quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Lição 4 — Justificação pela Fé, por Bob Hunsaker



Para 21 a 28 de outubro de 2017

"A justificação pela fé" tem sido uma das, se não a idéia mais discutida na teologia cristã há milênios. Como somos salvos? De que exatamente estamos sendo salvos? O que todos esses termos em latim, como justificação e santificação, significam? O que exatamente é a fé? É a justiça uma "cobertura" ou uma efetiva experiência real? Será que (*estes temas) realmente precisam ser aparentemente tão complicados, técnicos, e "teológicos"? Tenho que aprender grego?
Ao eu ter a oportunidade de ler, estudar, dialogar e ouvir dezenas de pessoas honestas, pensativas, e tementes a Deus, irmãos e irmãs cristãos, tanto dentro do adventismo bem como do cristianismo em geral, eu cheguei à conclusão que há duas formas fundamentais de ver a salvação e religião. Para colocá-la de forma sucinta, em um sistema religioso, ou processo de pensamento, a salvação é uma mudança que ocorre em Deus, a fim de sermos aceitos por Ele ("salvos"). Enquanto no outro sistema religioso, ou processo de pensamento, a salvação é uma mudança que ocorre em nós, a fim de crer e amar a Deus.
Agora, alguns falsos sistemas religiosos são bastante óbvios para nós, e os chamamos de paganismo. Por exemplo, alguém diz: “—eu tenho um ídolo na minha casa ou templo, e ofereço ofertas para este ídolo a fim de que os deuses se relacionem comigo de forma mais favorável.” As ofertas podem ser de alimentos, dinheiro, sacrifícios pessoais, como viagens, ou em casos extremos, podem ser até mesmo sacrifício humano. Mas a base é que os deuses se postam diante de nós em uma atitude de hostilidade, raiva, indiferença, ou de rejeição, até que algo seja feito por uma pessoa, fora de deus, para alterar a sua atitude ou sentimentos em relação a nós.             
Em círculos cristãos, isto pode ser um pouco mais sutil. Podemos ter a idéia, consciente ou inconsciente, de que as coisas como a fé, o arrependimento, a confissão, o discipulado, etc, causará a Deus mudar Sua atitude ou sentimentos em relação a nós, a partir de uma condenação, ou falta de aceitação, por uma de aceitação. Mas, novamente, a idéia básica é a de que, algo que fazemos modifica ou altera a atitude ou postura de Deus para conosco.
Na sua forma mais sutil, a idéia não é de que tudo o que fazemos mude a aceitação de Deus ou a Sua atitude em relação a nós, mas que o que Jesus fez ou está fazendo, muda a atitude de Deus o Pai ou sentimentos em relação a nós. A idéia é expressa mais ou menos assim:
Nós somos pecadores e por isso Deus o Pai não pode aceitar-nos. Mas Jesus morreu em nosso lugar, e agora Deus o Pai pode nos aceitar por causa de Jesus, que está entre nós e Deus, o Pai.
 Às vezes isto é expresso como a justiça de Cristo cobrindo-nos para que Deus possa nos aceitar.             
A raiz do problema (*na mente destas pessoas) é a mesma: Deus Se relacionando conosco de maneira um tanto hostil ou "Inaceitável" ou condenatória — talvez só um pouco — e Ele precisa ser mudado por algo, e neste caso Jesus faz com que a mudança ocorra em Deus, o Pai. Deus, o Pai muda de uma atitude de condenação para conosco, para uma atitude de aceitação em relação a nós.
Embora geralmente sejamos espiritualmente mais experientes, o suficiente para não usar palavras como apaziguamento ou aplacamento, para descrever o que está acontecendo neste sistema de pensamento religioso, parece bastante próximo à conciliação. Teríamos que ser muito cautelosos para que outras palavras como expiação ou propiciação não estejam comunicando o princípio de conciliação.
Vamos agora olhar para o segundo sistema de pensamento religioso. A idéia de que a salvação é Deus trabalhando para mudar nossa atitude para com Ele. Frequentemente nas Escrituras, somos descritos como se relacionando com Deus como inimigos. "A mente carnal é inimizade contra Deus" (Romanos 8:7, KJV). Somos por "natureza filhos da ira" (Efésios 2:4). Nós, “sendo inimigos..." (Romanos 5:10). Eramos "estranhos, e inimigos em nossas mentes" (Colossenses 1:21, KJV, *em “nosso entendimento”, Almeida). Etc. Em cada um desses versos, e muitos outros, a questão é que temos nos relacionado com Deus como nosso inimigo. Temos tido hostilidade e ira para com Ele. Deus, pelo contrário, tem Se relacionado para conosco como ovelhas perdidas e filhos pródigos, trabalhando para atrair e conquistar-nos de volta para Si mesmo. Deus não tem sido o nosso inimigo, mas nós temos sido Seu inimigo.
Quando vemos a salvação através deste paradigma percebemos que Deus realmente nos ama com um “amor eterno” (Jeremias 31:3). O problema tem sido que o pecado e Satanás introduziram em nossa mente e psique, pensamentos sombrios sobre quem é Deus e como Ele Se relaciona conosco. Nós O vemos como necessitando de apaziguamento, a fim de relacionar-nos com a aceitação e reconciliação. Em algumas religiões esta conciliação é cumprida pelo pecador, no cristianismo, é frequentemente visto como Jesus fornecendo a mudança de atitude e postura de Deus para conosco.
Ao longo de toda a Escritura, não há versos sobre Deus ser reconciliado conosco, mas eles são todos sobre nós sermos reconciliados com Ele. Deus nos reconciliou consigo mesmo (2ª Coríntios 5:18). “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2ª Coríntios 5:19). “Vos reconcilieis com Deus” (2ª Coríntios 5:20). “Cristo padeceu uma vez pelos pecados ... para levar-nos a Deus” (1 Pedro 3:18). “Com benignidade te atraí” (Jeremias 31:3). “Fomos reconciliados com Deus” (Romanos 5:10). Reconciliá-los a Deus, Efésios 2:16. Repetidamente nas Escrituras a mensagem é sobre Deus, trabalho, Se esforçando, indo em busca de nós, para nos ajudar a ver que Ele sempre Se relaciona conosco com a atitude do pai do filho pródigo (*ou do pastor em busca da ovelha perdida) — esperando que nós vejamos Seu imutável amor e aceitação — a despeito dos nossos abusos e hostilidades contra ele.  
A justificação pela fé, então torna-se simplesmente, mas, oh, tão significativamente, uma mudança em nossa atitude para com Deus, ao nos conscientizarmos da graça e da bondade e da benevolência com que Ele sempre tem Se relacionado conosco. Somos "justificados", o que significa que somos mudados em nossos pensamentos e sentimentos em relação a Ele, pela "fé," que é uma apreciação de coração do amor que Ele sempre manifestou em relação a nós, e, especialmente, revelado na cruz.
Eu quero ter os meus mal-entendimentos ainda existentes removidos. Eles são sutis e às vezes subconscientes, a respeito de Deus. Eu quero ser transformado (justificado) por uma apreciação sempre crescente, e confiar (ter fé) na bondade e graça de Deus, especialmente porque são mais claramente revelados na morte do Filho de Deus. Deus Filho, manifestando e revelando a Deus Pai, para aqueles que têm se relacionado com Ele como um inimigo. Que eu não O trate como um inimigo ou O veja como precisando ser acalmado.

--Bob Hunsaker

O irmão Roberto Hunsaker é um médico. Adventista por muitos anos.  Diretor do ministério pessoal de sua Igreja local, na área de Boston, MA., U.S.A., e também professor de sua unidade evangelizadora. Ele tem, também, um programa semanal na rádio (AM  WEZE 590) aos domingos à noite, às 19:30 horas, em parceria com o Pr. Bill Brace, intitulado Portraits of God (Quadros de Deus).


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