sexta-feira, 2 de julho de 2010

Lição 1 — Paulo e Roma, por Paul E. Penno

Durante o "início" da "chuva serôdia" da época de 1888, é relatado que Ellen G. White disse: "Vamos sorver tudo de Romanos e tudo de Gálatas.[1] A "mui preciosa mensagem" é "a mensagem do terceiro anjo, em verdade."(a) Em outras palavras, é uma compreensão da justificação pela fé, que é paralela a, e em coerência com a purificação do santuário celestial. De todos os livros da Bíblia, Romanos explica mais claramente a justificação pela fé. Ellen White entendeu que os livros auxiliares, que dão a maior luz sobre Apocalipse 14:6-12, a mensagem do terceiro anjo, são Romanos e Gálatas.

A purificação do santuário celeste é uma verdade prática. Em outras palavras, envolve a purificação dos corações do povo de Deus, para que experimentem a expiação com Deus. Eles viram o amor de Deus revelado na cruz de Jesus, a verdade que aquece os corações. Eles entenderam que, se Cristo não tivesse morrido por todos, então todos estariam mortos. Eles não podem mais viver para si, mas a motivação Ágape torna-se viver por Jesus e Seu Pai. Eles não iriam voluntariamente optar por trazer descrédito sobre a família celestial em que tenham sido adotados. Este é o verdadeiro significado da justificação pela fé. (b)

A maioria pode se identificar com a caracterização do apóstolo Pedro dos escritos de seu irmão Paulo, nos quais existem "pontos difíceis de entender" (2ª Pedro 3:16). Com essa palavra desanimadora podemos entender o livro de Romanos menos que o Livro do Apocalipse? Na verdade é só o crente sincero de coração das promessas de Deus que pode compreender Romanos. São os "indoutos e inconstantes" que interpretam mal os escritos de Paulo para a sua própria perdição.

Foi para tais pessoas que o apóstolo Paulo escreveu sua carta à igreja de Roma. "Não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres" (1ª Cor. 1:26). Eles foram honestos, crentes sinceros. Havia provavelmente varejistas, artesãos, jornaleiros, comerciantes, paisagistas, uns poucos funcionários com uma classe superior, e talvez um servo civil ou dois. Foi para esse tipo de pessoas que Paulo escreveu. Ele falava em linguagem popular, e escreveu de maneira simples e direta para que eles entendessem. Portanto, este é um incentivo para nós "cavarmos fundo" e aplicarmos nossas mentes a alguns dos alimentos nutritivos das Escrituras.

Martinho Lutero declarou que romanos "é o mais claro de todos os Evangelhos", e ele estava certo. Os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João foram as testemunhas oculares da encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Assim a maior parte dos Evangelhos não explica o significado mais profundo da "boa nova" e da cruz. Isto Deus revelou a Paulo, e Romanos é a "chave" para a compreensão da expiação. Apocalipse de João é a revelação de Jesus Cristo como o "Cordeiro" (assim designado ali 25 vezes) — o Crucificado — o Evangelho para o tempo de fechamento da era cristã. No entanto, Apocalípse não pode ser entendido sem o livro de Romanos.

O coração de Lutero foi estranhamente aquecido ao ler Romanos e ver a verdade de que "o justo viverá pela fé" (*1:17). Sua formação católica o tinha direcionado para receber a graça através dos sacramentos, os quais o motivavam a realizar boas obras que trariam o “relacionamento" com Deus. Sua agonia de consciência era como saber quando ele tinha feito suficientes boas obras. Para Lutero a alegria de descobrir que Deus justifica o ímpio somente pela fé, foi uma grande libertação da escravidão auto-centrada no pecado.

Lutero estava no caminho certo para restaurar o amor de Deus para a igreja cristã. No entanto, os seus sucessores analisaram justificação pela fé além do limite, a tal ponto que tornou-se um arcáico, misterioso livro de transação,(c) anos-luz de distância do coração humano; pelo qual, quando alguém tem fé suficiente, Deus faz os ajustes necessários nos livros de Céu com base no Calvário, e o pecador é justificado e perdoado dos seus pecados. Assim, Deus experimentou a expiação do pecado. A expiação era dos pecados porque o pecador acreditava na cruz.

Tal ensino acadêmico nada mais era do que contrário à lei do amor cósmico de Deus. Deus não está interessado em harmonia com o pecado. Cristo não morreu para justificar o pecado em comtínuo curso. Essa é a visão pagã da expiação que foi absorvida pela igreja cristã. A idéia de que o pecador pode ter "fé" na medida em que Deus vê evidências em suas orações, estudo da Bíblia, testemunhos, etc (todas essas coisas são boas quando devidamente motivadas por Ágape) e, assim, perdoar o pecador (*enquanto ele continua em deliberada transgressão) é um conceito de expiação que vem direto do paganismo.(d)

Paulo escreveu aos romanos: "Graça e paz de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (Rom. 1:7). A única maneira que Paulo podia escrever que pecadores poderiam chamar "Deus nosso Pai", é porque o dom da expiação de Deus em Cristo Jesus reconciliou a raça humana com Ele próprio. Toda a raça humana de pecadores foi legalmente adotada na família celestial. Agora, cabe a nós reconhecer esse fato e receber a revelação divina da expiação.[2]

Fomos "chamados para ser santos" (1:7). Um santo é alguém separado do mundo do egocentrismo. Legalmente, Cristo justificou a “todos” (Rom. 5:18, 19), para que Deus possa "chamar" a todos para uma tal bênção, um exaltado estado.

Quem entre nós não está cansado de pecar? Quem não está cansado da degradação contínua da escravidão do pecado? Você quer saber o que é o inferno na terra? "Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas" (Apoc. 16:15). Inferno na terra (*meu irmão) é o constrangimento de ter os pecados expostos publicamente. Jesus nunca intentou que ninguém enfrentasse tal agonia.

Paulo viu que Cristo veio "em semelhança da carne do pecado" (Rom. 8:3) com um "eu" que precisava ser negado. Tais tentações que Ele sentia de dentro são as mesmas que todos nós sentimos. Sentir a força do pecado em si não é pecado (Tiago 1:14, 15). No entanto, Ele "condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Rom. 8:3, 4). A justiça da lei cumprida em nós, é a expiação. É o significado prático da purificação do santuário. É verdadeira justificação pela fé. É o dom de Cristo para nós como nosso Sumo Sacerdote no santíssimo (*do santuário celestial). Assim, Romanos, é um convite para entrarmos no lugar Santíssimo com Cristo.

—Paul E. Penno


Paulo Penno Junior é pastor evangelista da igreja adventista da cidade de Hayward, na Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, nos Estados Unidos da América do Norte. Ele foi ordenado ao ministério há 38 anos. Após o curso de teologia ele fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente ele preparou uma extensiva antologia dos escritos de Alonzo T. Jones e Ellet J. Waggoner, a qual está incluída na Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White. Recentemente também ele escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos na História da Ig. Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos, escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de 1888. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim nós usualmente

Notas do autor:
[1] Carta E. J. Waggoner de O. A. Olsen [n.d.].

[2] "A expiação de Cristo não foi feita para levar Deus a amar aqueles a quem de outro modo odiava, não foi feita para produzir um amor que não existia, mas foi feita como uma manifestação do amor já existente no coração de Deus ... Não devemos entreter a idéia de que Deus nos ama porque Cristo morreu por nós ... A morte de Cristo foi oportuna para que a misericórdia pudesse chegar até nós com seu total poder de perdão, e, ao mesmo tempo, para que a justiça pudesse ser satisfeita no Justo Substituto" (Ellen G. White, "Cristo, nossa Completa Salvação," Signs of the Times, de 30 de maio de 1895)

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Um excelente livro complementar para estes estudos, intitula-se
“Romanos Segundo Waggoner: o Evangelho na Grande carta de Paulo,” Escrito por E. J. Waggoner. Você pode acessar o livro completo em inglês em:
http://www.1888mpm.org/book/waggoner-romans
Em Português vamos apresentá-lo a partir da próxima semana. Serão 16 capítulos, cada semana postaremos três ou mais deles

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Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares das Silveira.

Notas do tradutor (de origens diversas):

(a) Muitos ridicularizaram a mensagem de justificação pela fé que nos foi trazida por Waggoner e Jones e a denunciaram como fanatismo. Eles inquiriram da irmã White “...se a mensagem de justificação pela fé era a mensagens dos três anjos,” e veja o que ela respondeu” “eu respondi ‘é a tríplice mensagem angélica em verdade.’ O profeta declara, ‘E depois destas coisas eu vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória (Apoc. 18:1)” (E. G. White, Arrependimento, o Dom de Deus,” Review and Herald, 67, de 13 de abril de 1890, págs. 193 e 194).

"A mensagem do terceiro anjo, em verdade" foi claramente identificado com o Anjo do Apocalipse 18:01 e que é "a mensagem do terceiro anjo, em verity. “ O que ela queria dizer com a afirmação “em verdade”? Justificação pela fé em conexão com a purificação do santuário, era a tríplice mensagem agélica em verdade. Prepararia o povo para estar de pé na hora de crise, e para ser trasladado sem ver a morte na segunda vinda de Jesus. Era, e ainda é, a mensagem de sacudidura da igreja de Laodicéia. Trazia consigo todo o panorama do alto clamor e da chuva serôdia do Espírito Santo.

(b) A definição teológica de “Sacramento,” de acordo com Caldas Aulete, é “Um ato instituído por Deus, com o fim de purificar e santificar as almas, e aumentar a graça’ (*isto se opõe a Romanos 1:7). ‘Os sacramentos são sete: batismo; confirmação; comunhão; penitência; extrema-unção; ordem e matrimônio.”

(c) A artificiosa e pretenciosa justificação pela fé, que se tornou um arcaico e misterioso livro de transação, ajustou-se plenamente à natureza humana pecaminosa; em que o homem sempre quer oferecer as “obras”, para estar a par com Deus. É um tipo de troca. Mas quem quer que deseje herdar de Deus a salvação deve crer em Seus termos, sabendo que nós nada somos, nada temos, e nada podemos dar, enquanto Deus é tudo, tem tudo e dá tudo através de Seu Filho.

(d) Deus não salva o homem nos seus pecados mas dos seus pecados. “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8). Jesus veio para salvar o povo de seus pecados, não nos seus pecados: Ela (Maria) “dará à luz um filho, e chamarás o Seu nome JESUS, porque Ele salvará seu povo dos seus pecados” (Mateus 1:21).

O escândalo da cruz consiste em que a cruz é uma confissão da fraqueza e pecado do homem, e de sua absoluta incapacidade para obrar o bem. Tomar a cruz de Cristo, depender somente dEle para todas as coisas, é o que leva ao abatimento de todo orgulho humano. O homem gosta de sentir-se independente e autônomo. Mas pregando-se a cruz fica manifesto que no homem não mora o bem e tudo deve ser recebido como um dom, e imediatamente haverá alguém que se sinta ofendido.(Ellet J. Waggoner, As Boas Novas, Cap. 5, pág. 113).
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