinência. Se começasse a interferir ativamente na vida pública ou nos assuntos oficiais, logo ele cientificado da impropriedade de sua atitude. Teria que se naturalizar antes de poder falar e agir em pleno direito. Mas se isso fizesse, no caso de regressar ao país ao qual professou fidelidade anteriormente, deveria se abster de opinar e ser discreto. Ninguém pode imiscuir-se de forma ativa nos assuntos de dois governos distintos.
Essa aplicação cabe nas questões do governo celestial em relação aos da Terra, tanto como aos governos da terra uns para com os outros. Aquele cuja cidadania está nos céus, nada lhe diz respeito quanto aos assuntos dos governos terrestres. Deveria declinar em favor desses que reconhecem a Terra como sua casa. Se os líderes terrestres tentarem regular os assuntos relativos ao reino de Deus, tornam-se réus de presunção flagrante, para dizer o menos. Porém, se é certo que não deveriam pretender tratar dos assuntos do reino dos céus, muito menos os cidadãos desse reino deverão interferir nos assuntos dos reinos deste mundo (Nota: no contexto da proeminente implicação de Waggoner em defesa da liberdade religiosa de seus dias, o sentido aqui se prende à atividade política por parte da igreja que, segundo sua firme convicção, deveria permanecer separada do Estado. O autor jamais se opôs ao serviço de um cristão como fiel colaborador, enquanto cidadão individual, no exercício do voto, etc).

Converter a Terra no Céu – Não poucos cristãos e também ministros do evangelho, tentam justificar seu envolvimento na política dizendo ser seu dever transformar a Terra em Céu. Em recente campanha, ouvimos muito com respeito à “regeneração de Londres, e fazer de Londres a cidade de Deus”. Uma linguagem como essa denota falta de compreensão manifesta quanto ao que é o evangelho: "O poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”. (Romanos 1:16).
A regeneração só acontece por meio da obra do Espírito Santo nos corações individuais, e escapa ao controle do homem. Os reinos deste mundo virão a ser de Cristo, mas só "o zelo do Senhor dos Exércitos fará isso”. (Apocalipse 11:15; Isaías 9:7). Haverá uma nova terra na qual somente a justiça poderá habitar, porém isso acontecerá somente depois da vinda do dia do Senhor, no qual os elementos ardendo se desfarão e os ímpios forem destruídos pelo fogo (II Pedro 3:10-13). Não acontecerá como fruto de qualquer ação política, a despeito de quantos ministros do evangelho detiverem cargos políticos. O ministro do evangelho tem como única comissão pregar a Palavra. Não há outro modo no mundo pelo qual os homens se tornam melhores. Então, o ministro que deriva a atenção para a política, está negando sua vocação.

Mantendo a paz: –Devemos sujeitar-nos aos governos terrestres por causa da consciência; e por essa mesma causa pagar nossos impostos e cumprir todo dever que nos seja imposto. Os impostos podem ser pesados e até mesmo injustos, mas isso nunca justifica a rebelião. O apóstolo Tiago se dirige aos ricos que oprimem os pobres e sua linguagem se aplica com a mesma propriedade tanto ao exercício de cargo público como à vida privada. Diz-lhes: “Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração, em dia de matança; tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça resistência”. (Tiago 5:5 e 6).
Veja isto: o justo não opõe resistência. E por que não? Por causa da exortação: "Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; {ira; de Deus, subentendido} porque está escrito: A Mim Me pertence a vingança; Eu é que retribuirei, diz o Senhor”. (Romanos 12:18 e 19) Como súditos do Rei da paz e cidadãos de Seu reino, estamos obrigados a viver em paz com todos os homens. Portanto, não devemos contender, nem sequer em defesa própria. Cristo, o Príncipe de paz, é nosso exemplo.

Quem deve temer?: –Só os obradores da maldade temem seus governantes. Os que procedem bem não têm qualquer temor. Não é porque todos os governantes sejam bons, pois sabemos que muitos não o são. O vasto império romano se estendia por todo o mundo, e quem governava os romanos nos dias de Paulo era o rei mais vil e cruel de todos quantos se assentaram sobre o trono de Roma. Nero mandou trucidar pessoas pelo mero prazer de ordenar sua morte. Ela infundia terror nos corações dos homens. Porém o cristão podia viver em calma, pois havia posto sua confiança em Deus. “Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei...” (Isaías 12:2)

O dever do homem: –“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei”. “O amor não faz mal ao próximo; de forma que o cumprimento da lei é o amor”. "... O amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”. “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos...” (I João 5:3) Temer a Deus e guardar os Seus mandamentos é o dever de todo homem (Eclesiastes 12:13).
Se ele ama de coração a seu próximo, é porque ama também a Deus; e visto que amor é guardar os Seus mandamentos, é evidente que o apóstolo resume nessa exortação todo o dever do homem. Aquele que lhes dá ouvidos nunca fará algo que possa ser condenado pelas autoridades com justiça, mesmo que desconheça suas leis. Se você cumpre a lei de amor, nunca causará problemas às potestades estabelecidas. Mesmos que essas o oprimam, não estarão em realidade lutando contra você, mas contra o Rei a quem você serve.
Para os cristãos; não para as “potestades”. – Algumas pessoas supõem que os versículos 8-10 definem os limites da autoridade civil, autorizando o homem a legislar em tudo quanto diga respeito “à segunda tábua da lei”, porém não em relação à primeira. Há dois fatos que mostram a falácia de tal suposição: (1) a carta não é dirigida a governantes, mas a cristãos individuais, como um manual de conduta particular. Se estivesse se tratando dos deveres dos governantes, ela seria destinada a esses e não aos irmãos. (2) “A lei é espiritual”, portanto, nenhuma de suas partes está sob o poder da legislação humana. Considere o mandamento “não cobiçarás”. Nenhum poder humano pode obrigar seu cumprimento nem determinar quando pode ser violado. E certamente esse mandamento não é mais espiritual que os outros nove. A linguagem usada é mais apropriada para os irmãos e se resume em: Vivam com amor e não prejudiquem a ninguém, nem tenham motivos para temer autoridade alguma.

O fim se aproxima: -O restante do capítulo é dedicado a exortações que não necessitam de comentários. Sua ênfase especial deriva do fato de que "o fim de todas as coisas está próximo". Portanto, deveríamos ser sóbrios e vigiar em oração. Embora vivendo na noite, quando as trevas cobrem a terra (Isaías 60:2), os cristãos são filhos da luz e do dia, tendo abandonado as obras das trevas.

Revestidos de Cristo: –Os que estão revestidos do Senhor Jesus Cristo deixaram de se exibir. Somente Cristo surge à vista. Fazer provisão para os desejos da carne é a última coisa que precisamos, uma vez que a carne sempre procura satisfazer seus maus desejos. O que o cristão precisa é vigiar melhor para que a carne não manifeste sua própria força e assuma o controle. Só em Cristo é possível sujeitar a carne. O que está crucificado com Cristo pode dizer: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim.” (Gálatas 2:29 e 20) E nesse caso, ele se comportará como Cristo em relação aos governantes e pessoas, "porque como Ele é, também nós o somos mundo”.
(Na sessão da Associação Geral de 1891, E.J. Waggoner fez os seguintes comentários sobre o capítulo 13 de Romanos, segundo estão registrados no correspondente Bulletin. Sem dúvida, eles promoverão melhor compreensão de sua mensagem.)
Até onde é possível ao cristão viver em paz com todos os homens? Até onde isso dependa dele. Certamente ele está morto para o pecado, mas vivo para Cristo. Cristo mora em seu coração pela fé, e Ele é o Príncipe de paz. Então, não existe circunstância alguma na qual o cristão tenha justificativa para perder o controle e declarar guerra, seja contra uma pessoa ou contra um governo...
Em Gálatas 5:18 lemos que "se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei”. As obras da carne são feitas por aqueles que estão sob a lei, e entre aquelas enumeradas nessa lista encontramos as “contendas”. Por conseguinte, visto que o cristão não se encontra na carne, não pode envolver-se em contendas. A guerra nunca pode ocorrer em nós, portanto, tanto quando dependa de nós, sempre haverá paz.
Mas, se aqueles com quem nos relacionamos endurecem seu coração contra a verdade de Deus, não sendo por ela alcançados, provocarão um conflito, porém unilateral. Naquilo que estiver em nosso poder fazer, haverá paz em qualquer caso...
“Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. (I Pedro 3:14,15).
Não tema por eles. E por que não? Porque temos santificado ao Senhor em nossos corações, e Ele é nosso único temor. Deus é por nós, Cristo está conosco, e quando os homens lançam opróbrio sobre nós, fazem-no contra nosso Salvador...
O mais importante para todos nós que temos essa verdade especial que nos porá em conflito contra “as potestades” que existem, é santificarmos o Senhor em nossos corações pelo Espírito de Deus e Sua Palavra. Devemos ser estudantes da Palavra de Deus e seguidores de Cristo e de Seu evangelho… Há fazendeiros e mecânicos entre nós que, embora nunca tenham podido reunir os textos necessários pa ra pregar um sermão, santificaram ao Senhor em seus corações mediante o fiel estudo de Sua Palavra. Esses comparecerão perante os tribunais por causa de sua fé e pregarão ali o evangelho, porque Deus lhes dará, nesse dia, palavras de sabedoria que seus adversários não poderão contradizer...
Nosso dever é pregar o evangelho, levantarmo-nos e deixar brilhar nossa luz; e se fizermos isso, Deus reterá os ventos tanto quanto seja necessário... A mensagem do terceiro anjo é grande em toda a Terra. Os homens, porém, não a consideram assim; mas chegará o dia em que será o tema da conversação de todos. Contudo, nunca será levada a essa posição por povo que guarda silencio a seu respeito, mas por aqueles que, pondo sua confiança em Deus, não temem pronunciar as palavras que Ele lhes confiou.
Ao proceder assim, não estaremos pondo nossas vidas em perigo, e eu dou graças a Deus por isso. Nossas vidas estarão escondidas com Cristo em Deus e Ele cuidará delas. A verdade será levada às alturas por homens e mulheres que saem a pregar o evangelho e vivem o que pregam. Que a verdade seja conhecida do povo. Se desfrutamos um tempo de paz para podermos pregar o evangelho, estejamos agradecidos por isso. E se os homens fizerem leis que parecem obstruir os canais pelos quais a verdade deveria fluir, podemos estar por adorar um Deus que faz com que até a ira dos homens concorra para o Seu louvor. Ele certamente fará assim. Tomará providências para que o evangelho seja difundido por meio das mesmas leis que os homens ímpios decretarem com o objetivo de sufocá-lo. Deus retém os ventos… e ordena que levemos a mensagem. Retém-nos por tanto tempo quanto seja necessário; e quando começarem a soprar e sentirmos os primeiros tornados da perseguição, farão exatamente aquilo que o Senhor lhes ordenou...

“Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei”. (Romanos 13:7 e 8) Se você faz isso, está vivendo em paz com todos os homens, tanto quanto esteja ao seu alcance. Se você ama seu semelhante como a si mesmo está cumprindo toda a lei, já que para poder amar ao próximo a pessoa tem de amar a Deus, porque não há amor senão o que procede dEle.
Se eu amo a meu próximo como a mim mesmo, é simplesmente porque o amor de Deus habita em meu coração. É porque Ele fez morada em meu coração e não há ninguém neste mundo que possa removê-lo de lá.
Essa é a razão pela qual o apóstolo se refere à segunda tábua da lei, porque se cumprirmos nossa obrigação para com nosso semelhante, isso implica que amamos a Deus.
Ouvimos, às vezes, que a primeira tábua da lei diz respeito a nossas obrigações para com Deus e constitui a religião, enquanto que a segunda define nossos deveres para com o próximo e constitui a moralidade. Mas a segunda tábua da lei contém deveres para com Deus tanto quanto a primeira. Davi, depois de ter transgredido os mandamentos da segunda tábua, confessou-se dizendo: "Pequei contra Ti, contra Ti somente, e fiz o que é mal perante os Teus olhos...” (Salmo 51:4) Deus deveria ser o primeiro e o último a cada momento…
Todas essas lições que aprendemos haverão de nos preparar para o tempo de angústia.