domingo, 1 de outubro de 2017

Carta aos Romanos, Ellet J. Waggoner, Capítulo 8



CARTA AOS ROMANOS

Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani


Capítulo 8

 

A Gloriosa Libertação de um Matrimônio Insuportável

Chegamos aqui ao desenlace do motivo principal. A epístola atinge seu ponto culminante neste capítulo. O sétimo apresentava o deplorável estado do homem que foi despertado pela lei para sua verdadeira condição: ligado ao pecado com cordas que só a morte pode romper. Conclui ele com um vislumbre do Senhor Jesus Cristo como o único que pode libertar-nos do corpo da morte.
Libertados da condenação – Romanos 8:1-9.
1 Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o Seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
5 Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito.
6 Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.
7 Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.
8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é d’Ele.
“Nenhuma condenação”: –Não há condenação para os que estão em Cristo. Por quê? Porque Ele recebeu a condenação da lei a fim de que a bênção pudesse chegar até nós. Enquanto estivermos n’Ele, nada nos pode acontecer que não Lhe tenha ocorrido antes; nEle, porém, toda maldição fica convertida em bênção e a justiça substitui o pecado. Sua vida infinita triunfa sobre tudo aquilo que se opõe a Ele. Estamos “completos n’Ele”.
Olhos postos em Jesus: –Alguém poderá dizer: “Não vejo como essa Escritura possa cumprir-se no meu caso, visto que cada vez que me olho, encontro algo que me condena”. Assim deve ser, já que a libertação da condenação não se encontra em nós mesmos, mas em Cristo Jesus. É a Ele que devemos contemplar e não a nós mesmos. Se obedecermos às Suas ordens e Lhe hipotecarmos nossa confiança, Ele se encarregará de aprovar-nos perante a lei. Nunca haverá um tempo em que alguém não ache condenação ao olhar para si mesmo.
A queda de Satanás deveu-se ao fato dele ter olhado muito para si mesmo. A restauração daqueles a quem derrubou repousa em olhar apenas a Jesus. “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado...” (João 3:14).      A serpente foi erguida para que os homens a contemplassem. Os que assim faziam, eram curados. Assim ocorre igualmente com Cristo. No mundo vindouro, os servos do Senhor “verão Seu rosto”; não mais serão atraídos para si mesmos. A luz procedente da face de Cristo será a sua glória, e ela própria nos haverá de levar a esse glorioso estado.
Convicção, não condenação: –O texto não diz que os que estão em Cristo jamais serão reprovados. O Salmo 139:23 e 24 diz: “Sonda-me, ó Deus, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno”.
  Ir a Cristo é só o princípio e não o fim da vida cristã. É a admissão à escola onde vamos aprender d’Ele. Cristo toma o ímpio com todos os seus maus hábitos e perdoa todos os seus pecados. Considera-o como se nunca houvesse pecado. Então, Jesus continua dando-lhe a própria vida por meio da qual pode vencer seus maus hábitos.
  A associação com Cristo nos revelará mais e mais nossos defeitos, assim como o relacionamento com um homem instruído torna patente nossa ignorância. Como uma testemunha fiel, aponta-nos nossos traços débeis. Porém, não o faz com o objetivo de condenar-nos. D’Ele recebemos simpatia e não condenação. É Sua estima que nos infunde ânimo e nos capacita a vencer.
  Quando o Senhor mostra um defeito em nosso caráter, é como se nos dissesse: “Você está precisando de algo que Eu tenho para lhe dar”. Quando aprendemos a ver as reprovações sob esse ângulo, ser-nos-á isso motivo de alegria e não de desânimo.
  A lei da vida em Cristo: –A lei sem Cristo significa morte. A lei em Cristo significa vida. Sua vida é a lei de Deus, porque do coração procedem as saídas da vida, e a lei estava no coração de Cristo. A lei do pecado e da morte opera em nossos membros. Porém, a lei do Espírito de vida em Cristo nos livra dela. Veja que é a vida de Cristo que faz isso. Ela não nos livra da obediência à lei, porque esse era nosso estado anterior e isso era escravidão e não liberdade. Ela nos liberta da transgressão da lei.
  A obra de Cristo: –Está claramente exposta nos versículos 3 e 4. Deus enviou Seu Filho em semelhança da carne do pecado e por causa do pecado, “para que a justiça da lei se cumprisse em nós”. “A lei é santa e o mandamento santo, justo e bom”. Não há na lei defeito algum; o problema está em nós por causa da sua transgressão. A obra de Cristo não consiste em mudar a lei nem mesmo no mínimo particular, mas em transformar-nos em todos os particulares. Consiste em colocar a lei em nossos corações em sua perfeição, em lugar do malogrado e quebrantado arremedo dela.
  A impossibilidade da lei: –A lei é poderosa para condenar. No entanto, é débil e mesmo incapaz no que respeita à maior necessidade do homem: a salvação.  Estava e está “enferma pela carne”. A lei é boa, santa e justa, porém o homem não tem poder para obedecê-la. Ela é como um machado bem afiado e produzido do melhor aço, porém, incapaz de cortar a árvore devido a que os braços que o movimentam carecerem de força necessária. Assim a lei de Deus não pode por si mesma operar. Ela assinala o dever do homem e o obriga a cumpri-lo. Porém, esse não pode fazer isso, motivo pelo qual Cristo veio para realizá-lo no homem. O que a lei não podia fazer, Deus o fez mediante Seu Filho.
  Semelhança da carne do pecado: –É muito comum a idéia de que isso significa que Cristo simulou possuir carne de pecado, que não tomou realmente sobre Si a carne de pecado, mas somente uma aparência dela. Porém, as Escrituras não ensinam tal coisa. “Pelo que convinha que em tudo fosse feito semelhante a Seus irmãos, para Se tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de fazer propiciação pelos pecados do povo”. (Hebreus 2:17). O Filho de Deus foi “nascido de mulher, nascido debaixo da lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei”. (Gálatas 4:4 e 5).
  Assumiu a mesma carne que têm todos os que são nascidos de mulher. Na segunda epístola aos Coríntios, capítulo cinco, verso vinte e um, encontramos um texto paralelo a Romanos 8:3 e 4. Diz ele que Cristo foi enviado em semelhança da carne do pecado “para que a justiça da lei se cumprisse em nós”. “Aquele que não conheceu pecado, Deus O fez pecado por nós, para que n’Ele fôssemos feitos justiça de Deus”.
  “Rodeado de fraquezas”: –Todo ânimo que possamos obter de Cristo se fundamenta em saber que Ele foi feito em todas as coisas semelhante a nós. De outra forma, vacilaríamos em contar-Lhe nossas debilidades e fracassos. O sacerdote que oferece sacrifícios pelos pecados deveria ser alguém que se compadecesse “devidamente dos ignorantes e errados, porquanto também ele mesmo está rodeado de fraquezas”. (Hebreus 5:2).
  Isso se aplica corretamente a Cristo, porque “não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”. (Hebreus 4:15) Essa é a razão pela qual podemos achegar-nos com firme confiança ao trono da graça para alcançarmos misericórdia. Tão perfeitamente identificou-Se Cristo conosco, que até o dia de hoje sente nossos sofrimentos.
  A carne e o Espírito: –“Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito”. Observe que essa afirmação depende da precedente, “para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. As coisas do Espírito são os mandamentos de Deus, porque a lei é espiritual. A carne serve à lei do pecado (como vimos na descrição das obras da carne feita no capítulo anterior e também em Gálatas 5:19-21). Porém, Cristo veio nessa mesma carne para demonstrar o poder do Espírito sobre ela. “Os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós”.
  Ninguém pretenderá que, depois da conversão, a carne do homem seja diferente da que foi anteriormente. Menos ainda pretenderá o próprio homem convertido, porque ele possui evidência contínua de sua perversidade. Contudo, se ele está realmente convertido e o Espírito de Cristo habita nele, não está mais à mercê do poder da carne. O próprio Cristo veio na mesma carne pecaminosa, sem pecar jamais, ao ser dirigido sempre pelo Espírito.
  A inimizade: –“Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser”. A carne nunca se converte. Ela é inimizade contra Deus e tal inimizade consiste na oposição à Sua lei.  Portanto, todo aquele que se opõe à lei de Deus está lutando contra Ele. Cristo, todavia, é nossa paz e veio pregar a paz. “A vós também, que outrora éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo, vos reconciliou no corpo da Sua carne, pela morte, a fim de perante Ele vos apresentar santos, sem defeito e irrepreensíveis”. (Colossenses 1:21 e 22). Aboliu a inimizade em Sua própria carne, de forma que todos os que estão crucificados com Ele têm paz com Deus, isto é, estão sujeitos à Sua lei a qual se acha em seu próprio coração.
  Vida e paz –“A inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz”. Possuir mente espiritual é tê-la controlada pela lei de Deus, “porque sabemos que a lei é espiritual”. “Muita paz têm os que amam a Tua lei”. (Salmo 119:165) “Justificados [tornados justos], pois, pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo”. (Rom. 5:1) A mente carnal é inimizade contra Deus, por conseguinte, ter mente carnal significa morte. No entanto, Cristo “destruiu a morte, e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho: (II Timóteo 1:10). Aboliu a morte destruindo o poder do pecado em todos quantos crêem nEle, porque a morte só tem poder através do pecado. “O aguilhão da morte é o pecado”. (I Cor. 15:56). Portanto, podemos dizer com alegria agora: “Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo”. 
  O capítulo oitavo de Romanos está cheio das coisas gloriosas que Deus prometeu àqueles que O amam. São características nessa divisão epistolar expressões como: Liberdade, Espírito de vida em Cristo, filhos de Deus e herdeiros de Deus juntamente com Cristo.
Filhos de Deus: – Romanos 8:9-17
9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é d’Ele.
10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça.
11 Se habita em vós o Espírito dAquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, Esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do Seu Espírito, que em vós habita.
12 Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne.
13 Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.
14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, {Aba; no original, Pai} Pai.
16 O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
17 Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados.
Forças contrapostas: –A carne e o Espírito estão em contínua oposição. O Espírito não Se submete jamais à carne, e essa nunca se converte. A carne terá a natureza do pecado até que nossos corpos sejam transformados na vinda do Senhor. O Espírito contende com o pecador, porém, esse se deixa vencer pela carne, sendo assim um escravo do pecado.
Tal homem não está sob a direção do Espírito, se bem que Esse não o abandone. A carne é a mesma no homem convertido e no pecador, porém, há uma diferença: no primeiro não há poder porque só o homem convertido se submete ao Espírito, o qual controla a carne. Embora seja essa exatamente a mesma que antes da conversão, é dito dele que não está “na carne”, mas “no Espírito”, posto que pelo Espírito são mortificadas as obras da carne.
Vida na morte – “Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça”. Encontramos aqui os dois homens sobre os quais o apóstolo fala em II Coríntios 4:7-16. “Pois nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal”. Mais adiante ele acrescenta: “Mas ainda que nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia”. Ainda que nosso corpo se enfraqueça e envelheça, o homem interior – Cristo Jesus – está sempre novo. Ele é nossa vida real. “Porque morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”. (Colossenses 3:3).
Essa é a razão pela qual nada temos de temer daqueles que podem apenas destruir o corpo, e depois nada mais têm a fazer. Ainda que nosso corpo seja cremado numa pira ou atado a uma estaca, os homens maus não podem tocar a vida eterna que temos em Cristo, o qual não pode ser destruído. Nenhum homem pode desprovê-Lo de vida.
A certeza da ressurreição: –“E se o Espírito dAquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo  Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita”. Jesus disse que a água que Ele nos deu, que é o Espírito Santo, seria em nós uma fonte que saltava para a vida eterna (João 4:14; 7:37-39). Isto é, a vida espiritual que agora temos na carne, graças ao Espírito, constitui-se a certeza do corpo espiritual que nos será outorgado na ressurreição, quando a vida de Cristo se manifestar em nossos corpos incorruptíveis.
Não somos devedores à carne –“Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne para vivermos segundo a carne.” De fato, somos devedores. Porém, nada devemos à carne. Ela nada fez por nós e nem pode fazê-lo. Tudo o que a carne pode fazer resulta em nada, já que suas obras são pecado e significam morte. Todavia, somos devedores a Cristo Jesus, “que Se deu a Si mesmo por nós”. Conseqüentemente, devemos entregar-Lhe tudo. “Porque se viverdes segundo a carne, haveis de morrer, mas se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”.
Filhos de Deus: –Os que se entregam à operação do Espírito e perseveram nisso, são guiados pelo Espírito e são filhos de Deus. Eles são colocados na mesma relação com o Pai em que Cristo Se acha. “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não O conheceu a Ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é”. Se guiados pelo Espírito de Deus, somos tão filhos dEle como jamais o poderíamos ser.
Filhos, agora: –Alguns defendem a idéia de que ninguém será nascido de Deus até a ressurreição. Porém, é um fato que agora já somos filhos de Deus. Quem sabe alguém diga: “Sim, contudo ainda não nos manifestamos como filhos”. Certo, como tampouco foi Cristo enquanto esteve na Terra. Pouquíssimas pessoas O reconheceram como o Cristo, o Filho do Deus vivo. E as que o fizeram foi por revelação divina. O mundo não nos conhece porque não conhece a Ele. Dizer que os crentes não são agora filhos de Deus devido a que nada em sua aparência exterior o indica, é acusar a Cristo.  Porém, Jesus era tão certamente o Filho de Deus no presépio de Belém, como o é agora, assentado à destra de Deus.
O testemunho do Espírito: –“O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”. Como faz isso? Encontramos a resposta em Hebreus 10:14-17. Diz o apóstolo que por uma só oferta tornou perfeitos os que são santificados, e depois acrescenta que o Espírito Santo testifica desse fato nestes termos: “Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as Minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei...” E acrescenta: “Também de nenhum modo Me lembrarei dos seus pecados e das suas iniqüidades, para sempre”. O testemunho do Espírito é a Palavra. Sabemos que somos filhos de Deus porque o Espírito nos dá a certeza desse fato na Bíblia. O testemunho do Espírito não é nenhum arrebatamento de sentidos, mas uma declaração concreta. Não somos filhos de Deus porque sentimos assim, mas porque o Senhor o disse. Aquele que crê tem a palavra morando em si mesmo. “Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho”. (I João 5:10).
Sem temor: –“Porque não recebestes o espírito de escravidão , para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai?” “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação”. (II Timóteo 1:7) “E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo Ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor”. (I João 4:16-18).
Cristo entregou-Se a Si mesmo para livrar os que, pelo temor da morte, estavam toda a vida sujeitos à servidão (Hebreus 2:15). Aquele que conhece e ama ao Senhor não pode ter medo; e quem não tem medo do Senhor não tem por que temer qualquer pessoa ou coisa. Uma das maiores bênçãos do evangelho é a libertação do temor, seja ele produzido por causa real ou imaginária. “ Busquei o Senhor, e Ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores”. (Salmo 34:4).
Herdeiros de Deus: –O texto não diz apenas que somos herdeiros do que Deus tem, mas que o somos do próprio Deus. Que herança maravilhosa! Tendo a Ele, temos tudo em realidade. A bênção consiste em tê-Lo. “O Senhor é a porção da minha herança e o meu cálice”. (Salmo 16:5). Isso é um fato. Algo digno de profunda meditação, muito mais do que explicação.
Co-herdeiros com Cristo: –Se somos Filhos de Deus, pisamos o mesmo terreno que Jesus Cristo. Ele próprio disse que o Pai nos ama como ama a Ele (João 17:23). Fica claro pelo fato de que Sua vida nos foi outorgada.  Assim, o Pai não tem nada por Seu Filho unigênito que não tenha por nós. Não apenas isso, mas que ser co-herdeiros com Cristo significa que Ele não possuirá Sua herança antes que nós. Ele está assentado à destra do Pai, porém, Deus, em Seu grande amor por nós, “...  nos deu vida juntamente com Cristo... e, juntamente com Ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus”. (Efésios 2:4-6). Cristo reparte conosco a glória que Ele tem (João 17:22). Significa muito ser co-herdeiros com Cristo! Não causa admiração que o apóstolo exclame: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus...”
Sofrer com Ele: –“Se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados”. “Pois, naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados”. (Hebreus 2:18). Sofrer com Cristo significa, por conseguinte, resistir à tentação juntamente com Ele. O sofrimento deriva da luta contra o pecado. O sofrimento auto-infligido carece de valor. Não há honra alguma em satisfazer a carne (Col 2:23). Cristo não Se torturou a fim de obter a aprovação do Pai. Porém, quando sofremos com Cristo, somos perfeitos n’Ele. O poder por meio do qual Ele venceu as tentações do inimigo, é o mesmo que nos dará a vitória. Sua vida em nós obtém a vitória.
Nos versículos precedentes vimos como fomos adotados na família de Deus, e como somos feitos co-herdeiros com Cristo Jesus. O Espírito Santo estabelece o vínculo da relação. Ele é “o Espírito de adoção”, o Espírito procedente do Pai como representante do Filho, Aquele que permite nossa aceitação como irmãos de Jesus Cristo. Os que são guiados pelo Espírito devem ser como Cristo no mundo, e lhes é garantida, dessa maneira, sorte na herança com Cristo. “porque o mesmo Espírito dá testemunho com nosso espírito de que somos filhos de Deus”.
Glorificados juntamente: – Romanos 8:17-25.
17 Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados.
18 Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.
19 A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus.
20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou,
21 na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
22 Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.
23 E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
24 Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?
25          Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos.
Por que o sofrimento?: –A vida de Cristo na Terra foi uma existência de sofrimento. Ele foi “varão de dores, experimentado nos trabalhos”. “Sendo tentado, padeceu”, porém Seus sofrimentos não foram somente psicológicos. Conheceu também a dor física. “Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças”. (Mateus 8:17). Passou fome no deserto e Suas obras de amor não foram realizadas sem considerável cansaço e dor. Os sofrimentos que padeceu nas mãos dos rudes soldados, na zombaria e crucifixão, foram a continuação, de outra forma, do que havia sofrido durante toda a Sua existência terrena.
Glória muito além do sofrimento: Por meio de todos os profetas o Espírito Santo dava testemunho dos “sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam”. (I Pedro 1:11). Quando Jesus, após Sua ressurreição, falava com Seus discípulos no caminho de Emaús, disse-lhes: “Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na Sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras”. (Lucas 24:26 e 27).  Sabemos que a primeira parte dessas profecias se cumpriu, motivo pelo qual podemos estar seguros do cumprimento da parte restante. A glória vindoura é tão certa e real como foram os sofrimentos de Cristo.
Sofrendo juntamente com Ele: –Nosso sofrimento deve ser “juntamente com Ele”.  Não se trata de sofrermos sozinhos. Agora, não poderíamos sofrer aquilo que aconteceu há dois mil anos, antes que havermos nascido, pelo que se deduz que Cristo sofre ainda hoje. De outra forma, não poderíamos sofrer com Ele. Leia o que nos é certificado em relação ao antigo Israel: “Em toda a angústia deles, foi Ele angustiado”. (Isa. 63:9) Assim, em Mateus 25:35-40, vemos que Cristo sofre ou Se sente aliviado no sofrimento quando Seus discípulos sofrem ou sentem alívio. Ele é a Cabeça do corpo.
Se um membro da igreja sofre, todos os demais se condoem dele (I Coríntios 12:26), quanto mais certo deve ser isso com relação à Cabeça! Lemos que Cristo, mesmo agora como Sumo Sacerdote, “é capaz de condoer-Se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele mesmo está rodeado de fraquezas”. (Hebreus 5:2). Vemos que Cristo nunca Se despojou da natureza humana que tomou sobre Si, mas continua identificado com os homens sofredores e pecadores. É uma gloriosa verdade, digna de reconhecimento e proclamação, a de que “Jesus veio em carne”. (I João 4:2).
Glorificados juntamente com Ele: –“Se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados”. Cristo nada tem que não seja também nosso. Sua oração foi: “Pai, a Minha vontade é que onde Eu estou, estejam também comigo os que Me deste...” (João 17:24) Também disse: “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se Comigo no Meu trono, assim como também Eu venci e Me sentei com Meu Pai no Seu trono...” (Apocalipse 3:21)  Todo o que é Seu é nosso, porquanto somos co-herdeiros com Cristo.
  Há glória, agora: –À primeira vista poderia parecer exagerada essa afirmação. A idéia predominante é que Cristo foi glorificado muito antes de sermos Seus co-herdeiros. Bastará um texto para tornar clara a questão: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada...” (I Pedro 5:1) Pedro declarou-se participante da glória. Assim tinha de ser, pois creu ele nas palavras de Cristo em Sua oração pelos discípulos: “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado”. (João 17:22)  Se Cristo tem hoje a glória e a reparte com Seus discípulos. Temos ainda as palavras do apóstolo Pedro falando acerca de Cristo: “... A quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória...” (I Pedro 1:8).
  Graça e glória inesperadas: –O apóstolo João nos diz que, embora sejamos filhos de Deus hoje, o mundo não nos conhece, visto que também não conheceu Cristo. Nada havia na aparência física de Cristo que indicasse ser Ele o Filho de Deus. A carne e o sangue não O revelaram a ninguém. Sua aparência era inteiramente a de um homem comum. Porém, tinha glória em todos os momentos.
  Lemos que quando Ele mudou a água em vinho, “manifestou Sua glória”. (João 2:11). Sua glória Se manifestava em forma de graça. “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do Unigênito do Pai”. (João 1:14). A graça com que Deus fortalece Seu povo é “segundo a riqueza da Sua glória...” (Efésios 3:16) A graça é glória, porém, glória velada, para que os olhos humanos não sejam cegados por ela.
  Glória que há de ser revelada: –“Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada”. Temos de possuir essa glória agora. Porém, ela será revelada somente na vinda de Cristo. Então se revelará Sua glória (I Pedro 4:13); nessa ocasião nossa provação será transformada em louvor, glória e honra.
  Exceção feita à manifestação aos três escolhidos no monte da transfiguração, a glória de Cristo ainda não se revelou. Naquele ensejo, foi permitido que brilhasse a glória que Cristo já possuía. Apareceu então com o mesmo aspecto que ostentará em Sua vinda. Porém, para o homem em geral, não há agora maior evidência de ser Jesus o Filho de Deus, do que havia quando estava perante o tribunal de Pilatos.
  Todavia, aqueles que O vêem pela fé e que não se envergonham de ser participantes dos sofrimentos de Cristo, compartilham igualmente Sua glória oculta. E quando Ele aparecer em Sua glória, “então os justos resplandecerão como o Sol, no reino de Seu Pai” (Mateus 13:43). Essa será “a manifestação dos filhos de Deus”.  Naquela ocasião Cristo Se revelará pela primeira vez diante do mundo como o Filho de Deus, e os Seus se manifestarão com Ele.
  A esperança da criação: –O termo “criatura” [visto em algumas traduções], constante nos versos 19 a 21, significa criação. No verso 22, a criação é descrita como gemente e esperando ser libertada daquele a quem está sujeita. Quando o homem pecou, a Terra foi amaldiçoada por sua causa (Gênesis 3:17). Ela não havia cometido pecado algum, porém, teve de participar da queda do homem, a quem havia sido dada. Uma Terra perfeita não podia ser a morada do homem pecador. Ficou, entretanto, sujeita à vaidade, mas em esperança. Deus havia criado a Terra perfeita. “Deus que formou a Terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos”. (Isaías 45:18) E Ele faz todas as coisas segundo o propósito de Sua vontade (Efésios 1:11) Assim sendo, é certo que a Terra há de ser glorificada tal como o foi no princípio. “A própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus”.
  Adoção e redenção: –Tanto nós como a Terra estamos “aguardando a nossa redenção, a saber, a redenção do nosso corpo”. A Terra também espera, já que não pode libertar-se da maldição até que sejamos estabelecidos como filhos de Deus e, portanto, Seus legítimos herdeiros. O Espírito Santo é a garantia ou fiança desse direito hereditário.
  O Espírito nos sela como herdeiros “para o dia da redenção”. (Efésios 4:30).
  Ele é para nós a Testemunha de que somos filhos de Deus, embora o mundo não aceite Seu testemunho. O mundo não conhece os filhos de Deus. Porém, quando se revelar a glória que Ele nos tem dado, e nossos corpos forem redimidos da destruição e brilharem à semelhança do corpo glorioso de Cristo, não haverá qualquer dúvida na mente de ninguém. Até o próprio Satanás ver-se-á obrigado a reconhecer que somos filhos de Deus e, por conseguinte, herdeiros legítimos da Terra glorificada.
  Esperança e paciência: –A esperança, em sentido bíblico, significa mais do que mero desejo de alguma coisa. Implica em certeza, porque o terreno sobre o qual se baseia a esperança do cristão é a promessa de Deus, firmada com juramento. A própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Nada há, diante de nossos olhos, que confirme sermos filhos de Deus. Não podemos ver nossa própria glória e é por isso que não somos encarregados de a procurarmos aqui. Tampouco podemos ver a Cristo, porém, sabemos que Ele é o Filho de Deus. Essa é a garantia de que nós somos também filhos de Deus. Houvesse alguma incerteza e não poderíamos esperar com paciência. Teríamos de esperar com inquietude e preocupação. Porém, embora os olhos físicos sejam incapazes de detectar algum indício de sermos propriedade de Deus, a fé e a esperança no-lo assegura; assim, podemos esperar com paciência aquilo que não vemos.
Algo que vale a pena saber: –Romanos 8:26-28.
26 Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis.
27 E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos.
28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.

  Orar “com o Espírito”: –O coração é enganoso, mais do que todas as coisas, e ninguém pode conhecê-lo senão Deus (Jeremias 17:9 e 10). Além disso, não sabemos as coisas que Deus tem para nos dar. Mesmo que as soubéssemos, nossos lábios não as poderiam descrever, posto que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente”. (I Coríntios 2:9-12).
  Deus anseia dar-nos “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos”. (Efésios 3:20). De fato, é impossível expressar mediante palavras o alcance dessas coisas. A frase seguinte, não obstante, especifica que é “pelo poder que em nós opera”, e o verso dezesseis esclarece que esse poder é o Espírito. Encontramo-lo também no capítulo oitavo de Romanos e no segundo de I Coríntios.
  “Porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus”. De maneira que o Espírito sabe exatamente o que o Senhor tem para nós. Os pensamentos mais profundos estão muito acima do que a linguagem pode expressar, assim como o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis, impossíveis de serem descritos. Porém, embora não se trate propriamente de palavras, “Aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que Ele intercede pelos santos”.  O Espírito pede exatamente as coisas que o Senhor tem para conceder. Ele intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus. E sabemos que nos é concedido tudo o que pedimos segundo a vontade de Deus (I João 5:14 e 15).
  Observe a forma como esse texto referente à oração se harmoniza com as passagens precedentes de Romanos 8. Deus nos concedeu Seu Espírito para que habite em nós, a fim de guiar-nos e dirigir nossa vida. O fato de termos o Espírito Santo demonstra que somos filhos de Deus. Sendo assim, podemos nos achegar a Ele rogando-Lhe que nos dê o que necessitamos, com a mesma confiança de uma criança que se dirige a seu pai. Não obstante essa certeza, nossos pensamentos são tão inferiores aos de Deus, como está distanciada a Terra em relação ao Céu (Isa. 55:8 e 9).
  Se nossos pensamentos são deficientes, nossa linguagem o será ainda mais. Sequer encontramos a maneira de descrever com propriedade nossos pequenos atos cotidianos. Porém, se somos filhos de Deus, temos em nós Seu próprio Representante, o qual nos auxilia nas fraquezas e é capaz de tomar as coisas divinas e no-las dar. Que maravilhosa confiança isso nos deveria dar ao orarmos a Deus, particularmente àqueles que menos facilidade têm para se expressar em palavras. Pouco importa se o vocabulário empregado por você for limitado, se você gaguejar, o mesmo se for mudo. Se orar a Deus no Espírito, você está seguro de receber tudo quanto necessita, e mesmo mais do que sabe pedir ou pensar.
  Tendo presentes esses fatos, quanto poder adquire a exortação do apóstolo: “... Orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”. (Efésios 6:18)
  Todas as coisas contribuem para o bem: –“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...”
 Se não o soubéssemos, não poderíamos ter a confiança na oração que é nosso privilégio possuir, em vista do quanto foi expresso nos versículos precedentes. Todo aquele que conhecer o Senhor O amará, posto que Deus é amor. O Espírito no-Lo revela tal como Ele é. Todo o que sabe que “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna”, achará impossível deixar de amá-Lo; e nessa circunstância, todas as coisas contribuirão para o seu bem.

  Veja que o verso não diz que sabemos que àqueles a quem Deus ama, todas as coisas lhe irão bem, mas que já lhe vão atualmente. Venha o que vier, é bom para os que amam ao Senhor e confiam n’Ele. Muitos perdem a bênção que lhes daria essa segurança, ao ler o versículo como se ele se aplicasse ao futuro. Tentam aceitar com resignação as provas que lhes advêm, pensando que com o tempo, algum dia, elas lhes acarretarão algum benefício. Ao fazer assim, contudo, não estão recebendo o bem que Deus lhes deseja comunicar hoje.
  Por fim, observe que o texto não diz que sabemos qual é a maneira como as coisas contribuem para o bem daqueles a quem Deus ama. Alguns exclamam entre piedosos suspiros: “Suponho que isso será para o bem, embora não tenha idéia como”. Certamente que não é assim, porque não há razão para se preocupar com isso. Deus é quem faz com que as coisas cooperem para o bem, visto que Ele só tem o poder.
  Por conseguinte, não precisamos saber de que maneira a coisa ocorre. Basta-nos conhecer o fato. Deus pode transtornar todos os planos do diabo e fazer com que a ira do homem redunde em louvor para Ele. Nossa parte é crer. Onde fica a confiança no Senhor se precisarmos saber como tudo transcorrerá? Os que precisam ver a forma como Deus opera, demonstram não poderem confiar n’Ele sem que a vista entre em ação, desonrando-O assim perante o mundo.
  Chamados por Deus: –Deus chamou a todos para virem a Ele. “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”. (Apocalipse 22:17). Deus não faz acepção de pessoas; Ele deseja que todos sejam salvos e, portanto, chama-os todos.
  Não apenas nos convida, mas nos atrai. Ninguém poderia vir a Ele sem essa atração. Cristo foi levantado da terra a fim de atrair todos a Deus. Ele provou a morte por todo homem (Hebreus 2:9) e, mediante Jesus, todo homem tem acesso a Deus. Desfez em Seu próprio corpo a inimizade – o muro de separação entre o homem e Deus – de maneira que nada pode afastar o Senhor do homem, se esse não erigir uma barreira.  
  O Senhor nos atrai a Si sem fazer uso de força. Chama, não ameaça. A nós corresponde fazer “firme a nossa vocação e eleição”, respondendo à influência que Deus estende ao nosso redor. Ele nos diz: “Segue-Me!” Devemos tornar efetivo o chamamento atendendo a Seu convite.
  O propósito do chamado: –Deus nos chama “à graça de Cristo”. (Gálatas 1:6). “Assim como nos escolheu n’Ele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor”. (Efésios 1:4)  Mais ainda: lemos que Ele nos “chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”. (II Timóteo 1:9). No texto de Romanos, vimos que os que amam a Deus “foram chamados segundo o Seu propósito”. Esse intento é que sejamos santos e sem mácula perante Ele, em amor. Se nos submetermos a Seu desígnio, Ele o levará a bom termo.
  Deus criou o homem para ser Seu companheiro. Porém, onde há restrição não pode haver verdadeiro companheirismo. Por isso, com o propósito de fazer associação com ele em termos de intimidade, deu-lhe tanta liberdade de arbítrio ou eleição quanto a Sua própria. Deus não pode fazer nada contra Seu plano; portanto, de acordo com Seu propósito, não quer nem pode forçar o arbítrio do homem. Todo homem é tão absolutamente livre para escolher como o próprio Deus. Quando o homem escolhe atender ao chamamento divino, o propósito de Sua graça se cumpre nele mediante o poder pelo qual todas as coisas vêm a concorrer para o seu bem.
  Temos considerado nossa relação com Deus mediante o Espírito, e o auxílio que Ele nos proporciona em oração, tanto como a certeza de que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito”. As bases dessa certeza estão solidamente estabelecidas nos versículos seguintes.
O dom inefável: – Romanos 8: 29-32.
9 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
32 Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?
Conhecer antecipadamente não significa determinar: –Obras intermináveis sobre os termos “predeterminar” ou “predestinar” têm sido escritas, porém, bastam poucas palavras para esclarecer os fatos. Com respeito a isso, bem como aos outros atributos divinos, é-nos suficiente saber que o fato existe. Não nos é permitido penetrar em sua explicação.
Está claramente exposto nas Escrituras o fato de Deus conhecer todas as coisas. Não apenas sabe das coisas do passado, mas igualmente o futuro Lhe é transparente. O Senhor “faz estas coisas conhecidas desde séculos”. (Atos 15:18). “Senhor, Tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos”. (Salmo 139:1 e 2). Desse modo, Deus conhece inclusive tudo o que as pessoas que ainda não nasceram farão e dirão.
Isso não torna Deus responsável pelo mal que elas praticarem. Alguns têm pensado que era necessário defender o Senhor e livrá-Lo da acusação segundo a qual, visto ser Ele onisciente, é responsável pelo mal quando não faz nada para evitá-lo. Uma estranha forma de defendê-Lo consiste em pretender que Ele poderia ter conhecimento se assim o desejasse, porém, escolhe não saber muitas coisas. Uma “defesa” dessa espécie é absurda e ímpia. Tem por certo que Deus é culpado do mal, porque o conhece com antecedência e nada faz para evitá-lo. Supõe ainda que, a fim de colocar-Se numa posição em que não pode tomar medidas para evitar esse mal, opta deliberadamente por tapar os próprios olhos. Tal argumentação torna a Deus culpado de toda maldade. Não apenas isso, mas ainda O limita. Rebaixa-O à altura do homem.
Deus conhece todas as coisas, não mediante estudo e investigação, assim como o homem faz, mas porque Ele é Deus. Ele habita na eternidade (Isaías 57:15). Não podemos compreender a maneira por que isso é assim, mais do que podemos entender a eternidade. Temos de aceitar o fato e estar não apenas conformados com isso, mas felizes porque Deus é maior do que nós. Todo o tempo – passado, presente e futuro – é igual para Deus. Para Ele, sempre é “agora”. Por que Deus já conhecia de antemão o mal que o homem iria praticar, mesmo antes da fundação do mundo, isso não O torna responsável. Assim como um homem que espia, através de uma luneta, o que o outro está fazendo a cinco quilômetros de distância, não se transforma em responsável pelos atos do observado. Desde o princípio Deus deu aos homens advertências contra o pecado, e providenciou todos os meios para que eles pudessem evitá-lo. Porém, Ele não pode interferir em seu direito e liberdade de escolha, sem privá-lo de sua humanidade e convertê-lo em um autômato.
A liberdade de praticar o bem implica na liberdade de fazer o mal. Se o homem houvesse sido feito de forma a não poder escolher o mal, não teria, em absoluto, liberdade, nem sequer para fazer o bem. Seria menos que um animal. Não há virtude alguma na obediência forçada, nem haveria mérito em fazer o que é correto se fosse impossível agir de outra maneira. Ademais, não poderia existir nenhum prazer ou satisfação na amizade que juram duas pessoas, no caso da associação de uma delas com outra se devesse à impossibilidade de evitá-la. O prazer do Senhor no companheirismo com Seu povo jaz na livre escolha de Sua Pessoa por parte do homem, sobre todos os demais. E a alegria do Senhor é o gozo de Seu povo.
Os mesmos que injuriam a Deus por Ele não impedir os males que vê com antecedência (visto ser Ele onipotente), seriam os primeiros a acusá-Lo de crueldade caso o Senhor interferisse arbitrariamente em sua liberdade, e lhes determinasse fazer aquilo que é contrário à sua escolha. Tal curso de ação converteria todos em seres infelizes e descontentes. A atitude mais sábia que podemos tomar é não tentar penetrar os caminhos do Altíssimo, e aceitar o fato de que tudo quanto Ele faz é correto. “O caminho de Deus é perfeito”. (Salmo 18:30).
O que há acerca da predestinação?: –O texto diz que “aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho...” Os pensamentos de Deus em relação ao homem são pensamentos de paz e não de mal (Jeremias 29:11). Ele nos concede a paz (Isaías 26:12). Nada lemos sobre terem sido alguns homens predestinados à destruição. O único propósito ao qual estão destinados é serem conformes à imagem de Seu Filho.
No entanto, é somente em Cristo que somos tornados conforme a Sua imagem. É através d’Ele que chegamos “à medida da estatura completa em Cristo”. (Efésios 4:13). Portanto, o homem está predestinado somente em Cristo. Todo esse assunto nos é apresentado nas seguintes passagens escriturísticas: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado”. (Efésios 1:3-6).
Tudo é em Cristo. N’Ele recebemos todas as bênçãos espirituais; nEle somos eleitos em santidade; nEle somos predestinados para a adoção de filhos; somos aceitos n’Ele, e n’Ele temos a redenção por Seu sangue. “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo”. (I Tessalonicenses 5:9).
Esse é o propósito e a determinação de Deus com respeito ao homem. Mais ainda: “Aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho”. A quem conheceu? Não pode haver limite; Deus deve ter conhecido a todos. Se houvesse exceções, então Ele não seria infinito em conhecimento. Se é que conhece com antecedência uma pessoa, conhece-a totalmente. Não há um ser humano que tenha nascido neste mundo que Deus não conheceu. “E não há criatura que não seja manifesta na Sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas”. (Hebreus 4:13).
Assim, visto que Deus conheceu cada pessoa, mesmo antes da fundação do mundo, e posto que a todos conheceu, também os predestinou para serem conformes a imagem de Seu Filho, deduz-se que Ele disponibilizou a salvação a toda alma que habitou, habita e habitará este mundo. Seu amor envolve a todos, sem exceção.
“Então”, dirá alguém, “todos serão salvos, não importando o que façam”. Não é assim! Lembremo-nos de que o propósito de Deus é realizado em Cristo. Somente n’Ele somos predestinados. Somos livres para escolher se O aceitamos ou não. Foi dada ao homem, para sempre, a liberdade de escolha, e até o próprio Deus Se abstém de interferir nela. O Senhor respeita como sagrada a escolha de cada pessoa. Não é plano divino cumprir Seu propósito contra a vontade do homem. Ele deseja dar ao homem o que esse preferir.
Deus põe diante do homem a vida e a morte, o bem e o mal, e o convida a escolher o que pretende. Nosso Pai sabe o que é melhor, e o que escolheu e preparou para o homem. Foi Ele muito longe para garantir que não haja mais a possibilidade de queda; para assegurar que o homem receba o bem, se assim o preferir. Porém, as magníficas delicadeza e amabilidade do grande Deus ficam aqui patenteadas, visto que Ele cede ao desejo do homem, respeitando-lhe a escolha. Se esse, por sua vez, pende para o desejo divino e aceita o que o Senhor lhe dispôs, terá lugar entre ambos um maravilhoso e sublime companheirismo de amor. “Com amor eterno Eu te amei; por isso, com benignidade te atraí”. (Jeremias 31:3).
Chamados, justificados e glorificados: –“E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. Trata-se de uma ação completa. Não temos por que tropeçar se nos lembrarmos de que tudo é em Cristo. Nele já fomos benditos com toda bênção espiritual. Todos os homens são chamados para o que Deus lhes preparou. Porém, não foram convocados segundo o propósito divino, a menos que tenham feito firme sua vocação e eleição, submetendo-se à Sua vontade. Eles estão predestinados a salvar-se. Nada no Universo pode impedir a salvação da alma que aceita e confia no Senhor Jesus Cristo. E são justificados.
  A morte de Cristo nos reconcilia com Deus. “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”. (I João 2:2). Sua morte garante perdão e vida a todos. Nada pode impedir sua salvação, exceto sua própria escolha em contrário. O homem deve escapar da mão de Deus para se perder.
  Desse modo, os que aceitam o sacrifício são justificados. “Mas Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela Sua vida”.
  “E aos que justificou, a esses também glorificou”. Por acaso não ouvimos na oração que Cristo fez em prol de Seus discípulos de então, e por todos os que creriam pela palavra deles, por conseguinte, em nosso favor: “Eu lhes tenho transmitido a glória que Me tens dado...”? Pedro disse que era participante da glória que haveria de ser revelada. Deus nada deixou por fazer. Se O aceitarmos, tudo o que Cristo tem é nosso. Tudo quanto falta é essa revelação. “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus”. Quando o Senhor pergunta em relação ao Seu povo: “Que mais se podia fazer ainda à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito?”, atrever-se-á alguém a dizer que faltou algo?
  Todas as coisas são nossas: –Porém, acho que nos antecipamos ao apóstolo. Prestemos muita atenção: “Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura, não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?” Isto é, como não as daria? Ao dar Cristo por e a nós, Deus não podia agir de outra maneira que não fosse dar-nos todas as coisas, “pois, n’Ele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. N   Ele, tudo subsiste”. (Colossenses 1:16 e 17).
  “Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus”. (I Coríntios 3:21-23) Isso responde, portanto, à pergunta: “Quem será contra nós?” Tudo concorre em nosso favor. “Porque todas as coisas existem por amor de vós”. (II Coríntios 4:15)
  Um general, certa vez, enviou um telegrama à sua central de operações, dizendo: “Encontramos o inimigo. Já é nosso”. Isso também é o que todo filho de Deus tem o privilégio de dizer. “Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (I Coríntios 15:57).
  “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. (I João 5:4) É assim que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus. Não importa se elas forem escuras e ameaçadoras; se estivermos em Cristo, são para nós e não contra nós.
  Chegamos agora ao final do oitavo capítulo de Romanos. É ele o alto do Pisga da epístola, pois desde sua cumeada o olho da fé contempla a terra prometida. Nesse ponto, quem sabe, seja proveitoso proceder a um breve resumo do terreno que percorremos. O que vem a seguir é um esquema sinóptico do quanto estudado até aqui:
·No primeiro capítulo encontramos o tema da epístola expresso em breves palavras, o evangelho de Cristo, o poder de Deus para a salvação. Salvação tanto para judeus como para gentios, revelado a todos mediante as obras de Deus. Descreve-se, então, a condição daquele que se recusa conhecer a Deus.
·O segundo capítulo nos ensina que no fundo, todos são iguais; e que serão julgados pela única e mesma norma; que o conhecimento e a elevada profissão não recomendam ninguém a Deus. A obediência à lei de Jeová é o único sinal do verdadeiro israelita e herdeiro de Deus.
·O terceiro capítulo enfatiza os tópicos anteriores, especialmente o fato de que não há ninguém obediente. “Visto que ninguém será justificado diante d’Ele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. Porém, há esperança para todos, visto que a justiça da lei é imputada sobre todo aquele que crê em Cristo, de maneira que o homem se torna um cumpridor da lei pela fé. Um só Deus justifica a ambos, judeus e gentios, por meio da fé. A fé não é um sucedâneo da obediência à lei, mas o que assegura seu cumprimento.
·No capítulo quarto, encontramos Abraão como ilustração da justiça obtida pela fé. Vemos também que a fé na morte e ressurreição de Cristo é a única maneira de herdar a promessa feita aos pais, promessa que envolve nada menos que a possessão da Terra renovada. A bênção de Abraão é a mesma que vem pela cruz de Cristo. Porquanto a promessa feita a Israel não foi mais que a repetição daquela feita a Abraão. Vemos que Israel é constituído por aqueles que, oriundos de todas as nações, obtêm a vitória sobre o pecado mediante a cruz de Cristo.
·Quinto capítulo O amor e a graça abundantes, a salvação mediante a vida de Cristo, são as linhas mestras do capítulo quinto.
·O capítulo sexto dirige a mente do leitor à nova criatura como pensamento chave. Considera a morte, a sepultura, a ressurreição e a vida com Cristo.
·No capítulo sétimo, vemos quão estreita é a relação entre Cristo e os crentes. Estão desposados com Ele, de modo que são “membros de Seu corpo, de Sua carne e ossos”. São descritas em vívido estilo as lutas mediante as quais é conseguida a libertação do primeiro marido – o corpo do pecado.
·O oitavo capítulo, o ápice da carta, descreve as bênçãos do filho de Deus nascido para a liberdade. A esperança da imortalidade constitui a possessão, mediante o Espírito, da vida e da glória presentes em Cristo. Os que são de Cristo estão predestinados à glória eterna. Chegamos assim a:
Exclamação triunfal. A gloriosa convicção: – Romanos 8:31-39.
31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
32 Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura, não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?
33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.
34 Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós.
35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?
36 Como está escrito: Por amor de Ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
37 Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio dAquele que nos amou.
38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes,
39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Tudo a nosso favor: –O apóstolo acaba de perguntar: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” A única resposta é: Ninguém! Deus é maior e ninguém pode arrebatar coisa alguma de Suas mãos. Se Aquele que tem poder para fazer com que todas as coisas contribuam para o bem estiver conosco, então tudo tem de estar a nosso favor.
No entanto, com freqüência se levanta na mente de muitos a pergunta: “Será que Deus está realmente conosco? Alguns O acusam injustamente de estar contra eles. Algumas vezes até os professos cristãos pensam que Deus age contra eles. Ao advir a prova, imaginam que Deus está lutando contra eles. Porém, um só fato deveria bastar para esclarecer definitivamente o assunto: Foi Deus quem Se deu a Si mesmo por nós e quem nos justifica.
Quem acusará os escolhidos de Deus. Deus mesmo, que os justifica, fará isso? Impossível! Pois bem, Deus é o único em todo o Universo que tem o direito de acusar alguém de alguma coisa, e posto que Ele nos justifica em lugar de condenar, ficamos livres. Assim é se assim crermos. A quem Deus justifica? “Ao ímpio”. Isso não deixa nenhuma dúvida de que é a nós que Ele justifica.
E que diremos de Cristo? Condenar-nos-á Ele? Como poderia fazê-lo sendo que Se deu a Si mesmo por nós? Porém, deu-Se de acordo com a vontade de Deus (Gálatas 1:4) “Porquanto Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele”. (João 3:17). Ele ressuscitou para nossa justificação e está a nosso favor, à direita de Deus. Interpõe-Se entre nós e a morte que merecemos. Portanto, não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.
Alguém dirá: “Satanás vem a mim e me faz sentir que sou tão pecador que Deus está indignado comigo, dizendo que meu caso é desesperador”. Pois bem, e por que você o ouve? Você conhece o seu caráter: Ele é “mentiroso e pai da mentira”. O que você tem a ver com ele? Deixe que o acuse de tudo quanto quiser; ele não é o juiz. Deus é o Juiz e Ele justifica. O único objetivo de Satanás é enganar o homem e seduzi-lo a pecar, fazendo-o crer que isso é correto. Pode você ter bastante certeza de que ele nunca dirá a alguém que não foi perdoado: “você é um pecador”. Deus, mediante Seu Espírito, é quem faz isso, a fim de que o homem culpado possa aceitar o perdão que Ele gratuitamente oferece.
O tema pode ser colocado desta maneira: Quando Deus diz ao homem que ele é um pecador, fá-lo com o propósito de levá-lo a receber Seu perdão. Se Deus afirma que um homem é pecador, esse o é sem dúvida, e deveria reconhecê-lo, porém, “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Isso é verdadeiro, não importa quem nos diz que somos pecadores. Suponha que Satanás nos dissesse que somos pecadores. Não precisamos parlamentar com ele, nem nos determos para discutir a questão. Esqueçamo-nos da acusação e cobremos ânimo com a certeza de que “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”.   
Deus não nos condena, nem mesmo ao nos convencer do pecado. E não incumbiu a ninguém mais de condenar-nos. Se outros nos condenam, sua acusação equivale a nada. Não há nenhuma condenação para aqueles que confiam no Senhor. Até as próprias acusações de Satanás podem nos ser motivo de ânimo, visto podermos estar certos de que ele jamais dirá a um homem que ele é pecador, enquanto sob seu domínio (Nota: Posto que isso daria ao pecador a oportunidade de se arrepender, é a última coisa que Satanás deseja). Se Deus é por nós, tudo está a nosso favor.
Amor eterno: –“De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno Eu te amei; por isso, com benignidade te atraí”. (Jeremias 31:3). Sendo assim, “quem nos separará do amor de Cristo?” Seu amor é eterno. Não conhece variação e é dirigido a nós, portanto, nada nos pode apartar d’Ele. Nossa escolha deliberada pode repudiá-lo, porém, até nesse caso, Ele continua amando-nos, mesmo que O hajamos renegado. “Se somos infiéis, Ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-Se a Si mesmo”. (II Timóteo 2:13).
Poderão a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou espada separar-nos do amor de Cristo? Impossível! Nessas mesmas coisas Ele manifestou Seu amor por nós. A própria morte não pode separar-nos de Seu amor, porquanto Ele nos amou de tal maneira que Se deu para morrer por nós. A morte é a garantia de Seu amor. O pecado que nos separa de Deus não nos distancia de Seu amor, já que “Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”. “Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus”. (II Coríntios 5:21).
“Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio d’Aquele que nos amou”. Assim somente é que pode ser, visto que todas as coisas “contribuem para o bem”. Posto que Jesus sofreu fome, angústia, perigos e até a morte a fim de poder livrar-nos, todas essas coisas vão a nosso favor. Foi mediante a morte que Ele nos obteve a vitória, por conseguinte, até na morte conquistamos uma gloriosa vitória. Aqueles a quem Satanás persegue até a morte alcançam o maior triunfo imaginável sobre ela. O que parece ser um triunfo do maligno, significa sua mais esmagadora derrota. 
  Considere a maravilhosa provisão que Deus fez para nossa salvação. É simples achar que se Satanás não nos perturbasse em coisa alguma, nossa salvação seria certa. Se nosso inimigo nos deixasse totalmente em paz, acabaria o conflito. Poderíamos sentir-nos seguros. Porém, ele não nos deixa de modo algum, mas anda ao nosso redor qual leão bramidor, buscando a quem devorar. Pois bem; Deus providenciou para que mesmo esses ataques destruidores nos sejam de benefício. A morte é a suma de todos os piores males que Satanás pode infligir-nos, e mesmo nela somos mais do que vencedores por Aquele que nos amou. “Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (I Coríntios 15:57).
  Confiança inquebrantável: –“Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vossa força...” (Isaías 30:15) “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos”. (Hebreus 3:14) A fé é nossa vitória. Somente Deus é nossa força e salvação. Por isso, o poder está em pôr n’Ele a nossa confiança.  “Confiai no Senhor perpetuamente, porque o Senhor Deus é uma rocha eterna”. (Isaías 26:4).
  Esse foi o destino do apóstolo Paulo: “Em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes”. Disse ele: “Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez”. (II Coríntios 11:24-27) Não resta dúvida de que estamos diante de alguém que possui autoridade provinda de experiência.
Ouçamos, pois, o que ele nos diz a respeito: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
  Sem medo do futuro: –Tão somente àqueles que rejeitam voluntariamente o amor de Deus, há “uma horrível expectativa de juízo”. Cristo nos diz: “... Não vos inquieteis com o dia de amanhã”. Não é de Sua vontade que nossas mentes sejam presas de temor e nem de angustiosos presságios. Alguns nunca acham o repouso, nem sequer sob as circunstâncias mais favoráveis, porque temem que no futuro possa lhes acontecer algo terrível. Porém, o que vai suceder não faz diferença alguma, porque nem o presente, nem o porvir, podem separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. É-nos garantido que tanto as coisas futuras como as presentes, são todas nossas (I Coríntios 3:22). Portanto, podemos em Cristo cantar: “Venha o bem ou o mal, para mim só será bem, pois estou seguro de ter-Te em tudo, de ter tudo em Ti”.