domingo, 1 de outubro de 2017

Carta aos Romanos, Ellet J. Waggoner, Capítulo 2



CARTA AOS ROMANOS

Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani


Capítulo 2

O Pecado de Outros Também é Nosso

"Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite". (Salmo 1:1 e 2).
"Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e, se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da Sua boca vem a inteligência e o entendimento". (Provérbios 2:1-6). 
Aqui encontramos o segredo para entender a Bíblia: estudo e meditação aliados a um fervente desejo de conhecer a vontade de Deus com o propósito de cumpri-la. "Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele, conhecerá a respeito da doutrina..." (João 7:17). A revisão e o repasse são primordiais para se conhecer a Bíblia. Não é que haja um volume de estudo suficiente que possa prescindir da guia do Espírito Santo, mas que o Espírito Santo testifica precisamente através da Palavra.

Uma Olhada Retroativa
Neste estudo do livro de Romanos queremos assimilar tanto quanto seja possível daquilo que já aprendemos. Daremos, pois, uma vista geral do primeiro capítulo como um todo. Já vimos que é possível reconhecer o seguinte esquema:
· versículos 1 a 7;  saudações e exposição sumária de todo o evangelho.
· versículos 8 a 15: interesse pessoal de Paulo nos romanos e seu senso de obrigação para com eles e todos os homens.
· versículos 16 e 17: o que é e o que comporta o evangelho.
· versículos 21 a 23: corrupção da sabedoria.
· versículos 24 a 32: resultado da ingratidão humana e do esquecimento de Deus.
Uma cuidadosa leitura do capítulo exibe-nos a idéia principal: Deus, mediante a criação, deu-Se a conhecer a toda alma, e até o mais degradado pagão se sente culpado e digno de morte por sua maldade. "Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem." (verso 32). "Portanto, és inescusável, ó homem..."  Essa idéia diretriz contida no primeiro capítulo deveria estar bem presente na mente antes de se iniciar o estudo do segundo capítulo, porquanto esse é uma continuação do primeiro e depende dele.
Uma Visão Mais Abarcante. -Romanos 2:1 a 11.
1 Qual é, pois, a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?
2 Muita, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.
3 E daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus?
4 De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem, segundo está escrito: Para seres justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando fores julgado.
5 Mas, se a nossa injustiça traz a lume a justiça de Deus, que diremos? Porventura, será Deus injusto por aplicar a sua ira? (Falo como homem.)
6 Certo que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo?
7 E, se por causa da minha mentira, fica em relevo a verdade de Deus para a sua glória, por que sou eu ainda condenado como pecador?
8 E por que não dizemos, como alguns, caluniosamente, afirmam que o fazemos: Pratiquemos males para que venham bens? A condenação destes é justa.
9 Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado;
10 como está escrito: Não há justo, nem um sequer,
11 não há quem entenda, não há quem busque a Deus;
Reconhecendo a culpa: –A veracidade da afirmação do apóstolo é facilmente verificável no que diz respeito aos pagãos e suas obras, no sentido de que eles sabem que seus atos são dignos de morte. Quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, tiveram medo de encontrar-se com Deus e se esconderam. O temor é uma conseqüência essencial da culpa e a prova de sua existência. "Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor." (I João 4:18). "Fogem os perversos, sem que ninguém os persiga; mas o justo é intrépido como o leão". (Provérbios 28:1). Se os pagãos não soubessem de sua culpa, não esperariam castigo por roubar ou matar, nem se armariam para defender-se.
Uma acusação demolidora – É incrivelmente engenhosa a maneira pela qual o apóstolo esboça a acusação do primeiro versículo. O primeiro capítulo é dedicado aos pagãos. Todos concordarão com a afirmação apostólica de que eles são culpados da mais abominável maldade. A exclamação quase involuntária que nos vem à mente é: "Que pena que não tenham maior conhecimento!" Porém, o apóstolo replica: "Têm eles tal conhecimento", ou ao menos, têm a oportunidade de obtê-lo e sabem que não estão agindo bem; assim, são imperdoáveis. À parte do que cada um pensa sobre a responsabilidade dos pagãos, todos estão de acordo em que suas práticas são condenáveis.
Então vem a esmagadora réplica: "Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas..." Aí fomos apanhados; não temos escapatória. Se temos a sabedoria necessária para condenar as ações ímpias dos pagãos, então, por esse mesmo juízo, reconhecemo-nos sem desculpas por nossas más ações.

Todos igualmente culpados: –"Praticas as próprias coisas que condenas." Está muito claro que todo aquele que sabe o bastante para condenar o mal em outro, fica sem desculpa para seus próprios pecados, porém, nem todos se dão conta imediata de que aquele que julga a outro faz as mesmas coisas. Leia, pois, uma vez mais, os últimos versos do primeiro capítulo e compare os pecados dessa lista com os enumerados em Gálatas 5:19 a 21. É evidente que as coisas que os pagãos praticam e mediante as quais podemos prontamente ver que são culpáveis, não são outras que as obras da carne. São pecados que vêm "de dentro, do coração dos homens" (Marcos 7:21 a 23). Todo aquele que esteja incluso na palavra "homem", é sujeito às mesmas coisas. "O Senhor olha dos céus; vê todos os filhos dos homens; do lugar de Sua morada, observa todos os moradores da Terra, Ele, que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras". (Salmo 33:13 a 15).
Todos estão condenados – Posto que todos os homens sejam participantes de uma mesma natureza, é evidente que qualquer um que condene outro por má ação sentencia-se, uma vez que a verdade é que todos têm o mesmo mal em si mesmos, mais ou menos desenvolvido. O fato de saberem o bastante para julgar que uma coisa é má, testifica que eles próprios merecem o castigo que crêem deva ser aplicado àquele a quem julgam.
Simpatia, não condenação – O que rouba, mais de uma vez grita: "Peguem o ladrão!", indicando astutamente outro homem com o fim de alhear a atenção de si mesmo. Alguns condenam o pecado nos demais a fim de dissipar a suspeita de que eles mesmos são condenáveis pelas coisas que reprovam. Por outro lado, freqüentemente o homem tenta desculpar os pecados aos quais se sente mais inclinado, condenando aqueles para os quais não tem especial disposição. Porém, é realmente culpado deles em razão de sua natureza humana.  Visto que a carne de todo homem é a mesma, deveríamos agir com humildade e não com desprezo quando ouvimos acerca do cometimento de um grande pecado, visto ser essa a real imagem do que há em nossos corações. Em vez de dizer: "Graças Te dou, ó Deus, porque não sou como os demais homens", deveríamos levar as cargas dos que erram, cuidando de nós mesmos para que não suceda sermos também tentados. Repetidamente o homem, cuja debilidade nos sentimos tão inclinados a condenar, não caiu tão baixo como sucederia conosco se fôssemos tentados da mesma maneira e em grau semelhante.
Clamor contra o pecado – No livro O Peregrino, quando Loquaz deixou que Fiel decidisse o tema da conversa, esse propôs a seguinte questão: "Como se manifesta a graça de Deus no coração do homem?" O autor da obra (John Bunyan) prossegue nestes termos:
– Fiel: Percebo que nosso tema de conversação deve ter relação com o poder da graça. Bem, esse tema é muito bom. Vou responder-lhe com grande contentamento.  Em resumo, esta é a minha opinião: Primeiramente, quando a graça de Deus está no coração, gera ali um clamor contra o pecado. Em segundo lugar, um aborrecimento do pecado...
– Loquaz reage. Como? Que diferença há entre o clamor contra o pecado e seu aborrecimento?
– Fiel: Muita, em verdade! Um homem pode clamar contra o pecado porque assim exige a situação, mas carecer de um autêntico aborrecimento do mesmo. Já presenciei grandes demonstrações de clamor do púlpito contra o pecado; pecado, não obstante, que pode muito bem residir em seu coração, em sua casa e em sua conversação. A mulher que tentou José bradou como se houvesse sido um padrão de castidade. Todavia, bem sabemos de sua disposição para praticar atos impuros com ele.
Um agudo discernimento entre o bem e o mal e uma enérgica denúncia do pecado jamais justificarão o homem. Pelo contrário, contribuem para agravar sua condenação. É um fato lamentável que muitos dos assim chamados reformadores de nossos dias parecem crer que a obra do evangelho consiste toda ela em denunciar as más práticas dos outros. Porém, um detetive não é um ministro do evangelho.

Juízo segundo a verdade: –"Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas". "Alto!", diz alguém, "não estou certo sobre se 'sabemos' tal coisa". Bem, você pode facilmente sentir-se seguro de que:
1. Deus existe. Sobre isso estamos de acordo.
2. Ele é a fonte donde procede todo ser criado.
3. Toda criatura é absolutamente dependente d’Ele. "N’Ele vivemos, nos movemos e existimos".
4. Visto que toda vida depende d’Ele, é natural que a continuação da vida do homem dependa de sua harmonia e união com Deus.
5. Portanto, o próprio caráter de Deus deve ser a norma de juízo.
6. Deus mesmo é a verdade. "N’Ele não há injustiça".
7. Deus Se revelou – a Si mesmo e à Sua justiça – a todos os homens. "O Senhor fez notória a Sua salvação; manifestou a Sua justiça perante os olhos das nações". (Salmo 98:2)
8. Logo, todo homem, grande ou pequeno, fica sem desculpas para o seu pecado.
9. Conseguintemente, quando Deus julga a todos os homens, sem exceção, Seu juízo é de acordo com a verdade. E a Terra se verá constrangida a unir-se ao Céu no clamor: "Tu és justo, Tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas"... Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os Teus juízos". (Apocalipse16:5 e 7).

Sem escapatória: –Ninguém deve pensar que pode escapar ao justo juízo de Deus. Comumente, são os mais ilustrados que crêem poder safar-se. É-nos tão fácil pensar que nosso grande conhecimento do bem e do mal nos será contado por justiça; tão fácil convencer-nos de que em virtude de nossa condenação dos pecados alheios, o Senhor achará que jamais poderíamos ser culpados desses pecados... Porém, em realidade, isso não faz mais do que aumentar nossa condenação.
O primeiro capítulo de Romanos solapa desde as bases todos os apoios sobre os quais o homem tenta sustentar-se. Se a "classe baixa" é tida justamente por culpável, não há escape para a "classe superior". "Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más." (Eclesiastes 12:14).
A bondade de Deus conduz ao arrependimento – "Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?" Deus é a perfeição da pureza e da santidade; o homem é completa-mente pecaminoso. Deus tem conhecimento de todo pecado, mas não despreza o pecador. "Porquanto Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele". (João 3:17). Cristo disse: "Se alguém ouvir as Minhas palavras e não as guardar, Eu não o julgo". (João 12:47).
Em tudo quanto o Salvador disse e fez, não fez nada mais do que representar o Pai. Deus "é longânimo para conosco", "e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor (II Pedro 3:9 e 15), É impossível que alguém considere a bondade e a paciência de Deus sem humilhar-se e ser levado ao arrependimento. Quando consideramos a ternura com que Deus nos trata, é-nos impossível manifestar aspereza para com nossos semelhantes. Se não julgarmos, não seremos julgados (Lucas 6:37).

O arrependimento é um dom: –"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus". (Efésios 2:8). "O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-O num madeiro. Deus, porém, com a Sua destra, O exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados". (Atos 5:30 e 31). Porém, não foi somente a Israel que Deus deu arrependimento mediante Cristo. "D’Ele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de Seu nome, todo aquele que n’Ele crê recebe remissão de pecados". (Atos 10:43). Tão claramente Deus fez conhecer isso que até os judeus exclusivistas se viram obrigados a exclamar: "Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida". (Atos 11;18).

Estímulos ao arrependimento: –A bondade de Deus leva o homem ao arrependimento. Portanto, toda a Terra está cheia de estímulos para que o pecador se arrependa, já que "a Terra está cheia da bondade do Senhor" (Sal. 33:5). "A Terra, Senhor, está cheia da Tua bondade..." (Sal. 119:64) Pode-se conhecer a Deus mediante Suas obras. Deus é amor. Toda a criação revela o amor e a misericórdia de Deus.
Não devemos tentar corrigir as Escrituras e dizer que a bondade de Deus tenda a levar o homem ao arrependimento. A Bíblia diz que ela o faz, que guia ao arrependimento tão seguramente quanto o fato de que Deus é bom. Porém, nem todos se arrependem. Por quê? Porque desprezam as riquezas da benignidade, paciência e benevolência divina, e escapam da misericordiosa guia do Senhor. Entretanto, todo aquele que não resistir ao Senhor será guiado com segurança ao arrependimento e salvação.

Acumulando ira sobre si: –Vimos no primeiro capítulo que "a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens..." Portanto, todos os que pecam estão acumulando ira sobre si mesmos. Deus é verdadeiro no juízo. O homem recebe tão-somente por aquilo que cometeu. Deus não é arbitrário. Não baixou decretos caprichosos de forma que todo o que os viole seja objeto de Sua vingança. Não! O castigo dos ímpios será o resultado de sua própria escolha. Deus é a única fonte de vida. Sua vida é paz. Quando o homem a rechaça, a única alternativa é ira e morte. "Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram o Meu conselho e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão. Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição". (Prov. 1:29-32) A aflição e a morte estão ligadas ao pecado; quando o homem repudia a Deus, é isso o que ele escolhe.

"Conforme suas obras": –Os incrédulos costumam afirmar que não é justo que Deus condene o homem simplesmente porque esse não crê em certas coisas. Porém, Deus não faz isso. Não é possível encontrar em toda a Bíblia nem uma só palavra portando o propósito de julgar um homem de acordo com sua crença. Encontramos em muitos lugares da Bíblia a afirmação de que todos serão julgados de acordo com suas obras. "Porque o Filho do Homem há de vir na glória de Seu Pai, com os Seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras". (Mateus 16:27) "E eis que venho sem demora, e Comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras". (Apocalipse 22:12). Ele "julga segundo as obras de cada um". (I Pedro 1:17).
O homem que diz que sua obra é justa, coloca-se a si mesmo como juiz em lugar de Deus, que diz que todo o homem está errado. Apenas Deus é juiz e Ele julga em estrito acordo com a obra do homem; então, a obra do homem é determinada por sua fé. "A obra de Deus é esta: que creiais n’Aquele que por Ele foi enviado".  (João 6:29). Não é prerrogativa do homem julgar-se a si mesmo e concluir que sua obra é justa. O que lhe toca, por outro lado, é confiar unicamente na bondade e misericórdia do Senhor, a fim de que Sua obra seja feita em Deus.
  
Imortalidade e vida eterna: –Deus concederá a vida eterna àqueles que buscam glória, honra e imortalidade. "... Nosso Salvador Cristo Jesus... trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho". (II Tim. 1:10). A vida e a imortalidade são duas coisas diferentes. Todo aquele que crê no Filho tem a vida eterna. "E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". (João 17:3)
Temos vida eterna tão logo conhecemos ao Senhor, porém, não podemos ter a imortalidade até que o Senhor regresse, no dia final. "Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade". (I Cor.íntios15:51 a 53).
Devemos buscar a imortalidade; isso é em si mesmo uma prova de que ninguém a possui agora. Posto que Deus a trouxe à luz pelo evangelho, é evidente que só e exclusivamente mediante o evangelho pode-se possuir imortalidade, de maneira que nunca a terão os que não o aceitam.

Tribulação e angústia: -Os que pecam são filhos da ira (Efésios 2:3). O pesar e a ira, a tribulação e a angústia, alcançarão com certeza os que fazem o mal. Porém a tribulação e a angústia terão um final. O fato de que somente os que são de Cristo recebem – em Sua vinda – a imortalidade, demonstra que todos os demais deixarão finalmente de existir. Haverá tormento em relação ao castigo dos ímpios, porém esse dure quanto durar, chegará ao fim com a destruição dos malfeitores. A indignação divina terá um final. "...Porque daqui a bem pouco se cumprirá a Minha indignação e a Minha ira, para a consumir". (Isaías 10:25) "Vai, pois, povo Meu, entra nos teus quartos e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira.  Pois eis que o Senhor sai do Seu lugar, para castigar a iniqüidade dos moradores da terra; a terra descobrirá o sangue que embebeu e já não encobrirá aqueles que foram mortos". (Isaías 26:20 e 21) "Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a Sua ira". (Salmo 103:9)  Sua ira cessará, não por que Ele Se tenha reconciliado com a iniqüidade, mas porque a iniqüidade, junto com seus praticantes, chegará ao fim.

A todos: –A tribulação e a angústia virão "sobre todos os que praticam o mal", e glória, honra e paz a "qualquer que faça o bem". Ninguém é esquecido. Não existe uma alma tão pobre e ignorante que seja passada por alto, nem tampouco ninguém tão poderoso e instruído que escape. A riqueza e a posição carecerão de influência naquele tribunal. Deus Se revelou tão claramente que toda alma teve a oportunidade de conhecê-Lo. "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça." Observe que Sua ira é dirigida contra o pecado. Somente aqueles que se apegaram ao pecado a sofrerão; somente os que não permitiram que Deus lhes expiasse os pecados. Assim fazendo, na eliminação final do pecado, serão inevitavelmente extirpados com ele.

Primeiramente do judeu: –A afirmação é bastante para ilustrar que Deus não faz acepção de pessoas. Com efeito, o apóstolo declara, como conclusão necessária, que "Deus não faz acepção de pessoas". A expressão "primeiramente" nem sempre se refere ao tempo. Falamos do 'primeiro-ministro' de um país não por que não houvesse outros ministros antes dele, mas porque ele é o principal. O "primeiro da classe" significa o melhor aluno. Os judeus foram os que tiveram a maior revelação, portanto, é justo que sejam os primeiros no juízo.
O texto, não obstante, mostra que Deus não confere trato especial aos judeus em relação a outros homens. Se a glória, a honra e a paz chegam primeiramente para o judeu, o mesmo acontece com a ira, a tribulação e a angústia. A questão não é: "De que nacionalidade é?", mas "o que fez?" Deus julgará a cada um segundo as suas obras, já que não há "acepção de pessoas para com Ele".
Umas poucas palavras bastarão para relembrar o que temos estudado até aqui. O primeiro capítulo de Romanos pode resumir-se como o conhecimento da condição de quem não conhece a Deus e de como perderam esse conhecimento, aliado ao fato de que carecem totalmente de desculpa. Então, quando estamos dispostos a levar, horrorizados, as mãos à cabeça e condená-los por sua maldade, o apóstolo se volta para nós e fecha nossa boca com a cortante afirmação: "Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas".
O segundo capítulo mostra que todos terão que se ver com o justo juízo de Deus, porque "não há acepção de pessoas para com Deus". Assim vemos a confirmação do fato da imparcialidade de Deus, mediante a comparação de ambas as classes no juízo.
12 Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados.
13 Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.
14 Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.
15 Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,
16 no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho.

"Sem lei" e "na lei": –Embora seja correto que quando vier o Senhor pela segunda vez, não haverá ninguém sobre a Terra que não tenha ouvido a pregação da palavra, é um fato que milhões e milhões morrerão sem saber nada da Bíblia.  Trata-se daqueles aos quais o apóstolo como estando "sem lei". Porém, fica claro que de nenhuma forma estão sem lei, mas somente sem a lei escrita. Nos versículos seguintes é afirmado que eles têm certo conhecimento da lei, como prova também o fato de que são tidos por pecadores; sabemos que o "mas o pecado não é levado em conta quando não há lei".  (Romanos 5:13).
Todo pecado é castigado – Tenham eles a lei escrita ou não, todos são considerados pecadores. "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens..." (Romanos 1:18)  É dito que os pagãos não têm desculpas; e se aqueles que não possuem a lei escrita são indesculpáveis, os que a têm ao alcance das mãos, desde logo, são mais inescusáveis. Deus é justo. "Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas". (Romanos 2:2) Assim, todo o que peca, seja com a lei ou sem ela, deve ser castigado.
Ficou demonstrado que "sem lei" não significa sem nenhum conhecimento de Deus. O primeiro capítulo estabelece essa verdade. O problema de muitos que lêem essa afirmação, segundo a qual os homens serão castigados igualmente - o que não lhes parece justo -, é que se esquecem, ou ignoram, o conteúdo do primeiro capítulo. É um grande erro tomar isoladamente um versículo da Bíblia, separando-o de seu contexto.

Perecerão: Essa será a sorte dos ímpios. O apóstolo Pedro nos diz que os céus e a Terra estão "entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios" (II Pedro 3:7). O que significa "perecerão"? Exatamente o contrário de existir para sempre. Em certa ocasião, alguns homens falaram a Jesus sobre os galileus cujo sangue Pilatos mesclara com seus sacrifícios.
A resposta de Cristo foi: "Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis". (Lucas 13:1-3) "Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do Senhor serão como o viço das pastagens; serão aniquilados e se desfarão em fumaça". (Salmo 37:20). Assim, a afirmação de que aquele que peca perecerá significa que morrerá, que será totalmente extinto; "serão como se nunca tivessem sido." (Obadias 16).
Estrita imparcialidade – Implica em estrita justiça. Os pecadores serão castigados, vivam eles em terras pagãs ou nas chamadas cristãs. Porém, ninguém será julgado por aquilo que não conheceu. Deus não castiga a ninguém pela violação de uma lei da qual esse não tenha tido conhecimento, nem o tem por responsável pela luz que não brilhou sobre ele. É evidente que os que têm a lei devem possuir conhecimento de muitas coisas que não estão ao alcance de quem não a desfruta em forma escrita. Todo homem tem luz suficiente para saber que é um pecador; todavia, a lei escrita oferece a quem tem o conhecimento muitos pormenores que escapam à percepção de quem não a tem.
Portanto, Deus, em Sua justiça, não considera esses últimos responsáveis pelas muitas coisas pelas quais serão julgados os primeiros. "Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados." (Romanos 2:12) Quem repeliu a luz, seja em que medida for, é naturalmente culpado.

A raiz do pecado: –Parece injusto a alguns que aqueles que desfrutaram de uma luz comparativamente pequena tenham de sofrer a morte por seus pecados, da mesma forma que a merecerão aqueles que pecarão contra uma luz maior. A dificuldade ocorre porque não consideram apropriadamente o que é, em realidade, o pecado. Somente Deus é bom (Lucas 18:19). Ele é a fonte da bondade. Quando a bondade aparece no homem, seja de que forma for, trata-se unicamente da obra de Deus nele.
Porém, Ele é também fonte de vida. Toda vida tem n’Ele sua origem (Sal. 36:9). A vida de Deus é justiça, de maneira que não pode existir qualquer justiça à margem da vida de Deus. Fica então evidente que se alguém rejeita a Deus, aliena-se totalmente da vida. Não importa que tenha tido relativamente pouco conhecimento de Deus; se repele a luz, rechaça a Deus e a vida com Ele. Ao repudiar o pouco que conhece de Deus, demonstra que em qualquer caso se contraporia a Ele.

"Tu és homem" -Romanos 2:17-24
17 Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;
18 que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei;
19 que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas,
20 instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade;
21 tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?
22 Dizes que não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos e lhes roubas os templos?
23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
24 Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa.

Um pretenso judeu: –Descartarão os assim declarados cristãos esta parte da carta aos Romanos, tendo-a como inaplicável a eles pelo fato de ser dirigida aos professos judeus?  De maneira alguma. É precisamente aos cristãos professos que o apóstolo se refere. Leia a descrição: "... repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a Sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade".  A quem se dirige Paulo? A todo aquele que se sente qualificado para ensinar outros no caminho do Senhor.

"Sobrenome judeu": –É preciso prestar-se atenção ao fato de que o apóstolo não diz "tu que és judeu", mas "tu que te chamas judeu".  As pessoas nem sempre são como chamadas e nem o que dizem ser. Começando pelo verso 17, o apóstolo estabelece a questão de quem é judeu. Antes de chegar ao final do capítulo, ver-se-á que o emprego da palavra "sobrenome" ou "chamado", significa que aquele a quem se dirige nos versículos seguintes não é realmente um judeu, e o Senhor não o considera como tal.

Pretensão de ser judeus: –Lemos em Apocalipse 2:9: "Conheço... a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás". E, "farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que Eu te amei". O verso anterior nos mostra que ser realmente judeu representa uma honra tão grande, que muitos iriam pretendê-la falsamente. Entretanto, os que hoje conhecemos como judeus têm sofrido o desprezo da maior parte do mundo durante centenas de anos.
Desde que se escreveu o Novo Testamento, em nenhum momento nem lugar teve-se como algo desejável ser chamado judeu, na acepção atual do termo. Os judeus nunca usufruíram tal honra, de forma a suprir as expectativas de alguém ao ser ele chamado assim. Amiudadamente há e tem havido grandes vantagens em ser chamado cristão, e muitíssimas pessoas têm sustentado essa falsa pretensão a par dos benefícios sociais ou financeiros que traz.

Judeu e cristão: –Não forçamos, em absoluto, o texto se considerarmos que ao dizer "judeu" significa o que hoje entendemos por "cristão". Isso se torna evidente ao compreendermos em que consiste realmente o ser judeu. Há evidência mais que abundante de que desde o princípio era aquele que cria em Cristo. Disse o Senhor Jesus acerca do cabeça dessa raça: "Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o Meu dia, viu-o e regozijou-se." (João 8:56) Creu no Senhor e isso lhe foi contado por justiça. Porém, a justiça vem somente pelo Senhor Jesus. Moisés, o grande dirigente judeu, "considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito..." (Hebreus 11:26). Os judeus rebeldes, no deserto, tentaram e rejeitaram a Cristo (I Coríntios 10:9). Quando Cristo veio em carne, foram "os Seus" aqueles que não O receberam (João 1:11). E, finalmente, Cristo disse que ninguém podia crer nos escritos de Moisés a menos que cresse n’Ele (João 5:46 e 47). Portanto, salta à vista o fato de que ninguém é ou foi jamais um verdadeiro judeu, exceto se crer em Cristo. Aquele que não é judeu, certamente pertence "à sinagoga de Satanás".

"A salvação vem dos judeus": –Jesus disse à mulher samaritana, junto ao poço de Jacó: "Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus." (João 4:22)  O próprio Cristo "segundo a carne, veio da descendência de Davi". (Romanos 1:3) e era, por conseguinte, judeu; "... Não existe nenhum outro nome...  pelo qual importa que sejamos salvos". (Romanos 1:3) Nenhuma outra nação na Terra teve um nome tão exaltado. Ninguém foi tão favorecido por Deus como o povo judeu. "Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que O invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?" (Deuteronômio 4:7 e 8).

Repousando na lei: –Como afirma o último verso, aos judeus foi confiada a lei mais perfeita que o Universo podia conhecer: a Lei de Deus. Ela era chamada de "o testemunho", já que dava testemunho contra eles. Não lhes foi ensinado que podiam obter justiça a partir dela, por mais completa que a lei fosse, mas o contrário. Devido a ser tão perfeita e eles pecadores, nada lhes podia trazer diferente de condenação. Estava prevista para levá-los a Cristo, o único em quem poderiam achar a perfeita justiça que a lei requer. "A lei suscita a ira" (Romanos 4:15) e somente Cristo salva da ira. Porém, o judeu "repousava na lei" e por ela, descansava no pecado. "Consideravam-se justos" (Lucas 18:9). Não encontraram a justiça "... porque [essa] não decorreu da fé, e sim como que das obras." (Romanos 9:31 e 32).

"...Te glorias em Deus": –Há formas muito distintas de se gloriar em Deus (Salmo 34:2). Em lugar de gloriar-se na salvação do Senhor, os judeus se gloriavam de seu conhecimento superior de Deus. Tinham-no, verdadeiramente, mais que os outros, porém nada possuíam que não houvessem recebido e, não obstante, gloriavam-se como se esse não fosse o caso. Louvavam a si mesmos em vez de glorificar a Deus pelo conhecimento que possuíam e se colocavam assim na mesma posição que os pagãos, os quais "tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios..." (Romanos 12:1) Quando você se sentir inclinado a censurar os judeus pela vaidade de se gloriarem, lembre-se de como se tem sentido amiudadamente, comparando-se com os habitantes das terras pagãs e com as classes mais "baixas" de sua própria terra.

A vontade de Deus: –Sua Lei – O apóstolo diz que o judeu conhece a vontade de Deus porque está instruído na lei. Com isso vemos que a lei de Deus é Sua vontade. Não é preciso insistir nesse ponto. A vontade de um governante se expressa em suas leis. Quando ele é absoluto, sua vontade é lei. Deus é um governante absoluto, embora não arbitrário, e visto que Sua vontade é a única regra de direito, deduz-se que ela é Sua lei. Porém, Sua lei está resumida nos Dez Mandamentos; portanto, esses contêm uma declaração sumária de Lei de Deus.
A forma da ciência e da verdade - Embora os Dez Mandamentos contenham uma declaração da vontade de Deus, que é a perfeição da sabedoria e a verdade, são apenas uma declaração e não a própria substância, assim como a fotografia de uma casa não é a casa, embora possa ser uma perfeita reprodução dela. As meras palavras escritas num livro ou gravadas em tábuas de pedra carecem de vida; porém, sabemos que a Lei de Deus é vida eterna. Somente em Cristo podemos encontrar a lei viva, posto que Ele é a única manifestação da Divindade.
Qualquer um que possua a vida de Cristo atuando nele, tem a perfeita lei de Deus manifestada em sua vida. Contudo, aquele que possui apenas a letra da lei e não a Cristo, detém simplesmente "a forma da ciência e da verdade". Desse modo, se diz freqüentemente e com legitimidade que a lei é uma fotografia do caráter de Deus. Todavia, uma foto ou um desejo é apenas a sombra da realidade e não sua essência ou substância. Quem tem a Cristo possui ambas as coisas, a forma e a substância, posto que algo não pode ter o objeto sem lhe ter a forma. Porém, aquele que tem apenas a declaração da verdade sem Cristo – que unicamente é a verdade – tem a aparência de piedade sem o seu poder.
 
Perguntas comprometedoras: -Nos versículos 21 até 23, o apóstolo faz certas perguntas delicadas. Que toda alma que se orgulhou de sua retidão de vida responda por si mesma a essas indagações. É fácil e natural ao homem ensoberbecer-se por causa de sua "moralidade". Os não-cristãos se tranqüilizam com o pensamento de que seguem uma conduta "moral" e que, portanto, agem tão bem quanto se fossem cristãos. Saibam esses, porém, que não existe moralidade exceto na conformidade com a lei de Deus. Tudo o que esteja, de alguma forma, fora da norma dessa lei é imoralidade. Sabendo isso, analisem se a guardam perfeitamente.

"Furtas?": –Quase todos dirão: "Não! Sou um homem honrado em tudo quanto faço." Pois bem, antes de decidirmos precipitadamente sobre a questão, examinemos as Escrituras. Lemos que "a lei é espiritual".  (Romanos 7:14). "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração." (Hebreus 4:12) Não importa quão corretos sejamos em nossos atos exteriores; se transgredimos em pensamento ou espírito, somos culpados. O Senhor olha para o coração e não à aparência exterior (I Samuel 16:7).
Além disso, é mau tanto roubar a Deus como roubar ao homem. Você tem dado a Deus o que Lhe deve? Você se comporta de maneira totalmente honesta com Ele? Ouça o que Ele diz: "Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a Mim Me roubais, vós, a nação toda." (Malaquias 3:8 e 9) Será que essas palavras são dirigidas a você? Você tem devolvido a Deus os dízimos e as ofertas que Lhe deve? Se não é assim, o que vai responder quando a Palavra Inspirada lhe pergunta: "Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?"

"A Lei é espiritual": –No capítulo 5 de Mateus, o Salvador estabeleceu a espiritualidade da Lei. Disse que a menos que nossa justiça fosse maior do que a dos escribas e fariseus, não poderíamos entrar no reino dos céus. Qual era a justiça deles? Jesus lhes disse: "Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade". (Mateus 23:38).
Portanto, a menos que sejamos justos interiormente, não o somos em absoluto. "Eis que Te comprazes na verdade no íntimo..." (Salmo 51:6) Mas adiante, no capítulo já citado, o Salvador explica que alguém pode transgredir o sexto mandamento, que diz "não matarás”, mediante a pronúncia de uma só palavra. Esclarece também que podemos violar o sétimo mandamento, que diz "não adulterarás, com um olhar ou pensamento”. De fato, o mesmo princípio rege os demais mandamentos. Sendo assim, o indivíduo precisa ser muito cuidadoso antes de afirmar guarda perfeitamente a lei.
Alguns têm dito que os Dez mandamentos são uma norma muito inferior, que um homem pode guardá-los todos e ainda ser considerado indigno de admissão numa sociedade respeitável. Esses tais ignoram tudo sobre a lei. De fato, o certo é exatamente o contrário. Um homem pode transgredir os Dez Mandamentos e ainda aparecer como um grande luminar na "alta sociedade".
  
O nome de Deus é blasfemado: –"Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa". Quem é o responsável? Aquele que ensina a lei, que diz que não se deve tomar o nome do Senhor em vão. Quando Davi pecou na transgressão com a mulher de Urias, Deus lhe disse: "Mas, posto que com isto deste motivo a que blasfemassem os inimigos do Senhor..." (II Samuel 12:14).
Isto é, Davi era um professo seguidor do Senhor e por sua violação da lei de Deus havia dado ocasião para que os incrédulos pudessem dizer: "Vejam, isso é que é ser cristão!" Quem pode dizer que na qualidade de professo seguidor do Senhor, sempre representou corretamente a verdade? Será que há alguém que não admite perante si mesmo e perante Deus, que por suas palavras ou atos tem deixado de representar freqüente e fielmente a verdade que professa? Há alguém que, por suas faltas, tanto no ensino como na atuação, não tenha dado às pessoas uma idéia miseravelmente inadequada do que é a verdadeira bondade?
Em resumo, há alguém que não tenha de responder "sim" à pergunta do apóstolo: "Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?" (Romanos 2:23)  E visto que assim é blasfemado o nome de Deus por parte de cristãos professos, quem há que possa declarar-se sem culpa diante da lei de Deus?  Nesses versículos temos abordado certas perguntas delicadas dirigidas aos que têm "o sobrenome de judeu", isto é, aos que professam seguir ao Senhor. A simples forma e a profissão de fé não tornam a pessoa um fiel mestre da verdade de Deus. Aquele que não revela em sua vida o poder daquilo que professa, é tão-somente uma ruína à causa de Deus. Nos versículos seguintes encontramos uma breve, porém explícita afirmação com respeito a:

Circuncisão e Incircuncisão - Romanos 2:25-29
25 Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão.
26 Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei, não será ela, porventura, considerada como circuncisão?
27 E, se aquele que é incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que, não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei.
28 Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne.
29 Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.
Definição do termos – Os termos "circuncisão" e "incircuncisão" são aqui empregados não meramente para significar o rito ou sua ausência, mas para referir-se a duas classes de pessoas. "A incircuncisão" se refere, sem dúvida, aos que eram chamados gentios, os que adoravam outros deuses. Assim podemos ver que a passagem de Gálatas 2:7-8: "Antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me fora confiado, como a Pedro o da circuncisão (pois Aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão também operou eficazmente em mim para com os gentios). Os termos "gentios", "pagãos", e "incircuncisão" são equivalentes.
Nesse capítulo, não nos é informado para que serve a circuncisão. Neste ponto é suficiente o simples reconhecimento do fato, já que a intenção do escritor não era outra senão mostrar o que é a circuncisão, e quem está verdadeiramente circuncidado. Desses poucos versículos dependem grandes coisas. Estude-os cuidadosamente, já que ao seu redor gravita a correta compreensão de uma grande parte das profecias do Antigo Testamento.
Se esses versos houvessem recebido a consideração que merecem por parte dos professos estudantes da Bíblia, nunca teria existido a "teoria anglo-israelita", nem as suposições vãs e enganosas sobre um pretenso retorno dos judeus a Jerusalém, antes da vinda do Senhor.

O que é a circuncisão?: –Encontramos a resposta direta em Romanos 4:11, onde o apóstolo, referindo-se a Abraão – o primeiro a ser circuncidado – disse: "E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso..." À pergunta: "O que é a circuncisão?", a resposta não pode ser outra senão: o sinal da circuncisão é o selo da justiça pela fé.
Quando a circuncisão resulta em incircuncisão – Em vista do que foi dito, está claro que onde não há justiça, o sinal da circuncisão é algo carente de valor. Assim, diz o apóstolo: "Se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão". (Romanos 2:25) Do mesmo modo que vimos nos versículos precedentes que a forma, na ausência do fato, carece de todo valor, assim também nos é dito que o sinal sem a substância nada vale. Para um homem pobre é fácil colocar um painel anunciando a venda de relógios e jóias, porém, encher a vitrina desses objetos já é outra coisa. Se possui um cartaz mas, carece do material, é pior do que se não houvesse posto o anúncio.
O erro dos judeus – Os judeus cometeram o equívoco de pensar que era suficiente ter o sinal. Chegaram finalmente a dar guarida à idéia de que a posse do sinal traria a realidade, precisamente do mesmo jeito que muitos professos cristãos de nossos dias supõem que o cumprimento de certas ordenanças os fará membros do corpo de Cristo. Porém, a circuncisão da carne somente não pode representar a justiça, mas o pecado. Leia Gálatas 5:19-21. De fato, muitos dos que eles desprezavam como "incircuncisos" eram realmente "circuncisos", enquanto que eles mesmos não o eram.

A circuncisão do coração: –A autêntica circuncisão é um assunto do coração, isto é, da vida interior e jamais da carne. O apóstolo afirma com clareza que a circuncisão, que é exterior, da carne, não é circuncisão, mas consiste meramente numa forma externa. Porém, a "circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra..." (Romanos 2:29) Isso fica estabelecido como verdade fundamental.
Esse não era um caminho novo nos dias de Paulo, mas fora assim desde o princípio. Em Deuteronômio 30:6 lemos as palavras de Moisés aos filhos de Israel: "O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas". Todo verdadeiro judeu reconhecia que a verdadeira circuncisão era a do coração, já que Estevão se dirigiu àqueles que recusavam a verdade como "de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos..." (Atos 7:51).

Justiça do coração: –Diz o salmista: "Eis que Te comprazes na verdade no íntimo..." (Salmo 51:6)  A mera justiça exterior nada significa. Leia Mateus 5:20; 23:27 e 28. É com o coração que se crê para justiça (Romanos 10:10). Quando Moisés, por mandado do Senhor, repetiu a lei a Israel, disse-lhes: "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração". (Deuteronômio 6:5 e 6). Não pode existir justiça que não implique numa vida autêntica. Por conseguinte, visto que a circuncisão não é mais que um sinal da justiça, salta à vista o fato de não poder haver autêntica circuncisão que não seja a do coração.

Circuncidados pelo Espírito: –"Sabemos que a lei é espiritual" (Romanos 14:7). Isto é, é a natureza do Espírito Santo, uma vez que a Palavra de Deus é a espada do Espírito de Deus, que é capaz de implantar a lei de Deus no coração do homem. Assim, a circuncisão é obra do Espírito Santo. Estêvão chamou de incircuncisos os malvados judeus dizendo: "Vós sempre resistis ao Espírito Santo..." (Atos 7:51). Está, pois, evidente que, embora em Romanos 2:29, em algumas versões da Bíblia apareça a palavra "espírito"  escrita em caracteres minúsculos, refere-se de fato ao Espírito Santo e não ao espírito do homem (no original grego não há distinção entre maiúsculas e minúsculas). A versão Reina-Valera de 1890 traduz corretamente: "Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no Espírito, não segundo a letra..."
Se nos lembrarmos de que a circuncisão foi dada como sinal da justiça pela fé, e que a herança prometida a Abraão e sua semente foi segundo a justiça da fé (Romanos 4:11 e 13), compreenderemos que a circuncisão era a garantia (ou hipoteca) dessa herança. O apóstolo declara também que obtemos a herança em Cristo, "tendo n’Ele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade..." (Efésios 1:10-14). A possessão prometida a Abraão e à sua semente foi assegurada tão-somente mediante o Espírito de justiça; portanto, desde o princípio não existiu circuncisão autêntica que não fosse a do Espírito.

Circuncidados em Cristo: -"Também, n’Ele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade. N’Ele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo". (Colossenses 2:8-11). A circuncisão deveria ter o mesmo significado tanto ao ser feita quanto em qualquer momento subseqüente. Logo, desde o princípio, significou justiça somente mediante Cristo. Assim demonstra o fato de a circuncisão ter sido dada a Abraão como sinal da justiça da fé: "Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça". (Gênesis 15:6).

Quem é a "circuncisão"?: –Filipenses 3:3 responde a essa pergunta: "Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne". Isso não é mais do que dizer em outras palavras que a "circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus". (Romanos 2:29) Portanto, jamais alguém que não cresse foi circuncidado e se alegrou em Cristo Jesus. Essa é a razão por que Estêvão chamou os judeus incrédulos de "incircuncisos".

O significado da circuncisão: –Não dispomos aqui de espaço para entrar em detalhes sobre essa questão, porém, os textos já citados nos colocam na pista. Um estudo cuidadoso dos capítulos do Gênesis, os quais nos falam do pacto que Deus fez com Abraão, servirá também para esclarecer o tema.
Em Gênesis 15 vemos que Deus fez um pacto com Abraão na base de sua fé. O capítulo 16 explica como Abraão deu ouvidos à voz de sua esposa, em lugar de ouvir a voz do Senhor, e se esforçou para cumprir a promessa de Deus mediante a carne, o que o levou ao fracasso. Seu filho tinha de nascer segundo o Espírito e não segundo a carne. Ver Gálatas 4:22, 23, 28 e 29.
No capítulo 17, observamos o reavivamento da fé de Abraão, assim como a renovação do pacto. Então aconteceu a circuncisão como selo. Foi-lhe secionada uma parte da carne como indicativo de que não devia pôr sua confiança na carne, mas devia esperar a justiça e a herança somente mediante o Espírito de Deus. Os descendentes de Abraão teriam assim um contínuo memorial de seu erro, e uma admoestação para confiar no Senhor e não neles mesmos.
Porém, eles perverteram o sinal. Conceberam-no como um indicativo de que eram melhores que os demais povos, em lugar de considerá-lo  como uma evidência de que "a carne nada aproveita". Contudo, o fato de os judeus terem pervertido e mal interpretado o sinal não destrói seu significado original.

Quem são judeus?: –Vimos numa citação do segundo capítulo de Gálatas, que o termo "incircunciso" se refere àqueles que não conhecem ao Senhor, aos que estão "sem Deus no mundo". Ver Efésios 2:11 e 12. Os judeus são "a circuncisão". Porém, somente aqueles que tem seu prazer em Cristo Jesus são a circuncisão, aqueles cuja confiança não está na carne. Portanto, os autênticos judeus não são outros que não os [crentes] cristãos. "É judeu o que o é no interior". Nunca houve um autêntico judeu aos olhos de Deus que não fosse um crente em Cristo. E todo verdadeiro crente em Cristo e um judeu no sentido bíblico do termo. Abraão, o pai da nação judaica, alegrou-se em Cristo (João 8:56).
Uma marca distintiva - Muitos têm abrigado a idéia de que a circuncisão foi dada como uma marca distintiva entre os judeus e os gentios. O estudo da origem da circuncisão, assim como a própria declaração de Paulo, põem em relevo a falácia dessa suposição.  Outros pensam que foi dada para manter os judeus separados, de maneira que a genealogia de Jesus pudesse ser mantida. Tampouco isso deixa de ser uma mera suposição. Cristo tinha de proceder da tribo de Judá; uma vez que todas as tribos praticavam a circuncisão, é evidente que essa não poderia ser o meio de preservação de sua genealogia. Ademais, a circuncisão da carne jamais vez separação alguma entre judeus e gentios.
Ela não evitou que Israel caísse na idolatria nem que se mesclasse com os pagãos em suas práticas idolátricas. Quando os judeus se esqueciam de Deus, misturavam-se com os pagãos e deixava de existir a diferença entre eles e os gentios. A circuncisão não os mantinha separados. E ainda mais: Deus não queria que os judeus se separassem dos gentios no sentido de não tratarem com eles. O objetivo do chamamento dos judeus para a saída do Egito tinha por fim levar o evangelho aos pagãos. Era seu desígnio que se mantivessem separados deles em caráter, coisa que a circuncisão externa jamais poderia realizar. 
Moisés disse ao Senhor: "Pois como se há de saber que achamos graça aos Teus olhos, eu e o Teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o Teu povo, de todos os povos da terra?" (Êxodo 33:16) A presença de Deus no coração do homem o manterá separado dos outros, mesmo que viva na mesma casa e coma na mesma mesa. Porém, se Cristo não habita no coração do homem, esse não se separará do mundo, mesmo que esteja circuncidado e viva no ermo.

A semente literal e a espiritual: –A compreensão incorreta desses termos é responsável por grande parte da confusão que tem ocorrido com relação a Israel. As pessoas supõem que afirmar que apenas são judeus autênticos os que o são espiritualmente, é negar a literalidade da semente e da promessa. O espiritual é literal, é real. Cristo é espiritual; portanto, é a semente real, a semente literal. Deus é espiritual e é espírito; portanto, não é um Ser figurativo, mas um Deus literal, real. Assim, a herança que nos cabe em Cristo é espiritual e real.
Afirmar que somente o Israel espiritual é o verdadeiro Israel não é contradizer ou negar as Escrituras, nem debilitar de alguma maneira a força e a realidade da promessa, já que a promessa de Deus somente é feita a quem possui fé em Cristo. "Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé." (Romanos 4:13) "E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa".