Para 21 a 28 de outubro de 2017
"A
justificação pela fé" tem sido uma das, se não a idéia mais discutida na
teologia cristã há milênios. Como somos salvos? De que exatamente
estamos sendo salvos? O que todos esses termos
em latim, como justificação e santificação, significam? O que exatamente
é a fé? É a justiça uma "cobertura" ou
uma efetiva experiência real? Será que (*estes temas) realmente precisam ser
aparentemente tão complicados, técnicos, e "teológicos"? Tenho que aprender grego?
Ao
eu ter a oportunidade de ler, estudar, dialogar e ouvir dezenas de pessoas
honestas, pensativas, e tementes a Deus, irmãos e irmãs cristãos, tanto dentro
do adventismo bem como do cristianismo em geral, eu cheguei à conclusão que há
duas formas fundamentais de ver a salvação e religião. Para colocá-la de forma sucinta, em um sistema
religioso, ou processo de pensamento, a salvação é uma mudança que ocorre em
Deus, a fim de sermos aceitos por Ele ("salvos"). Enquanto no outro
sistema religioso, ou processo de pensamento, a salvação é uma mudança que
ocorre em nós, a fim de crer e amar a Deus.
Agora, alguns
falsos sistemas religiosos são bastante óbvios para nós, e os chamamos de
paganismo. Por exemplo, alguém diz: “—eu tenho um ídolo na minha casa ou
templo, e ofereço ofertas para este ídolo a fim de que os deuses se relacionem
comigo de forma mais favorável.” As ofertas podem ser de alimentos, dinheiro,
sacrifícios pessoais, como viagens, ou em casos extremos, podem ser até mesmo
sacrifício humano. Mas a base é que os deuses se postam diante de nós em uma
atitude de hostilidade, raiva, indiferença, ou de rejeição, até que algo seja
feito por uma pessoa, fora de deus, para alterar a sua atitude ou sentimentos
em relação a nós.
Em círculos
cristãos, isto pode ser um pouco mais sutil. Podemos ter a idéia, consciente ou
inconsciente, de que as coisas como a fé, o arrependimento, a confissão, o
discipulado, etc, causará a Deus mudar Sua atitude ou sentimentos em relação a
nós, a partir de uma condenação, ou falta de aceitação, por uma de aceitação.
Mas, novamente, a idéia básica é a de que, algo que fazemos modifica ou altera
a atitude ou postura de Deus para conosco.
Na sua forma
mais sutil, a idéia não é de que tudo o que fazemos mude a aceitação de Deus ou
a Sua atitude em relação a nós, mas que o que Jesus fez ou está fazendo, muda a
atitude de Deus o Pai ou sentimentos em relação a nós. A idéia é expressa mais
ou menos assim:
Nós somos
pecadores e por isso Deus o Pai não pode aceitar-nos. Mas Jesus morreu em nosso
lugar, e agora Deus o Pai pode nos aceitar por causa de Jesus, que está entre
nós e Deus, o Pai.
Às vezes isto é expresso como a justiça de
Cristo cobrindo-nos para que Deus possa nos aceitar.
A raiz do
problema (*na mente destas pessoas) é a mesma: Deus Se relacionando conosco de
maneira um tanto hostil ou "Inaceitável" ou condenatória — talvez só
um pouco — e Ele precisa ser mudado por algo, e neste caso Jesus faz com que a
mudança ocorra em Deus, o Pai. Deus, o Pai muda de uma atitude de condenação
para conosco, para uma atitude de aceitação em relação a nós.
Embora
geralmente sejamos espiritualmente mais experientes, o suficiente para não usar
palavras como apaziguamento ou aplacamento, para descrever o que está
acontecendo neste sistema de pensamento religioso, parece bastante próximo à
conciliação. Teríamos que ser muito cautelosos para que outras palavras como
expiação ou propiciação não estejam comunicando o princípio de conciliação.
Vamos agora
olhar para o segundo sistema de pensamento religioso. A idéia de que a salvação
é Deus trabalhando para mudar nossa atitude para com Ele. Frequentemente nas
Escrituras, somos descritos como se relacionando com Deus como inimigos. "A mente carnal é inimizade contra
Deus" (Romanos 8:7, KJV). Somos por "natureza filhos da ira" (Efésios 2:4). Nós, “sendo inimigos..." (Romanos 5:10).
Eramos "estranhos, e inimigos em
nossas mentes" (Colossenses 1:21, KJV, *em “nosso entendimento”, Almeida). Etc. Em cada um desses versos, e
muitos outros, a questão é que temos nos relacionado com Deus como nosso
inimigo. Temos tido hostilidade e ira para com Ele. Deus, pelo contrário, tem
Se relacionado para conosco como ovelhas perdidas e filhos pródigos,
trabalhando para atrair e conquistar-nos de volta para Si mesmo. Deus não tem
sido o nosso inimigo, mas nós temos sido Seu inimigo.
Quando vemos a
salvação através deste paradigma percebemos que Deus realmente nos ama com um “amor eterno” (Jeremias 31:3). O
problema tem sido que o pecado e Satanás introduziram em nossa mente e psique,
pensamentos sombrios sobre quem é Deus e como Ele Se relaciona conosco. Nós O
vemos como necessitando de apaziguamento, a fim de relacionar-nos com a
aceitação e reconciliação. Em algumas religiões esta conciliação é cumprida
pelo pecador, no cristianismo, é frequentemente visto como Jesus fornecendo a mudança
de atitude e postura de Deus para conosco.
Ao longo de
toda a Escritura, não há versos sobre Deus ser reconciliado conosco, mas eles
são todos sobre nós sermos reconciliados com Ele. Deus nos reconciliou consigo
mesmo (2ª Coríntios 5:18). “Deus estava
em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2ª Coríntios 5:19). “Vos reconcilieis com Deus” (2ª
Coríntios 5:20). “Cristo padeceu uma vez
pelos pecados ... para levar-nos a Deus” (1 Pedro 3:18). “Com benignidade te atraí” (Jeremias
31:3). “Fomos reconciliados com Deus”
(Romanos 5:10). Reconciliá-los a Deus, Efésios 2:16. Repetidamente nas
Escrituras a mensagem é sobre Deus, trabalho, Se esforçando, indo em busca de
nós, para nos ajudar a ver que Ele sempre Se relaciona conosco com a atitude do
pai do filho pródigo (*ou do pastor em busca da ovelha perdida) — esperando que
nós vejamos Seu imutável amor e aceitação — a despeito dos nossos abusos e
hostilidades contra ele.
A justificação
pela fé, então torna-se simplesmente, mas, oh, tão significativamente, uma
mudança em nossa atitude para com Deus, ao nos conscientizarmos da graça e da
bondade e da benevolência com que Ele sempre tem Se relacionado conosco. Somos
"justificados", o que significa que somos mudados em nossos
pensamentos e sentimentos em relação a Ele, pela "fé," que é uma
apreciação de coração do amor que Ele sempre manifestou em relação a nós, e,
especialmente, revelado na cruz.
Eu quero ter os
meus mal-entendimentos ainda existentes removidos. Eles são sutis e às vezes
subconscientes, a respeito de Deus. Eu quero ser transformado (justificado) por
uma apreciação sempre crescente, e confiar (ter fé) na bondade e graça de Deus,
especialmente porque são mais claramente revelados na morte do Filho de Deus.
Deus Filho, manifestando e revelando a Deus Pai, para aqueles que têm se
relacionado com Ele como um inimigo. Que eu não O trate como um inimigo ou O
veja como precisando ser acalmado.
--Bob Hunsaker
O irmão Roberto
Hunsaker é um médico. Adventista por
muitos anos. Diretor do ministério pessoal de sua Igreja
local, na área de Boston, MA., U.S.A., e também professor de sua unidade
evangelizadora. Ele tem, também, um programa semanal na rádio (AM WEZE 590) aos domingos à noite, às 19:30
horas, em parceria com o Pr. Bill Brace, intitulado Portraits
of God (Quadros de Deus).
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