CARTA AOS ROMANOS
Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani
Capítulo 5
Graça Abundante
No capítulo precedente vimos Abraão como ilustração da justiça
pela fé. A fé que lhe foi imputada, fé na morte e ressurreição de Cristo,
trar-nos-á a mesma justiça e nos tornará herdeiros com ela da mesma promessa.
Porém, o capítulo quarto é, em realidade, um parêntese a propósito dessa
ilustração, de forma que o quinto começa justamente onde o terceiro terminou.
1 Justificados, pois,
mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;
2 por intermédio de quem
obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e
gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.
3 E não somente isto, mas
também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz
perseverança;
4 e a perseverança,
experiência; e a experiência, esperança.
5 Ora, a esperança não
confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo,
que nos foi outorgado.
6 Porque Cristo, quando
nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.
7 Dificilmente, alguém
morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer.
8 Mas Deus prova o seu
próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós
ainda pecadores.
9 Logo, muito mais
agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
10 Porque, se nós quando
inimigos fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais
estando já reconciliados seremos salvos pela sua vida.
A fé opera justiça real: –“Justificados, pois”. O “pois” indica que
se chega a uma conclusão que deriva de algo que a precede. O que é? O relato do
que Abraão obteve pela fé. Obteve justiça. Foi em razão de sua fé na promessa
de que teria um filho – o filho da fé. A mesma fé que propiciou o nascimento de
Isaque trouxe justiça a Abraão. Trata-se da mesma justiça que nos será imputada
se tivermos a fé que ele possuiu. Somos ensinados, portanto, que a justiça da
fé é algo tão real como o filho que nasceu, pela fé, a Abraão. A justiça pela
fé não é nenhum mito.
O que é paz?: –Muitos abrigam a idéia de que se trata de algum tipo de êxtase.
Pensam que a paz com Deus deve consistir em algum tipo de sentimento celestial
indescritível, de forma que estão sempre em busca dessa excitação sentimental
como evidência de que são aceitos por Deus.
Porém, a paz com Deus
significa o mesmo que a paz com o homem – é simplesmente ausência de guerra.
Como pecadores, somos inimigos de Deus. Ele não é nosso opositor, mas nós somos
Seus inimigos. Ele não luta contra nós, todavia, nós pelejamos contra Ele. Como
podemos chegar a ter paz com Deus? Simplesmente deixando de lutar, depondo
nossas armas. Podemos achar a paz no momento em que estivermos dispostos a
deixar de combater contra Ele.
“Paz com Deus”: –Veja que quando temos paz com Deus, não quer dizer somente que
nós estamos em paz com Ele, mas que temos Sua paz. Essa paz foi posta na Terra
em benefício do homem, porque o Senhor disse: “Deixo-vos a Minha paz, a Minha paz vos dou”. (João 14:27) Já que
Ele no-la deu, ela é nossa. Sempre foi nossa. O único problema é que não temos
crido assim. Tão logo creiamos nas palavras de Cristo, temos verdadeiramente a
paz que Ele nos deu. Trata-se da paz com Deus, porque encontramos a paz de
Cristo, “que está no seio do Pai”. (João 1:18).
Paz e justiça: –“Muita paz têm os que amam a Tua lei”. (Sal. 119:165) “Ah, se
tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos! Então seria a tua paz como um rio,
e a tua justiça como as ondas do mar”. (Isaías 48:18) A justiça é paz, porque
nossa luta contra o Senhor consistia nos pecados que acariciávamos. A vida de
Deus é justiça e Ele é o Deus da paz. Posto que a inimizade é a mente carnal e
suas más obras, a paz deve ser o oposto, isto é, a justiça. Devido a isso, a
afirmação de que ao sermos justificados pela fé temos paz com Deus, não deixa
de ser a constatação de um fato óbvio. A justiça que nos é outorgada pela fé
traz consigo a paz. É impossível separar ambas as coisas.
Paz versus sentimentos: –Pode alguém fruir paz com Deus sem possuir
um sentimento de paz? O que diz a Escritura? “Justificados, pois, pela fé,
temos paz com Deus”. O que traz a paz? A fé. Porém, a fé não é um sentimento.
Se a paz deve vir sempre acompanhada de determinado sentimento, então podemos
saber que não estamos justificados no caso de carecermos de tal emoção. Dessa
maneira, a justificação seria uma questão de sentimentos e não de fé. Os
versículos seguintes indicam que podemos ter paz mesmo em meio às tribulações,
da mesma forma que quando tudo vai bem.
Gloriamo-nos nas tribulações: –A Escritura não nos diz que devemos
procurar o martírio, como deduziram alguns nos primeiros séculos. O que ela
fala é que, em meio às tribulações, nossa paz e gozo continuam imperturbáveis.
Não pode ser de outra maneira com a paz que procede da fé. A paz que depende de
sentimento nos abandonará tão logo venha a tribulação. Porém, nada pode alterar
a paz que vem da fé. “Estas coisas vos
tenho dito para que tenhais paz em
Mim. No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, Eu
venci o mundo”. (João 16:33).
A tribulação produz paciência: –O que é paciência? É
resistir ao sofrimento. A palavra “paciência” está etimologicamente relacionada
a sofrimento. Quando alguém está enfermo, dizemos que é um “paciente”. Em
outras palavras, é um sofredor. As pessoas amiudadamente desculpam seu mau
gênio dizendo que têm muito que suportar. Muitos crêem que seriam pacientes no
caso de seu sofrimento ser menos intenso. Não assim! Não o seriam. Não pode
haver paciência onde não há sofrimento. A tribulação não arruína a paciência,
mas a desenvolve. Quando a aflição parece acabar com a paciência de alguém,
demonstra-se, em realidade, que essa pessoa não tinha paciência.
Quando produz?: –O versículo bíblico diz que a tribulação produz paciência.
Porém, muitos se irritam na proporção direta da dor que padecem. Neles ela não
opera a paciência. Por quê? Simplesmente porque não estão na situação que o
apóstolo descreve. Somente nos que estão justificados pela fé é que a
tribulação gera paciência. Nada que não proceda da fé em Deus pode mantê-los
perfeitamente pacientes sob qualquer circunstância.
Produzirá sempre?: –Sim, invariavelmente. Quem sabe você esteja dizendo para si
mesmo: “Estou certo de que todos seriam impacientes se tivessem de resistir
tanto quanto tenho padecido”. Permita-me perguntar-lhe: Será que Cristo ficaria
impaciente se tivesse de agüentar tanto quanto você tem de sofrer? Acaso Ele
não passou por isso e muito mais? Você terá de admitir que sim. Ficou Ele
impaciente? “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca”. (Isaías 53:7)
Portanto, se Ele estivesse em seu lugar, seria paciente? Por que você não
permite que Jesus tome o seu lugar? A fé traz Cristo ao coração, de modo que
Ele Se identifica conosco e leva nossas cargas. “Confia os teus cuidados ao
Senhor, e Ele te susterá”. (Salmo 55:22).
“Toda paciência”: –Não há limites à paciência que vem pela fé em Cristo. “Para que
possais andar de maneira digna do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando
em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus, corroborados com toda a
fortaleza, segundo o poder da Sua glória, para toda a perseverança e
longanimidade com gozo...” (Colossenses 1:10-12). Isto é, podemos ser
fortalecidos de tal modo pelo glorioso poder pelo qual Cristo resistiu ao
sofrimento, que manifestamos toda paciência, inclusive sob o mais atroz
padecimento, alegrando-nos nele.
“A paciência produz um caráter aprovado”: –Aprovado em quê? Na paz
de Deus mediante nosso Senhor Jesus Cristo. Muitos confundem experiência cristã
com profissão de cristianismo. Dizem ter vivido tantos anos de “experiência
cristã”, enquanto pode acontecer de não terem experimentado de fato a bênção da
vida de Cristo. Trata-se de uma mera profissão religiosa. A experiência genuína
significa a demonstração do poder da vida de Cristo. Quando alguém possui essa
experiência, esse “caráter aprovado”, não lhe é difícil partilhar algo dela
quando uma ocasião propícia tiver lugar.
“Não há vergonha”: –A esperança não envergonha. Por quê? Porque o amor de Deus é
derramado em nossos corações. “E agora, filhinhos, permanecei n’Ele; para que,
quando Ele Se manifestar, tenhamos confiança, e não fiquemos confundidos diante
d’Ele na Sua vinda”. (I João 2:28). “Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para
que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual Ele é, somos também nós
neste mundo”. (I João 4:17) Não pode haver dia de maior prova do que o dia do
juízo. Por isso, os que nessa ocasião não estiverem envergonhados, nem
atemorizados, manifestarão confiança. Aquele que está confiante em Deus não tem
nada que temer do homem.
“O amor de Deus”: –A razão por que a esperança não envergonha é que o amor de Deus
está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. Observe que não se trata
do amor a Deus, mas do amor de Deus. Em que consiste o amor de Deus? “Porque
este é o amor de Deus, que guardemos os Seus mandamentos...” (I João 5:3). O
Espírito Santo, por conseguinte, coloca em nossos corações a obediência à lei
de Deus, e isso nos dá confiança para o dia do juízo e em todos os demais dias.
O pecado é que produz medo no homem. Ao ser removido o pecado, o temor
desaparece. “Fogem os ímpios sem que ninguém os persiga, mas os justo são
ousados como o leão”. Provérbios 28:1.
Cristo morreu pelos ímpios: –“Fiel é a palavra e digna de toda
aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais
eu sou o principal”. (I Timóteo 1:15). “Este recebe pecadores...” (Lucas 15:2)
É estranho que as pessoas permitam que o sentimento de sua pecaminosidade os
mantenha apartados do Senhor, uma vez que Cristo veio precisamente para
recebê-los e salvá-los. Ele pode salvar perfeitamente aos que, por Seu
intermédio, se achegam a Deus (Hebreus 7:25), e lhes diz: “O que vem a Mim
nunca o lançarei fora”. (João 6:37).
“Quando nós ainda éramos
fracos”. – Foi quando éramos ainda débeis que Cristo morreu pelos ímpios. Assim
tinha de ser, pois era Seu propósito que fôssemos fortalecidos com poder por
Seu Espírito no homem interior. Se Ele houvesse esperado que adquiríssemos
certa força antes de Se entregar por nós, estaríamos perdidos. Quando éramos
fracos? Agora, precisamente, Cristo Se apresenta como crucificado perante nós
(Gálatas 3:1) Isaías 5:23 e 24, na versão Cantera Iglesias, assim reza:
“Voltai-vos para Mim e sede salvos... de Minha boca saiu a justiça... jurará
toda língua, dizendo: Só em Jeová tenho salvação e força”.
“Justo” e “bom”: –“Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que
pelo bom alguém se anime a morrer”. Em nosso idioma é difícil a distinção entre
os termos. O homem justo é aquele que é reto, aquele que paga escrupulosamente
a cada um aquilo que deve. O bom é aquele que é benevolente, o que nos faz
muitos favores, que faz por nós mais do que merecemos. Pois bem, por mais justo
que um homem possa ser, sua integridade de caráter dificilmente levará alguém a
morrer por ele. Porém, é possível que alguém estivesse disposto a morrer por um
homem conhecido por sua grande bondade.
O amor maior: –Essa é a medida máxima de amor entre os homens. Alguém pode
chegar a dar a vida por seus amigos. “Mas Deus prova o Seu próprio amor para
conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”, e,
portanto, inimigos.
“Com amor eterno Eu te
amei; por isso, com benignidade te atraí”. (Jeremias 31:3).
Reconciliados por Sua morte: –Deus não é nosso inimigo, porém, nós somos,
ou fomos, adversários d’Ele. Deus não necessita, pois, reconciliar-Se conosco;
porém, nós sim é que necessitamos reconciliar-nos com Ele. Ele mesmo é quem, na
infinita bondade de Seu coração, faz a reconciliação. Temos sido “aproximados
pelo sangue de Cristo”. (Efésios 2:13) Como? Foi o pecado que nos separou de
Deus e nos tornou Seus inimigos, mas, “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos
purifica de todo pecado” (I João 1:7). Se nos purifica de todo pecado, somos
naturalmente reconciliados com Deus.
O dom da vida: –“A vida da carne está no sangue”. (Levíticos 17:11 e 14) Por ter
Cristo derramado Seu sangue por nós, deu Sua vida em nosso favor. Visto que Seu
sangue é aplicado para nos purificar de todo pecado, Sua vida nos é outorgada.
Portanto, se somos crucificados com Ele, recebemos Sua vida em troca de nossa
existência pecaminosa, a qual Ele toma para Si. Pela fé em Seu sangue são-nos
remitidos os pecados, não como por um gesto arbitrário, mas porque mediante a
fé “trocamos” nossa vida pela Sua, e essa vida que recebemos em troca não tem
pecado. Nossa vida pecaminosa é absorvida em Sua vida infinita, porque Ele tem
vida tão abundante que pôde morrer por nossas transgressões e viver novamente
para conferir-nos vida.
“Salvos por Sua vida” –
Cristo não conheceu em vão os horrores da morte, nem deu Sua vida por nós com a
intenção de retomá-la depois. Ao nos dar Sua vida, fê-lo para que a tivéssemos
para sempre. Como a recebemos? Pela fé. Como a conservamos? Pela mesma fé. “Portanto, assim como
recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim também n’Ele andai”. (Colossenses
2:6) Sua vida nunca tem fim, porém, podemos perdê-la por nossa incredulidade.
Lembremo-nos de que não
temos essa vida em nós mesmos; mas ela “está em Seu Filho”. “Quem tem o
Filho tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida”. (I João 5:11 e
12). Obtemos a vida eterna tendo a
Cristo. É lógico que se fomos reconciliados com Deus pela morte de Cristo, se
Sua vida nos foi dada para remissão de nossos pecados, quanto mais seremos
salvos por Aquele que ressuscitou dos mortos!
Às vezes alguns dizem que podem crer que Deus lhes
perdoa os pecados, porém, encontram dificuldade em crer que Ele os pode guardar
de pecar. Se, porém, há alguma coisa mais fácil que outra, essa é a última,
posto que o perdão dos pecados requer a morte de Cristo, enquanto que para
salvar dos pecados, somente a transmissão contínua de Sua vida.
Qual é a vida pela qual
somos salvos? – Pela vida de Cristo, que
é una e única. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente”. (Hebreus
13:8). É por Sua vida atual que somos salvos, isto é, por Sua vida em nós dia
após dia. A vida que Ele hoje vive é a mesma que viveu na Judéia há dois mil
anos. Ele retomou a mesma vida que havia deposto. Pense no que havia na vida de
Cristo, tal como nos é apresentada em o Novo Testamento,
e aí terá o que deveria ser hoje nossa vida. Se Lhe permitirmos morar em nós,
viverá tal como o fez então. Se há algo em nossa vida que não estivesse na Sua,
podemos estar certos de que Ele não vive em nós hoje.
Uma Série de Contrastes – Romanos 5:12-19.
12 Portanto, assim como
por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também
a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.
13 Porque até ao regime
da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há
lei.
14 Entretanto, reinou a
morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança
da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir.
15 Todavia, não é assim
o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram
muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus
Cristo, foram abundantes sobre muitos.
16 O dom, entretanto,
não é como no caso em que somente um pecou; porque o julgamento derivou de uma
só ofensa, para a condenação; mas a graça transcorre de muitas ofensas, para a
justificação.
17 Se, pela ofensa de um
e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da
graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus
Cristo.
18 Pois assim como, por
uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim
também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a
justificação que dá vida.
19 Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por
meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.
O versículo 11 deve ser estudado juntamente com a seção precedente,
de cujo esquema faz parte. “Gloriamo-nos em Deus” pela vida através da qual
recebemos a reconciliação e a salvação. A vida de Cristo é uma existência
gratificante. Depois de haver caído, Davi orou: “Restitui-me a alegria da Tua
salvação e sustenta-me com um espírito voluntário”. (Salmo 51:12). O brilho do
céu, a beleza da infindável variedade de flores com a qual Deus atapeta a
terra, os alegres cantos dos pássaros, tudo indica que Ele Se deleita na
alegria e na beleza. A luz e o louvor não são mais que expressões naturais de
Sua vida. “... Gloriem-se em Ti os que amam o Teu nome”. (Salmo 5:11).
Possivelmente não haja em Romanos trecho de mais difícil
compreensão do que os versos 12 ao 19. Isso se deve à existência de um extenso
parêntese no meio da afirmação principal, junto à repetição de uma expressão
recorrente. Em nosso estudo, não nos deteremos em cada detalhe, mas prestaremos
atenção à idéia principal presente ao longo do arrazoado. Você pode, depois,
fazer uma leitura e um estudo mais pormenorizados.
Princípios fundamentais:
–No
verso 12, o apóstolo retrocede até o princípio. “Portanto, assim como por um só
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, porquanto todos pecaram”. Não há apresentação
legítima do evangelho que possa ignorar esses fatos.
Morte devida ao pecado: –A
morte penetrou o mundo pelo pecado, porque o pecado é a morte. O pecado, quando
se desenvolveu plenamente, gerou a morte (Tiago 1:15). “A inclinação da carne é
morte”. (Romanos 8:6). “O aguilhão da morte é o pecado...” (I Coríntios 15:56).
Se não houvesse pecado, não poderia existir a morte. O pecado traz [o veneno
da] morte em seu seio. Não foi um ato arbitrário de Deus que a morte viesse
como conseqüência do pecado; não poderia ser diferente.
Justiça e vida: –“Mas a
inclinação do Espírito é vida e paz”. “Ninguém é bom, senão Um, que é Deus”.
(Mateus 19:17). Ele é a própria bondade. A bondade é Sua vida. A justiça é
simplesmente a maneira de ser de Deus, portanto, justiça é vida. Não se trata
meramente de uma concepção do que é reto ou justo, mas da própria retidão ou
justiça. A justiça é ativa. Da mesma maneira que o pecado e a morte são
inseparáveis, também o são a justiça e a vida. “Vê que hoje te pus diante de ti
a vida e o bem, a morte e o mal”. (Deuteronômio 30:15).
A morte passou a todos os homens – Observe a justiça nisto: a morte
passou a todos os homens, “porquanto todos pecaram”. “A alma que pecar, essa
morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade
do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá
sobre ele”. (Ezequiel 18:20). E é também uma conseqüência do fato de que o
pecado, em si mesmo, conduz à morte, e a morte não pode advir de nenhuma outra
maneira que não através do pecado.
Conclusão: –O verso 12
inicia uma afirmação que não se completa nele. Os versos 13 ao 17 constituem-se
um parêntese, devendo avançar até o 18 para chegar a uma conclusão. Porém,
visto haver um espaço parentético tão grande e ser fácil perder o fio da
primeira parte da declaração, o apóstolo repete sua essência a fim de podermos
perceber a força da inferência. De forma que a primeira parte do verso 18 é
paralela ao verso 12. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens...
para condenação...” a conclusão é que “por um só ato de justiça, veio a graça
sobre todos os homens para a justificação que dá vida”.
O reino da morte – “... A morte reinou desde Adão até
Moisés...” Isso não quer dizer que ela
não reinasse de igual maneira a partir de Moisés. Essa expressão dá relevo ao
fato de que Moisés representa a introdução da lei. “A lei foi dada por
intermédio de Moisés...” (João 1:17). Visto que a morte reina pelo pecado e não
se imputa pecado onde não há lei, é evidente que a lei estava no mundo antes do
Sinai, tanto como após ele. “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do
pecado é a lei”. (I Coríntios 15:56)
Onde não há lei, não se pode imputar transgressão; e onde há pecado,
reina a morte.
Adão como figura – “Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés,
mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o
qual prefigurava Aquele que havia de vir”. Como pode Adão ser figura d’Aquele
que havia de vir, isto é, de Cristo? Precisamente da mesma forma que indicam os
versículos seguintes: Adão era uma figura de Cristo porque sua ação afetou a
muitos, além dele próprio. Está claro que Adão não podia passar a nenhum de
seus descendentes uma natureza mais elevada do que aquela que ele mesmo
possuía; portanto, o pecado de Adão tornou inevitável que todos os seus
descendentes nascessem com naturezas pecaminosas. Não obstante, a sentença de
morte não passou a todos por isso, mas porque todos pecaram.
Figura por contraste: –Adão
é uma figura de Cristo, porém apenas por contraste. “Não é assim o dom gratuito
como a ofensa”. Pela ofensa de um, muitos são mortos; porém, pela justiça de
Outro, recebem a vida. “Porque o juízo veio, na verdade, de uma só ofensa para
condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação”.
“Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os
que recebem a abundância da graça e do dom da justiça, reinarão em vida por um
só, Jesus Cristo”. Vemos seguidamente o contraste. Cristo reverte tudo o que
nos veio em conseqüência da queda de Adão. Mais exatamente, tudo o que se
perdeu em Adão é restaurado em Cristo.
“Muito mais”: –Podemos
considerar que essa é a expressão-chave do capítulo. Não somente fica
restaurado em Cristo tudo quanto se perdeu com Adão, porém “muito mais”. “Porque,
se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu
Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela Sua vida”. E
não podemos queixar-nos do fato inevitável de sermos herdeiros de uma natureza
pecaminosa através de Adão. Não podemos queixar-nos de um trato injusto. É
certo que não podemos ser culpados de possuir uma natureza pecaminosa, e o
Senhor não nos incrimina por isso. Ele providencia para que, da mesma maneira
que em Adão nos tornamos participantes da natureza pecaminosa, sejamos em
Cristo participantes da natureza divina.
No entanto, há “muito mais”. “Se, pela ofensa de um e por meio de
um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom
da justiça”. Ou seja, a vida da qual somos feitos participantes em Cristo é
muito mais poderosa para a justiça, do que a vida que havíamos recebido de Adão
o era para a injustiça. Deus não faz as coisas pela metade. Ele dá “abundância
de graça”.
A condenação: –“A morte
passou para todos os homens”, ou, como lemos mais adiante, “veio a condenação
sobre todos os homens”. “O salário do pecado é a morte”. (Romanos 6:23) Todos
pecaram e, por isso, todos estão debaixo da condenação. Nenhum homem viveu na
Terra sobre o qual a morte não tenha reinado, nem viverá até o final deste
mundo. Enoque e Elias, da mesma forma que aqueles que forem transladados quando
Cristo vier, não se constituem numa exceção. Não há exceções, porque a
Escritura afirma que “a morte passou a todos os homens”. O reino da morte é
simplesmente o reino do pecado. “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos
mesmos sentimentos”. Enoque foi justo
somente pela fé; sua natureza era tão pecaminosa como a de qualquer outro
homem. Assim, a morte reinou sobre eles tanto quanto os demais. Lembre-se de
que o atual descanso no sepulcro, comum a todos os homens, não é o castigo pelo
pecado. É, simplesmente, a evidência de nossa mortalidade. Bons e maus morrem
igualmente. Essa não é a condenação, porque há homens que morrem regozijando-se
no Senhor, e mesmo entoando cânticos de triunfo.
“Justificação e vida”:
–“... Por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para
justificação e vida”. Não há aqui nenhuma exceção. Do mesmo modo como a
condenação veio sobre todos os homens, também a justificação. Cristo provou a
morte por todos. Deu-se a Si mesmo por todos e a cada um. O dom gratuito veio
sobre todos. O fato de ser um dom gratuito é evidência de que não há exceção
alguma. Se houvesse vindo somente sobre aqueles que teriam alguma qualificação
excepcional, não seria um dom gratuito.
Por isso, é um fato claramente estabelecido na Bíblia que o dom da
justiça e a vida em Cristo vieram sobre todo homem no mundo. Não há a mínima
razão para que todo homem que tenha vivido deixe de ser salvo para a vida
eterna, exceto se não receber esse dom. Quantos desprezam o dom oferecido tão
generosamente!
“A obediência de Um”: –Pela
obediência de Um muitos serão feitos justos. O homem não é salvo por sua
própria obediência, mas mediante a obediência de Cristo. Isso é o que cético
procura ironizar, pois lhe parece que a obediência de um homem não pode ser
contada em favor de outro. Porém, aquele que rejeita o conselho do Senhor, nada
sabe de justiça e não está qualificado para julgar o caso.
O ensino bíblico não é
que Deus nos chama de justos simplesmente porque Jesus de Nazaré foi justo há
dois mil anos. Não! O que a Bíblia diz é que por Sua obediência somos feitos
justos. Veja que o tempo verbal é o presente do indicativo. Trata-se de justiça
atual. O problema daqueles que fazem objeção ao fato de a justiça de Cristo ser
imputada ao crente é que não levam em conta o fato de que Jesus vive. Vive hoje
tão certamente como quando esteve na Judéia. “Ele vive” e é o “mesmo ontem,
hoje e eternamente”. Sua vida está tão perfeitamente em harmonia com a lei
agora como esteve no passado, e vive no coração daqueles que n’Ele crêem.
Por conseguinte, é a
obediência atual de Cristo no crente que o torna justo. O homem não pode, por
si mesmo, fazer nada; por isso Deus, em Seu amor, o faz por Ele. Isto é: “Logo,
já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho
na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou
por mim”. (Gálatas 2:20).
Por que não todos?: –Diz o texto que “pela obediência de um só, muitos se tornaram
justos”. Por que não são todos tornados justos pela obediência de Um? A razão é que nem todos querem que seja
assim. Se os homens fossem feitos justos simplesmente devido a que Um foi justo
há dois mil anos, então todos deveriam ser justos igualmente. Não haveria
nenhuma justiça em contar como justo alguém e não todos os demais. Porém, já
vimos que não ocorre dessa maneira.
O homem não é meramente
contado como justo, mas ele é realmente tornado justo pela obediência de
Cristo, que é tão justo hoje como sempre o foi, e que vive naqueles que a Ele
se entregam. Sua capacidade para morar em qualquer ser humano é demonstrada no
fato de ter Ele tomado a carne humana há dois mil anos. O que Deus fez na Pessoa
do carpinteiro de Nazaré, também está desejoso de fazer em todo o que crê. O
dom gratuito é concedido a todos, porém nem todos o aceitam; conseguintemente,
nem todos são tornados justos por Ele. Não obstante, “muitos” serão feitos
justos por Sua obediência.
Para o estudo dos dois versículos que vêm a seguir bastará, para
atender ao nosso propósito atual, recordar que o pensamento principal que
transcorre ao longo de todo o capítulo é a vida e a justiça. O pecado é morte e
a justiça é vida. A morte passou a todos os homens, porque todos pecaram; o dom
da justiça veio sobre todos eles na vida de Cristo. Não se imputa pecado onde
não há lei, porém, imputou-se pecado a Adão e a todos os que viveram depois
dele, inclusive antes da lei haver sido promulgada no Sinai, nos dias de
Moisés.
Graça e Verdade: – Romanos 5:20 e 21.
20 Sobreveio a lei para
que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça,
21 a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também
reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso
Senhor.
Sobreveio a lei: –A frase indica que antes do tempo especificamente referido como
de entrada da lei, já existia pecado. Se levarmos em consideração os versículos
13 e 14, não haverá dificuldade de compreensão no que se refere à proclamação
da lei no Sinai. “Até à lei” refere-se evidentemente ao tempo de Moisés e à
apresentação da lei.
“Avultasse a ofensa”: –A lei foi promulgada para que o pecado, que já existia,
“avultasse”. “... Mas o pecado não é levado em conta quando não há lei.” Assim,
temos de admitir que a lei estava no mundo antes do tempo referido como de sua
entrada, isto é, antes que fosse proclamada no Sinai. Comprovam-no os versos 13
e 14. É impossível que a lei produzisse mais pecado do que o que já existia. O
que ela fez foi identificá-lo e pô-lo em evidência, a saber, mostrar mais
plenamente sua verdadeira natureza.
Como lemos em Romanos
7:13, foi para que ele “se mostrasse sobremaneira maligno”. Ninguém teve mais
da lei de Deus nem antes nem depois dela ser pronunciada no Sinai. Não houve
ninguém que fosse justo anteriormente e que se convertesse em pecador pela
promulgação da lei, e tampouco houve ato pecaminoso que se tornasse pior ao vir
a lei à luz. Porém, as circunstâncias
sob as quais se pronunciou a lei mostraram o aspecto espantoso do pecado, e
impressionaram muito mais que antes os presentes com o sentido de sua
pecaminosidade.
A graça superabundou: –Seria proveitoso que todos conhecessem esse fato. Ouviríamos
falar menos de desânimo em vista do fato de sermos tão pecadores. Está o
coração cheio de pecado? Saiba você que onde o pecado abundou, superabundou a
graça. Isso nos mostra o fato de que Cristo, que é cheio de graça, está à porta
do coração (que é a própria pecaminosidade do homem), e pede para entrar
(Apocalipse 3:15-20). “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. (I
Timóteo 1:15). “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos
pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que
sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã”. (Isaías 1:18)
A graça no Sinai: –A lei veio para que o pecado abundasse. Em nenhum outro momento
havia sido manifesto com maior energia o horror do pecado. Porém, “onde abundou
o pecado, superabundou a graça”, logo, fica claro que a graça devia transbordar
sobremaneira ao ser a lei dada no Sinai.
É errado supor que o
desígnio de Deus era que o homem obtivesse a justiça mediante suas próprias
obras de obediência. Pelo contrário, a lei foi promulgada para destacar a
superabundante graça de Deus ao perdoar o pecado, e ao operar a justiça no
homem.
A lei e o trono de Deus: –Lemos que “justiça e juízo são a base do
Seu trono”. (Salmo 97:2). Em Seu trono habita a justiça. É ela o seu próprio
fundamento. A lei de Deus é justiça, Sua própria justiça. No capítulo 51,
versos 6 e 7 de Isaías, Deus diz: “Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós,
povo em cujo coração está a Minha lei...” Somente conhecem Suja justiça aqueles
em cujo coração está a Sua lei, de maneira que a lei de Deus é sua justiça. A
afirmação de que a justiça é o assento (como dizem algumas traduções) ou
fundamento de Seu trono, implica que a lei de Deus está em Seu trono. Ele está
assentado sobre o trono da justiça.
Evidência do santuário: –O santuário que Moisés construiu tinha por
finalidade ser a morada de Deus. “E Me farão um santuário para que Eu possa
habitar no meio deles”. (Êxodo 25:8). No lugar santíssimo do santuário estava a
arca do concerto. Ela é descrita em Êxodo 25:10 a 22. A cobertura da arca
recebia o nome de propiciatório. Sobre ela estavam dois querubins de ouro. Em
seu interior, sob o propiciatório, estavam as tábuas da lei (ver Êxodo 25:16-21
e Deuteronômio 10:1-5). Entre os dois querubins sobre o propiciatório e acima
das tábuas da lei, manifestava-se a glória de Deus, e aí estava o lugar onde o
Senhor habitava com Seu povo (Êxodo 25:22). Em II Reis 19:15 e também
Salmo 80:1, Deus é descrito como habitando entre os querubins.
Vemos, portanto, que a
arca do concerto com o propiciatório era uma representação do trono de Deus. Da
mesma forma que os Dez Mandamentos estavam na arca no interior do santuário
terrestre, assim também se constituem o fundamento do trono de Deus no Céu.
Como o santuário terrestre era luma figura do santuário celestial, o
verdadeiro, a lei, como se acha no Céu, no trono de Deus, é idêntica à lei que
foi proclamada no Sinai, a qual Deus escreveu sobre tábuas de pedra posteriormente
postas dentro da arca.
O trono de Deus e o Sinai: –Já verificamos que a lei de Deus é o
fundamento de Seu trono. Essa afirmação não deveria surpreender a ninguém, pois
o fundamento de qualquer governo é sua lei, e o trono representa simplesmente
essa lei. Ao ser dada a constituição do
Universo, o monte Sinai foi o assento da lei de Deus. Representava o terror da
lei, porquanto ninguém podia tocar o monte sem ser fulminado. Ali estava o
Senhor com todos os Seus anjos (ver Deuteronômio 33:2 e Atos 7:53). Portanto,
quando a lei foi dada, o monte Sinai representava o trono de Deus naquela
ocasião. Dele procediam “relâmpagos, trovões e vozes”. (Apocalipse 4:5), e ao
redor do qual reuniam-se miríades de miríades, milhões e milhões de anjos. Vemos,
uma vez mais, que a justiça que habita o trono de Deus é a mesma descrita nos
Dez Mandamentos, tais como foram proclamados no Sinai e registrados em Êxodo
20:3-17.
O trono da graça: –Embora o trono de Deus seja o escrínio de Sua lei -lei que
significa morte para os pecadores –é ele também o trono da graça. Somos
exortados a nos achegarmos confiadamente junto ao trono da graça, a fim de
recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”.
(Hebreus 4:16). Veja, amigo leitor, que devemos nos aproximar para alcançar
misericórdia. A cobertura da arca do concerto
era chamada propiciatório, o lugar da misericórdia. Era o lugar desde o
qual Deus falava com Seu povo, porque a arca do santuário terrestre não apenas
representava o trono onde se encontrava a lei, mas também o trono da graça.
A lei e o mediador –
É-nos dito que a lei foi dada “pela mão de um mediador”. (Gálatas 3:19). Quem
era o mediador por cuja mão a lei foi outorgada? “Porquanto há um só Deus e um
só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a Si mesmo Se
deu em resgate por todos...” (I Timóteo 2:5 e 6) A lei, por conseqüência, foi
dada no Sinai pelo próprio Cristo, que é e sempre foi a manifestação de Deus ao
homem. Ele é o mediador, isto é, Aquele mediante quem as coisas de Deus são
transmitidas aos homens. Através de
Jesus Cristo confere-se ao homem a justiça de Deus. A declaração de que a lei
foi dada pela mão de um Mediador nos lembra que onde sobeja o pecado, a graça o
excede em muito.
O fato de que a lei
tenha sido dada no Sinai pela mão de um Mediador, indica: 1) Que Deus tomou
providências para que ninguém supusesse que poderia obter a justiça a partir da
lei, por sua própria força, mas somente através de Cristo. 2) Que o evangelho
de Cristo foi desdobrado no Sinai, tanto quanto no Calvário. 3) Que a justiça
de Deus revelada no evangelho de Cristo, é idêntica à justiça descrita na lei
dada no Sinai. É a mesma justiça que obtemos em Cristo.
O manancial de vida: –Lemos em Salmo 36:7-9: “Como é preciosa, ó Deus, a Tua
benignidade! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das Tuas asas.
Fartam-se da abundância da Tua casa, e na torrente das Tuas delícias lhes dás
de beber. Pois em Ti está o manancial da vida; na Tua luz, vemos a luz”. Deus é
o manancial da vida e pode dar de beber da torrente de suas delícias aos que
n’Ele confiam.
Que torrente é essa?
“Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do
trono de Deus e do Cordeiro”. (Apocalipse 22:1) Pense nisso! Um rio que procede
do trono de Deus, o qual é o manancial da vida. Convida-se a todo aquele que
está sedento a beber copiosamente dessa água. Apocalipse 22:17, João 4:10-14 e
7:37-39 serão de ajuda na compreensão do tema. Bebemos da água da vida ao
recebermos o Espírito Santo.
Bebendo da justiça: –O Salvador disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de
justiça, porque serão fartos”. Quando alguém tem sede, como pode mitigá-la
senão bebendo? Nosso Salvador mostra que podemos beber justiça se estivermos
sedentos dela. Se você se lembrar de que o trono de Deus é um trono de justiça,
e que dele sai o rio da vida, não será difícil ter certeza de poder beber.
Posto que o trono é o
assento da justiça, o rio que nele se origina deve, por assim dizer, estar
cheio da justiça da lei. Aquele que crê, pois, em Cristo, e bebe de Seu
Espírito, ingere certamente a justiça da lei tal como há no trono, ou tal como
foi proclamada no Sinai.
Bebendo no Sinai: –Quem lê Êxodo
17:1-6, juntamente com Deuteronômio 4:10-12 (mostrando que Horebe e Sinai são o
mesmo monte), poderá ver que quando a lei foi proclamada no Sinai, houve um rio
de água que corria desde o seu sopé. Esse rio procedia de Cristo (I Coríntios
10:4). Cristo, a Rocha viva, esteve no deserto naquela rocha da qual fez brotar
a água para dessedentar Seu povo. N’Ele está a fonte da vida. No Sinai
encontramos assim a semelhança completa do trono de Deus. Tratava-se da
personificação da lei de Deus, de forma que ninguém podia aproximar-se dele sem
morrer e, contudo, todos podiam beber das águas vivas que ali manavam. Nessa
figura vemos uma vez mais que a justiça dada a beber àqueles que aceitam o
convite de Cristo, é a justiça descrita nos Dez Mandamentos.
O
coração de Cristo: –Por meio de Davi, Cristo falou acerca de Sua vinda a
Terra: “Então, eu disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu
respeito; agrada-Me fazer a Tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração,
está a Tua lei”. (Salmo 40:7 e 8). Ele
afirmou que havia guardado os mandamentos de Seu Pai (João 15:10). Tão
fielmente os guardou, que observou o sábado do sétimo dia, freqüentemente
estigmatizado pelo cristianismo popular como “sábado judeu”.
O cônego Knox-Little
diz: “Com toda certeza, nosso Senhor, quando esteve na Terra, guardou o sábado
e não o domingo”. (Sacerdotalism, pág. 75) Não é por que o cônego Knox-Little
disse, é claro, mas porque a Escritura ensina dessa maneira. É um fato tão
claro que não exige maior discussão. Jamais ouvimos de alguém que tivesse a
audácia de afirmar que Jesus observou outro dia que não o sétimo, assinalado
pelo quarto mandamento. Guardar “o sábado conforme o mandamento” fez parte da
justiça que havia no coração de Cristo. Visto que “Jesus Cristo é o mesmo
ontem, hoje e eternamente”, o sétimo dia continua ainda hoje em Seu
coração.
Vida eterna através de Cristo: –“Assim também reinasse a
graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”. A
vida de Cristo foi oferecida por nós e para nós na cruz. É sendo crucificados
com Ele que vivemos com Ele (Gálatas 2:20; Romanos 6:8) “Deus estava em Cristo
reconciliando Consigo o mundo”. (II Coríntios 5:19). A lei estava em Seu
coração, de maneira que o coração de Cristo era verdadeiramente o trono de
Deus. “Acheguemo-nos, com confiança, junto ao trono da graça”.
Quando Cristo pendia na
cruz, “... um dos soldados Lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e
água”. (João 19:34). Aí estava a fonte da vida manando abundantemente para
todos. Vinha do coração de Cristo, onde estava a lei de Deus. Vemos que o
Sinai, o Calvário e o Monte Sião apresentam a mesma verdade – a lei. O Sinai e o Calvário não se opõem entre si,
mas estão unidos. Apresentam ambos o mesmo evangelho e a mesma lei. A vida que
flui do Calvário traz-nos a justiça da lei proclamada no Sinai.
A graça reina pela
justiça – Vemos como a graça reina pela justiça para a vida eterna. A vida
eterna está em Cristo, pois Sua vida é a vida do Deus existente por Si mesmo
“pelos séculos dos séculos”. Entretanto, a vida de Deus é a lei. A graça flui
do Senhor a nós por intermédio da vida de Cristo e traz-nos Sua justiça. Dessa
maneira, recebemos a lei em Cristo, segundo o propósito para a qual foi
ordenada – dar vida.
Aceitar o dom
maravilhoso da graça de Deus é simplesmente nos submetermos ou nos entregarmos
a Ele, a fim de que Cristo possa morar em nós e viver em nós a justiça da lei,
tal como foi promulgada no Sinai e entesourada no trono divino. Desde o flanco
ferido de Cristo, flui para você o manancial de águas vivas. Aceite-O e Ele
será em você uma fonte de água que salte para a vida eterna.
Oh, cantai outra vez,
cantai, Belas, sublimadas, puras,
inspiradas
Novas de amor e
vida. Novas do Céu, bênçãos de Deus,
Pois eu nelas encontro
paz, Novas de amor e vida.
Novas de amor e
vida. Novas do Céu, bênçãos de Deus,
. Vida e poder contêm.