CARTA AOS ROMANOS Capítulo 1
Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de
1888
Tradução e Edição
César L. Pagani
Notas
desta edição. 1) Todos os textos bíblicos foram destacados em itálico. Quando no
original o autor enfatizou parte do mesmo usamos negrito;
2)
A versão que usamos é a Almeida Fiel, Outras versões são identificadas pelas
siglas convencionais; 3ª) Asteriscos indicam acréscimos desta edição.
[pág. 9]
O Poder de Deus Está no Evangelho
(*O prefácio e) a saudação. Romanos 1:1-7:
1
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¶ Paulo,
servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de
Deus.
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2
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O qual
antes prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras,
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3
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Acerca
de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne,
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4
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Declarado
Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição
dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor,
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5
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Pelo
qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as
gentes pelo seu nome,
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6
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Entre as
quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo.
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7
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A todos
os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
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Um Servo-escravo.—Paulo, servo de Jesus Cristo". Assim se apresenta apóstolo aos
romanos. Em várias outras epístolas ele utiliza a mesma expressão. Alguns se
sentiriam envergonhados apresentarem-se como servos; mas não os apóstolos.
Faz uma grande diferença,
a quem alguém serve. O servo deduz sua importância da dignidade daquele que é
servido. Paulo servia ao Senhor Jesus Cristo. Todos podem servir ao mesmo
Mestre. “Não sabeis vós que a quem vos
apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem
obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?”
(Rom. 6:16). Até o próprio empregado doméstico que se entrega ao Senhor, é
servo do Senhor e não do homem. "Vós,
servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não servindo só na
aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração,
temendo a Deus. E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao
Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da
herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” (Colossenses 3:22-24). Tal tipo
de consideração não pode deixar de glorificar o mais humilde e servil criado.
Nossa versão não nos
transmite a completa força do termo que o apóstolo usa ao chamar-se "servo". É, realmente,
"servo-escravo". Ele usou a palavra comum grega para escravo. Se
realmente somos servos do Senhor, somos Seus servos-escravos [10] por toda a vida. Mas é uma escravidão
que traz em si mesmo liberdade. "Pois
o que foi chamado no Senhor, mesmo sendo escravo, é um liberto do Senhor; e
assim também o que foi chamado sendo livre, escravo é de Cristo". (1ª
Coríntios 7:22, ARA e ARC).
Separado.—O apóstolo Paulo foi "separado para o evangelho".
Assim é com cada um que é realmente um servo do Senhor. "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e
amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a
Deus e a Mamom." (Mateus 6:24). Nenhum homem pode servir a Deus e ter
outra serventia além desta.
Quer você dizer que um comerciante
ou homem de negócios não pode ser um cristão? De modo algum. O que eu disse é
que um homem não pode servir ao Senhor e ao mesmo tempo estar sob outra
servidão. "E, quanto fizerdes por
palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças
a Deus Pai" (Colossenses-3:17). Se um homem não está servindo ao
Senhor em sua ocupação, então não O serve de modo algum. O verdadeiro servo de Cristo é, realmente, separado.
Mas isto não quer dizer
que ele deva se separar do contato pessoal com o mundo. A Bíblia não aprova, a
vida monástica. O pecador mais desesperançado é aquele que se sente muito bom
para associar-se com pecadores. Como, então, devemos ser separados para o
evangelho? Pela presença de Deus no coração. Moisés disse ao Senhor: “Se Tu mesmo não fores conosco, não nos
faças subir daqui. Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos Teus
olhos, eu e o Teu povo? Acaso não é por andares Tu conosco, de modo a sermos
separados, eu e o Teu povo, de todos os povos que há sobre a face da
Terra?" (Êxodo 33:15, 16).
Mas quem é separado para o
ministério público do evangelho, como foi o apóstolo Paulo, é posto à parte no
especial sentido de não poder envolver-se em nenhuma outra atividade para ganho
pessoal. "Ninguém que milita se
embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a
guerra" (2ª Timóteo 2:4). Não pode assumir nenhuma posição, embora
elevada, para com governos seculares. Assim fazer é desonrar o seu Mestre, e depreciar o Seu serviço. O ministro do
evangelho é embaixador de Cristo, e não há nenhuma outra posição que possa lhe igualar
em honra.
O Evangelho de Deus.—O apóstolo afirmou que ele
fora "separado para o evangelho de
Deus". É o evangelho de Deus "acerca
de Seu Filho". Cristo é Deus e, portanto, o evangelho de Deus a que se
refere no primeiro verso do capítulo, é idêntico ao "evangelho de Cristo",
do qual ele fala no verso 16.
Muitas pessoas separam o
Pai e o Filho na [11] obra do
evangelho. Muitos o fazem inconscientemente. Deus, o Pai, bem como o Filho, é
nosso Salvador. "Deus amou o mundo
de tal maneira, que deu o Seu filho Unigênito" (João 3:16). "Deus estava em Cristo reconciliando
Consigo o mundo" (2ª Coríntios 5:19), "... e conselho de paz haverá entre eles ambos” (Zacarias 6:13,
KJV).1 Cristo veio à
Terra somente como representante do Pai. Quem via a Cristo, via o Pai também,
João 14:9. As obras que Cristo fez eram as obras do Pai que nEle habitava, vs.
10.
Até as palavras que Ele falava
eram as do Pai, vs. 24. Quando ouvimos Cristo dizer: "Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos
aliviarei” (*2ª Cor. 5:19), estamos ouvindo o gracioso convite de Deus, o
Pai. Quando vemos Cristo tomando as criancinhas em Seus braços e abençoando-as,
testemunhamos a ternura do Pai. Quando vemos a Cristo recebendo pecadores e Se
misturando com eles, comendo com eles, perdoando seus pecados e purificando os repulsivos
leprosos com um toque, estamos ante a condescendência e compaixão do Pai. Mesmo
quando vemos nosso Senhor sobre a cruz, com o sangue fluindo de Seu lado, aquele
sangue pelo qual somos reconciliados com Deus, não devemos nos esquecer de que "Deus estava em Cristo reconciliando
Consigo o mundo" (*2ª Cor. 5:19), de forma que o apóstolo Paulo disse:
"a igreja de Deus, a qual Ele
comprou com o Seu próprio sangue". (Atos 20:28, ARA).
O Evangelho no Velho Testamento.—O evangelho de Deus, para
o qual o apóstolo Paulo afirma ter sido separado, era o evangelho "o qual antes prometeu pelos Seus
profetas nas Santas Escrituras" (Romanos 1: 2); literalmente, o
evangelho que Ele havia previamente anunciado ou pregado. Isso nos mostra que o
Velho Testamento contém o evangelho, e também que o evangelho no Velho
Testamento é o mesmo evangelho que está no Novo. É o único evangelho que o
apóstolo pregou. Assim sendo, não deveria ser idéia estranha ao povo crer no
Velho Testamento, e referir-se a ele como de igual autoridade que o Novo.
Lemos que Deus "anunciou primeiro o evangelho a
Abraão, dizendo: ‘Todas as nações
serão bendidas em ti’" (Gálatas 3:8). O evangelho pregado ao povo
quando Paulo viveu era o mesmo evangelho ensinado aos antigos israelitas,
Hebreus 4:2. Moisés escreveu de Cristo, e tanto do evangelho se encontra nos seus
escritos que um homem que não crê no que ele escreveu, não pode crer em Cristo,
João 5:46,47. "A Este dão testemunho
todos os profetas, de que todos os que nEle creem receberão o perdão dos
pecados pelo Seu nome" (Atos 10:43).
Quando Paulo foi para
Tessalônica, dispunha somente do Velho Testamento, e "como tinha por costume, foi ter com eles; e, por três sábados
disputou com eles sobre [12] as Escrituras, expondo e demonstrando que
convinha que Cristo padecesse e ressuscitasse dentre os mortos..."
(Atos 17:2,3).
Timóteo, em sua infância e
adolescência, não tinha senão os escritos do Velho Testamento, e o apóstolo lhe
escreveu: "Tu, porém, permanece
naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens
aprendido. E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem
fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus" (2ª
Timóteo 3:14,15).
Assim, vá ao Velho
Testamento com a expectativa de encontrar a Cristo e Sua justiça ali, e você se
tornará sábio para a salvação. Não faça discriminação entre Moisés e Paulo,
Davi e Pedro, Jeremias e Tiago, nem Isaías e João.
A Semente de Davi.—O evangelho de Deus é "a cerca de Seu Filho, que nasceu da
descendência de Davi, segundo a carne" (Romanos 1:3). Leia a história
de Davi e dos reis que dele descenderam, e que se tornaram ancestrais de Jesus,
e você verá que no lado humano, o Senhor foi afetado negativamente por seus
antepassados, como qualquer um pode ser. Muitos deles eram licenciosos e cuéis idólatras.
Embora Jesus estivesse circundado de enfermidade, "não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano" (1ª
Pedro 2:22). Isso é para dar coragem aos homens na mais baixa condição de vida.
Isso é para mostrar que o poder do evangelho da graça de Deus pode triunfar
sobre a hereditariedade.
O fato de Jesus foi feito
da semente de Davi significa que Ele é herdeiro do trono de Davi. Falando do
trono de Davi o Senhor disse: "Porém
a tua casa e o teu reino serão
firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre"
(2ª Samuel 7:16). O reino de Davi é, portanto, igualmente coexistente com a
herança prometida a Abraão, ou seja, a Terra toda, veja Romanos 4:13.
O anjo, disse de Jesus: "O Senhor Deus lhe dará o trono de
Davi, Seu Pai; e reinará eternamente na casa de Jacó; e o Seu reino não terá
fim" (Lucas 1:32,33). Porém, isso envolvia o levar a maldição da
herança, e sofrer a morte. "... pelo
gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta..."
(Hebreus 12:2). "Por isso, também
Deus O exaltou sobremaneira, e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome"
(Filipenses 2:9).
Assim como ocorreu com
Cristo, igualmente se dá conosco. É através de grande tribulação que entramos
no reino. Aquele que teme a reprovação, ou que faz de sua humilde condição de
nascimento ou de suas características herdadas uma desculpa para as [13] derrotas, perderá o reino dos
céus. Jesus Cristo desceu às mais baixas profundidades da humilhação, a fim de
que todos quantos ali se encontrassem pudessem, se assim o desejassem, subir
com Ele aos lugares mais elevados de exaltação.
O poder da ressurreição.—Conquanto Jesus Cristo
tenha tido um nascimento humilde, foi “declarado
Filho de Deus em poder, segundo o espírito de santificação, pela ressurreição
dos mortos" (Romanos 1:4). Não era Ele Filho de Deus antes da
ressurreição? E não foi Ele assim declarado ser? Certamente; e o poder da
ressurreição se manifestou em toda a Sua vida. Sem falar em nada mais, o poder
da ressurreição ficou demonstrado no fato dEle ressuscitar os mortos, algo que Ele
realizou pelo poder que habitava nEle. Porém, foi a ressurreição dos mortos que
estabeleceu esse fato para os homens além de toda a dúvida.
Depois de haver
ressuscitado, Ele encontrou-Se com os discípulos e lhes disse: "É-Me dado todo o poder no Céu e na
Terra" (Mateus 28:18). A morte de Cristo havia abalado todas as
esperanças que eles tinham centralizado nEle, mas quando Ele "Se apresentou vivo, com muitas e
infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias..." (Atos
1:3), eles tiveram ampla prova de Seu poder.
A única comissão deles, desde
então, era ser testemunhas de Sua ressurreição e se Seu poder. O poder da ressurreição
é de acordo com o Espírito de santidade, porque foi pelo Espírito que foi Ele
ressuscitado. O poder concedido para tornar os homens santos é o poder que
ressuscitou a Cristo dos mortos. "Visto
como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e à santidade".
(2ª Pedro 1:3).
A obediência da fé.—Paulo diz que mediante
Cristo recebeu “graça e apostolado para a
obediência da fé entre todas as gentes” (Romanos 5:1).. A verdadeira fé é
obediência. "A obra de Deus é esta:
Que creiais nAquele que Ele enviou" (João 6:29). Cristo disse: "E por que Me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu
digo?" (Lucas 6:46). Quer dizer, uma profissão de fé em Cristo, que não
for acompanhada de obediência, é imprestável. "Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma”
(Tiago 2:17). "Porque, assim como o
corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta"
(v. 26).
Um homem não respira para mostrar
que está vivo; mas porque ele está vivo. Ele vive por respirar. A sua
respiração é sua vida. Assim um homem não pode praticar boas obras a fim de
demonstrar que ele tem fé, mas ele realiza boas obras porque as obras são o
resultado inevitável da fé. Até mesmo Abraão foi justificado pelas obras,
porque “a fé cooperou com as suas obras,
e... pelas obras a fé foi aperfeiçoada, e cumpriu-se a Escritura que diz: E
creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça" (Tiago 2:22
e 23).
[14] “Amados de Deus.”—Essa
foi uma mui confortante afirmação para “todos
os que estais em Roma” (Rom 1:7). Quantas pessoas teriam desejaram que eles
pudessem ouvir de um anjo diretamente da glória dizer a elas o que Gabriel
disse a Daniel: "... És muito
amado!" (*Daniel 9:23). O apóstolo Paulo escreveu por inspiração
direta do Espírito Santo, e, portanto, a mensagem de amor veio tão diretamente
do Céu aos romanos como a Daniel. O Senhor não escolheu por nome uns poucos favoritos,
mas declarou que todos em Roma eram amados de Deus.
Realmente, “para com Deus,
não há acepção de pessoas” (*Romanos 2;11) e essa mensagem de amor aos romanos é
para nós também. Eles eram "amados
de Deus", simplesmente “Porque
Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). "Há muito que o Senhor me apareceu,
dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atrai."
(Jeremias 31:3). E esse amor eterno para com os homens nunca vacilou,
embora eles se esqueçam dele, pois para aqueles que se desviam e caem pelas
suas iniquidades, Ele diz: "Eu
sararei a sua apostasia, Eu voluntariamente os amarei" (Oséias 14:4,
ARC). "Se formos infiéis, Ele
permanece fiel; não pode negar-Se a Si mesmo" (2ª Timóteo 2:13).
“Chamados Santos.”—O leitor notará que a
cláusula “para serdes,” em Rom. 1:7, na
KJV, estão destacadas (*em itálico), porque foram supridas (*como no verso 6 na
Alm. Fiel); assim, ao invés de “chamados
para serdes santos” (vs. 7, KJV), devemos ler ”chamados santos” (*como
acertadamente traduz a Alm. Fiel). “Deus chama a todos os homens
para serem santos, porém àqueles que O aceitam, os chama santos”2 Tal é a designação deles. Quando Deus chama as pessoas de santos,
elas são santas.
Essas palavras foram
dirigidas à igreja em Roma e não à
igreja de Roma. A igreja "de Roma" sempre foi apóstata e pagã. Abusou
da palavra "santo" até que em seu calendário ser quase um termo banal.
Nenhum maior pecado cometeu Roma do que fazer distinção entre os
"santos" e os cristãos comuns, criando com isso dois padrões de
bondade. Levou as pessoas a crerem que o trabalhador e a dona de casa não eram
e não podiam ser santos; desprezou a verdade, a piedade diária, e pôs um premio
na piedade indolente e nos atos de justiça própria.
Mas Deus não tem dois
critérios de piedade e a todos os fiéis em Roma, pobres e desconhecidos, como
muitos deles eram, Ele chama santos. É o mesmo hoje com Deus, embora os homens possam
considerar isto diferentemente.
Os primeiros sete versos
do capítulo um de Romanos são a saudação. Nenhuma carta não inspirada jamais
incluiu tanto em seus cumprimentos como esta. O apóstolo estava tão
transbordante do [15] amor de Deus
que não pode escrever uma carta sem cobrir quase todo o evangelho na saudação.
Os oito versos seguintes podem bem ser resumidos nas palavras "devedor a todos", porque eles mostram
a plenitude da devoção do apóstolo para com os outros. Vamos lê-los
cuidadosamente, e não nos contentemos com uma só leitura:
(*O Amor de Paulo pelos Cristãos de Roma) .—Romanos 1: 8-15:
8
|
¶
Primeiramente dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos,
porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.
|
9
|
Porque
Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é
testemunha de como incessantemente faço menção de vós,
|
10
|
Pedindo
sempre em minhas orações que nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me
ofereça boa ocasião de ir ter convosco.
|
11
|
Porque
desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais
confortados;
|
12
|
Isto é,
para que juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua, assim vossa
como minha.
|
13
|
Não
quero, porém, irmãos, que ignoreis que muitas vezes propus ir ter convosco
(mas até agora tenho sido impedido) para também ter entre vós algum fruto,
como também entre os demais gentios.
|
14
|
Eu sou
devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.
|
15
|
E assim,
quanto está em mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós
que estais em Roma.
|
Um grande contraste.—Nos dias do apóstolo
Paulo, a fé da igreja em Roma era conhecida no mundo inteiro. Fé significa
obediência; pois fé é imputada como justiça, e Deus nunca considera uma coisa desse
modo, a menos que o seja . A fé "opera
por amor" (Gálatas 5:6). E essa ação é uma "obra da fé" (1ª Tessalonicenses 1:3). Fé também
significa humildade, como demonstram as palavras do profeta: "Eis que a sua alma está orgulhosa, não
é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá" (Hab. 2:4). O homem
íntegro é um homem justo; o homem cuja alma se orgulha, não é reto ou justo.
Mas o homem justo assim é por sua fé; portanto, somente o homem cuja alma não
se exlçte tem fé. Os irmãos romanos, portanto, nos dias de Paulo, eram humildes.
Hoje é muito diferente. Um
exemplo é dado no Catholic Times, de
15 de junho de 1894. O Papa disse: "Demos autoridade aos bispos do ritual
sírio, para que se reúnam em sínodo em Mossul", e recomendou uma "mui
fiel submissão" desses bispos, e ratificaram a eleição do patriarca por
meio de "Nossa Apostólica autoridade". Um jornal anglicano expressou
sua surpresa, dizendo: "É esta uma união livre de igrejas em pé de
igualdade, ou se trata de submissão a uma cabeça suprema e monárquica?" Ao
que o Catholic Times responde:
"Não é uma união livre de igrejas iguais, [16] mas é uma submissão a uma cabeça suprema e monárquica… Ao nosso
litigante anglicano dizemos: Você não está realmente surpreso. Você sabe muito
bem o que Roma reivindica e sempre exigirá — obediência. Essa exigência é agora,
se não foi antes, colocada diante do mundo"
Mas essa reivindicação não
estava perante o mundo na época de Paulo. Naquele tempo tratava-se da igreja em
Roma; agora é a igreja de Roma. A igreja em Roma era conhecida por sua
humildade e sua obediência a Deus. A igreja de Roma é famosa por sua insolente assunção
do poder de Deus, e por exigir que a ela se obedeça.
Orai sem cessar.—O apóstolo exortou aos
tessalonicenses a orarem incessantemente, 1ª Tessalonicenses 5:17. Não
encorajava a outros a que fizessem aquilo que ele mesmo não fazia, já que disse
aos romanos que os mencionava ininterruptamente em suas orações. Não é
necessário supor que o apóstolo tinha em mente os irmãos de Roma a cada hora do
dia, visto que nesse caso ele não teria podido ocupar-se de nada mais. Ninguém
pode estar conscientemente em oração sem interrupção, mas todos podem ser
"constantes na oração", ou "perseverar em oração".
(Romanos 12:12).
Isso se harmoniza com a
palavra do Salvador "sobre o dever
de orar sempre e nunca desfalecer" (Lucas 18:1). Na parábola a que
Lucas se refere em seguida, o juiz injusto reclama das insistentes visitas da
viúva pobre. Essa é uma ilustração do que constitui orar sem cessar. Não
significa que deveríamos estar todo momento em oração consciente; nesse caso
negligenciaríamos os deveres importantes, mas que jamais devemos cansar-nos de
orar.
Um homem de oração.—Esse era Paulo.
Mencionava os romanos em todas as suas orações. Ele escreveu aos coríntios: "Sempre dou graças a meu Deus por
vós..." (1ª Coríntios 1:4). Aos colossenses disse: "graças damos a Deus, Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, orando sempre por vós" (Colossenses 1:3). Com mais
ênfase ainda escreveu aos filipenses, "Dou graças ao meu Deus todas as
vezes que me lembro de vós, fazendo sempre, com alegria, orações por vós, em
todas as minhas orações..." (Filipenses 1:3,4). Aos tessalonicenses: "Sempre damos graças a Deus por vós
todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos, sem cessar, da
obra da vossa fé, do trabalho do amor, e da paciência da esperança, em nosso Senhor Jesus
Cristo, diante de nosso Pai e Deus" (1ª Tessalonicenses 1:2,3) e "orando abundantemente dia e noite,
para que possamos ver o vosso rosto e supramos o que falta à vossa fé”? (1ª
Tessalonicenses 3:10). A seu querido filho na fé escreveu, "Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com
uma consciência pura, de que sem cessar, faço memória de ti nas minhas orações,
noite e dia". (2ª Timóteo 1:3).
[17] Sede sempre jubilosos.—O
segredo de assim ser está em "orar
sem cessar” (1ª Tessalonicenses 5:16,17). O apóstolo Paulo orava tanto
pelos outros que não tinha tempo para preocupar-se consigo mesmo. Nunca vira os
romanos, porém orava tão fervorosamente por eles como pelas igrejas que havia
fundado. Ao falar de seus trabalhos e sofrimentos, diz que "me oprime cada
dia, o cuidado de todas as igrejas". (2ª Coríntios 11:28).
"Entristecidos mas, sempre alegres" (*2ª Cor. 6:10). Cumpriu a
lei de Cristo levando as cargas dos outros. Assim pôde ele gloriar-se na cruz
de nosso Senhor Jesus Cristo. Cristo sofreu na cruz pelos outros, "pelo
gozo que lhe estava proposto" (*Hebreus 12:2). Os que são plenamente
dedicados aos outros compartilham da alegria de seu Senhor, e podem alegrar-se nEle.
Uma viagem próspera.—Paulo orava ferventemente
para poder ter uma próspera viagem de visita a Roma, pela vontade de Deus. Se
você ler o capítulo 27 de Atos, verá o tipo de viagem que ele teve.
Aparentemente poderíamos aplicar qualquer qualificativo a essa jornada, exceto
o de próspera. Porém, não ouvimos sequer uma queixa do apóstolo. E quem disse
que não foi uma viagem bem-sucedida? "Sabemos
que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a
Deus" (*Hebreus 8:28), portanto, deve ter sido realmente uma viagem
próspera. Quantas lamentações poderíamos evitar se nos lembrássemos sempre que
Deus sabe muito melhor que nós como responder às nossas orações.
Dons espirituais.—Quando Cristo “subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e
deu dons aos homens" (Efésios 4:8). Esses dons eram dádivas do
Espírito, uma vez que Jesus falou sobre a conveniência de ir para o Céu, "porque, se Eu não for, o Consolador
não virá para vós; mas, quando Eu for, O enviarei a vós" (João 16:7).
Pedro afirmou no dia de Pentecostes: "Deus
ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado pela
destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou
isto que vós agora vedes e ouvis" (Atos 2:32 e 33).
Esses dons são descritos
nestes termos: "Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E
também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade
nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. A manifestação do
Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. [18] Porque a um é dada, mediante o Espírito,
a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do
conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito,
dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro,
discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade
para interpretá-las. Mas, um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas,
distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente. (1ª Coríntios
12:4-11).
Estabelecidos por dons espirituais.—"...Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, Até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo". (Efésios
4:12,13).
Os dons do Espírito devem
acompanhar o Espírito. Tão logo os primeiros discípulos receberam o Espírito,
de acordo com a promessa, também entraram na posse dos dons. Um deles, o falar
em novas línguas, manifestou-se no mesmo dia. Deduz-se, portanto, que a
ausência dos dons do Espírito em qualquer grau notável na igreja, é prova da
ausência do Espírito. Não completamente, é claro, mas também não na medida que
Deus prometeu.
O Espírito deveria habitar
com os discípulos para sempre, por conseguinte, os dons do Espírito devem
manifestar-se na verdadeira igreja até a segunda vinda do Senhor. Como já
vimos, qualquer ausência marcante da manifestação dos dons do Espírito, é
indício de ausência da abundância do Espírito. Essa é a causa da fraqueza da
igreja, como também das grandes divisões que nela existem. Os dons espirituais
estabelecem a igreja, portanto, a igreja que não possui esses dons não pode
considerar-se firmada.
Quem pode ter o Espírito? .—Aquele que pedir com fervente desejo. Ver
Lucas 11:13. O Espírito já foi derramado e Deus nunca retirou o dom; a única
coisa que falta é que os cristãos o peçam e aceitem.
"Sou devedor".—Isso era capital na vida
de Paulo e o segredo de seu êxito. Hoje ouvimos as pessoas dizer: "O mundo
está em dívida comigo", mas Paulo considerava ser ele mesmo devedor do
mundo. No entanto, não recebia do mundo senão açoites e abusos. Tudo o que
recebera antes de Cristo encontrá-lo, era tido como perda total. Porém, Cristo
fora ao seu encontro e Se tinha dado a ele; por conseguinte, pôde dizer:
"Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé [19] no Filho de Deus, que me amou e a
Si mesmo se entregou por mim". (Gálatas 2:20).
Uma vez que a vida de
Cristo era a vida de Paulo, e posto que Cristo Se entregou a Si mesmo ao mundo,
Paulo tornou-se devedor ao mundo. Esse é o caso de todos aqueles que se tornam
servos do Senhor. "Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria
geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu..." (Atos 13:36). "... e quem quiser ser o
primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio
para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por
muitos".(Mateus 20:27 e 28).
Trabalho pessoal.—Predomina a errônea noção
de que os trabalhos comuns são degradantes, especialmente para um ministro do
evangelho. A culpa não é toda dos ministros, mas em grande parte de quem os
cercam. Crêem eles que os ministros devem se vestir sempre impecavelmente, e
que jamais devem manchar suas mãos com trabalho manual comum. Tais idéias não
procedem da Bíblia. Mesmo Cristo foi carpinteiro; porém, muitos de Seus
seguidores professos ficariam estupefatos se vissem um ministro do Senhor
serrando e lixando pranchas, cavando na terra ou carregando pacotes.
Prevalece um falso senso
de dignidade que é oposto ao espírito do evangelho. O trabalho não produzia
vergonha nem receios em
Paulo. Ele não o realizava apenas ocasional, mas
cotidianamente, enquanto se ocupava da pregação. Ver Atos 18:3 e 4. Ele disse:
"Vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a
mim e aos que estavam comigo". (Atos 20:34). Estava ele falando aos
dirigentes da igreja quando afirmou: "Tenho-vos mostrado em tudo que,
trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do
próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber". (Verso 35).
Paulo difamado.—Na segunda convenção
internacional do Movimento de Estudantes Voluntários Para as Missões, o tópico
principal de uma das sessões vespertinas era: "Paulo, o Grande
Missionário". O orador disse que "Paulo tinha grande facilidade para
organizar o trabalho, de tal maneira que podia assumir pessoalmente pequena
parte dele". Essa foi uma injusta e infeliz invencionice apresentada
perante jovens voluntários ao serviço missionário, já que se constitui o
supra-sumo da falsidade e é qualquer coisa, menos um elogio para o apóstolo.
Além do que foi dito, leia
o que se segue: "Nem jamais comemos
pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia,
trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós". (II
Tessalonicenses 3:8). "Eu de boa
vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma".
(II Coríntios 12:15). "São ministros de [20] Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos,
muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte,
muitas vezes". (II Coríntios 11:23). "Mas, pela graça de Deus, sou o
que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes,
trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus
comigo". (I Cor. 15:10).
A graça de Deus se
manifesta no serviço pelos outros. A graça levou Cristo a entregar-Se por nós e
assumir a forma e a condição de servo. Portanto, aquele que mais tem da graça
de Cristo é o que mais trabalha. Não recuará ante o trabalho mesmo que esse
seja de caráter mais servil. Cristo desceu às mais baixas profundezas por amor
ao homem; O que pensa, por outro lado, que algum serviço é incompatível com sua
dignidade, sente-se muito superior para associar-se com Cristo.
A liberdade do evangelho.—É a liberdade que Deus dá
ao homem por meio do evangelho. Este expressa o conceito divino da liberdade. É
a liberdade que se observa em
a Natureza e em todas as obras de Suas mãos. É a liberdade do
vento, soprando como quer; a liberdade das flores esparzidas em todos lugares, nos
gramados e nas montanhas,; a liberdade dos pássaros, planando num céu sem
fronteiras; a liberdade dos raios solares abrindo caminho por entre as nuvens e cumes elevados. A liberdade das
estrelas no céu, singrando sem cessar o espaço infinito. A liberdade que provém
do grande Criador através de todas as Suas obras.
Desfrutando essa liberdade agora.—Foi o pecado que produziu todo sofrimento, toda limitação e
confinamento. Ele ergueu barreiras e transformou o homem num ser mesquinho e
mau. Todavia, o pecado há de ser destruído e uma vez mais a liberdade
florescerá em toda a Criação. Até mesmo agora é possível usufruir dessa
liberdade, quando o pecado é afastado de nosso coração. O fruir dessa liberdade
pela vida eterna é o privilégio glorioso que o evangelho já oferece a cada
homem. Que amante da liberdade quererá deixar passar essa oportunidade?
Consideramos a partir de
agora a introdução ao corpo principal da epístola. Os primeiros sete versos
constituem a saudação; os oito seguintes abordam assuntos pessoais concernentes
ao próprio Paulo e aos irmãos em
Roma. O verso quinze é a ligação que une a introdução com a
parte doutrinária da epístola.
Atente para os versos
citados e você verificará que não se trata de uma divisão arbitrária, mas de
algo evidente. Se na leitura de um capítulo você anotar os diferentes temas
abordados, e as mudanças de um assunto para o outro, ficará surpreso sobre como
é fácil [21] captar o conteúdo do
capítulo e retê-lo na mente. A razão pela qual muitos acham difícil lembrar-se
do que estudam na Bíblia, é por que tentam rememorá-lo
"empacotando-o", sem prestar atenção especial aos detalhes.
Ao expressar seu desejo de
encontrar-se com os irmãos romanos, o apóstolo se declara devedor tanto a
gregos como a bárbaros, a sábios e a ignorantes e, portanto, disposto a pregar
o evangelho também em Roma, a capital do mundo. O verso quinze e a expressão
"anunciar o evangelho" constituem a nota predominante de toda essa
epístola, e Paulo entra então no assunto de um modo natural e espontâneo. De
acordo com ele, o que encontramos a seguir é
O evangelho definido.— (*A Justificação pela
fé) — Romanos 1:16 e 17:
16
|
¶ Porque
não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para
salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.
|
17
|
Porque
nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o
justo viverá da fé.
|
"Não me envergonho".—Não há razão alguma pela
qual alguém poderia envergonhar-se do evangelho. Porém, muitos se sentem
envergonhados. e a tal ponto que não estão dispostos a rebaixar-se fazendo
profissão dele. E a muitos que o professam produz vergonha patente. Qual é a
causa dessa vergonha? É o desconhecimento do que constitui o evangelho. Ninguém
que o conheça realmente ficará envergonhado dele, nem de alguma de suas
facetas.
Desejo de poder.—Nada o homem deseja tanto
quanto o poder. Trata-se de um anseio que o próprio Deus implantou nele.
Desafortunadamente, o diabo enganou a maioria dos homens de tal modo que
procuram o poder de forma equivocada. Crêem que ele é encontrado na posse de
riquezas ou de posição política, e se lançam à busca de tais coisas. Mas elas
não provêem o poder para satisfazer o desejo que Deus implantou em nós, como
demonstra o próprio fato de não produzirem satisfação.
Nenhum homem jamais se
satisfez com o poder oriundo das riquezas ou posição. Por mais que tenha sempre
deseja mais. Ninguém acha nelas o que desejava, de forma que se afana para
conseguir sempre mais, julgando que assim satisfará o desejo do seu coração,
mas tudo em vão. Cristo
é "o Desejado de Todas as Nações" (Ageu 2:7), a única fonte de
satisfação completa, [22] já que Ele é a encarnação de todo poder
autêntico que existe no Universo: o poder de Deus. "Cristo é o poder de
Deus" (I Cor. 1:24).
Poder e sabedoria.—Sabe-se que o
conhecimento é poder. Isso depende… Se nós ativermos à frase do poeta, "o
estudo apropriado para o gênero humano é o "estudo do homem", então,
realmente, o conhecimento é qualquer coisa, menos poder. Todo homem sabe que é
pecador, que faz o que não deve; porém, esse conhecimento não lhe confere poder
para mudar seu curso de ação. Você pode apontar para alguém todas suas faltas,
contudo, se não faz mais do que isso, debilitou-o em lugar de fortalecê-lo.
No entanto, aquele que
decide, juntamente com o apóstolo Paulo, não saber nada, "senão Jesus
Cristo e Esse crucificado", possui sabedoria que é poder. "E a vida eterna é esta: que Te conheçam
a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". (João
17:3) Conhecer a Cristo é entrar na posse do poder de Sua vida infinita. É por
falta desse conhecimento que o homem é destruído (Oséias 4:6). Porém, visto que
Cristo é o poder de Deus, é absolutamente correto dizer que o poder é o que o
homem necessita; e o único poder genuíno, o poder de Deus, se revela no
evangelho.
A glória do poder.—Todos os homens honram o
poder. Onde esse se manifeste, você achará uma nuvem de admiradores. Não há
ninguém que deixe de admirá-lo ou aplaudi-lo de alguma maneira. Uma musculatura poderosa é objeto frequente
de admiração e orgulho, quer pertença a um ser humano, ou a um animal
irracional. Uma máquina poderosa que move toneladas sem esforço aparente, chama
sempre a atenção, assim como aquele que a construiu. O homem rico, cujo
dinheiro pode pagar o serviço de milhares, sempre tem admiradores, não
importando como o adquiriu. O homem de
ascendência nobre e posição, ou o rei de uma grande nação, têm multidões de
seguidores que aplaudem seu poder. Os homens anseiam relacionar-se com eles, já
que de tal relação deriva certa dignidade, embora o poder em si mesmo seja
intransferível.
Entretanto, todo o poder
terreno é frágil e temporário, enquanto que o poder de Deus é eterno. O
evangelho é o poder, e se os homens quisessem reconhecê-lo apenas pelo que ele
é não haveria ninguém que se envergonharia dele. Paulo disse: "Mas longe esteja de mim
gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
crucificado para mim, e eu, para o mundo." (Gálatas 6:14). A razão disso é
que a cruz é o poder de Deus (I Coríntios 1:18). O poder de Deus manifestado do
modo que é, significa glória: nada para envergonhar-se.
[23] Cristo não Se
envergonha.—Com respeito a Cristo, lemos: "Pois, tanto o que
santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que Ele
não Se envergonha de lhes chamar irmãos". (Hebreus 2:11). "Por isso,
Deus não Se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus..." (Hebreus
11:16). Se o Senhor não se envergonha de Se chamar irmão dos pobres, débeis e
mortais pecadores, o homem não tem nenhuma razão de envergonhar-se d’Ele. "Vede que grande amor nos tem concedido
o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus..." (I João 3:1).
Envergonhar-se do evangelho de Cristo! Poderia existir um caso pior de
exaltação do eu acima de Deus? Envergonhar-se do evangelho de Cristo, que é o
poder de Deus, é uma evidência de que aquele que assim faz se crê, realmente,
superior a Deus. Parece que rebaixa sua dignidade ao associar-se com o
Senhor.
Jesus, graças Te damos
porque Tu não Te envergonhaste de tornar-Se humano, sendo nosso Criador. Graças por haveres "menosprezado a
vergonha", quando Teu corpo pendia desnudo entre o céu e a terra, cravado no
madeiro. Para Ti não havia nenhuma
folha de figueira. Nenhuma pele de animal Te cobriu nessa hora. Só medo e
escuridão. Graças por haveres sorvido até as fezes essa taça. Graças por levar
em Teu corpo a vergonha de nossos pecados.
Graças porque Tu consideras ter sido ferido "na casa de Teus
amigos" quando, em realidade, éramos "inimigos". Graças por
termos no Céu um representante como Tu, que apesar de tudo, "não Se
envergonha de nos chamar de irmãos".
Ao contemplar essa misericórdia, sentimos vergonha por haver-Te negado
tantas vezes. Aborrecemos nosso orgulho e nos apegamos a esse amor com que Tu
nos atrais a Ti mesmo. Como o discípulo amado, aceitamos recostar nossa cabeça
em Teu peito, Tu que não tiveste onde repousar a Tua, desde a manjedoura até a
cruz. (L.B.)3
Salvos pela fé.—O evangelho é o poder de
Deus para a salvação de todo aquele que crê. "Porque pela graça sois
salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deu". (Efésios
2:8). "Quem crer e for batizado será salvo..." (Marcos 16:16).
"Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus, a saber, aos que crêem no Seu nome".(João 1:12). "Porque com
o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da
salvação". (Romanos 10:10). A obra de Deus é esta: que creiais naquele que
por ele foi enviado". (João 6:29). A fé que opera.
Faltar-nos-á tempo para
falar daqueles que "por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a
justiça, obtiveram promessas,... da fraqueza tiraram força..." (Hebreus
11:33 e 34). Os homens podem dizer: "não vejo como uma pessoa pode ser
feita justa simplesmente crendo." O que você vê não tem nenhuma
transcendência: você não é salvo pela vista, mas pela fé, já que é o Senhor
quem opera a salvação. Cristo habita no coração pela fé (Efésios 3:17), e uma
vez que Ele é a nossa justiça, também "é minha salvação, confiarei e não
temerei" (Isaías 12:2). Veremos mais amplamente ilustrada a salvação pela
fé, à [24] medida que prosseguirmos
no estudo, posto que o livro de Romanos é totalmente dedicado a isso.
"Primeiro do judeu".—Quando Pedro, a pedido de
Cornélio – o centurião romano – por mandado do Senhor, foi a Cesaréia para
pregar o evangelho aos gentios, suas primeiras palavras, depois de haver escutado
a história de Cornélio, foram: "Reconheço, por verdade, que Deus não faz
acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz
o que é justo lhe é aceitável". (Atos 10:34 e 35).
Foi a primeira vez que
Pedro percebeu essa verdade, mas não a primeira vez que isso era verdade. Tal
verdade é tão antiga quanto o próprio Deus. Ele nunca escolheu uma pessoa com
exclusão dos demais. "A sabedoria, porém, lá do alto é... imparcial".
(Tiago 3:17). É certo que os judeus, como nação, foram maravilhosamente
favorecidos pelo Senhor, porém perderam todos os seus privilégios simplesmente
porque supuseram que Deus os amou mais do que a qualquer outro, e que tinham
exclusividade. Ao longo de toda a sua história, Deus tentou fazer com que
compreendessem que aquilo que lhes oferecia era para o mundo inteiro, e que
tinham de ministrar aos demais a luz e os privilégios de que participavam.
Casos como o de Naamã, o
sírio, ou dos ninivitas, a quem Jonas foi enviado, figuram entre muitos outros
por meio dos quais Deus queria ensinar aos judeus que Ele não faz acepção de
pessoas.
Então, por que o evangelho
foi pregado "primeiro ao judeu"? Simplesmente porque estavam mais
próximos. Cristo foi crucificado em Jerusalém. Ali Ele
comissionou Seus discípulos para a pregação do evangelho. Ao ascender, disse:
"Sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra". (Atos 1:8) Era muito natural que
devessem começar a pregação do evangelho no lugar e para as pessoas que estavam
mais próximas a eles. Esse é o segredo de toda ação missionária. Aquele que não
trabalha de acordo com o evangelho em sua própria casa, não fará nenhuma obra
evangélica, embora possa viajar a um distante país.
A justiça de Deus.—O Senhor disse: "Levantai
os olhos para os céus e olhai para a terra embaixo, porque os céus
desaparecerão como a fumaça, e a terra envelhecerá como um vestido, e os seus
moradores morrerão como mosquitos, mas a Minha salvação durará para sempre, e a
Minha justiça não será anulada. Ouvi-Me, vós que conheceis a justiça, vós, povo
em cujo coração está a Minha lei..." (Isaías 51:6 e 7). "A minha língua celebre a tua lei, pois
todos os Teus mandamentos são justiça". (Salmo 119:172).
[25] Portanto, a justiça de Deus é Sua lei. Não podemos nos esquecer
disso. A expressão "a justiça de Deus" ocorre frequentemente no livro
de Romanos, e defini-la de modo diversificado e arbitrário produziu
considerável confusão. Se aceitarmos a definição dada pela Bíblia e nunca a
abandonarmos, as coisas ficarão mui simplificadas: A justiça de Deus é Sua lei
perfeita.
Justiça e vida.—Os Dez Mandamentos, seja os que estão gravados em tábuas de pedra
ou escritos num livro, não são senão uma declaração da justiça de Deus. Justiça
significa a prática do bem, a retidão. Ela é ativa. A justiça de Deus é a Sua
prática do bem, Sua forma de ser. E posto
que todos os Seus caminhos são justiça, deduz-se que a justiça de Deus é
nada menos que a vida de Deus. A lei escrita não é nenhuma ação, mas só uma
descrição da ação. É uma descrição do caráter de Deus.
A vida e o caráter de Deus
são vistos em Jesus
Cristo, no coração de quem a lei de Deus habitava. Não pode
haver justiça sem ação. E assim como não há ninguém bom, senão Deus, infere-se
que não há justiça, exceto na vida de Deus. A justiça e a vida de Deus são uma
só e a mesma coisa.
Justiça no evangelho.—“A justiça que vem de
Deus se revela de fé em fé". Onde é revelada? "No evangelho".
Não se esqueça de que a justiça de Deus é Sua lei perfeita, da qual encontramos
uma declaração nos Dez Mandamentos. Não existe conflito algum entre a lei e o
evangelho. Na realidade, não existem duas coisas separadas tais como lei e
evangelho: a verdadeira lei de Deus é o evangelho, já que a lei é a vida de
Deus e somos "salvos por Sua vida". O evangelho revela a lei justa de
Deus, posto que ele comporta a lei em si mesmo. Não pode haver evangelho sem
lei. Qualquer que ignore ou rejeite a lei de Deus, desconhece o evangelho.
A primeira aproximação.—Jesus disse que o
Espírito Santo convenceria o mundo do pecado e da justiça (João 16:8). Essa é a
revelação da justiça de Deus no evangelho. "Onde não há lei, também não há
transgressão". (Romanos 4:15). O conhecimento do pecado vem pela lei
(Romanos 7:7). Daí se depreende que o Espírito convence do pecado dando a
conhecer a lei de Deus. O primeiro vislumbre da justiça de Deus tem como efeito
fazer com que o homem sinta sua pecaminosidade, algo assim como a percepção que
sentimos de nossa pequenez ante a contemplação de uma magnífica montanha. O
mesmo que acontece diante da visão da imensidão da montanha – "A Tua
justiça é como as montanhas de Deus". (Salmo 36:6), "cresce"
ante nossa visão, à medida que a contemplamos. Então, o que olha continuamente
para a justiça de [26] Deus,
reconhecerá continuamente sua pecaminosidade.
A segunda e mais profunda
aproximação - Jesus Cristo é a justiça de Deus. E Deus não enviou Seu Filho ao
mundo "para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por
Ele". (João 3:17). Deus não nos revela Sua justiça no evangelho para que
fiquemos encolhidos perante ela devido à nossa injustiça, senão para que
possamos receber Sua justiça e viver por ela. de forma que nós é encolhido
antes de Ele, devido a nossa injustiça, mas de forma que nós podem levar suas
justiças e viver para ela. Somos injustos e Deus deseja que nos demos conta
disso, de maneira que desejemos receber Sua justiça perfeita. É uma revelação
de amor porque Sua justiça é Sua lei e Sua lei é amor (I João 5:3).
Assim, "se
confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça". (I João 1:9). Quando a pregação do
evangelho nos revelar a lei de Deus, nós a rejeitarmos e a ela nos opusermos
porque condena nosso curso de ação, o que estamos dizendo é simplesmente que
não queremos que Deus coloque Sua justiça em nós.
Vivendo pela fé.—“Como está escrito: mas o
justo viverá da fé?" Cristo é "a nossa vida". (Colossenses 3:4).
Somos "salvos por Sua vida". (Romanos 5:10). É pela fé que recebemos
a Jesus Cristo, já que Ele mora em nossos corações pela fé (Efésios 3:17). Ao
habitar em nossos corações isso significa vida, já que do coração
"procedem as fontes da vida". (Provérbios 4:23).
Agora vem a palavra:
"Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle, nEle
radicados, e edificados, e confirmados na fé..." (Colossenses 2:6 e 7). Ao
recebê-Lo pela fé e andar com Ele da mesma forma que O havemos recebido,
"andamos pela fé e não por vista".
"De fé em fé".—Esta expressão
aparentemente complexa, que foi objeto de não pequena controvérsia, é em
realidade muito simples quando permitimos que a Escritura explique-se a si
mesma. No evangelho "a justiça que procede de Deus é revelada de fé em fé. Como é escrito: Mas o
justo viverá da fé". Observe-se o paralelismo entre "de fé em
fé" e "o justo viverá da fé". Justo significa reto.
Na primeira epístola de
João 1:9 lemos que Ele (Deus), é fiel e "justo". A vida de Deus é
justiça. É Seu desejo que a nossa também seja assim, de forma que nos oferece
Sua própria vida. Essa vida se torna nossa pela fé. Da mesma maneira que respiramos, assim temos
de viver espiritualmente pela fé; e toda a nossa vida há de ser
espiritual. A fé é o alento (respiração)
de vida para o cristão. Por conseguinte, do mesmo jeito que vivemos fisicamente
de respiração em respiração, deveríamos viver espiritualmente de fé em fé.
Somente podemos viver pelo
que respiramos neste momento; assim, só podemos viver espiritualmente [27] pela fé que temos agora. Se
vivermos uma vida de consciente dependência de Deus, Sua justiça será nossa, já
que a respiraremos continuamente. A fé nos dá força, uma vez que os que a
exercitam "tiraram força da fraqueza". (Hebreus 11:34).
Dos que aceitam a
revelação da justiça de Deus "de fé em fé", se diz que "vão indo
de força em força". (Salmo 84:7).
Não nos esqueçamos de que
é das próprias palavras da Bíblia que
temos de aprender. Toda a real ajuda que um instrutor pode dar a alguém, no
estudo da Bíblia, consiste em ensinar-lhe como fixar sua mente com maior
clareza nas exatas palavras do registro sagrado. Portanto, primeiramente, leia
o texto várias vezes. Não o faça com precipitação, mas cuidadosamente,
prestando atenção especial a cada declaração. Nem desperdice um único momento
especulando sobre o possível significado do texto. Não há nada pior do que
elaborar sobre o significado de um texto da Escritura, para fazê-lo dizer o que
alguém pensa. Ninguém pode saber mais sobre a Bíblia do que a própria Bíblia.
Ela está tão disposta a contar sua história a uma pessoa como a qualquer
outra.
Pergunte atentamente ao
texto. Examine-o uma e outra vez, sempre com um espírito reverente, de oração,
para que o texto se explique a si mesmo. Não desanime se você não for capaz de
compreender de uma só vez todo o conteúdo do texto. Lembre-se de que se trata
da Palavra de Deus e que ela é infinita em profundidade, de maneira que jamais
chegará a esgotá-la. Quando chegar a uma passagem difícil, volte atrás e
considere-a em relação ao que a precede. Não pense que lhe será possível
capturar o significado mais pleno isolando-a de seu contexto. Aplicando-se com
perseverança às palavras do texto, a fim de ficar seguro de conhecer exatamente
o que ele quer dizer, logo você chegará a gravá-lo em sua mente; é então que
você começará a saborear alguns dos mais ricos frutos do estudo da Bíblia.
Quando menos esperar, brilhará nova luz dessas passagens, e através delas,
enquanto estuda outras partes das Escrituras.
A justiça do juízo.—Romanos 1:18-20:
18
|
Porque
do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos
homens, que detêm a verdade em injustiça.
|
19
|
¶
Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho
manifestou.
|
20
|
Porque
as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno
poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas
que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
|
[28] O homem perdeu o conhecimento de Deus.—Rom.1:21-23:
21
|
Porquanto,
tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças,
antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se
obscureceu.
|
22
|
Dizendo-se
sábios, tornaram-se loucos.
|
23
|
E
mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem
corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
|
O resultado de ignorar a
Deus.—Romanos 1:24 a 32:
24
|
Por isso
também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia,
para desonrarem seus corpos entre si;
|
25
|
Pois
mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura
do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
|
26
|
Por isso
Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o
uso natural, no contrário à natureza.
|
27
|
E,
semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se
inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens,
cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu
erro.
|
28
|
E, como
eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a
um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;
|
29
|
Estando
cheios de toda a iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios
de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade;
|
30
|
Sendo
murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos,
presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães;
|
31
|
Néscios,
infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem
misericórdia;
|
32
|
Os
quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais
coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as
fazem.
|
Toda injustiça é condenada.—A ira de Deus se
manifesta desde o Céu contra toda maldade e injustiça dos homens. "Toda
injustiça é pecado..."(I João 5:17). "mas o pecado não é levado em
conta quando não há lei". (Romanos
5:13). Portanto, a todo o mundo manifestou suficiente quantidade da lei de
Deus, como para deixar a todos sem desculpas para o pecado. O que expõe esse
verso equivale ao que encontramos no seguinte capítulo: "Deus não faz
acepção de pessoas". Sua ira se
manifesta contra toda injustiça. Não há em todo o mundo uma pessoa tão
importante que possa pecar impunemente, nem tampouco uma pessoa tão
insignificante que seu pecado passe despercebido. Deus é estritamente
imparcial. "... Invocais como Pai aquele que, sem [29] acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um..."
(I Pedro 1:17).
Detendo a verdade.—Lemos "dos homens
que detêm a verdade pela injustiça". Alguns concluíram superficialmente, a
partir de Romanos 1:18, que o homem pode possuir a verdade ao mesmo tempo que é
injusto. O texto não diz tal coisa. Encontramos evidência suficiente de que
isso não é assim, no fato de o apóstolo estar falando nesse capítulo
especialmente dos que não possuem a verdade; mas que a transmudaram em mentira. Tendo
perdido todo o conhecimento da verdade, estão condenados por seu pecado.
Isso significa que os
homens detêm a verdade com injustiça. Quando Jesus foi para Sua própria região
natal "não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade
deles". (Mateus 13:58). Porém, no texto de que estamos nos ocupando, o
apóstolo quer dizer muito mais que isso. Como mostra claramente o contexto,
quer dizer ele que os homens, por sua perversidade, impedem o trabalho da
verdade divina em suas próprias almas. Se não fosse pela resistência à verdade,
ela os santificaria. E o resultado é:
A justiça da ira de Deus.—A ira de Deus se manifesta desde o Céu contra toda impiedade e
injustiça dos homens, e se deve ao que "de Deus se pode conhecer é
manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou". Não importa quão
cegamente o homem possa pecar, persiste o fato de que está pecando
contrariamente a grande luz, pois "o que de Deus se pode conhecer é
manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou". Com um tal
conhecimento, não somente ante seus olhos, senão de fato em seu interior, é fácil
reconhecer a justiça da ira de Deus contra todo pecado, não importando quem
o pratique.
Embora não nos esteja
perfeitamente clara a forma pela qual o conhecimento de Deus é posto em todo
homem, podemos aceitar a constatação que o apóstolo faz desse fato. Na maravilhosa
descrição dada a Isaías sobre a loucura da idolatria, é-nos dito que o homem
que faz para si um ídolo mente contra a verdade que ele mesmo possui. "...
Seu coração enganado o iludiu, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem
dizer: Não é mentira aquilo em que confio?" (Isaías 44:20).
Vendo o Invisível.—É-nos dito sobre Moisés
que ele "permaneceu firme como quem vê Aquele que é invisível".
(Hebreus 11:27). Não se trata de um privilégio especial de Moisés. Todos podem
fazer o mesmo. Como? "Porque os
atributos invisíveis dEle, desde a criação do [30] mundo são claramente vistos sendo percebidos por meio
das coisas que foram criadas assim". (Romanos 1:20, KJV). Nunca houve
um tempo, desde que o mundo foi criado, em que os homens não tivessem à
disposição o conhecimento de Deus.
"Os céus proclamam a
glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos". Salmo
19:1.
Senhor, como as tuas maravilhas são mostradas,
where'er eu viro meus olhos,
se eu levantamento da
terra eu piso,
ou olhar para o céu.
3. Não há uma planta ou
flor abaixo
mas faz tua glória conhecida,
Seu eterno poder e divindade.—As coisas invisíveis de
Deus que são dadas a conhecer através das coisas criadas, são Seu eterno poder
e divindade. "Cristo [é o] poder de Deus e sabedoria de Deus". (I
Coríntios 1:24). "Pois nEle foram criadas todas as coisas, nos céus e
sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias,
quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele; Ele
é antes de todas as coisas. N’Ele, tudo subsiste". (Colossenses 1:16 e 17).
"Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a
existir." (Salmo 33:9). Ele é "o Primogênito de toda a criação"
(Colossenses 1:15). É a origem, o princípio da criação de Deus (Apocalipse
3:14).
Isto é, toda a criação
provém de Jesus Cristo, que é o poder de Deus. Chamou os mundos à existência a
partir de Seu próprio Ser. Portanto, tudo quanto foi criado leva o selo do
poder externo e a divindade de Deus. Não podemos abrir nossos olhos, nem sequer
sentir a brisa fresca no rosto sem ter uma clara revelação do poder de Deus.
Somos a "geração de Deus".—Quando Paulo repreendeu os atenienses por sua idolatria, disse
que Deus não está longe de cada um de nós. "Pois nEle vivemos, e nos
movemos, e existimos..." (Atos 17:28) Paulo estava falando a pagãos e,
portanto, o conceito era tão certo para eles como é para nós. Mencionou, então,
seus poetas, que disseram: "Porque somos geração d’Ele", e pôs nessa
declaração o selo da verdade ao acrescentar: "Sendo, pois, geração de
Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à
pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem". (verso 29).
Cada movimento do homem e
cada respiração, são obra do poder externo de Deus. Assim, o eterno poder e a
divindade são manifestos a todo o homem. Não que o homem seja em qualquer
sentido [31] divino nem que possua
por si mesmo algum poder. Muito pelo contrário, o homem é como a erva. "Na
verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade". (Sal.
39:5). O fato de o homem não ser nada por si mesmo - "menos que nada é o
que ele é", evidencia o poder de Deus que se manifesta nele.
O Poder de Deus na Erva.—Observe uma pequena folha
de erva abrindo caminho desde o solo, em busca da luz solar. É algo realmente
frágil. Arranque-a e comprovará que não tem força para suster-se por si mesma.
O simples ato de desenraizá-la faz com que perca sua relativa rigidez. Depende
do solo para seu sustento e, portanto, precisa atravessá-lo e emergir. Disseque
essa folha tão minuciosamente quanto possível, e você não achará nada que
indique a posse de um poder próprio. Esfregue-a entre os dedos e veja que ela
se converte em quase nada. É uma das coisas mais frágeis na Natureza, contudo,
é capaz de erguer grandes pedras que se interponham no caminho de seu
crescimento.
De onde vem sua força? É
exterior à erva. Não é nada menos que o poder da vida de Deus, operando de
acordo com Sua palavra, que no princípio ordenou: "Produza a terra
relva".
O Evangelho na Criação.—Já vimos como em todas as
coisas criadas se manifesta o poder de Deus. Consideramos também como "o
evangelho... é o poder de Deus para a salvação". O poder de Deus é sempre
o mesmo, uma vez que o texto nos fala de "Seu eterno poder". O poder que se manifesta nas coisas que Deus
criou, por conseguinte, é o mesmo que opera nos corações dos homens para
salvá-los do pecado e da morte. Podemos ter assim a certeza de que Deus
designou que cada parte do Universo seja um pregador do evangelho. Dessa
maneira, não é somente certo que a partir das coisas feitas por Deus o homem
possa conhecer Sua existência, mas também o eterno poder divino para salvá-lo.
O verso 20 do primeiro capítulo de Romanos é o desenvolvimento do dezesseis.
Ele nos diz como podemos conhecer o poder do evangelho.
As Estrelas como Pregadores.—"Os céus proclamam a
glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos. Um dia discursa
a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem,
nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra
se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do
mundo". (Salmo 19:1-4).
Agora leia Romanos
10:13-18: "Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Como, porém, invocarão [32] Aquele
em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão,
se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está
escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos
obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa
pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de
Cristo. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra
se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo".
Nesse texto é dada a resposta a toda objeção
que o homem possa fazer a propósito do castigo dos pagãos. Como é dito no
primeiro capítulo, ninguém tem desculpa. O evangelho foi dado a conhecer a toda
a criatura debaixo do céu. Admite-se que o homem não pode invocar Àquele em
quem não creu, e que não pode crer sobre quem nada foi dito; e também não pode
ouvir sem que alguém pregue. E aquilo que deveria ouvir, e ao qual não pôde
obedecer, é o evangelho.
Tendo afirmado isso, o
apóstolo pergunta: "Não ouviram, realmente?", e então responde
categoricamente à pergunta que acaba de fazer, citando as palavras do Salmo 19:
"Claro que ouviram. 'Por toda a terra se faz ouvir a Sua voz, e as Suas
palavras, até aos confins do mundo". Conseguintemente, podemos saber que
essa palavra que os céus contam dia a dia, é o evangelho, e que essa sabedoria
que se declara uma noite após outra é o conhecimento de Deus.
Os Céus Declaram Justiça.—Sabendo que aquilo que os
céus declaram é o evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para a salvação,
podemos seguir facilmente a linha do Salmo 19. Ao leitor acidental parece que
há uma interrupção na continuidade desse salmo. Ele começa falando dos céus e,
de repente, passa a abordar a perfeição da lei, bem como seu poder convertedor.
"A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma". (verso 7).
Entretanto, não há nenhuma interrupção alguns. A lei de Deus é a justiça de
Deus; o evangelho revela a justiça de Deus e os céus revelam o evangelho.
Então, se deduz que os céus revelam a justiça de Deus. "Os céus anunciam a
Sua justiça, e todos os povos vêem a sua glória". (Salmo 97:6).
A glória de Deus é a Sua
bondade, já que nos é dito que devido ao pecado todos os homens estão
destituídos de Sua glória (Romanos 3:23). Portanto, podemos saber que todo
aquele que ergue com reverência seus olhos para o céu, discernindo nele o poder
do Criador e estando disposto a colocar-se nas mãos desse poder, será levada à
justiça salvadora [32] de Deus. Até
o Sol, a Lua e as estrelas – cuja luz não é mais que uma parte da glória do
Senhor – iluminarão sua alma com tal glória (Ver Filhos e Filhas de Deus, pág.
19).
Sem Desculpa.—Quão evidente é, por conseguinte, que os homens não têm desculpas
para suas práticas idólatras. Quando o Deus verdadeiro Se revela a Si mesmo em
tudo e dá a conhecer Seu amor mediante o próprio poder, que desculpa poderá
apresentar o homem para não reconhecê-Lo nem adorá-Lo? Porém, é verdade que
Deus faz com que todos os homens saibam de Seu amor? Sim, tão certo como Ele Se
revela, porque "Deus é amor." Qualquer que conheça o Senhor, saberá
de Seu amor. Se tal acontece aos pagãos, quão indesculpável é a situação
daqueles que vivem em países onde o evangelho é pregado com voz audível, a
partir da Palavra escrita!
A Origem da Idolatria.—Por que há tantos ainda
que O ignoram completamente se Ele Se revelou de maneira tão clara? Eis a
resposta: "Porque tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como
Deus, nem Lhe deram graças..."
Há algo que Deus deu como
sinal e selo de Sua divindade – o sábado. Referindo-se ao homem, disse:
"Também lhes dei os Meus sábados, para servirem de sinal entre Mim e eles,
para que soubessem que Eu Sou o Senhor que os santifica". (Ezequiel
20:12). Isso se harmoniza com o que aprendemos em Romanos. Vimos
nesse livro que o homem sábio percebe o poder e a divindade de Deus por meio
das coisas que Ele criou; o sábado é o grande memorial da criação.
"Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e
farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não
farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu
servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para
dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o
que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de
sábado e o santificou." (Êxodo 20:8-11). Se o homem houvesse guardado o
sábado tal como foi dado jamais existiria a idolatria, porquanto ele revela o poder
da Palavra do Senhor para criar e operar justiça.
Nulos em seus próprios raciocínios.—O homem se rendeu à vaidade de pensamento, e "seu coração
insensato foi obscurecido." Com respeito às especulações dos antigos
filósofos, disse Gibbon: "Sua razão era frequentemente guiada pela
imaginação, e a imaginação por sua
vaidade". O itinerário de sua queda foi o mesmo que do anjo que se
converteu em Satanás. "Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da
alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no
teu coração: Eu subirei ao céu; eu [34]
exaltarei o meu trono acima das estrelas de Deus e no monte da congregação me
assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e
serei semelhante ao Altíssimo". (Isaías 14:12-14).
Qual foi a causa de sua exaltação e queda? "Elevou-se o teu
coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do
teu resplendor..." (Ezequiel 28:17) Uma vez que sua sabedoria e a glória
que possuía dependiam inteiramente de Deus, não O glorificou, mas achou que
todos os seus talentos originavam-se em si mesmo; consequentemente, ao
desligar-se, em seu orgulho, da Fonte de luz, converteu-se no príncipe das
trevas. Assim também aconteceu com o homem.
Mudaram a Verdade de Deus em Mentira.—Não há poder senão de Deus".
Em a Natureza
vemos a manifestação de um magnífico poder que é, em realidade, a obra de Deus.
As diversas formas de poder que os filósofos classificam e crêem serem
inerentes à matéria, não são mais que a atuação da vida de Deus nas coisas que
Ele criou. Cristo "é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste" ou
se mantém (Colossenses 1:17). A coesão, portanto, deriva do poder direto da
vida de Cristo. A força da gravidade também, como vemos na relação entre os
corpos celestes. "Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas
coisas? Aquele que faz sair o Seu exército de estrelas, todas bem contadas, as
quais Ele chama pelo nome; por ser Ele grande em força e forte em poder, nem
uma só vem a faltar". (Isaías 40:26). Mas os homens observaram os
fenômenos da Natureza, e em vez de discernir neles o poder do Deus supremo,
atribuíram-lhes divindade.
Desse modo, olhando para
si mesmos e vendo quão grandes coisas poderiam alcançar, em vez de honrar a
Deus como o Doador e Sustentador de todas as coisas -Aquele em quem nos movemos
e existimos, –supuseram ser eles próprios, por natureza, divinos. Assim mudaram
a verdade de Deus em mentira.
A verdade é que a vida e o
poder de Deus são manifestos em tudo o que Ele criou; a mentira é que o poder
que se manifesta em todas as coisas é inerente a elas próprias. O homem põe
assim a criatura em lugar do Criador.
Olhando para Dentro.—Marco Aurélio, reputado como o maior dos filósofos pagãos,
afirmou: "Olhem para dentro. No interior está a fonte do bem, e dali
brotará sempre o que procuram."
Isso expressa a essência de todo paganismo. O eu era supremo. Mas esse
espírito não é exclusivo daquilo que é conhecido por paganismo, algo muito
comum em nossos dias; portanto, não é em realidade outra coisa que o espírito
do paganismo. É uma parte da adoração da criatura em lugar do Criador. Para
eles é natural por se em lugar d’Ele; e uma vez feito isso, é uma [35] consequência necessária olharem
para si mesmos como fonte da bondade, em vez de a Deus.
Quando os olhares de homem
convergem para si, qual é a única coisa que pode ver? "Porque de dentro,
do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os
furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a
lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura." (Marcos 7:21 e
22). Disse Paulo: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não
habita bem nenhum..." (Romanos 7:18). Agora, quando o homem olha para todo
esse mal que está por natureza em si, e pensa que é bom e que pode obter o bem
a partir de si mesmo, o resultado não pode ser outro senão a mais degradante
maldade. Está virtualmente dizendo: "Mal, sê tu o meu bem".
A sabedoria deste mundo.—“O mundo, em sua
sabedoria, não conheceu a Deus em Sua divina sabedoria". A agudeza de
intelecto não é fé, nem a pode
substituir. Um brilhante erudito pode abrigar a maior baixeza humana. Há alguns
anos foi enforcado um homem acusado de mais de dez crimes brutais, o qual era
ilustrado cientista e tinha ocupado alta posição na sociedade. Instrução não é
equivalente a cristianismo, embora o cristão possa ser um homem instruído. As
invenções modernas nunca salvarão o homem da perdição. Certo filósofo moderno
disse que "a idolatria não pode encontrar seu lugar junto à arte e à
cultura mais refinadas que o mundo conheceu". Porém, os homens estavam se
afundando na maldade, tal como descreve o apóstolo na última parte do primeiro
capítulo de Romanos (Nota: O autor, escrevendo em 1895, dificilmente poderia
haver imaginado os horrores da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, provocadas
pelos homens mais educados e cultos que o mundo havia conhecido). Até mesmo os
homens reputados como sábios eram tais como estão ali descritos. Foi o
resultado natural de buscar a justiça em si mesmos.
Nos últimos dias.—Se você quiser ver uma
descrição do mundo nos últimos dias, leia os últimos versículos do primeiro
capítulo de Romanos. Os que crêem num milênio de paz e justiça antes da vinda
do Senhor, achá-los-ão muito chocantes; e oxalá seja isso para seu próprio bem.
Leia cuidadosamente a lista de pecados e logo verá como ela corresponde
exatamente ao seguinte:
"Sabe, porém, isto:
nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas,
avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais,
ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio
de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos
dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe,
entretanto, o poder". Tudo isso provêm do eu, a autêntica fonte do mal que
Paulo atribuiu aos pagãos. Essas são as obras da carne (Gálatas 5:19-21). São o
resultado natural de confiar no eu.
[36] Apesar da declaração do apóstolo, são bem poucos os que crêem que
esse estado de coisas chegará a ser geral, especialmente entre aqueles que
fazem profissão de piedade. Porém a semente que produz essa colheita está já
semeada em todo lugar. O papado, o "homem do pecado, o filho da perdição,
opondo-se e levantando-se contra tudo o que se chama Deus, ou que se
adora", é a força mais poderosa no professo cristianismo; seu poder
aumenta dia a dia. Como progride dessa maneira? Nem tanto por méritos próprios
como pela cega aceitação de seus princípios por parte dos professos
protestantes. O papado se exaltou acima de Deus ao tentar mudar Sua lei (Dan.
7:25). Ousadamente aceitou o dia de festa pagão de adoração ao Sol: –O
domingo [sunday ou dia do Sol, em inglês] – em lugar do sábado do Senhor, o
memorial da criação. Ele assinala desafiadoramente essa mudança como selo de
sua autoridade. A maioria dos protestantes segue viajando nesse trem, aceitando
uma instituição que coloca o homem acima de Deus; o símbolo da justificação
pelas obras em lugar da justificação pela fé.
Quando os professos
cristãos aceitam ordenanças humanas apesar do expresso mandamento do Senhor, e
sustentam sua instituição evocando os Pais – homens educados na filosofia do
paganismo – a execução de todo mal que seus corações possam imaginar não é mais
que o passo seguinte no caminho descendente. "Quem tem ouvidos ouça".
Notas desta edição:
1) “... e reinará perfeita união em ambos os
ofícios". (Zacarias 6:13, Almeida Fiel);
2) O tradutor tem certo reserva quanto ao
uso indiscriminado da palavra “aceitar,” quando se referindo à salvação. Ela
não ocorre na Bíblia, somente a palavra crer. Pesquise isto em uma boa
concordância. No Esp. de Profecia ela ocorre ocasionalmente, mas sob uma forte
ênfase da Justificação pela Fé, como neste estudo de Waggoner.
Aceitar pode se tornar uma sutil
salvação pelas obras. Deus nos resgatou, mas, temos que aceitar? Então a
salvação é Deus e eu. Muitas denominações fazem o tradicional apelo: “Quem
aceita a Jesus, levante-se.” Todos se levantam, e o pregador conclui: “Glória,
aleluia, estão todos salvos.”
Aceitar é fácil, Crer depende da
fé, um artigo raro, cf. Mat. 8:10, um dom de Deus. Pergunte ao seu interlocutor
“—Vou depositar R$100.000,00 em sua conta, você aceita?” Via de regra, ele
responderá: “—aceito.” então replique; “—quero que você, sem consultar a sua
conta, vá a uma agência de automóveis e emita um cheque para a compra do carro
dos seus sonhos, pois estou transferindo a importância imediatamente. Você vai
fazer isto sem checar a sua conta? Você crê que o dinheiro estará lá para
honrar a sua assinatura?” Isso é bem mais difícil, não é verdade? Assim, a se
aplicar esta “nova luz,” cf. Prov. 4:18, a frase de Waggoner assim ficaria
redigida: “—Deus chama a todos os homens para serem santos, porém àqueles que
nEle creem, os chama santos.”
3) Este parágrafo substitui duas estrofes cuja tradução
Vergonha de
Jesus! muito cedo
Deixe noite blush ao próprio uma estrela;
Ele derrama os feixes de luz divina
O'er esta alma ignorante dos meu
Deixe noite blush ao próprio uma estrela;
Ele derrama os feixes de luz divina
O'er esta alma ignorante dos meu
Vergonha de Jesus! tão logo
Vamos ter vergonha de meia-noite ao meio-dia
Twas meia-noite com toda a alma, até que ele
Manhã Bright Star, a escuridão mandou fugir.
4) Em 1890 o Papa era Leão XIII, que foi o pontífice máximo da Igreja
Católica de 20/02/1878, até 20 de julho de 1903, quando faleceu. Mossul (al-Mawsil em árabe) é uma cidade no
norte do Iraque, numa planice fértil entre os rios Tigre e Eufrates. Seu nome,
Mossul é associado à musselina tecido que a cidade exporta.
Nota:
temos que localizar no texto os nºs 3 e 4 destas notas. Conferir também a
tradução acima.