CARTA AOS ROMANOS
Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani
Capítulo 2
O Pecado de Outros Também é Nosso
"Bem-aventurado o homem
que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem
se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do
Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite". (Salmo 1:1 e 2).
"Filho meu, se aceitares
as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres
atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e,
se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a
sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então,
entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor
dá a sabedoria, e da Sua boca vem a inteligência e o entendimento".
(Provérbios 2:1-6).
Aqui encontramos o segredo para
entender a Bíblia: estudo e meditação aliados a um fervente desejo de conhecer
a vontade de Deus com o propósito de cumpri-la. "Se alguém quiser fazer a
vontade d’Ele, conhecerá a respeito da doutrina..." (João 7:17). A revisão
e o repasse são primordiais para se conhecer a Bíblia. Não é que haja um volume
de estudo suficiente que possa prescindir da guia do Espírito Santo, mas que o
Espírito Santo testifica precisamente através da Palavra.
Uma Olhada Retroativa
Neste estudo do livro de Romanos queremos assimilar tanto quanto
seja possível daquilo que já aprendemos. Daremos, pois, uma vista geral do
primeiro capítulo como um todo. Já vimos que é possível reconhecer o seguinte
esquema:
· versículos 1 a 7; saudações e exposição sumária de todo o
evangelho.
· versículos 8 a 15: interesse pessoal de
Paulo nos romanos e seu senso de obrigação para com eles e todos os homens.
· versículos 16 e 17: o que é e
o que comporta o evangelho.
· versículos 21 a 23: corrupção da
sabedoria.
· versículos 24 a 32: resultado da
ingratidão humana e do esquecimento de Deus.
Uma cuidadosa leitura do
capítulo exibe-nos a idéia principal: Deus, mediante a criação, deu-Se a
conhecer a toda alma, e até o mais degradado pagão se sente culpado e digno de
morte por sua maldade. "Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que
são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas
também aprovam os que assim procedem." (verso 32). "Portanto, és
inescusável, ó homem..." Essa idéia
diretriz contida no primeiro capítulo deveria estar bem presente na mente antes
de se iniciar o estudo do segundo capítulo, porquanto esse é uma continuação do
primeiro e depende dele.
Uma Visão Mais Abarcante. -Romanos 2:1 a 11.
1 Qual é, pois, a vantagem do
judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?
2 Muita, sob todos os aspectos.
Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.
3 E daí? Se alguns não creram,
a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus?
4 De maneira nenhuma! Seja Deus
verdadeiro, e mentiroso, todo homem, segundo está escrito: Para seres
justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando fores julgado.
5 Mas, se a nossa injustiça
traz a lume a justiça de Deus, que diremos? Porventura, será Deus injusto por
aplicar a sua ira? (Falo como homem.)
6 Certo que não. Do contrário,
como julgará Deus o mundo?
7 E, se por causa da minha mentira,
fica em relevo a verdade de Deus para a sua glória, por que sou eu ainda
condenado como pecador?
8 E por que não dizemos, como
alguns, caluniosamente, afirmam que o fazemos: Pratiquemos males para que
venham bens? A condenação destes é justa.
9 Que se conclui? Temos nós
qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos,
tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado;
10 como está escrito: Não há
justo, nem um sequer,
11 não há quem entenda, não há
quem busque a Deus;
Reconhecendo a culpa: –A
veracidade da afirmação do apóstolo é facilmente verificável no que diz
respeito aos pagãos e suas obras, no sentido de que eles sabem que seus atos
são dignos de morte. Quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, tiveram medo
de encontrar-se com Deus e se esconderam. O temor é uma conseqüência essencial
da culpa e a prova de sua existência. "Ora, o medo produz tormento; logo,
aquele que teme não é aperfeiçoado no amor." (I João 4:18). "Fogem os
perversos, sem que ninguém os persiga; mas o justo é intrépido como o leão".
(Provérbios 28:1). Se os pagãos não soubessem de sua culpa, não esperariam
castigo por roubar ou matar, nem se armariam para defender-se.
Uma acusação demolidora – É incrivelmente engenhosa a maneira pela
qual o apóstolo esboça a acusação do primeiro versículo. O primeiro capítulo é
dedicado aos pagãos. Todos concordarão com a afirmação apostólica de que eles
são culpados da mais abominável maldade. A exclamação quase involuntária que
nos vem à mente é: "Que pena que não tenham maior conhecimento!"
Porém, o apóstolo replica: "Têm eles tal conhecimento", ou ao menos,
têm a oportunidade de obtê-lo e sabem que não estão agindo bem; assim, são
imperdoáveis. À parte do que cada um pensa sobre a responsabilidade dos pagãos,
todos estão de acordo em que suas práticas são condenáveis.
Então vem a esmagadora réplica: "Portanto, és indesculpável, ó
homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti
mesmo te condenas..." Aí fomos apanhados; não temos escapatória. Se temos
a sabedoria necessária para condenar as ações ímpias dos pagãos, então, por
esse mesmo juízo, reconhecemo-nos sem desculpas por nossas más ações.
Todos igualmente culpados: –"Praticas as próprias coisas que
condenas." Está muito claro que todo aquele que sabe o bastante para
condenar o mal em outro, fica sem desculpa para seus próprios pecados, porém,
nem todos se dão conta imediata de que aquele que julga a outro faz as mesmas
coisas. Leia, pois, uma vez mais, os últimos versos do primeiro capítulo e
compare os pecados dessa lista com os enumerados em Gálatas 5:19 a 21. É
evidente que as coisas que os pagãos praticam e mediante as quais podemos
prontamente ver que são culpáveis, não são outras que as obras da carne. São
pecados que vêm "de dentro, do coração dos homens" (Marcos 7:21 a
23). Todo aquele que esteja incluso na palavra "homem", é sujeito às
mesmas coisas. "O Senhor olha dos céus; vê todos os filhos dos homens; do
lugar de Sua morada, observa todos os moradores da Terra, Ele, que forma o
coração de todos eles, que contempla todas as suas obras". (Salmo 33:13 a
15).
Todos estão condenados – Posto
que todos os homens sejam participantes de uma mesma natureza, é evidente que
qualquer um que condene outro por má ação sentencia-se, uma vez que a verdade é
que todos têm o mesmo mal em si mesmos, mais ou menos desenvolvido. O fato de
saberem o bastante para julgar que uma coisa é má, testifica que eles próprios
merecem o castigo que crêem deva ser aplicado àquele a quem julgam.
Simpatia, não condenação – O
que rouba, mais de uma vez grita: "Peguem o ladrão!", indicando
astutamente outro homem com o fim de alhear a atenção de si mesmo. Alguns
condenam o pecado nos demais a fim de dissipar a suspeita de que eles mesmos são
condenáveis pelas coisas que reprovam. Por outro lado, freqüentemente o homem
tenta desculpar os pecados aos quais se sente mais inclinado, condenando
aqueles para os quais não tem especial disposição. Porém, é realmente culpado
deles em razão de sua natureza humana.
Visto que a carne de todo homem é a mesma, deveríamos agir com humildade
e não com desprezo quando ouvimos acerca do cometimento de um grande pecado,
visto ser essa a real imagem do que há em nossos corações. Em vez de dizer:
"Graças Te dou, ó Deus, porque não sou como os demais homens",
deveríamos levar as cargas dos que erram, cuidando de nós mesmos para que não
suceda sermos também tentados. Repetidamente o homem, cuja debilidade nos
sentimos tão inclinados a condenar, não caiu tão baixo como sucederia conosco
se fôssemos tentados da mesma maneira e em grau semelhante.
Clamor contra o pecado – No
livro O Peregrino, quando Loquaz deixou que Fiel decidisse o tema da conversa,
esse propôs a seguinte questão: "Como se manifesta a graça de Deus no
coração do homem?" O autor da obra (John Bunyan) prossegue nestes termos:
– Fiel: Percebo que nosso tema
de conversação deve ter relação com o poder da graça. Bem, esse tema é muito
bom. Vou responder-lhe com grande contentamento. Em resumo, esta é a minha opinião:
Primeiramente, quando a graça de Deus está no coração, gera ali um clamor
contra o pecado. Em segundo lugar, um aborrecimento do pecado...
– Loquaz reage. Como? Que
diferença há entre o clamor contra o pecado e seu aborrecimento?
– Fiel: Muita, em verdade! Um
homem pode clamar contra o pecado porque assim exige a situação, mas carecer de
um autêntico aborrecimento do mesmo. Já presenciei grandes demonstrações de
clamor do púlpito contra o pecado; pecado, não obstante, que pode muito bem
residir em seu coração, em sua casa e em sua conversação. A mulher que tentou
José bradou como se houvesse sido um padrão de castidade. Todavia, bem sabemos
de sua disposição para praticar atos impuros com ele.
Um agudo discernimento entre o
bem e o mal e uma enérgica denúncia do pecado jamais justificarão o homem. Pelo
contrário, contribuem para agravar sua condenação. É um fato lamentável que
muitos dos assim chamados reformadores de nossos dias parecem crer que a obra
do evangelho consiste toda ela em denunciar as más práticas dos outros. Porém,
um detetive não é um ministro do evangelho.
Juízo segundo a verdade: –"Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a
verdade contra os que praticam tais coisas". "Alto!", diz
alguém, "não estou certo sobre se 'sabemos' tal coisa". Bem, você
pode facilmente sentir-se seguro de que:
1. Deus existe. Sobre isso
estamos de acordo.
2. Ele é a fonte donde procede
todo ser criado.
3. Toda criatura é
absolutamente dependente d’Ele. "N’Ele vivemos, nos movemos e existimos".
4. Visto que toda vida depende
d’Ele, é natural que a continuação da vida do homem dependa de sua harmonia e
união com Deus.
5. Portanto, o próprio caráter
de Deus deve ser a norma de juízo.
6. Deus mesmo é a verdade.
"N’Ele não há injustiça".
7. Deus Se revelou – a Si mesmo
e à Sua justiça – a todos os homens. "O Senhor fez notória a Sua salvação;
manifestou a Sua justiça perante os olhos das nações". (Salmo 98:2)
8. Logo, todo homem, grande ou
pequeno, fica sem desculpas para o seu pecado.
9. Conseguintemente, quando Deus
julga a todos os homens, sem exceção, Seu juízo é de acordo com a verdade. E a
Terra se verá constrangida a unir-se ao Céu no clamor: "Tu és justo, Tu
que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas"... Certamente, ó
Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os Teus juízos".
(Apocalipse16:5 e 7).
Sem escapatória: –Ninguém deve pensar que pode escapar ao justo juízo de Deus.
Comumente, são os mais ilustrados que crêem poder safar-se. É-nos tão fácil
pensar que nosso grande conhecimento do bem e do mal nos será contado por
justiça; tão fácil convencer-nos de que em virtude de nossa condenação dos
pecados alheios, o Senhor achará que jamais poderíamos ser culpados desses
pecados... Porém, em realidade, isso não faz mais do que aumentar nossa
condenação.
O primeiro capítulo de Romanos
solapa desde as bases todos os apoios sobre os quais o homem tenta
sustentar-se. Se a "classe baixa" é tida justamente por culpável, não
há escape para a "classe superior". "Porque Deus há de trazer a
juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam
más." (Eclesiastes 12:14).
A bondade de Deus conduz ao
arrependimento – "Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e
longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao
arrependimento?" Deus é a perfeição da pureza e da santidade; o homem é
completa-mente pecaminoso. Deus tem conhecimento de todo pecado, mas não
despreza o pecador. "Porquanto Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para
que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele". (João
3:17). Cristo disse: "Se alguém ouvir as Minhas palavras e não as guardar,
Eu não o julgo". (João 12:47).
Em tudo quanto o Salvador disse
e fez, não fez nada mais do que representar o Pai. Deus "é longânimo para
conosco", "e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor (II
Pedro 3:9 e 15), É impossível que alguém considere a bondade e a paciência de
Deus sem humilhar-se e ser levado ao arrependimento. Quando consideramos a
ternura com que Deus nos trata, é-nos impossível manifestar aspereza para com
nossos semelhantes. Se não julgarmos, não seremos julgados (Lucas 6:37).
O arrependimento é um dom: –"Porque pela graça sois salvos, mediante a
fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus". (Efésios 2:8). "O Deus de
nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-O num madeiro.
Deus, porém, com a Sua destra, O exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de
conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados". (Atos 5:30 e
31). Porém, não foi somente a Israel que Deus deu arrependimento mediante
Cristo. "D’Ele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de Seu
nome, todo aquele que n’Ele crê recebe remissão de pecados". (Atos 10:43).
Tão claramente Deus fez conhecer isso que até os judeus exclusivistas se viram
obrigados a exclamar: "Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o
arrependimento para vida". (Atos 11;18).
Estímulos ao arrependimento: –A bondade de Deus leva o homem ao arrependimento.
Portanto, toda a Terra está cheia de estímulos para que o pecador se arrependa,
já que "a Terra está cheia da bondade do Senhor" (Sal. 33:5). "A
Terra, Senhor, está cheia da Tua bondade..." (Sal. 119:64) Pode-se
conhecer a Deus mediante Suas obras. Deus é amor. Toda a criação revela o amor
e a misericórdia de Deus.
Não devemos tentar corrigir as
Escrituras e dizer que a bondade de Deus tenda a levar o homem ao
arrependimento. A Bíblia diz que ela o faz, que guia ao arrependimento tão
seguramente quanto o fato de que Deus é bom. Porém, nem todos se arrependem.
Por quê? Porque desprezam as riquezas da benignidade, paciência e benevolência
divina, e escapam da misericordiosa guia do Senhor. Entretanto, todo aquele que
não resistir ao Senhor será guiado com segurança ao arrependimento e salvação.
Acumulando ira sobre si: –Vimos no primeiro capítulo que "a ira de Deus
se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens..."
Portanto, todos os que pecam estão acumulando ira sobre si mesmos. Deus é
verdadeiro no juízo. O homem recebe tão-somente por aquilo que cometeu. Deus
não é arbitrário. Não baixou decretos caprichosos de forma que todo o que os
viole seja objeto de Sua vingança. Não! O castigo dos ímpios será o resultado
de sua própria escolha. Deus é a única fonte de vida. Sua vida é paz. Quando o
homem a rechaça, a única alternativa é ira e morte. "Porquanto aborreceram
o conhecimento e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram o Meu conselho
e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu
procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão. Os néscios são mortos
por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição".
(Prov. 1:29-32) A aflição e a morte estão ligadas ao pecado; quando o homem
repudia a Deus, é isso o que ele escolhe.
"Conforme suas obras": –Os incrédulos costumam afirmar
que não é justo que Deus condene o homem simplesmente porque esse não crê em
certas coisas. Porém, Deus não faz isso. Não é possível encontrar em toda a
Bíblia nem uma só palavra portando o propósito de julgar um homem de acordo com
sua crença. Encontramos em muitos lugares da Bíblia a afirmação de que todos
serão julgados de acordo com suas obras. "Porque o Filho do Homem há de
vir na glória de Seu Pai, com os Seus anjos, e, então, retribuirá a cada um
conforme as suas obras". (Mateus 16:27) "E eis que venho sem demora,
e Comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas
obras". (Apocalipse 22:12). Ele "julga segundo as obras de cada
um". (I Pedro 1:17).
O homem que diz que sua obra é
justa, coloca-se a si mesmo como juiz em lugar de Deus, que diz que todo o
homem está errado. Apenas Deus é juiz e Ele julga em estrito acordo com a obra
do homem; então, a obra do homem é determinada por sua fé. "A obra de Deus
é esta: que creiais n’Aquele que por Ele foi enviado". (João 6:29). Não é prerrogativa do homem
julgar-se a si mesmo e concluir que sua obra é justa. O que lhe toca, por outro
lado, é confiar unicamente na bondade e misericórdia do Senhor, a fim de que
Sua obra seja feita em Deus.
Imortalidade e vida eterna: –Deus concederá a vida eterna àqueles que buscam
glória, honra e imortalidade. "... Nosso Salvador Cristo Jesus... trouxe à
luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho". (II Tim. 1:10). A vida
e a imortalidade são duas coisas diferentes. Todo aquele que crê no Filho tem a
vida eterna. "E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". (João 17:3)
Temos vida eterna tão logo
conhecemos ao Senhor, porém, não podemos ter a imortalidade até que o Senhor
regresse, no dia final. "Eis que vos digo um mistério: nem todos
dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de
olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo
corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista
da imortalidade". (I Cor.íntios15:51 a 53).
Devemos buscar a imortalidade;
isso é em si mesmo uma prova de que ninguém a possui agora. Posto que Deus a
trouxe à luz pelo evangelho, é evidente que só e exclusivamente mediante o
evangelho pode-se possuir imortalidade, de maneira que nunca a terão os que não
o aceitam.
Tribulação e angústia: -Os que pecam são filhos da ira (Efésios 2:3). O
pesar e a ira, a tribulação e a angústia, alcançarão com certeza os que fazem o
mal. Porém a tribulação e a angústia terão um final. O fato de que somente os
que são de Cristo recebem – em Sua vinda – a imortalidade, demonstra que todos
os demais deixarão finalmente de existir. Haverá tormento em relação ao castigo
dos ímpios, porém esse dure quanto durar, chegará ao fim com a destruição dos
malfeitores. A indignação divina terá um final. "...Porque daqui a bem
pouco se cumprirá a Minha indignação e a Minha ira, para a consumir".
(Isaías 10:25) "Vai, pois, povo Meu, entra nos teus quartos e fecha as
tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Pois eis que o Senhor sai do Seu lugar, para
castigar a iniqüidade dos moradores da terra; a terra descobrirá o sangue que
embebeu e já não encobrirá aqueles que foram mortos". (Isaías 26:20 e 21)
"Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a Sua ira".
(Salmo 103:9) Sua ira cessará, não por
que Ele Se tenha reconciliado com a iniqüidade, mas porque a iniqüidade, junto
com seus praticantes, chegará ao fim.
A todos: –A tribulação e a angústia virão "sobre todos os que
praticam o mal", e glória, honra e paz a "qualquer que faça o
bem". Ninguém é esquecido. Não existe uma alma tão pobre e ignorante que
seja passada por alto, nem tampouco ninguém tão poderoso e instruído que
escape. A riqueza e a posição carecerão de influência naquele tribunal. Deus Se
revelou tão claramente que toda alma teve a oportunidade de conhecê-Lo. "A
ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que
detêm a verdade pela injustiça." Observe que Sua ira é dirigida contra o
pecado. Somente aqueles que se apegaram ao pecado a sofrerão; somente os que
não permitiram que Deus lhes expiasse os pecados. Assim fazendo, na eliminação
final do pecado, serão inevitavelmente extirpados com ele.
Primeiramente do judeu: –A afirmação é bastante para ilustrar que Deus não
faz acepção de pessoas. Com efeito, o apóstolo declara, como conclusão
necessária, que "Deus não faz acepção de pessoas". A expressão
"primeiramente" nem sempre se refere ao tempo. Falamos do
'primeiro-ministro' de um país não por que não houvesse outros ministros antes
dele, mas porque ele é o principal. O "primeiro da classe" significa
o melhor aluno. Os judeus foram os que tiveram a maior revelação, portanto, é
justo que sejam os primeiros no juízo.
O texto, não obstante, mostra
que Deus não confere trato especial aos judeus em relação a outros homens. Se a
glória, a honra e a paz chegam primeiramente para o judeu, o mesmo acontece com
a ira, a tribulação e a angústia. A questão não é: "De que nacionalidade
é?", mas "o que fez?" Deus julgará a cada um segundo as suas obras,
já que não há "acepção de pessoas para com Ele".
Umas poucas palavras bastarão
para relembrar o que temos estudado até aqui. O primeiro capítulo de Romanos
pode resumir-se como o conhecimento da condição de quem não conhece a Deus e de
como perderam esse conhecimento, aliado ao fato de que carecem totalmente de
desculpa. Então, quando estamos dispostos a levar, horrorizados, as mãos à
cabeça e condená-los por sua maldade, o apóstolo se volta para nós e fecha
nossa boca com a cortante afirmação: "Portanto, és indesculpável, ó homem,
quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo
te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas".
O segundo capítulo mostra que
todos terão que se ver com o justo juízo de Deus, porque "não há acepção
de pessoas para com Deus". Assim vemos a confirmação do fato da
imparcialidade de Deus, mediante a comparação de ambas as classes no juízo.
12 Assim, pois, todos os que
pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram
mediante lei serão julgados.
13 Porque os simples ouvidores
da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser
justificados.
14 Quando, pois, os gentios,
que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo
lei, servem eles de lei para si mesmos.
15 Estes mostram a norma da lei
gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus
pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,
16 no dia em que Deus, por meio de
Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu
evangelho.
"Sem lei" e "na lei": –Embora seja correto que quando
vier o Senhor pela segunda vez, não haverá ninguém sobre a Terra que não tenha
ouvido a pregação da palavra, é um fato que milhões e milhões morrerão sem saber
nada da Bíblia. Trata-se daqueles aos
quais o apóstolo como estando "sem lei". Porém, fica claro que de
nenhuma forma estão sem lei, mas somente sem a lei escrita. Nos versículos
seguintes é afirmado que eles têm certo conhecimento da lei, como prova também
o fato de que são tidos por pecadores; sabemos que o "mas o pecado não é
levado em conta quando não há lei".
(Romanos 5:13).
Todo pecado é castigado – Tenham eles a lei escrita ou não, todos
são considerados pecadores. "A ira de Deus se revela do céu contra toda
impiedade e perversão dos homens..." (Romanos 1:18) É dito que os pagãos não têm desculpas; e se
aqueles que não possuem a lei escrita são indesculpáveis, os que a têm ao
alcance das mãos, desde logo, são mais inescusáveis. Deus é justo. "Bem
sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais
coisas". (Romanos 2:2) Assim, todo o que peca, seja com a lei ou sem ela,
deve ser castigado.
Ficou demonstrado que "sem lei" não significa sem nenhum
conhecimento de Deus. O primeiro capítulo estabelece essa verdade. O problema
de muitos que lêem essa afirmação, segundo a qual os homens serão castigados
igualmente - o que não lhes parece justo -, é que se esquecem, ou ignoram, o
conteúdo do primeiro capítulo. É um grande erro tomar isoladamente um versículo
da Bíblia, separando-o de seu contexto.
Perecerão: –Essa será a sorte dos ímpios. O
apóstolo Pedro nos diz que os céus e a Terra estão "entesourados para
fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens
ímpios" (II Pedro 3:7). O que significa "perecerão"? Exatamente
o contrário de existir para sempre. Em certa ocasião, alguns homens falaram a
Jesus sobre os galileus cujo sangue Pilatos mesclara com seus sacrifícios.
A resposta de Cristo foi:
"Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis".
(Lucas 13:1-3) "Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do Senhor
serão como o viço das pastagens; serão aniquilados e se desfarão em fumaça".
(Salmo 37:20). Assim, a afirmação de que aquele que peca perecerá significa que
morrerá, que será totalmente extinto; "serão como se nunca tivessem
sido." (Obadias 16).
Estrita imparcialidade – Implica em estrita justiça. Os pecadores
serão castigados, vivam eles em terras pagãs ou nas chamadas cristãs. Porém,
ninguém será julgado por aquilo que não conheceu. Deus não castiga a ninguém
pela violação de uma lei da qual esse não tenha tido conhecimento, nem o tem
por responsável pela luz que não brilhou sobre ele. É evidente que os que têm a
lei devem possuir conhecimento de muitas coisas que não estão ao alcance de
quem não a desfruta em forma escrita. Todo homem tem luz suficiente para saber
que é um pecador; todavia, a lei escrita oferece a quem tem o conhecimento
muitos pormenores que escapam à percepção de quem não a tem.
Portanto, Deus, em Sua justiça, não considera esses últimos
responsáveis pelas muitas coisas pelas quais serão julgados os primeiros.
"Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e
todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados." (Romanos 2:12)
Quem repeliu a luz, seja em que medida for, é naturalmente culpado.
A raiz do pecado: –Parece injusto a alguns que
aqueles que desfrutaram de uma luz comparativamente pequena tenham de sofrer a
morte por seus pecados, da mesma forma que a merecerão aqueles que pecarão
contra uma luz maior. A dificuldade ocorre porque não consideram
apropriadamente o que é, em realidade, o pecado. Somente Deus é bom (Lucas
18:19). Ele é a fonte da bondade. Quando a bondade aparece no homem, seja de
que forma for, trata-se unicamente da obra de Deus nele.
Porém, Ele é também fonte de vida. Toda vida tem n’Ele sua origem
(Sal. 36:9). A vida de Deus é justiça, de maneira que não pode existir qualquer
justiça à margem da vida de Deus. Fica então evidente que se alguém rejeita a
Deus, aliena-se totalmente da vida. Não importa que tenha tido relativamente
pouco conhecimento de Deus; se repele a luz, rechaça a Deus e a vida com Ele.
Ao repudiar o pouco que conhece de Deus, demonstra que em qualquer caso se
contraporia a Ele.
"Tu és homem" -Romanos 2:17-24
17 Se, porém, tu, que tens por
sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;
18 que conheces a sua vontade e
aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei;
19 que estás persuadido de que
és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas,
20 instrutor de ignorantes,
mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade;
21 tu, pois, que ensinas a
outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar,
furtas?
22 Dizes que não se deve
cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos e lhes roubas os templos?
23 Tu, que te glorias na lei,
desonras a Deus pela transgressão da lei?
24 Pois, como está escrito, o
nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa.
Um pretenso judeu: –Descartarão
os assim declarados cristãos esta parte da carta aos Romanos, tendo-a como
inaplicável a eles pelo fato de ser dirigida aos professos judeus? De maneira alguma. É precisamente aos
cristãos professos que o apóstolo se refere. Leia a descrição: "...
repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a Sua vontade e aprovas as
coisas excelentes, sendo instruído na lei; que estás persuadido de que és guia
dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre
de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade". A quem se dirige Paulo? A todo aquele que se
sente qualificado para ensinar outros no caminho do Senhor.
"Sobrenome judeu":
–É preciso prestar-se atenção ao fato de que o apóstolo não diz "tu
que és judeu", mas "tu que te chamas judeu". As pessoas nem sempre são como chamadas e nem
o que dizem ser. Começando pelo verso 17, o apóstolo estabelece a questão de
quem é judeu. Antes de chegar ao final do capítulo, ver-se-á que o emprego da
palavra "sobrenome" ou "chamado", significa que aquele a
quem se dirige nos versículos seguintes não é realmente um judeu, e o Senhor
não o considera como tal.
Pretensão de ser judeus: –Lemos em Apocalipse 2:9:
"Conheço... a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são,
sendo, antes, sinagoga de Satanás". E, "farei que alguns dos que são
da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são,
mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que Eu
te amei". O verso anterior nos mostra que ser realmente judeu representa
uma honra tão grande, que muitos iriam pretendê-la falsamente. Entretanto, os
que hoje conhecemos como judeus têm sofrido o desprezo da maior parte do mundo
durante centenas de anos.
Desde que se escreveu o Novo Testamento, em nenhum momento nem lugar
teve-se como algo desejável ser chamado judeu, na acepção atual do termo. Os
judeus nunca usufruíram tal honra, de forma a suprir as expectativas de alguém
ao ser ele chamado assim. Amiudadamente há e tem havido grandes vantagens em
ser chamado cristão, e muitíssimas pessoas têm sustentado essa falsa pretensão
a par dos benefícios sociais ou financeiros que traz.
Judeu e cristão: –Não
forçamos, em absoluto, o texto se considerarmos que ao dizer "judeu"
significa o que hoje entendemos por "cristão". Isso se torna evidente
ao compreendermos em que consiste realmente o ser judeu. Há evidência mais que
abundante de que desde o princípio era aquele que cria em Cristo. Disse o
Senhor Jesus acerca do cabeça dessa raça: "Abraão, vosso pai, alegrou-se
por ver o Meu dia, viu-o e regozijou-se." (João 8:56) Creu no Senhor e
isso lhe foi contado por justiça. Porém, a justiça vem somente pelo Senhor
Jesus. Moisés, o grande dirigente judeu, "considerou o opróbrio de Cristo
por maiores riquezas do que os tesouros do Egito..." (Hebreus 11:26). Os
judeus rebeldes, no deserto, tentaram e rejeitaram a Cristo (I Coríntios 10:9).
Quando Cristo veio em carne, foram "os Seus" aqueles que não O
receberam (João 1:11). E, finalmente, Cristo disse que ninguém podia crer nos
escritos de Moisés a menos que cresse n’Ele (João 5:46 e 47). Portanto, salta à
vista o fato de que ninguém é ou foi jamais um verdadeiro judeu, exceto se crer
em Cristo. Aquele
que não é judeu, certamente pertence "à sinagoga de Satanás".
"A salvação vem dos
judeus": –Jesus disse à mulher samaritana, junto ao poço de Jacó:
"Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a
salvação vem dos judeus." (João 4:22)
O próprio Cristo "segundo a carne, veio da descendência de
Davi". (Romanos 1:3) e era, por conseguinte, judeu; "... Não existe
nenhum outro nome... pelo qual importa
que sejamos salvos". (Romanos 1:3) Nenhuma outra nação na Terra teve um
nome tão exaltado. Ninguém foi tão favorecido por Deus como o povo judeu.
"Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o
Senhor, nosso Deus, todas as vezes que O invocamos? E que grande nação há que
tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos
proponho?" (Deuteronômio 4:7 e 8).
Repousando na lei: –Como afirma o último verso, aos
judeus foi confiada a lei mais perfeita que o Universo podia conhecer: a Lei de
Deus. Ela era chamada de "o testemunho", já que dava testemunho
contra eles. Não lhes foi ensinado que podiam obter justiça a partir dela, por
mais completa que a lei fosse, mas o contrário. Devido a ser tão perfeita e
eles pecadores, nada lhes podia trazer diferente de condenação. Estava prevista
para levá-los a Cristo, o único em quem poderiam achar a perfeita justiça que a
lei requer. "A lei suscita a ira" (Romanos 4:15) e somente Cristo
salva da ira. Porém, o judeu "repousava na lei" e por ela, descansava
no pecado. "Consideravam-se justos" (Lucas 18:9). Não encontraram a
justiça "... porque [essa] não decorreu da fé, e sim como que das
obras." (Romanos 9:31 e 32).
"...Te glorias em
Deus": –Há formas muito distintas de se gloriar em Deus (Salmo 34:2).
Em lugar de gloriar-se na salvação do Senhor, os judeus se gloriavam de seu
conhecimento superior de Deus. Tinham-no, verdadeiramente, mais que os outros,
porém nada possuíam que não houvessem recebido e, não obstante, gloriavam-se
como se esse não fosse o caso. Louvavam a si mesmos em vez de glorificar a Deus
pelo conhecimento que possuíam e se colocavam assim na mesma posição que os
pagãos, os quais "tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como
Deus, nem Lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios
raciocínios..." (Romanos 12:1) Quando você se sentir inclinado a censurar
os judeus pela vaidade de se gloriarem, lembre-se de como se tem sentido
amiudadamente, comparando-se com os habitantes das terras pagãs e com as
classes mais "baixas" de sua própria terra.
A vontade de Deus: –Sua
Lei – O apóstolo diz que o judeu conhece a vontade de Deus porque está
instruído na lei. Com isso vemos que a lei de Deus é Sua vontade. Não é preciso
insistir nesse ponto. A vontade de um governante se expressa em suas leis.
Quando ele é absoluto, sua vontade é lei. Deus é um governante absoluto, embora
não arbitrário, e visto que Sua vontade é a única regra de direito, deduz-se
que ela é Sua lei. Porém, Sua lei está resumida nos Dez Mandamentos; portanto,
esses contêm uma declaração sumária de Lei de Deus.
A forma da ciência e da verdade - Embora os Dez Mandamentos
contenham uma declaração da vontade de Deus, que é a perfeição da sabedoria e a
verdade, são apenas uma declaração e não a própria substância, assim como a
fotografia de uma casa não é a casa, embora possa ser uma perfeita reprodução
dela. As meras palavras escritas num livro ou gravadas em tábuas de pedra
carecem de vida; porém, sabemos que a Lei de Deus é vida eterna. Somente em
Cristo podemos encontrar a lei viva, posto que Ele é a única manifestação da
Divindade.
Qualquer um que possua a vida de Cristo atuando nele, tem a perfeita
lei de Deus manifestada em sua vida. Contudo, aquele que possui apenas a letra
da lei e não a Cristo, detém simplesmente "a forma da ciência e da
verdade". Desse modo, se diz freqüentemente e com legitimidade que a lei é
uma fotografia do caráter de Deus. Todavia, uma foto ou um desejo é apenas a
sombra da realidade e não sua essência ou substância. Quem tem a Cristo possui
ambas as coisas, a forma e a substância, posto que algo não pode ter o objeto
sem lhe ter a forma. Porém, aquele que tem apenas a declaração da verdade sem
Cristo – que unicamente é a verdade – tem a aparência de piedade sem o seu
poder.
Perguntas comprometedoras: -Nos
versículos 21 até 23, o apóstolo faz certas perguntas delicadas. Que toda alma
que se orgulhou de sua retidão de vida responda por si mesma a essas
indagações. É fácil e natural ao homem ensoberbecer-se por causa de sua
"moralidade". Os não-cristãos se tranqüilizam com o pensamento de que
seguem uma conduta "moral" e que, portanto, agem tão bem quanto se
fossem cristãos. Saibam esses, porém, que não existe moralidade exceto na
conformidade com a lei de Deus. Tudo o que esteja, de alguma forma, fora da
norma dessa lei é imoralidade. Sabendo isso, analisem se a guardam
perfeitamente.
"Furtas?": –Quase
todos dirão: "Não! Sou um homem honrado em tudo quanto faço." Pois
bem, antes de decidirmos precipitadamente sobre a questão, examinemos as
Escrituras. Lemos que "a lei é espiritual". (Romanos 7:14). "Porque a palavra de
Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e
penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta
para discernir os pensamentos e propósitos do coração." (Hebreus 4:12) Não
importa quão corretos sejamos em nossos atos exteriores; se transgredimos em
pensamento ou espírito, somos culpados. O Senhor olha para o coração e não à
aparência exterior (I Samuel 16:7).
Além disso, é mau tanto roubar
a Deus como roubar ao homem. Você tem dado a Deus o que Lhe deve? Você se
comporta de maneira totalmente honesta com Ele? Ouça o que Ele diz:
"Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos
dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a Mim Me roubais,
vós, a nação toda." (Malaquias 3:8 e 9) Será que essas palavras são
dirigidas a você? Você tem devolvido a Deus os dízimos e as ofertas que Lhe
deve? Se não é assim, o que vai responder quando a Palavra Inspirada lhe pergunta:
"Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?"
"A Lei é espiritual": –No capítulo 5 de Mateus, o
Salvador estabeleceu a espiritualidade da Lei. Disse que a menos que nossa
justiça fosse maior do que a dos escribas e fariseus, não poderíamos entrar no
reino dos céus. Qual era a justiça deles? Jesus lhes disse: "Assim também
vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de
hipocrisia e de iniqüidade". (Mateus 23:38).
Portanto, a menos que sejamos
justos interiormente, não o somos em absoluto. "Eis que Te comprazes na
verdade no íntimo..." (Salmo 51:6) Mas adiante, no capítulo já citado, o
Salvador explica que alguém pode transgredir o sexto mandamento, que diz
"não matarás”, mediante a pronúncia de uma só palavra. Esclarece também
que podemos violar o sétimo mandamento, que diz "não adulterarás, com um
olhar ou pensamento”. De fato, o mesmo princípio rege os demais mandamentos.
Sendo assim, o indivíduo precisa ser muito cuidadoso antes de afirmar guarda
perfeitamente a lei.
Alguns têm dito que os Dez
mandamentos são uma norma muito inferior, que um homem pode guardá-los todos e
ainda ser considerado indigno de admissão numa sociedade respeitável. Esses
tais ignoram tudo sobre a lei. De fato, o certo é exatamente o contrário. Um
homem pode transgredir os Dez Mandamentos e ainda aparecer como um grande
luminar na "alta sociedade".
O nome de Deus é blasfemado: –"Pois, como está escrito, o nome de Deus é
blasfemado entre os gentios por vossa causa". Quem é o responsável? Aquele
que ensina a lei, que diz que não se deve tomar o nome do Senhor em vão. Quando Davi
pecou na transgressão com a mulher de Urias, Deus lhe disse: "Mas, posto
que com isto deste motivo a que blasfemassem os inimigos do Senhor..." (II
Samuel 12:14).
Isto é, Davi era um professo
seguidor do Senhor e por sua violação da lei de Deus havia dado ocasião para
que os incrédulos pudessem dizer: "Vejam, isso é que é ser cristão!"
Quem pode dizer que na qualidade de professo seguidor do Senhor, sempre representou
corretamente a verdade? Será que há alguém que não admite perante si mesmo e
perante Deus, que por suas palavras ou atos tem deixado de representar
freqüente e fielmente a verdade que professa? Há alguém que, por suas faltas,
tanto no ensino como na atuação, não tenha dado às pessoas uma idéia
miseravelmente inadequada do que é a verdadeira bondade?
Em
resumo, há alguém que não tenha de responder "sim" à pergunta do
apóstolo: "Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da
lei?" (Romanos 2:23) E visto que
assim é blasfemado o nome de Deus por parte de cristãos professos, quem há que
possa declarar-se sem culpa diante da lei de Deus? Nesses versículos temos abordado certas
perguntas delicadas dirigidas aos que têm "o sobrenome de judeu", isto
é, aos que professam seguir ao Senhor. A simples forma e a profissão de fé não
tornam a pessoa um fiel mestre da verdade de Deus. Aquele que não revela em sua
vida o poder daquilo que professa, é tão-somente uma ruína à causa de Deus. Nos
versículos seguintes encontramos uma breve, porém explícita afirmação com
respeito a:
Circuncisão e Incircuncisão - Romanos 2:25-29
25 Porque a circuncisão tem
valor se praticares a lei; se és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão
já se tornou incircuncisão.
26 Se, pois, a incircuncisão
observa os preceitos da lei, não será ela, porventura, considerada como
circuncisão?
27 E, se aquele que é
incircunciso por natureza cumpre a lei, certamente, ele te julgará a ti, que,
não obstante a letra e a circuncisão, és transgressor da lei.
28 Porque não é judeu quem o é
apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne.
29 Porém judeu é aquele que o é
interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a
letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.
Definição do termos – Os termos
"circuncisão" e "incircuncisão" são aqui empregados não
meramente para significar o rito ou sua ausência, mas para referir-se a duas
classes de pessoas. "A incircuncisão" se refere, sem dúvida, aos que
eram chamados gentios, os que adoravam outros deuses. Assim podemos ver que a
passagem de Gálatas 2:7-8: "Antes, pelo contrário, quando viram que o
evangelho da incircuncisão me fora confiado, como a Pedro o da circuncisão
(pois Aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão
também operou eficazmente em mim para com os gentios). Os termos
"gentios", "pagãos", e "incircuncisão" são
equivalentes.
Nesse capítulo, não nos é
informado para que serve a circuncisão. Neste ponto é suficiente o simples
reconhecimento do fato, já que a intenção do escritor não era outra senão
mostrar o que é a circuncisão, e quem está verdadeiramente circuncidado. Desses
poucos versículos dependem grandes coisas. Estude-os cuidadosamente, já que ao
seu redor gravita a correta compreensão de uma grande parte das profecias do
Antigo Testamento.
Se esses versos houvessem
recebido a consideração que merecem por parte dos professos estudantes da
Bíblia, nunca teria existido a "teoria anglo-israelita", nem as suposições
vãs e enganosas sobre um pretenso retorno dos judeus a Jerusalém, antes da
vinda do Senhor.
O que é a circuncisão?: –Encontramos a resposta direta em Romanos 4:11,
onde o apóstolo, referindo-se a Abraão – o primeiro a ser circuncidado – disse:
"E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve
quando ainda incircunciso..." À pergunta: "O que é a
circuncisão?", a resposta não pode ser outra senão: o sinal da circuncisão
é o selo da justiça pela fé.
Quando a circuncisão resulta em
incircuncisão – Em vista do que foi dito, está claro que onde não há justiça, o
sinal da circuncisão é algo carente de valor. Assim, diz o apóstolo: "Se
és, porém, transgressor da lei, a tua circuncisão já se tornou incircuncisão".
(Romanos 2:25) Do mesmo modo que vimos nos versículos precedentes que a forma,
na ausência do fato, carece de todo valor, assim também nos é dito que o sinal
sem a substância nada vale. Para um homem pobre é fácil colocar um painel
anunciando a venda de relógios e jóias, porém, encher a vitrina desses objetos
já é outra coisa. Se possui um cartaz mas, carece do material, é pior do que se
não houvesse posto o anúncio.
O erro dos judeus – Os judeus
cometeram o equívoco de pensar que era suficiente ter o sinal. Chegaram
finalmente a dar guarida à idéia de que a posse do sinal traria a realidade,
precisamente do mesmo jeito que muitos professos cristãos de nossos dias supõem
que o cumprimento de certas ordenanças os fará membros do corpo de Cristo.
Porém, a circuncisão da carne somente não pode representar a justiça, mas o
pecado. Leia Gálatas 5:19-21. De fato, muitos dos que eles desprezavam como
"incircuncisos" eram realmente "circuncisos", enquanto que
eles mesmos não o eram.
A circuncisão do coração: –A autêntica circuncisão é um assunto do coração,
isto é, da vida interior e jamais da carne. O apóstolo afirma com clareza que a
circuncisão, que é exterior, da carne, não é circuncisão, mas consiste
meramente numa forma externa. Porém, a "circuncisão, a que é do coração,
no espírito, não segundo a letra..." (Romanos 2:29) Isso fica estabelecido
como verdade fundamental.
Esse não era um caminho novo
nos dias de Paulo, mas fora assim desde o princípio. Em Deuteronômio 30:6 lemos
as palavras de Moisés aos filhos de Israel: "O Senhor, teu Deus,
circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o
Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas".
Todo verdadeiro judeu reconhecia que a verdadeira circuncisão era a do coração,
já que Estevão se dirigiu àqueles que recusavam a verdade como "de dura
cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos..." (Atos 7:51).
Justiça do coração: –Diz o salmista: "Eis que Te comprazes na verdade no
íntimo..." (Salmo 51:6) A mera
justiça exterior nada significa. Leia Mateus 5:20; 23:27 e 28. É com o coração
que se crê para justiça (Romanos 10:10). Quando Moisés, por mandado do Senhor,
repetiu a lei a Israel, disse-lhes: "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras
que, hoje, te ordeno estarão no teu coração". (Deuteronômio 6:5 e 6). Não
pode existir justiça que não implique numa vida autêntica. Por conseguinte,
visto que a circuncisão não é mais que um sinal da justiça, salta à vista o
fato de não poder haver autêntica circuncisão que não seja a do coração.
Circuncidados pelo Espírito: –"Sabemos que a lei é espiritual"
(Romanos 14:7). Isto é, é a natureza do Espírito Santo, uma vez que a Palavra
de Deus é a espada do Espírito de Deus, que é capaz de implantar a lei de Deus
no coração do homem. Assim, a circuncisão é obra do Espírito Santo. Estêvão
chamou de incircuncisos os malvados judeus dizendo: "Vós sempre resistis
ao Espírito Santo..." (Atos 7:51). Está, pois, evidente que, embora em
Romanos 2:29, em algumas versões da Bíblia apareça a palavra
"espírito" escrita em
caracteres minúsculos, refere-se de fato ao Espírito Santo e não ao espírito do
homem (no original grego não há distinção entre maiúsculas e minúsculas). A
versão Reina-Valera de 1890 traduz corretamente: "Porém judeu é aquele que
o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no Espírito, não segundo
a letra..."
Se nos lembrarmos de que a
circuncisão foi dada como sinal da justiça pela fé, e que a herança prometida a
Abraão e sua semente foi segundo a justiça da fé (Romanos 4:11 e 13),
compreenderemos que a circuncisão era a garantia (ou hipoteca) dessa herança. O
apóstolo declara também que obtemos a herança em Cristo, "tendo n’Ele
também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o
penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade..." (Efésios
1:10-14). A possessão prometida a Abraão e à sua semente foi assegurada
tão-somente mediante o Espírito de justiça; portanto, desde o princípio não
existiu circuncisão autêntica que não fosse a do Espírito.
Circuncidados em Cristo: -"Também, n’Ele, estais aperfeiçoados. Ele é o
cabeça de todo principado e potestade. N’Ele, também fostes circuncidados, não
por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a
circuncisão de Cristo". (Colossenses 2:8-11). A circuncisão deveria ter o
mesmo significado tanto ao ser feita quanto em qualquer momento subseqüente.
Logo, desde o princípio, significou justiça somente mediante Cristo. Assim
demonstra o fato de a circuncisão ter sido dada a Abraão como sinal da justiça
da fé: "Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça".
(Gênesis 15:6).
Quem é a "circuncisão"?: –Filipenses 3:3 responde a essa
pergunta: "Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus
no Espírito, e nos gloriamos em
Cristo Jesus, e não confiamos na carne". Isso não é mais
do que dizer em outras palavras que a "circuncisão, a que é do coração, no
espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de
Deus". (Romanos 2:29) Portanto, jamais alguém que não cresse foi
circuncidado e se alegrou em Cristo Jesus. Essa é a razão por que Estêvão
chamou os judeus incrédulos de "incircuncisos".
O significado da circuncisão: –Não dispomos aqui de espaço
para entrar em detalhes sobre essa questão, porém, os textos já citados nos
colocam na pista. Um estudo cuidadoso dos capítulos do Gênesis, os quais nos
falam do pacto que Deus fez com Abraão, servirá também para esclarecer o tema.
Em Gênesis 15 vemos que Deus
fez um pacto com Abraão na base de sua fé. O capítulo 16 explica como Abraão
deu ouvidos à voz de sua esposa, em lugar de ouvir a voz do Senhor, e se
esforçou para cumprir a promessa de Deus mediante a carne, o que o levou ao
fracasso. Seu filho tinha de nascer segundo o Espírito e não segundo a carne.
Ver Gálatas 4:22, 23, 28 e 29.
No capítulo 17, observamos o
reavivamento da fé de Abraão, assim como a renovação do pacto. Então aconteceu
a circuncisão como selo. Foi-lhe secionada uma parte da carne como indicativo
de que não devia pôr sua confiança na carne, mas devia esperar a justiça e a
herança somente mediante o Espírito de Deus. Os descendentes de Abraão teriam
assim um contínuo memorial de seu erro, e uma admoestação para confiar no
Senhor e não neles mesmos.
Porém, eles perverteram o
sinal. Conceberam-no como um indicativo de que eram melhores que os demais
povos, em lugar de considerá-lo como uma
evidência de que "a carne nada aproveita". Contudo, o fato de os
judeus terem pervertido e mal interpretado o sinal não destrói seu significado
original.
Quem são judeus?: –Vimos numa citação do segundo capítulo de Gálatas, que o termo
"incircunciso" se refere àqueles que não conhecem ao Senhor, aos que
estão "sem Deus no mundo". Ver Efésios 2:11 e 12. Os judeus são
"a circuncisão". Porém, somente aqueles que tem seu prazer em Cristo Jesus são a
circuncisão, aqueles cuja confiança não está na carne. Portanto, os autênticos
judeus não são outros que não os [crentes] cristãos. "É judeu o que o é no
interior". Nunca houve um autêntico judeu aos olhos de Deus que não fosse
um crente em Cristo. E
todo verdadeiro crente em Cristo e um judeu no sentido bíblico do termo.
Abraão, o pai da nação judaica, alegrou-se em Cristo (João 8:56).
Uma marca distintiva - Muitos
têm abrigado a idéia de que a circuncisão foi dada como uma marca distintiva
entre os judeus e os gentios. O estudo da origem da circuncisão, assim como a
própria declaração de Paulo, põem em relevo a falácia dessa suposição. Outros pensam que foi dada para manter os
judeus separados, de maneira que a genealogia de Jesus pudesse ser mantida.
Tampouco isso deixa de ser uma mera suposição. Cristo tinha de proceder da
tribo de Judá; uma vez que todas as tribos praticavam a circuncisão, é evidente
que essa não poderia ser o meio de preservação de sua genealogia. Ademais, a
circuncisão da carne jamais vez separação alguma entre judeus e gentios.
Ela não evitou que Israel
caísse na idolatria nem que se mesclasse com os pagãos em suas práticas
idolátricas. Quando os judeus se esqueciam de Deus, misturavam-se com os pagãos
e deixava de existir a diferença entre eles e os gentios. A circuncisão não os
mantinha separados. E ainda mais: Deus não queria que os judeus se separassem
dos gentios no sentido de não tratarem com eles. O objetivo do chamamento dos
judeus para a saída do Egito tinha por fim levar o evangelho aos pagãos. Era
seu desígnio que se mantivessem separados deles em caráter, coisa que a
circuncisão externa jamais poderia realizar.
Moisés disse ao Senhor:
"Pois como se há de saber que achamos graça aos Teus olhos, eu e o Teu
povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu
e o Teu povo, de todos os povos da terra?" (Êxodo 33:16) A presença de
Deus no coração do homem o manterá separado dos outros, mesmo que viva na mesma
casa e coma na mesma mesa. Porém, se Cristo não habita no coração do homem,
esse não se separará do mundo, mesmo que esteja circuncidado e viva no ermo.
A semente literal e a espiritual: –A compreensão incorreta desses
termos é responsável por grande parte da confusão que tem ocorrido com relação
a Israel. As pessoas supõem que afirmar que apenas são judeus autênticos os que
o são espiritualmente, é negar a literalidade da semente e da promessa. O
espiritual é literal, é real. Cristo é espiritual; portanto, é a semente real,
a semente literal. Deus é espiritual e é espírito; portanto, não é um Ser
figurativo, mas um Deus literal, real. Assim, a herança que nos cabe em Cristo
é espiritual e real.
Afirmar que somente o Israel
espiritual é o verdadeiro Israel não é contradizer ou negar as Escrituras, nem
debilitar de alguma maneira a força e a realidade da promessa, já que a
promessa de Deus somente é feita a quem possui fé em Cristo. "Não foi por
intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser
herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé." (Romanos 4:13)
"E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros
segundo a promessa".