CARTA AOS ROMANOS
Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros
de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani
Capítulo 8
A Gloriosa Libertação de um Matrimônio Insuportável
Chegamos aqui ao desenlace do motivo principal. A epístola
atinge seu ponto culminante neste capítulo. O sétimo apresentava o deplorável
estado do homem que foi despertado pela lei para sua verdadeira condição:
ligado ao pecado com cordas que só a morte pode romper. Conclui ele com um
vislumbre do Senhor Jesus Cristo como o único que pode libertar-nos do corpo da
morte.
Libertados da condenação – Romanos 8:1-9.
1 Agora, pois, já
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
2 Porque a lei do
Espírito da vida, em
Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
3 Porquanto o que fora
impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o
Seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e,
com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não
andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
5 Porque os que se
inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para
o Espírito, das coisas do Espírito.
6 Porque o pendor da
carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.
7 Por isso, o pendor da
carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo
pode estar.
8 Portanto, os que estão
na carne não podem agradar a Deus.
9 Vós, porém, não estais
na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é d’Ele.
“Nenhuma condenação”: –Não há condenação para os que estão em Cristo. Por quê?
Porque Ele recebeu a condenação da lei a fim de que a bênção pudesse chegar até
nós. Enquanto estivermos n’Ele, nada nos pode acontecer que não Lhe tenha
ocorrido antes; nEle, porém, toda maldição fica convertida em bênção e a
justiça substitui o pecado. Sua vida infinita triunfa sobre tudo aquilo que se
opõe a Ele. Estamos “completos n’Ele”.
Olhos postos em Jesus: –Alguém poderá dizer: “Não vejo como essa
Escritura possa cumprir-se no meu caso, visto que cada vez que me olho,
encontro algo que me condena”. Assim deve ser, já que a libertação da
condenação não se encontra em nós mesmos, mas em Cristo Jesus. É a
Ele que devemos contemplar e não a nós mesmos. Se obedecermos às Suas ordens e
Lhe hipotecarmos nossa confiança, Ele se encarregará de aprovar-nos perante a
lei. Nunca haverá um tempo em que alguém não ache condenação ao olhar para si
mesmo.
A queda de Satanás
deveu-se ao fato dele ter olhado muito para si mesmo. A restauração daqueles a
quem derrubou repousa em olhar apenas a Jesus. “E como Moisés levantou a
serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado...”
(João 3:14). A serpente foi erguida
para que os homens a contemplassem. Os que assim faziam, eram curados. Assim
ocorre igualmente com Cristo. No mundo vindouro, os servos do Senhor “verão Seu
rosto”; não mais serão atraídos para si mesmos. A luz procedente da face de
Cristo será a sua glória, e ela própria nos haverá de levar a esse glorioso
estado.
Convicção, não condenação: –O texto não diz que os que estão em Cristo
jamais serão reprovados. O Salmo 139:23 e 24 diz: “Sonda-me, ó Deus, e conhece
os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo
caminho eterno”.
Ir a Cristo é só o princípio e não o fim da vida cristã. É a
admissão à escola onde vamos aprender d’Ele. Cristo toma o ímpio com todos os
seus maus hábitos e perdoa todos os seus pecados. Considera-o como se nunca
houvesse pecado. Então, Jesus continua dando-lhe a própria vida por meio da
qual pode vencer seus maus hábitos.
A associação com Cristo nos revelará mais e mais nossos defeitos,
assim como o relacionamento com um homem instruído torna patente nossa
ignorância. Como uma testemunha fiel, aponta-nos nossos traços débeis. Porém,
não o faz com o objetivo de condenar-nos. D’Ele recebemos simpatia e não
condenação. É Sua estima que nos infunde ânimo e nos capacita a vencer.
Quando o Senhor mostra um defeito em nosso caráter, é como se nos
dissesse: “Você está precisando de algo que Eu tenho para lhe dar”. Quando
aprendemos a ver as reprovações sob esse ângulo, ser-nos-á isso motivo de
alegria e não de desânimo.
A lei da vida em Cristo: –A
lei sem Cristo significa morte. A lei em Cristo significa vida. Sua vida é a
lei de Deus, porque do coração procedem as saídas da vida, e a lei estava no
coração de Cristo. A lei do pecado e da morte opera em nossos membros. Porém, a
lei do Espírito de vida em Cristo nos livra dela. Veja que é a vida de Cristo
que faz isso. Ela não nos livra da obediência à lei, porque esse era nosso
estado anterior e isso era escravidão e não liberdade. Ela nos liberta da
transgressão da lei.
A obra de Cristo: –Está claramente exposta
nos versículos 3 e 4. Deus enviou Seu Filho em semelhança da carne do pecado e
por causa do pecado, “para que a justiça da lei se cumprisse em nós”. “A lei é
santa e o mandamento santo, justo e bom”. Não há na lei defeito algum; o
problema está em nós por causa da sua transgressão. A obra de Cristo não
consiste em mudar a lei nem mesmo no mínimo particular, mas em transformar-nos
em todos os particulares. Consiste em colocar a lei em nossos corações em sua perfeição,
em lugar do malogrado e quebrantado arremedo dela.
A impossibilidade da lei: –A
lei é poderosa para condenar. No entanto, é débil e mesmo incapaz no que
respeita à maior necessidade do homem: a salvação. Estava e está “enferma pela carne”. A lei é
boa, santa e justa, porém o homem não tem poder para obedecê-la. Ela é como um
machado bem afiado e produzido do melhor aço, porém, incapaz de cortar a árvore
devido a que os braços que o movimentam carecerem de força necessária. Assim a
lei de Deus não pode por si mesma operar. Ela assinala o dever do homem e o
obriga a cumpri-lo. Porém, esse não pode fazer isso, motivo pelo qual Cristo
veio para realizá-lo no homem. O que a lei não podia fazer, Deus o fez mediante
Seu Filho.
Semelhança da carne do pecado:
–É muito comum a idéia de que isso significa que Cristo simulou possuir
carne de pecado, que não tomou realmente sobre Si a carne de pecado, mas
somente uma aparência dela. Porém, as Escrituras não ensinam tal coisa. “Pelo
que convinha que em tudo fosse feito semelhante a Seus irmãos, para Se tornar
um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus, a fim
de fazer propiciação pelos pecados do povo”. (Hebreus 2:17). O Filho de Deus
foi “nascido de mulher, nascido debaixo da lei, para resgatar os que estavam
debaixo da lei”. (Gálatas 4:4 e 5).
Assumiu a mesma carne que têm todos os que são nascidos de mulher.
Na segunda epístola aos Coríntios, capítulo cinco, verso vinte e um,
encontramos um texto paralelo a Romanos 8:3 e 4. Diz ele que Cristo foi enviado
em semelhança da carne do pecado “para que a justiça da lei se cumprisse em
nós”. “Aquele que não conheceu pecado, Deus O fez pecado por nós, para que
n’Ele fôssemos feitos justiça de Deus”.
“Rodeado de fraquezas”: –Todo
ânimo que possamos obter de Cristo se fundamenta em saber que Ele foi feito em
todas as coisas semelhante a nós. De outra forma, vacilaríamos em contar-Lhe
nossas debilidades e fracassos. O sacerdote que oferece sacrifícios pelos
pecados deveria ser alguém que se compadecesse “devidamente dos ignorantes e
errados, porquanto também ele mesmo está rodeado de fraquezas”. (Hebreus 5:2).
Isso se aplica corretamente a Cristo, porque “não temos um Sumo
Sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas; porém Um que, como
nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”. (Hebreus 4:15) Essa é a razão pela
qual podemos achegar-nos com firme confiança ao trono da graça para alcançarmos
misericórdia. Tão perfeitamente identificou-Se Cristo conosco, que até o dia de
hoje sente nossos sofrimentos.
A carne e o Espírito: –“Pois
os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são
segundo o Espírito, para as coisas do Espírito”. Observe que essa afirmação
depende da precedente, “para que a justa exigência da lei se cumprisse em nós,
que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. As coisas do Espírito
são os mandamentos de Deus, porque a lei é espiritual. A carne serve à lei do
pecado (como vimos na descrição das obras da carne feita no capítulo anterior e
também em Gálatas 5:19-21). Porém, Cristo veio nessa mesma carne para
demonstrar o poder do Espírito sobre ela. “Os que estão na carne não podem
agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o
Espírito de Deus habita em vós”.
Ninguém pretenderá que, depois da conversão, a carne do homem seja
diferente da que foi anteriormente. Menos ainda pretenderá o próprio homem
convertido, porque ele possui evidência contínua de sua perversidade. Contudo,
se ele está realmente convertido e o Espírito de Cristo habita nele, não está
mais à mercê do poder da carne. O próprio Cristo veio na mesma carne
pecaminosa, sem pecar jamais, ao ser dirigido sempre pelo Espírito.
A inimizade: –“Porquanto
a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de
Deus, nem em verdade o pode ser”. A carne nunca se converte. Ela é inimizade
contra Deus e tal inimizade consiste na oposição à Sua lei. Portanto, todo aquele que se opõe à lei de
Deus está lutando contra Ele. Cristo, todavia, é nossa paz e veio pregar a paz.
“A vós também, que outrora éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas
vossas obras más, agora, contudo, vos reconciliou no corpo da Sua carne, pela
morte, a fim de perante Ele vos apresentar santos, sem defeito e
irrepreensíveis”. (Colossenses 1:21 e 22). Aboliu a inimizade em Sua própria
carne, de forma que todos os que estão crucificados com Ele têm paz com Deus,
isto é, estão sujeitos à Sua lei a qual se acha em seu próprio coração.
Vida e paz –“A inclinação da carne é morte; mas a inclinação do
Espírito é vida e paz”. Possuir mente espiritual é tê-la controlada pela lei de
Deus, “porque sabemos que a lei é espiritual”. “Muita paz têm os que amam a Tua
lei”. (Salmo 119:165) “Justificados [tornados justos], pois, pela fé, temos paz
com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo”. (Rom. 5:1) A mente carnal é inimizade
contra Deus, por conseguinte, ter mente carnal significa morte. No entanto,
Cristo “destruiu a morte, e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho:
(II Timóteo 1:10). Aboliu a morte destruindo o poder do pecado em todos quantos
crêem nEle, porque a morte só tem poder através do pecado. “O aguilhão da morte
é o pecado”. (I Cor. 15:56). Portanto, podemos dizer com alegria agora: “Graças
a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo”.
O capítulo oitavo de Romanos está cheio das coisas gloriosas que
Deus prometeu àqueles que O amam. São características nessa divisão epistolar
expressões como: Liberdade, Espírito de vida em Cristo, filhos de Deus e
herdeiros de Deus juntamente com Cristo.
Filhos de Deus: – Romanos 8:9-17
9 Vós, porém, não estais
na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é d’Ele.
10 Se, porém, Cristo
está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o
espírito é vida, por causa da justiça.
11 Se habita em vós o
Espírito dAquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, Esse mesmo que
ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo
mortal, por meio do Seu Espírito, que em vós habita.
12 Assim, pois, irmãos,
somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne.
13 Porque, se viverdes
segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes
os feitos do corpo, certamente, vivereis.
14 Pois todos os que são
guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
15 Porque não recebestes
o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas
recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, {Aba; no
original, Pai} Pai.
16 O próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.
17 Ora, se somos filhos,
somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com Ele
sofremos, também com Ele seremos glorificados.
Forças contrapostas: –A carne e o Espírito estão em contínua oposição. O Espírito não
Se submete jamais à carne, e essa nunca se converte. A carne terá a natureza do
pecado até que nossos corpos sejam transformados na vinda do Senhor. O Espírito
contende com o pecador, porém, esse se deixa vencer pela carne, sendo assim um
escravo do pecado.
Tal homem não está sob a
direção do Espírito, se bem que Esse não o abandone. A carne é a mesma no homem
convertido e no pecador, porém, há uma diferença: no primeiro não há poder
porque só o homem convertido se submete ao Espírito, o qual controla a carne.
Embora seja essa exatamente a mesma que antes da conversão, é dito dele que não
está “na carne”, mas “no Espírito”, posto que pelo Espírito são mortificadas as
obras da carne.
Vida na morte – “Ora, se
Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o
espírito vive por causa da justiça”. Encontramos aqui os dois homens sobre os
quais o apóstolo fala em
II Coríntios 4:7-16. “Pois nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que também a vida de Jesus se
manifeste em nossa carne mortal”. Mais adiante ele acrescenta: “Mas ainda que
nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de
dia em dia”. Ainda que nosso corpo se enfraqueça e envelheça, o homem interior
– Cristo Jesus – está sempre novo. Ele é nossa vida real. “Porque morrestes e a
vossa vida está escondida com Cristo em Deus”. (Colossenses 3:3).
Essa é a razão pela qual
nada temos de temer daqueles que podem apenas destruir o corpo, e depois nada
mais têm a fazer. Ainda que nosso corpo seja cremado numa pira ou atado a uma
estaca, os homens maus não podem tocar a vida eterna que temos em Cristo, o
qual não pode ser destruído. Nenhum homem pode desprovê-Lo de vida.
A certeza da ressurreição: –“E se o Espírito dAquele que dos mortos
ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dos mortos ressuscitou a
Cristo Jesus há de vivificar também os
vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita”. Jesus disse que a
água que Ele nos deu, que é o Espírito Santo, seria em nós uma fonte que
saltava para a vida eterna (João 4:14; 7:37-39). Isto é, a vida espiritual que agora
temos na carne, graças ao Espírito, constitui-se a certeza do corpo espiritual
que nos será outorgado na ressurreição, quando a vida de Cristo se manifestar
em nossos corpos incorruptíveis.
Não somos devedores à
carne –“Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne para vivermos segundo a
carne.” De fato, somos devedores. Porém, nada devemos à carne. Ela nada fez por
nós e nem pode fazê-lo. Tudo o que a carne pode fazer resulta em nada, já que
suas obras são pecado e significam morte. Todavia, somos devedores a Cristo
Jesus, “que Se deu a Si mesmo por nós”. Conseqüentemente, devemos entregar-Lhe
tudo. “Porque se viverdes segundo a carne, haveis de morrer, mas se pelo
Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”.
Filhos de Deus: –Os que se entregam à operação do Espírito e perseveram nisso,
são guiados pelo Espírito e são filhos de Deus. Eles são colocados na mesma
relação com o Pai em que
Cristo Se acha. “Vede que grande amor nos tem concedido o
Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de
Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não O conheceu a Ele
mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a
Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é”. Se guiados pelo Espírito de Deus,
somos tão filhos dEle como jamais o poderíamos ser.
Filhos, agora: –Alguns defendem a idéia de que ninguém será nascido de Deus até
a ressurreição. Porém, é um fato que agora já somos filhos de Deus. Quem sabe
alguém diga: “Sim, contudo ainda não nos manifestamos como filhos”. Certo, como
tampouco foi Cristo enquanto esteve na Terra. Pouquíssimas pessoas O
reconheceram como o Cristo, o Filho do Deus vivo. E as que o fizeram foi por
revelação divina. O mundo não nos conhece porque não conhece a Ele. Dizer que
os crentes não são agora filhos de Deus devido a que nada em sua aparência
exterior o indica, é acusar a Cristo.
Porém, Jesus era tão certamente o Filho de Deus no presépio de Belém,
como o é agora, assentado à destra de Deus.
O testemunho do Espírito: –“O Espírito mesmo testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus”. Como faz isso? Encontramos a resposta em
Hebreus 10:14-17. Diz o apóstolo que por uma só oferta tornou perfeitos os que
são santificados, e depois acrescenta que o Espírito Santo testifica desse fato
nestes termos: “Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz
o Senhor: Porei no seu coração as Minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei...”
E acrescenta: “Também de nenhum modo Me lembrarei dos seus pecados e das suas
iniqüidades, para sempre”. O testemunho do Espírito é a Palavra. Sabemos que
somos filhos de Deus porque o Espírito nos dá a certeza desse fato na Bíblia. O
testemunho do Espírito não é nenhum arrebatamento de sentidos, mas uma
declaração concreta. Não somos filhos de Deus porque sentimos assim, mas porque
o Senhor o disse. Aquele que crê tem a palavra morando em si mesmo. “Aquele que
crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho”. (I João 5:10).
Sem temor: –“Porque não recebestes o espírito de escravidão , para outra vez
estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos:
Aba, Pai?” “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de
amor e de moderação”. (II Timóteo 1:7) “E nós conhecemos e cremos no amor que
Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em
Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do
Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo Ele é, também nós somos neste
mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora,
o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor”. (I
João 4:16-18).
Cristo entregou-Se a Si
mesmo para livrar os que, pelo temor da morte, estavam toda a vida sujeitos à
servidão (Hebreus 2:15). Aquele que conhece e ama ao Senhor não pode ter medo;
e quem não tem medo do Senhor não tem por que temer qualquer pessoa ou coisa.
Uma das maiores bênçãos do evangelho é a libertação do temor, seja ele
produzido por causa real ou imaginária. “ Busquei o Senhor, e Ele me acolheu;
livrou-me de todos os meus temores”. (Salmo 34:4).
Herdeiros de Deus: –O texto não diz apenas que somos herdeiros do que Deus tem, mas
que o somos do próprio Deus. Que herança maravilhosa! Tendo a Ele, temos tudo em realidade. A bênção
consiste em tê-Lo. “O Senhor é a porção da minha herança e o meu cálice”.
(Salmo 16:5). Isso é um fato. Algo digno de profunda meditação, muito mais do que
explicação.
Co-herdeiros com Cristo: –Se somos Filhos de Deus, pisamos o mesmo
terreno que Jesus Cristo. Ele próprio disse que o Pai nos ama como ama a Ele
(João 17:23). Fica claro pelo fato de que Sua vida nos foi outorgada. Assim, o Pai não tem nada por Seu Filho
unigênito que não tenha por nós. Não apenas isso, mas que ser co-herdeiros com
Cristo significa que Ele não possuirá Sua herança antes que nós. Ele está
assentado à destra do Pai, porém, Deus, em Seu grande amor por nós, “... nos deu vida juntamente com Cristo... e,
juntamente com Ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus”.
(Efésios 2:4-6). Cristo reparte conosco a glória que Ele tem (João 17:22).
Significa muito ser co-herdeiros com Cristo! Não causa admiração que o apóstolo
exclame: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos
chamados filhos de Deus...”
Sofrer com Ele: –“Se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados”.
“Pois, naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para
socorrer os que são tentados”. (Hebreus 2:18). Sofrer com Cristo significa, por
conseguinte, resistir à tentação juntamente com Ele. O sofrimento deriva da
luta contra o pecado. O sofrimento auto-infligido carece de valor. Não há honra
alguma em satisfazer a carne (Col 2:23). Cristo não Se torturou a fim de obter
a aprovação do Pai. Porém, quando sofremos com Cristo, somos perfeitos n’Ele. O
poder por meio do qual Ele venceu as tentações do inimigo, é o mesmo que nos
dará a vitória. Sua vida em nós obtém a vitória.
Nos versículos precedentes vimos como fomos adotados na família
de Deus, e como somos feitos co-herdeiros com Cristo Jesus. O Espírito Santo
estabelece o vínculo da relação. Ele é “o Espírito de adoção”, o Espírito
procedente do Pai como representante do Filho, Aquele que permite nossa
aceitação como irmãos de Jesus Cristo. Os que são guiados pelo Espírito devem
ser como Cristo no mundo, e lhes é garantida, dessa maneira, sorte na herança
com Cristo. “porque o mesmo Espírito dá testemunho com nosso espírito de que
somos filhos de Deus”.
Glorificados juntamente: – Romanos 8:17-25.
17 Ora, se somos filhos,
somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com Ele
sofremos, também com Ele seremos glorificados.
18 Porque para mim tenho
por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a
glória a ser revelada em nós.
19 A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos
de Deus.
20 Pois a criação está
sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou,
21 na esperança de que a
própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da
glória dos filhos de Deus.
22 Porque sabemos que
toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.
23 E não somente ela,
mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso
íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
24 Porque, na esperança,
fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê,
como o espera?
25 Mas, se esperamos o que não vemos, com
paciência o aguardamos.
Por que o sofrimento?: –A vida de Cristo na Terra foi uma
existência de sofrimento. Ele foi “varão de dores, experimentado nos
trabalhos”. “Sendo tentado, padeceu”, porém Seus sofrimentos não foram somente
psicológicos. Conheceu também a dor física. “Ele mesmo tomou as nossas
enfermidades e carregou com as nossas doenças”. (Mateus 8:17). Passou fome no
deserto e Suas obras de amor não foram realizadas sem considerável cansaço e
dor. Os sofrimentos que padeceu nas mãos dos rudes soldados, na zombaria e
crucifixão, foram a continuação, de outra forma, do que havia sofrido durante
toda a Sua existência terrena.
Glória muito além do sofrimento: –Por meio de todos os profetas o Espírito Santo dava testemunho dos
“sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam”. (I Pedro
1:11). Quando Jesus, após Sua ressurreição, falava com Seus discípulos no
caminho de Emaús, disse-lhes: “Porventura, não convinha que o Cristo padecesse
e entrasse na Sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os
profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras”.
(Lucas 24:26 e 27). Sabemos que a
primeira parte dessas profecias se cumpriu, motivo pelo qual podemos estar
seguros do cumprimento da parte restante. A glória vindoura é tão certa e real
como foram os sofrimentos de Cristo.
Sofrendo juntamente com Ele: –Nosso sofrimento deve ser “juntamente com
Ele”. Não se trata de sofrermos
sozinhos. Agora, não poderíamos sofrer aquilo que aconteceu há dois mil anos,
antes que havermos nascido, pelo que se deduz que Cristo sofre ainda hoje. De
outra forma, não poderíamos sofrer com Ele. Leia o que nos é certificado em
relação ao antigo Israel: “Em toda a angústia deles, foi Ele angustiado”. (Isa.
63:9) Assim, em Mateus 25:35-40, vemos que Cristo sofre ou Se sente aliviado no
sofrimento quando Seus discípulos sofrem ou sentem alívio. Ele é a Cabeça do
corpo.
Se um membro da igreja
sofre, todos os demais se condoem dele (I Coríntios 12:26), quanto mais certo
deve ser isso com relação à Cabeça! Lemos que Cristo, mesmo agora como Sumo
Sacerdote, “é capaz de condoer-Se dos ignorantes e dos que erram, pois também
ele mesmo está rodeado de fraquezas”. (Hebreus 5:2). Vemos que Cristo nunca Se
despojou da natureza humana que tomou sobre Si, mas continua identificado com
os homens sofredores e pecadores. É uma gloriosa verdade, digna de
reconhecimento e proclamação, a de que “Jesus veio em carne”. (I João 4:2).
Glorificados juntamente com Ele: –“Se com Ele sofremos,
também com Ele seremos glorificados”. Cristo nada tem que não seja também
nosso. Sua oração foi: “Pai, a Minha vontade é que onde Eu estou, estejam
também comigo os que Me deste...” (João 17:24) Também disse: “Ao vencedor,
dar-lhe-ei sentar-se Comigo no Meu trono, assim como também Eu venci e Me
sentei com Meu Pai no Seu trono...” (Apocalipse 3:21) Todo o que é Seu é nosso, porquanto somos co-herdeiros
com Cristo.
Há glória, agora: –À
primeira vista poderia parecer exagerada essa afirmação. A idéia predominante é
que Cristo foi glorificado muito antes de sermos Seus co-herdeiros. Bastará um
texto para tornar clara a questão: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre
vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda
co-participante da glória que há de ser revelada...” (I Pedro 5:1) Pedro
declarou-se participante da glória. Assim tinha de ser, pois creu ele nas
palavras de Cristo em Sua oração pelos discípulos: “Eu lhes tenho transmitido a
glória que me tens dado”. (João 17:22)
Se Cristo tem hoje a glória e a reparte com Seus discípulos. Temos ainda
as palavras do apóstolo Pedro falando acerca de Cristo: “... A quem, não
havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com
alegria indizível e cheia de glória...” (I Pedro 1:8).
Graça e glória inesperadas:
–O apóstolo João nos diz que, embora sejamos filhos de Deus hoje, o mundo
não nos conhece, visto que também não conheceu Cristo. Nada havia na aparência
física de Cristo que indicasse ser Ele o Filho de Deus. A carne e o sangue não
O revelaram a ninguém. Sua aparência era inteiramente a de um homem comum.
Porém, tinha glória em todos os momentos.
Lemos que quando Ele mudou a água em vinho, “manifestou Sua
glória”. (João 2:11). Sua glória Se manifestava em forma de graça. “E o Verbo
Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua
glória, glória como do Unigênito do Pai”. (João 1:14). A graça com que Deus fortalece
Seu povo é “segundo a riqueza da Sua glória...” (Efésios 3:16) A graça é
glória, porém, glória velada, para que os olhos humanos não sejam cegados por
ela.
Glória que há de ser
revelada: –“Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se
podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada”. Temos de possuir
essa glória agora. Porém, ela será revelada somente na vinda de Cristo. Então
se revelará Sua glória (I Pedro 4:13); nessa ocasião nossa provação será
transformada em louvor, glória e honra.
Exceção feita à manifestação aos três escolhidos no monte da
transfiguração, a glória de Cristo ainda não se revelou. Naquele ensejo, foi
permitido que brilhasse a glória que Cristo já possuía. Apareceu então com o
mesmo aspecto que ostentará em Sua vinda. Porém, para o homem em geral, não há
agora maior evidência de ser Jesus o Filho de Deus, do que havia quando estava
perante o tribunal de Pilatos.
Todavia, aqueles que O vêem pela fé e que não se envergonham de ser
participantes dos sofrimentos de Cristo, compartilham igualmente Sua glória
oculta. E quando Ele aparecer em Sua glória, “então os justos resplandecerão
como o Sol, no reino de Seu Pai” (Mateus 13:43). Essa será “a manifestação dos
filhos de Deus”. Naquela ocasião Cristo
Se revelará pela primeira vez diante do mundo como o Filho de Deus, e os Seus
se manifestarão com Ele.
A esperança da criação: –O
termo “criatura” [visto em algumas traduções], constante nos versos 19 a 21, significa criação. No
verso 22, a
criação é descrita como gemente e esperando ser libertada daquele a quem está
sujeita. Quando o homem pecou, a Terra foi amaldiçoada por sua causa (Gênesis
3:17). Ela não havia cometido pecado algum, porém, teve de participar da queda
do homem, a quem havia sido dada. Uma Terra perfeita não podia ser a morada do
homem pecador. Ficou, entretanto, sujeita à vaidade, mas em esperança. Deus
havia criado a Terra perfeita. “Deus que formou a Terra, que a fez e a
estabeleceu; que não a criou para ser um caos”. (Isaías 45:18) E Ele faz todas
as coisas segundo o propósito de Sua vontade (Efésios 1:11) Assim sendo, é
certo que a Terra há de ser glorificada tal como o foi no princípio. “A própria
criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos
filhos de Deus”.
Adoção e redenção: –Tanto
nós como a Terra estamos “aguardando a nossa redenção, a saber, a redenção do
nosso corpo”. A Terra também espera, já que não pode libertar-se da maldição
até que sejamos estabelecidos como filhos de Deus e, portanto, Seus legítimos
herdeiros. O Espírito Santo é a garantia ou fiança desse direito hereditário.
O Espírito nos sela como herdeiros “para o dia da redenção”.
(Efésios 4:30).
Ele é para nós a Testemunha de que somos filhos de Deus, embora o
mundo não aceite Seu testemunho. O mundo não conhece os filhos de Deus. Porém,
quando se revelar a glória que Ele nos tem dado, e nossos corpos forem
redimidos da destruição e brilharem à semelhança do corpo glorioso de Cristo,
não haverá qualquer dúvida na mente de ninguém. Até o próprio Satanás ver-se-á
obrigado a reconhecer que somos filhos de Deus e, por conseguinte, herdeiros
legítimos da Terra glorificada.
Esperança e paciência: –A esperança, em sentido bíblico, significa
mais do que mero desejo de alguma coisa. Implica em certeza, porque o terreno
sobre o qual se baseia a esperança do cristão é a promessa de Deus, firmada com
juramento. A própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a
liberdade da glória dos filhos de Deus. Nada há, diante de nossos olhos, que
confirme sermos filhos de Deus. Não podemos ver nossa própria glória e é por
isso que não somos encarregados de a procurarmos aqui. Tampouco podemos ver a
Cristo, porém, sabemos que Ele é o Filho de Deus. Essa é a garantia de que nós
somos também filhos de Deus. Houvesse alguma incerteza e não poderíamos esperar
com paciência. Teríamos de esperar com inquietude e preocupação. Porém, embora
os olhos físicos sejam incapazes de detectar algum indício de sermos
propriedade de Deus, a fé e a esperança no-lo assegura; assim, podemos esperar
com paciência aquilo que não vemos.
Algo que vale a pena
saber: –Romanos
8:26-28.
26 Também o Espírito,
semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como
convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos
inexprimíveis.
27 E aquele que sonda os
corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é
que ele intercede pelos santos.
28 Sabemos que todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito.
Orar “com o Espírito”: –O
coração é enganoso, mais do que todas as coisas, e ninguém pode conhecê-lo
senão Deus (Jeremias 17:9 e 10). Além disso, não sabemos as coisas que Deus tem
para nos dar. Mesmo que as soubéssemos, nossos lábios não as poderiam
descrever, posto que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou
em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam. Mas Deus
no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até
mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem,
senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus,
ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o
espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que
por Deus nos foi dado gratuitamente”. (I Coríntios 2:9-12).
Deus anseia dar-nos “infinitamente mais do que tudo quanto pedimos
ou pensamos”. (Efésios 3:20). De fato, é impossível expressar mediante palavras
o alcance dessas coisas. A frase seguinte, não obstante, especifica que é “pelo
poder que em nós opera”, e o verso dezesseis esclarece que esse poder é o
Espírito. Encontramo-lo também no capítulo oitavo de Romanos e no segundo de I
Coríntios.
“Porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as
profundezas de Deus”. De maneira que o Espírito sabe exatamente o que o Senhor
tem para nós. Os pensamentos mais profundos estão muito acima do que a
linguagem pode expressar, assim como o Espírito intercede por nós com gemidos
inexprimíveis, impossíveis de serem descritos. Porém, embora não se trate
propriamente de palavras, “Aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do
Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que Ele intercede pelos
santos”. O Espírito pede exatamente as
coisas que o Senhor tem para conceder. Ele intercede pelos santos de acordo com
a vontade de Deus. E sabemos que nos é concedido tudo o que pedimos segundo a
vontade de Deus (I João 5:14 e 15).
Observe a forma como esse texto referente à oração se harmoniza com
as passagens precedentes de Romanos 8. Deus nos concedeu Seu Espírito para que
habite em nós, a fim de guiar-nos e dirigir nossa vida. O fato de termos o
Espírito Santo demonstra que somos filhos de Deus. Sendo assim, podemos nos
achegar a Ele rogando-Lhe que nos dê o que necessitamos, com a mesma confiança
de uma criança que se dirige a seu pai. Não obstante essa certeza, nossos
pensamentos são tão inferiores aos de Deus, como está distanciada a Terra em
relação ao Céu (Isa. 55:8 e 9).
Se nossos pensamentos são deficientes, nossa linguagem o será ainda
mais. Sequer encontramos a maneira de descrever com propriedade nossos pequenos
atos cotidianos. Porém, se somos filhos de Deus, temos em nós Seu próprio
Representante, o qual nos auxilia nas fraquezas e é capaz de tomar as coisas
divinas e no-las dar. Que maravilhosa confiança isso nos deveria dar ao orarmos
a Deus, particularmente àqueles que menos facilidade têm para se expressar em palavras. Pouco
importa se o vocabulário empregado por você for limitado, se você gaguejar, o
mesmo se for mudo. Se orar a Deus no Espírito, você está seguro de receber tudo
quanto necessita, e mesmo mais do que sabe pedir ou pensar.
Tendo presentes esses fatos, quanto poder adquire a exortação do
apóstolo: “... Orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos”. (Efésios 6:18)
Todas as coisas
contribuem para o bem: –“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus...”
Se não o soubéssemos, não poderíamos ter a
confiança na oração que é nosso privilégio possuir, em vista do quanto foi
expresso nos versículos precedentes. Todo aquele que conhecer o Senhor O amará,
posto que Deus é amor. O Espírito no-Lo revela tal como Ele é. Todo o que sabe
que “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que
todo aquele que n’Ele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna”, achará
impossível deixar de amá-Lo; e nessa circunstância, todas as coisas
contribuirão para o seu bem.
Veja que o verso não diz que sabemos que àqueles a quem Deus ama,
todas as coisas lhe irão bem, mas que já lhe vão atualmente. Venha o que vier,
é bom para os que amam ao Senhor e confiam n’Ele. Muitos perdem a bênção que
lhes daria essa segurança, ao ler o versículo como se ele se aplicasse ao
futuro. Tentam aceitar com resignação as provas que lhes advêm, pensando que
com o tempo, algum dia, elas lhes acarretarão algum benefício. Ao fazer assim,
contudo, não estão recebendo o bem que Deus lhes deseja comunicar hoje.
Por fim, observe que o texto não diz que sabemos qual é a maneira
como as coisas contribuem para o bem daqueles a quem Deus ama. Alguns exclamam
entre piedosos suspiros: “Suponho que isso será para o bem, embora não tenha
idéia como”. Certamente que não é assim, porque não há razão para se preocupar
com isso. Deus é quem faz com que as coisas cooperem para o bem, visto que Ele
só tem o poder.
Por conseguinte, não precisamos saber de que maneira a coisa
ocorre. Basta-nos conhecer o fato. Deus pode transtornar todos os planos do
diabo e fazer com que a ira do homem redunde em louvor para Ele. Nossa parte é
crer. Onde fica a confiança no Senhor se precisarmos saber como tudo transcorrerá?
Os que precisam ver a forma como Deus opera, demonstram não poderem confiar
n’Ele sem que a vista entre em ação, desonrando-O assim perante o mundo.
Chamados por Deus: –Deus chamou a todos para
virem a Ele. “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem!
Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”.
(Apocalipse 22:17). Deus não faz acepção de pessoas; Ele deseja que todos sejam
salvos e, portanto, chama-os todos.
Não apenas nos convida, mas nos atrai. Ninguém poderia vir a Ele
sem essa atração. Cristo foi levantado da terra a fim de atrair todos a Deus.
Ele provou a morte por todo homem (Hebreus 2:9) e, mediante Jesus, todo homem
tem acesso a Deus. Desfez em Seu próprio corpo a inimizade – o muro de separação
entre o homem e Deus – de maneira que nada pode afastar o Senhor do homem, se
esse não erigir uma barreira.
O Senhor nos atrai a Si sem fazer uso de força. Chama, não ameaça.
A nós corresponde fazer “firme a nossa vocação e eleição”, respondendo à
influência que Deus estende ao nosso redor. Ele nos diz: “Segue-Me!” Devemos
tornar efetivo o chamamento atendendo a Seu convite.
O propósito do chamado: –Deus
nos chama “à graça de Cristo”. (Gálatas 1:6). “Assim como nos escolheu n’Ele
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e
em amor”. (Efésios 1:4) Mais ainda:
lemos que Ele nos “chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas
conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes
dos tempos eternos”. (II Timóteo 1:9). No texto de Romanos, vimos que os que
amam a Deus “foram chamados segundo o Seu propósito”. Esse intento é que
sejamos santos e sem mácula perante Ele, em amor. Se nos submetermos a Seu desígnio, Ele o
levará a bom termo.
Deus criou o homem para ser Seu companheiro. Porém, onde há
restrição não pode haver verdadeiro companheirismo. Por isso, com o propósito
de fazer associação com ele em termos de intimidade, deu-lhe tanta liberdade de
arbítrio ou eleição quanto a Sua própria. Deus não pode fazer nada contra Seu
plano; portanto, de acordo com Seu propósito, não quer nem pode forçar o
arbítrio do homem. Todo homem é tão absolutamente livre para escolher como o
próprio Deus. Quando o homem escolhe atender ao chamamento divino, o propósito
de Sua graça se cumpre nele mediante o poder pelo qual todas as coisas vêm a
concorrer para o seu bem.
Temos considerado nossa relação com Deus mediante o Espírito, e o
auxílio que Ele nos proporciona em oração, tanto como a certeza de que “todas
as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o Seu propósito”. As bases dessa certeza estão solidamente
estabelecidas nos versículos seguintes.
O dom inefável: – Romanos 8: 29-32.
9 Porquanto aos que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu
Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
30 E aos que
predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
31 Que diremos, pois, à
vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
32 Aquele que não poupou
o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura não nos dará
graciosamente com Ele todas as coisas?
Conhecer antecipadamente não significa determinar: –Obras intermináveis
sobre os termos “predeterminar” ou “predestinar” têm sido escritas, porém,
bastam poucas palavras para esclarecer os fatos. Com respeito a isso, bem como
aos outros atributos divinos, é-nos suficiente saber que o fato existe. Não nos
é permitido penetrar em sua explicação.
Está claramente exposto
nas Escrituras o fato de Deus conhecer todas as coisas. Não apenas sabe das
coisas do passado, mas igualmente o futuro Lhe é transparente. O Senhor “faz
estas coisas conhecidas desde séculos”. (Atos 15:18). “Senhor, Tu me sondas e
me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os
meus pensamentos”. (Salmo 139:1 e 2). Desse modo, Deus conhece inclusive tudo o
que as pessoas que ainda não nasceram farão e dirão.
Isso não torna Deus
responsável pelo mal que elas praticarem. Alguns têm pensado que era necessário
defender o Senhor e livrá-Lo da acusação segundo a qual, visto ser Ele
onisciente, é responsável pelo mal quando não faz nada para evitá-lo. Uma
estranha forma de defendê-Lo consiste em pretender que Ele poderia ter
conhecimento se assim o desejasse, porém, escolhe não saber muitas coisas. Uma
“defesa” dessa espécie é absurda e ímpia. Tem por certo que Deus é culpado do
mal, porque o conhece com antecedência e nada faz para evitá-lo. Supõe ainda
que, a fim de colocar-Se numa posição em que não pode tomar medidas para evitar
esse mal, opta deliberadamente por tapar os próprios olhos. Tal argumentação
torna a Deus culpado de toda maldade. Não apenas isso, mas ainda O limita.
Rebaixa-O à altura do homem.
Deus conhece todas as
coisas, não mediante estudo e investigação, assim como o homem faz, mas porque
Ele é Deus. Ele habita na eternidade (Isaías 57:15). Não podemos compreender a
maneira por que isso é assim, mais do que podemos entender a eternidade. Temos
de aceitar o fato e estar não apenas conformados com isso, mas felizes porque
Deus é maior do que nós. Todo o tempo – passado, presente e futuro – é igual
para Deus. Para Ele, sempre é “agora”. Por que Deus já conhecia de antemão o
mal que o homem iria praticar, mesmo antes da fundação do mundo, isso não O
torna responsável. Assim como um homem que espia, através de uma luneta, o que
o outro está fazendo a cinco quilômetros de distância, não se transforma em
responsável pelos atos do observado. Desde o princípio Deus deu aos homens
advertências contra o pecado, e providenciou todos os meios para que eles
pudessem evitá-lo. Porém, Ele não pode interferir em seu direito e liberdade de
escolha, sem privá-lo de sua humanidade e convertê-lo em um autômato.
A liberdade de praticar
o bem implica na liberdade de fazer o mal. Se o homem houvesse sido feito de
forma a não poder escolher o mal, não teria, em absoluto, liberdade, nem sequer
para fazer o bem. Seria menos que um animal. Não há virtude alguma na
obediência forçada, nem haveria mérito em fazer o que é correto se fosse
impossível agir de outra maneira. Ademais, não poderia existir nenhum prazer ou
satisfação na amizade que juram duas pessoas, no caso da associação de uma
delas com outra se devesse à impossibilidade de evitá-la. O prazer do Senhor no
companheirismo com Seu povo jaz na livre escolha de Sua Pessoa por parte do
homem, sobre todos os demais. E a alegria do Senhor é o gozo de Seu povo.
Os mesmos que injuriam a
Deus por Ele não impedir os males que vê com antecedência (visto ser Ele
onipotente), seriam os primeiros a acusá-Lo de crueldade caso o Senhor
interferisse arbitrariamente em sua liberdade, e lhes determinasse fazer aquilo
que é contrário à sua escolha. Tal curso de ação converteria todos em seres
infelizes e descontentes. A atitude mais sábia que podemos tomar é não tentar
penetrar os caminhos do Altíssimo, e aceitar o fato de que tudo quanto Ele faz
é correto. “O caminho de Deus é perfeito”. (Salmo 18:30).
O que há acerca da predestinação?: –O texto diz que “aos que
de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu
Filho...” Os pensamentos de Deus em relação ao homem são pensamentos de paz e
não de mal (Jeremias 29:11). Ele nos concede a paz (Isaías 26:12). Nada lemos
sobre terem sido alguns homens predestinados à destruição. O único propósito ao
qual estão destinados é serem conformes à imagem de Seu Filho.
No entanto, é somente em
Cristo que somos tornados conforme a Sua imagem. É através d’Ele que chegamos
“à medida da estatura completa em Cristo”. (Efésios 4:13). Portanto, o homem
está predestinado somente em
Cristo. Todo esse assunto nos é apresentado nas seguintes
passagens escriturísticas: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos predestinou
para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o
beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que Ele nos
concedeu gratuitamente no Amado”. (Efésios 1:3-6).
Tudo é em Cristo. N’Ele recebemos
todas as bênçãos espirituais; nEle somos eleitos em santidade; nEle somos
predestinados para a adoção de filhos; somos aceitos n’Ele, e n’Ele temos a
redenção por Seu sangue. “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para
alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo”. (I Tessalonicenses
5:9).
Esse é o propósito e a
determinação de Deus com respeito ao homem. Mais ainda: “Aos que de antemão
conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho”. A
quem conheceu? Não pode haver limite; Deus deve ter conhecido a todos. Se
houvesse exceções, então Ele não seria infinito em conhecimento. Se
é que conhece com antecedência uma pessoa, conhece-a totalmente. Não há um ser
humano que tenha nascido neste mundo que Deus não conheceu. “E não há criatura
que não seja manifesta na Sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão
descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas”.
(Hebreus 4:13).
Assim, visto que Deus
conheceu cada pessoa, mesmo antes da fundação do mundo, e posto que a todos
conheceu, também os predestinou para serem conformes a imagem de Seu Filho,
deduz-se que Ele disponibilizou a salvação a toda alma que habitou, habita e
habitará este mundo. Seu amor envolve a todos, sem exceção.
“Então”, dirá alguém,
“todos serão salvos, não importando o que façam”. Não é assim! Lembremo-nos de
que o propósito de Deus é realizado em Cristo. Somente
n’Ele somos predestinados. Somos livres para escolher se O aceitamos ou não.
Foi dada ao homem, para sempre, a liberdade de escolha, e até o próprio Deus Se
abstém de interferir nela. O Senhor respeita como sagrada a escolha de cada
pessoa. Não é plano divino cumprir Seu propósito contra a vontade do homem. Ele
deseja dar ao homem o que esse preferir.
Deus põe diante do homem
a vida e a morte, o bem e o mal, e o convida a escolher o que pretende. Nosso
Pai sabe o que é melhor, e o que escolheu e preparou para o homem. Foi Ele
muito longe para garantir que não haja mais a possibilidade de queda; para
assegurar que o homem receba o bem, se assim o preferir. Porém, as magníficas
delicadeza e amabilidade do grande Deus ficam aqui patenteadas, visto que Ele
cede ao desejo do homem, respeitando-lhe a escolha. Se esse, por sua vez, pende
para o desejo divino e aceita o que o Senhor lhe dispôs, terá lugar entre ambos
um maravilhoso e sublime companheirismo de amor. “Com amor eterno Eu te amei;
por isso, com benignidade te atraí”. (Jeremias 31:3).
Chamados, justificados e glorificados: –“E aos que predestinou,
a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que
justificou, a esses também glorificou”. Trata-se de uma ação completa. Não
temos por que tropeçar se nos lembrarmos de que tudo é em Cristo. Nele já fomos
benditos com toda bênção espiritual. Todos os homens são chamados para o que
Deus lhes preparou. Porém, não foram convocados segundo o propósito divino, a
menos que tenham feito firme sua vocação e eleição, submetendo-se à Sua
vontade. Eles estão predestinados a salvar-se. Nada no Universo pode impedir a
salvação da alma que aceita e confia no Senhor Jesus Cristo. E são
justificados.
A morte de Cristo nos reconcilia com Deus. “Ele é a propiciação
pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do
mundo inteiro”. (I João 2:2). Sua morte garante perdão e vida a todos. Nada
pode impedir sua salvação, exceto sua própria escolha em contrário. O homem
deve escapar da mão de Deus para se perder.
Desse modo, os que aceitam o sacrifício são justificados. “Mas Deus
prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo Seu
sangue, seremos por Ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho, muito mais, estando já
reconciliados, seremos salvos pela Sua vida”.
“E aos que justificou, a esses também glorificou”. Por acaso não
ouvimos na oração que Cristo fez em prol de Seus discípulos de então, e por
todos os que creriam pela palavra deles, por conseguinte, em nosso favor: “Eu
lhes tenho transmitido a glória que Me tens dado...”? Pedro disse que era
participante da glória que haveria de ser revelada. Deus nada deixou por fazer.
Se O aceitarmos, tudo o que Cristo tem é nosso. Tudo quanto falta é essa
revelação. “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de
Deus”. Quando o Senhor pergunta em relação ao Seu povo: “Que mais se podia
fazer ainda à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito?”, atrever-se-á alguém a
dizer que faltou algo?
Todas as coisas são nossas:
–Porém, acho que nos antecipamos ao apóstolo. Prestemos muita atenção:
“Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou,
porventura, não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?” Isto é, como
não as daria? Ao dar Cristo por e a nós, Deus não podia agir de outra maneira
que não fosse dar-nos todas as coisas, “pois, n’Ele, foram criadas todas as
coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos,
sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio
dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. N Ele, tudo subsiste”. (Colossenses 1:16 e 17).
“Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: Seja
Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam
as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e
Cristo, de Deus”. (I Coríntios 3:21-23) Isso responde, portanto, à pergunta:
“Quem será contra nós?” Tudo concorre em nosso favor. “Porque todas as coisas
existem por amor de vós”. (II Coríntios 4:15)
Um general, certa vez, enviou um telegrama à sua central de
operações, dizendo: “Encontramos o inimigo. Já é nosso”. Isso também é o que
todo filho de Deus tem o privilégio de dizer. “Graças a Deus, que nos dá a
vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (I Coríntios 15:57).
“E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. (I João 5:4) É
assim que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus. Não
importa se elas forem escuras e ameaçadoras; se estivermos em Cristo, são para
nós e não contra nós.
Chegamos agora ao final do oitavo capítulo de Romanos. É ele o alto
do Pisga da epístola, pois desde sua cumeada o olho da fé contempla a terra
prometida. Nesse ponto, quem sabe, seja proveitoso proceder a um breve resumo
do terreno que percorremos. O que vem a seguir é um esquema sinóptico do quanto
estudado até aqui:
·No primeiro capítulo encontramos o tema da epístola expresso em
breves palavras, o evangelho de Cristo, o poder de Deus para a salvação.
Salvação tanto para judeus como para gentios, revelado a todos mediante as
obras de Deus. Descreve-se, então, a condição daquele que se recusa conhecer a
Deus.
·O segundo capítulo nos ensina que no fundo, todos são iguais; e que serão julgados
pela única e mesma norma; que o conhecimento e a elevada profissão não
recomendam ninguém a Deus. A obediência à lei de Jeová é o único sinal do
verdadeiro israelita e herdeiro de Deus.
·O terceiro capítulo enfatiza os tópicos anteriores, especialmente o fato de que não
há ninguém obediente. “Visto que ninguém será justificado diante d’Ele por
obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”.
Porém, há esperança para todos, visto que a justiça da lei é imputada sobre
todo aquele que crê em Cristo, de maneira que o homem se torna um cumpridor da
lei pela fé. Um só Deus justifica a ambos, judeus e gentios, por meio da fé. A
fé não é um sucedâneo da obediência à lei, mas o que assegura seu cumprimento.
·No capítulo quarto, encontramos Abraão como ilustração da justiça obtida pela fé.
Vemos também que a fé na morte e ressurreição de Cristo é a única maneira de
herdar a promessa feita aos pais, promessa que envolve nada menos que a
possessão da Terra renovada. A bênção de Abraão é a mesma que vem pela cruz de
Cristo. Porquanto a promessa feita a Israel não foi mais que a repetição
daquela feita a Abraão. Vemos que Israel é constituído por aqueles que,
oriundos de todas as nações, obtêm a vitória sobre o pecado mediante a cruz de
Cristo.
·Quinto capítulo O amor e a graça abundantes, a salvação mediante a
vida de Cristo, são as linhas mestras do capítulo quinto.
·O capítulo sexto dirige a mente do leitor à nova criatura como
pensamento chave. Considera a morte, a sepultura, a ressurreição e a vida com
Cristo.
·No capítulo sétimo, vemos quão estreita é a relação entre Cristo e
os crentes. Estão desposados com Ele, de modo que são “membros de Seu corpo, de
Sua carne e ossos”. São descritas em vívido estilo as lutas mediante as quais é
conseguida a libertação do primeiro marido – o corpo do pecado.
·O oitavo capítulo, o ápice da carta, descreve as bênçãos do filho
de Deus nascido para a liberdade. A esperança da imortalidade constitui a
possessão, mediante o Espírito, da vida e da glória presentes em Cristo. Os que são de
Cristo estão predestinados à glória eterna. Chegamos assim a:
Exclamação triunfal. A gloriosa convicção: – Romanos 8:31-39.
31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós,
quem será contra nós?
32 Aquele que não poupou
o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura, não nos dará
graciosamente com Ele todas as coisas?
33 Quem intentará
acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.
34 Quem os condenará? É
Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de
Deus e também intercede por nós.
35 Quem nos separará do
amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez,
ou perigo, ou espada?
36 Como está escrito:
Por amor de Ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como
ovelhas para o matadouro.
37 Em todas estas
coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio dAquele que nos amou.
38 Porque eu estou bem
certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as
coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes,
39 nem a altura, nem a
profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus,
que está em Cristo Jesus,
nosso Senhor.
Tudo a nosso favor: –O apóstolo acaba de perguntar: “Se Deus é por nós, quem será
contra nós?” A única resposta é: Ninguém! Deus é maior e ninguém pode arrebatar
coisa alguma de Suas mãos. Se Aquele que tem poder para fazer com que todas as
coisas contribuam para o bem estiver conosco, então tudo tem de estar a nosso
favor.
No entanto, com
freqüência se levanta na mente de muitos a pergunta: “Será que Deus está
realmente conosco? Alguns O acusam injustamente de estar contra eles. Algumas
vezes até os professos cristãos pensam que Deus age contra eles. Ao advir a
prova, imaginam que Deus está lutando contra eles. Porém, um só fato deveria
bastar para esclarecer definitivamente o assunto: Foi Deus quem Se deu a Si
mesmo por nós e quem nos justifica.
Quem acusará os
escolhidos de Deus. Deus mesmo, que os justifica, fará isso? Impossível! Pois
bem, Deus é o único em todo o Universo que tem o direito de acusar alguém de
alguma coisa, e posto que Ele nos justifica em lugar de condenar, ficamos
livres. Assim é se assim crermos. A quem Deus justifica? “Ao ímpio”. Isso não
deixa nenhuma dúvida de que é a nós que Ele justifica.
E que diremos de Cristo?
Condenar-nos-á Ele? Como poderia fazê-lo sendo que Se deu a Si mesmo por nós?
Porém, deu-Se de acordo com a vontade de Deus (Gálatas 1:4) “Porquanto Deus
enviou o Seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o
mundo fosse salvo por Ele”. (João 3:17). Ele ressuscitou para nossa
justificação e está a nosso favor, à direita de Deus. Interpõe-Se entre nós e a
morte que merecemos. Portanto, não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.
Alguém dirá: “Satanás
vem a mim e me faz sentir que sou tão pecador que Deus está indignado comigo,
dizendo que meu caso é desesperador”. Pois bem, e por que você o ouve? Você
conhece o seu caráter: Ele é “mentiroso e pai da mentira”. O que você tem a ver
com ele? Deixe que o acuse de tudo quanto quiser; ele não é o juiz. Deus é o
Juiz e Ele justifica. O único objetivo de Satanás é enganar o homem e seduzi-lo
a pecar, fazendo-o crer que isso é correto. Pode você ter bastante certeza de
que ele nunca dirá a alguém que não foi perdoado: “você é um pecador”. Deus,
mediante Seu Espírito, é quem faz isso, a fim de que o homem culpado possa aceitar
o perdão que Ele gratuitamente oferece.
O tema pode ser colocado
desta maneira: Quando Deus diz ao homem que ele é um pecador, fá-lo com o
propósito de levá-lo a receber Seu perdão. Se Deus afirma que um homem é
pecador, esse o é sem dúvida, e deveria reconhecê-lo, porém, “o sangue de Jesus
Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Isso é verdadeiro, não importa
quem nos diz que somos pecadores. Suponha que Satanás nos dissesse que somos
pecadores. Não precisamos parlamentar com ele, nem nos determos para discutir a
questão. Esqueçamo-nos da acusação e cobremos ânimo com a certeza de que “o
sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”.
Deus não nos condena,
nem mesmo ao nos convencer do pecado. E não incumbiu a ninguém mais de
condenar-nos. Se outros nos condenam, sua acusação equivale a nada. Não há
nenhuma condenação para aqueles que confiam no Senhor. Até as próprias
acusações de Satanás podem nos ser motivo de ânimo, visto podermos estar certos
de que ele jamais dirá a um homem que ele é pecador, enquanto sob seu domínio
(Nota: Posto que isso daria ao pecador a oportunidade de se arrepender, é a
última coisa que Satanás deseja). Se Deus é por nós, tudo está a nosso favor.
Amor eterno: –“De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno Eu
te amei; por isso, com benignidade te atraí”. (Jeremias 31:3). Sendo assim,
“quem nos separará do amor de Cristo?” Seu amor é eterno. Não conhece variação
e é dirigido a nós, portanto, nada nos pode apartar d’Ele. Nossa escolha
deliberada pode repudiá-lo, porém, até nesse caso, Ele continua amando-nos,
mesmo que O hajamos renegado. “Se somos infiéis, Ele permanece fiel, pois de
maneira nenhuma pode negar-Se a Si mesmo”. (II Timóteo 2:13).
Poderão a tribulação, a
angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou espada separar-nos do
amor de Cristo? Impossível! Nessas mesmas coisas Ele manifestou Seu amor por
nós. A própria morte não pode separar-nos de Seu amor, porquanto Ele nos amou
de tal maneira que Se deu para morrer por nós. A morte é a garantia de Seu
amor. O pecado que nos separa de Deus não nos distancia de Seu amor, já que
“Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por
nós, sendo nós ainda pecadores”. “Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez
pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus”. (II Coríntios
5:21).
“Em todas estas coisas,
porém, somos mais que vencedores, por meio d’Aquele que nos amou”. Assim
somente é que pode ser, visto que todas as coisas “contribuem para o bem”.
Posto que Jesus sofreu fome, angústia, perigos e até a morte a fim de poder
livrar-nos, todas essas coisas vão a nosso favor. Foi mediante a morte que Ele
nos obteve a vitória, por conseguinte, até na morte conquistamos uma gloriosa
vitória. Aqueles a quem Satanás persegue até a morte alcançam o maior triunfo
imaginável sobre ela. O que parece ser um triunfo do maligno, significa sua
mais esmagadora derrota.
Considere a maravilhosa provisão que Deus fez para nossa salvação.
É simples achar que se Satanás não nos perturbasse em coisa alguma, nossa
salvação seria certa. Se nosso inimigo nos deixasse totalmente em paz, acabaria
o conflito. Poderíamos sentir-nos seguros. Porém, ele não nos deixa de modo
algum, mas anda ao nosso redor qual leão bramidor, buscando a quem devorar.
Pois bem; Deus providenciou para que mesmo esses ataques destruidores nos sejam
de benefício. A morte é a suma de todos os piores males que Satanás pode
infligir-nos, e mesmo nela somos mais do que vencedores por Aquele que nos
amou. “Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus
Cristo”. (I Coríntios 15:57).
Confiança inquebrantável: –“Porque
assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em
sossegardes, está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vossa
força...” (Isaías 30:15) “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se,
de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio,
tivemos”. (Hebreus 3:14) A fé é nossa vitória. Somente Deus é nossa força e
salvação. Por isso, o poder está em pôr n’Ele a nossa confiança. “Confiai no Senhor perpetuamente, porque o
Senhor Deus é uma rocha eterna”. (Isaías 26:4).
Esse foi o destino do apóstolo Paulo: “Em açoites, sem medida; em
perigos de morte, muitas vezes”. Disse ele: “Cinco vezes recebi dos judeus uma
quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez,
apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do
mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores,
em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em
perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em
trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns,
muitas vezes; em frio e nudez”. (II Coríntios 11:24-27) Não resta dúvida de que
estamos diante de alguém que possui autoridade provinda de experiência.
Ouçamos, pois, o que ele
nos diz a respeito: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem
os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor”.
Sem medo do futuro: –Tão
somente àqueles que rejeitam voluntariamente o amor de Deus, há “uma horrível
expectativa de juízo”. Cristo nos diz: “... Não vos inquieteis com o dia de
amanhã”. Não é de Sua vontade que nossas mentes sejam presas de temor e nem de
angustiosos presságios. Alguns nunca acham o repouso, nem sequer sob as
circunstâncias mais favoráveis, porque temem que no futuro possa lhes acontecer
algo terrível. Porém, o que vai suceder não faz diferença alguma, porque nem o
presente, nem o porvir, podem separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus nosso
Senhor. É-nos garantido que tanto as coisas futuras como as presentes, são
todas nossas (I Coríntios 3:22). Portanto, podemos em Cristo cantar: “Venha o
bem ou o mal, para mim só será bem, pois estou seguro de ter-Te em tudo, de ter
tudo em Ti”.