quarta-feira, 21 de julho de 2010

Lição 4 -- Justificados pela Fé, por Ann Walper

A partir das linhas de abertura de sua carta aos cristãos romanos, Paulo, estava estabelecendo os princípios de distinção entre uma suposta justificação de "obras da lei" (legalismo), e a verdadeira justiça, pela resposta de fé, a tudo o que Deus já fez pela família humana em Cristo Jesus. De sua premissa Paulo então conclui que "o homem é justificado pela fé sem as obras da lei" (Rom. 3:28).


Ao longo dos séculos dois argumentos principais surgiram a partir desta simples afirmação de Paulo. O primeiro é a idéia de que a Lei de Deus (especificamente os Dez Mandamentos) pode ser jogada fora, completamente, porque nós não precisamos dela para nossa justificação, ou para qualquer outra coisa. A alegação sob este ponto de vista é que "desde a cruz" estamos vivendo sob a "graça" e não precisamos da lei, que é rotulada como sendo parte do "velho" concerto que foi "pregado na cruz." A segunda idéia é que, de alguma forma a fé nos justifica; que "obras de justiça" têm mérito. A primeira noção é antinomianismo, e esta última é o legalismo. Ambos são valas correndo ao lado da estrada de verdade.


Justiça pela fé, ou a justificação pela fé, deve, em primeiro lugar, e principalmente, ter um objeto para o qual a fé é direcionada. Deve haver uma razão para a fé. Por que cremos? Em que temos fé? A fé não é um assentimento mental para uma lista de fatos ou dados. A fé não é uma emoção, apesar de muitas vezes nós a definirmos como uma "apreciação partida do coração." A fé é um vívido gerador dinâmico na vida do crente, que impulsiona uma contínua mudança criativa em quem crê. Paulo a descreve em Gálatas 5: 6 como "a fé que opera pelo amor." Ou fé, que é motivada por aquela apreciação do coração.


Mas isto, imediatamente, levanta outra questão: "apreciação de coração do que"? Tem Deus feito algo pelo que nós devemos ser gratos? Sim, todos nós temos memorizado João 3:16, mas quão frequentemente lemos o versículo 17? "Deus enviou o Seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o MUNDO fosse salvo por Ele" (Grifamos). 1ª Timóteo 1:15 diz: "Esta é uma palavra fiel, e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores." Quantos no mundo são pecadores? "Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rom. 3:23). Então, por quem Cristo morreu? – Por todo o mundo de pecadores perdidos.


Na seção de Romanos, que estamos focados nesta semana, Paulo não deixa seus leitores, em desespero, dizendo-nos que todos carecem da justiça de que precisam. Imediatamente ele diz, que a boa nova é que Deus já livremente (liberalmente, sem medida ou restrição) nos justificou pela graça que há em Cristo Jesus, (verso 24). O que Deus, liberalmente, concedeu ao mundo pecaminoso é “a abundância da graça e do dom da justiça de Cristo" (Rom. 5:17).


Indo em frente, ao verso seguinte, lemos: "Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida" (Rom. 5: 18. (*Outra versão diz: “Que concede vida). Cristo, como o "Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo" (Apoc. 13: 8), reverteu a condenação que caiu sobre a humanidade, quando Adão pecou no Jardim do Éden, colocando toda a raça humana (em Adão) em uma segunda provação (*um segundo estágio, ou nova oportunidade de prova). "Assim que, Adão pecou, o Filho de Deus Se apresentou como garantia para a raça humana, com tanto poder para evitar a condenação pronunciada sobre os culpados, como quando Ele morreu na cruz do Calvário" (Review and Herald, 12 de março, 1901). Esta inversão da condenação é muitas vezes referida como "forense" ou justificação legal, porque ela tem a ver com a Lei que todos (exceto Cristo), que nasceram neste mundo, transgrediram.


Aqui, no capítulo 3, lemos que Deus "propôs [Cristo] para propiciação, pela fé no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça para a remissão dos pecados dantes cometidos" (vs. 25). Embora na morte de Cristo, Deus tenha mostrado Seu justo julgamento contra o pecado, entretanto, em Sua ressurreição, encontramos a prova da justiça absolvente de Deus que revela a humanidade como tendo sido declarada justificada (Rom. 4: 25). "Propiciação" é traduzida da palavra grega que significa, literalmente, "propiciatório," referindo-se à (*tampa da) arca da aliança, onde a glória do Shekinah de Deus residia no tabernáculo do deserto. É o lugar de expiação entre o homem pecador e o Deus justo e santo. Cristo é aquele lugar de expiação.


Agora, com esse conhecimento, voltamos à nossa pergunta: "apreciação de coração do quê?" — o dom da graça e da vida. Não fosse por Cristo, todos estaríamos mortos desde a “fundação do mundo," não tivesse Cristo, imediatamente, Se colocado entre o nosso pai Adão e a sentença de morte eterna, tomando sobre Si a pena (Gên. 2:17; 2ª Coríntios. 5:14 e 15). O dom da justificação legal implora ao pecador que se arrependa e creia na promessa de Deus, do concerto eterno, para salvar do pecado. Quando uma pessoa ouve a boa nova de que Deus já o ama tanto que Ele deu de bom grado (*de livre vontade) a Sua própria vida para nos redimir do pecado, a resposta natural é de admirável profundidade. "Que é o homem, para que tanto o engrandeças, e ponhas nele o Teu coração?" (Jó 7:17)

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A "justiça de Deus, que é pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos aqueles que crêem: porque não há diferença" é o dom de Deus para o mundo inteiro. Deus dá a cada ser humano sobre a terra uma medida de fé (Romanos 12:3; Efésios 2:8), e não apenas qualquer fé comum, mas a fé de Jesus Cristo. "Ele nos comunica Sua própria fidelidade, e o faz dando-Se a nós. Assim não temos de obter a justiça fabricada por nós, mas, antes, para tornar o assunto duplamente seguro, o próprio Senhor nos transmite a Si mesmo pela fé, por meio da qual nos apropriamos de Sua justiça "(Waggoner, em Romanos, pág. 69)(1)


Cristo tomou sobre Sua natureza sem pecado, a natureza pecaminosa da humanidade, e, na cruz, crucificou essa natureza. Assim, como toda a humanidade estava em Adão quando Ele caiu, assim toda a humanidade estava em Cristo quando morreu o equivalente à segunda morte na cruz do Calvário. Portanto, sem executar qualquer artifício legal, Deus é capaz de declarar, legalmente, o pecador justo. "Cristo ficou estabelecido para declarar a justiça de Deus para a remissão dos pecados, a fim de poder ser justo e, ao mesmo tempo o justificador daquele que ,crê em Jesus. Deus justifica pecadores, já que são os únicos necessitados de justificação. A justiça de declarar justo a alguém que é pecador jaz no fato de que ele é realmente feito justo. Quando Deus declara algo, assim é” (Idem, pág. 73)(1)


Esse dom magnânimo deve acender uma apreciação sentida no coração do pecador arrependido. O resultado dessa apreciação é uma vida transformada que reflete o caráter de Cristo ao mundo caído.


- Ann Walper


A irmã Ana Walper é uma adventista dedicada à pesquisa bíblica e às atividades da igreja, já tendo atuado em sua congregação local em muitas áreas, tais como diretoria dos departamentos de liberdade religiosa; e escola sabatina; é coordenadora de uma das unidades evangelizadoras, etc. ... Profissionalmente é enfermeira padrão, e durante as férias escolares ela trabalha como enfermeira voluntária em acampamentos da juventude adventista nos estados de Tenneessee e Kentuky, nos EUA. Ela é também escritora freelancer, escrevendo já por 16 anos em jornais locais de sua cidade sobre as boas novas de Cristo e Sua justiça.


Tradução e acréscimos, marcados com asteriscos, de João Soares da Silveira.


Nota do tradutor:


1) “Waggoner, on Romans” (Waggoner, em Romanos) é como os irmãos dos EUA designam o livro de Waggoner, traduzido para o potuguês com o título “Carta aos Romanos.” Este livro nós já o postamos, na íntegra, para você, neste trimestre, neste mês de julho: os capítulos 1 a 5 com a lição 2; os capítulos 6 a 8, com a lição 3, e, completando todo o livro, os capítulos 9 a 16, com a lição 4. Por uma questão de espaço, no index da coluna direita deste blog, este livro aparece ali, simplesmente como: “Romanos”. Veja o texto da página 69, acima citado, por volta do meio do capítulo 3, no § do subtítulo “Pela fé em Jesus.” Já o texto da pág. 73, também acima citado, você o encontra mais para o fim daquele capítulo 3, no § do subtítulo “A Justiça de Deus na Redenção”. Este último texto você o encontra também em “Cristo e Sua Justiça,” às págs. 72 e 74.(Christ and His Righteousness, Pacific PressPublishing Co., Okland, 1890.)

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