quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Lição 2 — O conflito, por Arlene Hill



Para 7 a 14 de outubro de 2017

"Disseram, pois, os judeus, uns aos outros: ‘Para onde irá este, que o não acharemos? Irá porventura para os dispersos entre os gregos e ensinará os gregos’"(João 7 : 35).
O povo judeu tornou-se tão exclusivo que estava além de sua compreensão de que alguém pregaria para qualquer um além de judeus. A referência à "Dispersão" sugere que eles estavam limitando o alcance somente aos judeus dispersos entre os gregos. A implicação é que consideravam a salvação impossível para qualquer um, exceto um judeu, portanto, o evangelismo aos judeus não era necessário. O esforço evangelístico de Paulo entre os gentios deve ter levado alguns dos cristãos judeus a se sentirem incomodados.
Se alguém fosse judeu, todo mundo sabia disso pelo seu vestuário, costumes e regime alimentar. Os gentios não tinham esses costumes culturais, tornando difícil dizer quem pertencia ao povo judeu e quem não pertencia. Sempre que um grupo acredita que é importante distinguir membros de não-membros, são necessárias regras. Havia liberdade neste novo cristianismo, e o concílio em Jerusalém concluiu que apenas restrições mínimas seriam colocadas sobre os novos conversos (ver Atos 15:20). Durante séculos, os judeus acreditavam que, se você mantivesse todas as regras corretamente, o céu era seu. O fato de que os novos cristãos deixarem de lado todo esse esforço era menos do que bem recebido por muitos antigos judeus com preconceitos antigos.
Paulo aborda esses preconceitos no início de sua epístola aos cristãos romanos, relembrando as falhas de judeus e gentios, concluindo: "Não há nenhum justo, nem mesmo um" (Romanos 3:10). A heresia da Galácia de que Deus salvava apenas os circuncidados a pouco havia consumido o tempo e a energia da liderança.
Provavelmente, o melhor cenário para entender esse preconceito judaico é considerar como eles entendiam as promessas do concerto de Deus para Israel. Os judeus invariavelmente alegavam que as promessas de Deus foram feitas ao pai Abraão. De fato, foram, mas essa não foi a primeira vez que a promessa de um Salvador havia sido feita.
"O concerto da graça foi feito primeiramente com o homem no Éden, quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente. ... Este mesmo concerto foi renovado a Abraão, na promessa: "Em tua semente serão benditas todas as nações da Terra (* Gên. 22:18). ... Se bem que este concerto houvesse sido feito com Adão e renovado a Abraão, não poderia ser ratificado antes da morte de Cristo.... contudo, ao ser ratificado por Cristo, é chamado um novo concerto".1
Se as promessas a Adão e Abraão eram as mesmas, os judeus não tinham base para acreditar que era praticamente impossível que um gentio fosse salvo. Mas outro concerto, formado no Sinai, poderia ter sido desorientador. Por que outro concerto se formou no Sinai? “Em seu cativeiro, o povo em grande parte (a)perdera o conhecimento de Deus ... Vivendo em meio de idolatria e corrupção, (b) não tinham uma concepção verdadeira da santidade de Deus, (c) da excessiva pecaminosidade de seu próprio coração, (d) de sua completa incapacidade para, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e (e) de sua necessidade de um Salvador. Tudo isto deveria ser-lhes ensinado”2 Israel demonstrou a verdade dessa afirmação quando responderam ingenuamente no Sinai que fariam tudo o que Deus havia dito (Ex 19: 8). Eles tinham que ser ensinados que eram incapazes de fazer o que prometeram.
Nada disso, incluindo o seu fracasso chocante com o bezerro de ouro, surpreendeu um Deus onisciente. Assim, começou uma jornada prolongada com ciclos de Israel tentando guardar a lei, desistindo, deslizando na idolatria, começando de novo com uma nova geração. Quando o Messias cumpriu as promessas do "Novo" Concerto de Deus, eles estavam muito imersos em suas obras do Velho Concerto para reconhecê-Lo.
A verdade do novo concerto era um elemento essencial da mensagem de 1888, e até hoje levanta uma porção de dúvida e desespero de muitos corações pesados. A mensagem de 1888 esclareceu a diferença entre os dois concertos: O Novo Concerto é a promessa unilateral de Deus de escrever Sua lei em nossos corações e de nos dar (não nos oferecer) salvação eterna como um presente gratuito "em Cristo". O Velho Concerto é a vã promessa das pessoas de obedecer e "gera filhos para a servidão"(*Gál. 4:24)
Ellet J. Wagoner viu essa diferença: "Mas isto [as promessas de Deus a Abraão] não era um concerto como foi feito com os israelitas em Horeb. Esse não continha nenhuma referência a Cristo e nenhuma provisão para o perdão dos pecados, aquele com Abraão foi confirmado "em Cristo" (Gálatas 3:17) e não foi feito com a condição de que ele fosse justo por meio de seus esforços sem ajuda, mas foi feito sob condição de ele ter a justiça da fé. Compare Rom. 4:11 com 3:22-25."3
E em seu livro The Glad Tidings (Boas Novas) Waggoner escreveu: "O concerto e a promessa de Deus são uma e a mesma coisa. ... Os concertos de Deus com os homens não podem ser mais do que promessas para eles. ... Deus prometeu tudo o de que precisamos, e mais do que podemos pedir ou pensar, como um presente. Nós nos damos a nós mesmos, e isso não nada é. E Ele nos dá a Si mesmo, e isto é tudo."4
Os judeus passaram a ver a lei cerimonial e a lei moral como uma única entidade, com todos os elementos vinculantes para aqueles que entrariam no céu. Muitos cristãos veem as duas leis da mesma maneira, mas pregam a coisa toda na cruz, dizendo que nada da lei agora é vinculativo. A liderança da Associção Geral na assembléia de 1888 tomou a posição de que apenas a lei moral, e não a cerimonial é obrigatória. Esta parece ser a posição de compromisso, mas pode ser entendida de forma diferente.
Algo que é vinculativo pode ser usado para punir por violação e recompensado pela conformidade. Se duas partes concordarem em celebrar um contrato, cada um tem o direito de impor o desempenho pelo outro. Mas, mesmo os tribunais reconhecem que se uma das partes no contrato não tiver capacidade para realizar o que prometeu, nunca houve uma reunião suficiente das mentes para dizer que um contrato mutuamente vinculante foi formado.
Para nos salvar, Deus teve que fazer tudo. Waggoner entendeu que, através da graça, Deus dá à humanidade a justiça de Jesus, que somente viveu uma vida sem pecado. Pela fé, o crente crê nessa justiça, tornando-se, em Cristo, um observador da lei. É importante entender que essa justiça não é adicionada porque a justificação obtida por Cristo na cruz precisa de apoio para dar direito à raça humana ao céu. Quando Cristo proclamou: "Está consumado" (*João 19:30), Ele não quis dizer que foi concluído, exceto pelo processo de santificação que nos tornará justos.
Ele entendeu assim: "O significado da palavra ‘justificado’ é ‘feito justo’. A palavra latina para a justiça é justitia. Ser justo é ser íntegro. Então, adicionamos a terminação, da palavra latina, que significa "fazer", e temos o equivalente exato do termo mais simples, ‘tornar justo’".5
Deus providenciou um Salvador que Se tornou pecado por nós e pagou a pena por isso, a segunda morte. Então, através do dom aceito do Espírito Santo habitando em nós, Ele muda nossos corações, que estão em inimizade com a lei para amá-la. Aqui é onde Waggoner viu que o Velho e o Novo Concertos eram duas experiências separadas que passavam por duas faixas paralelas desde o tempo de Caim e Abel até a marca da besta e do selo de Deus como mencionado no Livro do Apocalipse. A lei não se preocupa com o estado do seu coração, mas o Novo Concerto de graça muda seu coração de pedra para aquele do amor Ágape de Deus.
 
--Arlene Hill

Notas finais:                                                                    

1) Ellen G. White, Patriárcas and Profetas, págs. 370, 371.

2) Idem, pág. 371                                                                                
             *Pelas cinco razões – supra expostas: a, b, c, d, e – o Senhor aceitou a proposta deles e firmou com eles o Velho Concerto, o qual teve uma só e única cerimônia em toda a Bíblia. Entretanto o Velho Concerto continua vigente e ‘gerando filhos para a servidão’, até o dia de hoje.
*E. J. Waggoner, diz: “os dois concertos existem hoje, e, em verdade, dizemos que sempre existiram desde que se iniciou o grande conflito entre Cristo e Satanás. ‘Não são uma questão de tempo, mas de condição.’”
*E é fácil entender isto, pois são dois tipos de reação que temos em resposta ao plano salvífico divino, desde que o pecado entrou no mundo:
               *A) No espírito do velho concertismo, de tentar salvar-se pelos próprios méritos e esforços, Adão e Eva “coseram folhas de figueira para tapar a sua nudez, e ... cingiram-se”, Gen. 3:7; Caim trouxe do “fruto da terra uma oferta ao Senhor”, Gen. 4:3, algo que ele labutou, arduamente para produzir; Esaú desprezou seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, Gen. 25:34 e Heb. 12:16; etc... etc...
                *B) A atitude oposta é uma submissão completa do crente ao postar-se nas mãos da Onipotência para que Deus realize nele tanto o querer como o efetuar, algo que não pode fazer por si mesmo.
               *Como é isto possível?, “2ª Cor. 5:14 nos diz que o amor de Cristo nos constrange,” quer dizer, ao contemplarmos o sacrifício feito por Cristo e pelo Pai em renunciarem toda a glória do céu que desfrutavam juntos; “ao Cristo depor nas mãos do Pai o cetro e descer do trono do universo, a fim de trazer luz aos ignorantes e vida aos que estão a perecer; ao Cristo dizer: 'Eis aqui venho', e neste momento ao o Pai e o Filho entenderem que Seu relacionamento seria para sempre mudado,” ao Cristo descer os sete degraus de humilhação e renúncia (Fil.2:5-8), para morrer na cruz por seres pecadores; ao entendermos que Deus é “Ágape” (1ª João 4:8), e que Ágape é auto-sacrificável, auto-renunciador, um amor que nada busca para Sí; ao CONTEMPLARMOS a vida de Cristo, especialmente Seus últimos momentos de vida aqui na terra, do Getsemani ao Calvário, nosso coração se derreterá em sincero agradecimento e “apreciação pelo sacrifício de Cristo e do Pai; nós diremos com Frances Ridley Harvegal, 'Tome Senhor minha vontade e faça-a Tua, não deve ser minha daqui pra frente.'  Ágape é suficientemente poderoso para nos levar a depor ao pé da cruz os nossos desejos egoísticos” e transformar-nos à Sua semelhança.
                *“A fé de Jesus O qualificou a negar-Se a Si mesmo, submeter Sua vontade a Seu Pai, e, pela fé, fazer somente aquelas coisas que agradavam ao Pai. A fé de Jesus transforma em realidade as promessas da experiência do NOVO CONCERTO.  'Eu porei as Minhas leis nos seus corações' (Exequiel 36:27 e Hebreus 8:10). Esta fé é-nos dada, e, se não resistirmos, esta experiência do NOVO CONCERTO será nossa. Waggoner diz em Glad Tidings (Boas Novas) pág. 47, 'ao Cristo habitar em nós, Ele usa Sua própria fé para nos livrar do poder de Satanás. O que temos de fazer? Nada, simplesmente permití-Lo viver em nós à Sua própria maneira. 'De modo que haja em vós a mesma mente que houve em Cristo Jesus' (Fil.2:5, KJV”).
                *“Os concertos são uma questão de condição, não de tempo.” Considere alguns exemplos bíblicos. (Muitos dizem que antes de Cristo as pessoas viviam no velho concerto, sob a lei, e que hoje vivemos sob a graça. Ora, a vida cristã genuína sempre foi vivida pela graça de Deus, nunca por nossos próprios esforços):
                 *Abel trouxe uma ovelha como oferta ao Senhor, Gen. 4:4, crendo no que Deus requeria como sendo o meio de salvação pela Graça, pois “sem derramamento de sangue não há remissão dos pecados”: Heb. 11:4; 9:22 (ver também Heb. 9:15 e Col.1:14);
                *Enoque andou com Deus..., pelo que foi trasladado para não ver a morte, Heb.11:5;
   capítulo 11 trás a galeria dos heróis da fé. Alguns deles você pode até questionar: Raabe, a meretriz (vs.31); Sansão, Jefté e Davi (vs.32)... mas Deus, na Sua onisciência sonda e conhece os corações: Salmo 7:9; 17:3; 139:1 e 23; Prov. 21:2, etc... etc...
           *Mas veja também manifestações dos dois concertos nos tempos do Novo Testamento: “os discípulos na ceia pascoal contendiam por altas posições no reino prometido, enquanto Cristo cingiu-Se e lavou-lhes os pés.” Signs of The Times, 16/05/1900.
          *Judas lutou com sua consciência, mas, afinal, traiu seu mestre e suicidou-se. Pedro, ao contrário, após traí-Lo, chorou amargamente e experimentou sincero arrependimento. Paulo não resistiu à visão celestial.
                *Das dez virgens apenas cinco tinham suficiente provisão do óleo do Espírito Santo em suas vidas, etc... etc...
                *Uma correta compreensão do evangelho remove nossa motivação egoística, e nos leva a participarmos na final revelação do caráter de Deus a um universo expectante.
             *Alguém está sob o Velho Concerto (Antiga Aliança) sempre que pretende guardar a Lei de Deus, i. é, desenvolver um caráter cristão por suas próprias forças, buscando forçar sua natureza humana pecaminosa a agir corretamente. Em outras palavras, sempre que tentamos vencer uma tentação, sem defrontar o inimico, como Cristo fazia, isto é, com a Palavra de Deus, com fé em Seu poder criador e transformador, estamos no Velho Concerto.
                *Por outro lado, todos os que, seguindo o exemplo de Jesus, registrado em Mateus 4, enfrentam toda tentação, cientes de que a Palavra [Jesus] tem poder de criar em suas mentes o conteúdo da citação, estão no Novo Concerto, entraram, portanto, no ‘descanso de Deus’ (Heb. 4), abandonando suas ‘obras da lei’, seus ‘trapos da imundícia’ (Isaías 64.6). Obviamente a ‘obediência por fé’ (Rom. 1.5) no poder criador da Palavra de Deus não se trata de ‘trapos da imundícia’ e, sim, das vestes ‘de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos.’ (Apoc. 19.8).

3) Ellet J. Waggoner, "Comentários sobre Gálatas 3, Nº. 2," Signs of the Times, Vol. 12, Nº. 27, de 15 de Julho de 1886.

4) Ellet J. Waggoner, The Glad Tidings a verse-by-verse study of Galatians, (As Boas Novas, um estudo de Gálatas verso por verso) pág. 71, edição CFI (2016).

5) Idem, pág. 40.
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Notas:                                                                         

Veja, em inglês, o vídeo desta 1ª lição do 4º trimestre de 2017, exposta pelo Pr. Paulo Penno, na internet, no sitio
                                     https://youtu.be/EhIcR-F1Uq4

Esta lição está na internet, em inglês, no sitio: 1888message.org/sst.htm
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 Biografia do autor, Pastor Paulo Penno:
Paulo Penno foi pastor evangelista da igreja adventista na cidade de Hayward, na Califórnia, EUA, da Associação Norte Californiana da IASD, localizada no endereço 26400, Gading Road, Hayward, Telefone: 001 XX (510) 782-3422. Foi ordenado ao ministério há 42 anos e jubilado em junho de 2016, Após o curso de teologia fez mestrado na Universidade de Andrews. Recentemente preparou uma Compreensiva Pesquisa dos Escritos de Ellen G. White. Recentemente também escreveu o livro “O Calvário no Sinai: A Lei e os Concertos na História da Igreja Adventista do 7º Dia,” e, ao longo dos anos, escreveu muitos artigos sobre vários conceitos da mensagem de justificação pela fé segundo a serva do Senhor nos apresenta em livros como Caminho a Cristo, DTN, etc. O pai dele, Paul Penno foi também pastor da igreja adventista, assim nós usualmente escrevemos seu nome: Paul E. Penno Junior. Ele foi o principal orador do seminário “Elias, convertendo corações”, nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2015, realizado na igreja adventista Valley Center Seventh-day Adventist Church localizada no endereço: 14919  Fruitvale Road, Valley Center, Califórnia.
  
    Atenção, asteriscos (*…) indicam acréscimos do tradutor.
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