domingo, 1 de outubro de 2017

Carta aos Romanos, Ellet J. Waggoner, Capítulo 12




CARTA AOS ROMANOS

Por Ellet J. Waggoner
Um dos dois mensageiros de 1888
Tradução e Edição
César L. Pagani


Capítulo 12


A Justificação Pela fé na Prática. Concluímos o que podemos chamar de parte argumentativa da carta aos Romanos. Os cinco capítulos restantes consistem em exortações à igreja. As contidas no presente capítulo não apresentam complexidade, porém, é possível compreendê-las muito melhor ao lê-las em relação com aquilo que imediatamente as precede.

33 Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o Seu conselheiro?
35 Ou quem primeiro deu a Ele para que lhe venha a ser restituído?
36 Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!
1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
3 Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
4 Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função,
5 assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros,
6 tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé;
7 se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo;
8 ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria.
9 O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem.
10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.
11 No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor;
12 regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes;
13 compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade;
14 abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.
15 Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram.
16 Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos.
17 Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens;
18 se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens;
19 não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; {ira; de Deus, subentendido} porque está escrito: A Mim Me pertence a vingança; Eu é que retribuirei, diz o Senhor.
20 Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça.
21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.
Uma conclusão lógica: –Os últimos versículos do capítulo precedente estabelecem o poder e a sabedoria insondáveis e infinitos de Deus. Ninguém Lhe pode acrescentar nada. Ninguém pode pretender que Deus tenha a mínima obrigação para com ele. Ninguém Lhe pode dar nada na expectativa de receber alto em troca. “Porque dEle, e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas”. “Pois Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais”.  “Pois nEle vivemos, e nos movemos, e existimos”.  (Atos 17:25 e 28).
Sendo assim, o lógico seria que todos se pusessem sob Seu controle. Somente Ele tem a sabedoria e o poder necessários. O resultado natural de haver conhecido o poder, a sabedoria e o amor de Deus é submeter-se a Ele. Quem não o faz está virtualmente negando Sua existência.

Exortando e confortando: –É interessante notar que o termo grego traduzido por “rogar”, compartilha sua etimologia com “consolar”, com referência à ação do Espírito Santo. Trata-se da mesma palavra empregada em Mateus 5:4: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”. Podemos também encontrá-la em I Tessalonicenses 4:18: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras”.  Ela aparece várias vezes nos seguintes versículos: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus. Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo”. (II Coríntios 1:3-5) O termo grego que traduzimos por “exortar” ou “rogar” é o mesmo empregado para “consolar”. Seu conhecimento empresta novo vigor às exortações do Espírito de Deus.
Existe ânimo e consolação em saber que Deus é Todo-Poderoso. Portanto, há consolo em todas as Suas exortações e mandamentos, visto que Ele não espera que ajamos em nossa própria força, mas na Sua. Cada mandado divino nada mais é que uma declaração do que Ele fará em e por nós, se nos submetermos a Seu poder. Em cada reprovação há uma exposição de nossa necessidade, para que Ele a possa prover abundantemente. O Espírito convence do pecado, porém, sem nunca deixar de ser o Consolador.
Poder e graça: –“Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus, e a ti, Senhor, pertence a graça...”  (Salmo 62:11 e 12)  “Deus é amor”. Portanto, Seu poder é amor, de maneira que quando o apóstolo se refere ao poder e sabedoria de Deus, como os argumentos por causa dos quais deveríamos submeter-nos a Ele,  está-nos exortando pelas misericórdias de Deus. Nunca se esqueça de que toda manifestação do poder de Deus é uma mostra de Seu amor, e que o amor é o poder mediante o qual Ele opera. Em Jesus Cristo é revelado o amor de Deus (I João 4:10); Ele é “poder de Deus e sabedoria de Deus”. (I Coríntios 1:24).
Verdadeiro inconformismo: –Na Inglaterra era comum encontrar gente dividida em bandos: os partidários da igreja e os inconformistas. Hoje em dia, todo cristão tem de ser um inconformista, porém não no sentido que ordinariamente o mundo atribui a esse termo. “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Quando os se julgam inconformistas adotam os métodos mundanos e se envolvem em esquemas seculares, desonram esse nome.“Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?”
Como pensar de si mesmo?: –A exortação feita a todo homem é que ele não tenha de si mesmo um conceito superior ao que deveria. Quão elevado deveria ser  o conceito que temos de nós mesmos? “Infunde-lhes, Senhor, o medo; saibam as nações que não passam de mortais”. (Salmo 9:20) “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação”. (Salmo 146:3) “Afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego está no seu nariz. Pois em que é ele estimado?” (Isaías 2:22) “Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade”. (Sal. 39:5) “Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus... O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos”. (I Cor. 3:19 e 20) “Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa”. (Tia. 4:14) “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam”. (Isaías 64:6) “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo”. (Filipenses 2:3).
Fé e humildade: –O orgulho é o inimigo da fé. É impossível que ambos convivam. O homem só é capaz de pensar sobre si mesmo de modo humilde e sóbrio, como resultado da fé que Deus lhe dá. “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé”. (Hab. 2:4) Aquele que confia em sua própria força e sabedoria nunca quererá depender de outro. A confiança na sabedoria e poder de Deus pode ocorrer apenas pelo reconhecimento de nossa própria debilidade e ignorância.
A fé:  um dom de Deus: –A fé que Deus concede ao homem é a que está indicada em Apocalipse 14:12: “Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus”. Não é simplesmente que Deus dê fé aos santos. Assim como sucede com os mandamentos, os santos guardam a fé, enquanto que o resto não o faz. A fé que guardam é a fé de Jesus, Sua fé dada ao homem (Nota: “guardei a fé”. II Timóteo 4:7).
A fé é dada a todo homem: –Exorta-se a todo homem a pensar sobriamente sobre si mesmo, já que a cada ser humano foi concedida uma medida de fé. Muitos supõem que sua constituição é tal que para eles torna-se impossível crer. Esse é um erro crasso. A fé é algo tão fácil e natural como respirar. É a herança comum de cada homem e na qual todos se acham em igualdade. Crer é tão natural para o filho de um infiel, como o é para o filho de um santo. É tão-somente erguendo uma barreira de orgulho perante si (Salmo 73:6) que alguém pode achar difícil crer. E mesmo em tal caso, ele crerá, visto que se não crê em Deus, crê em Satanás. Quando não crê na verdade, engole todo tipo de vergonhosas mentiras.
Em que medida?: –Vimos ser a fé outorgada a cada homem. Isso é demonstrado pelo fato de a salvação ser oferecida a todos eles. Ele é posta ao alcance de cada um e é somente pela fé. Se Deus não houvesse dado fé a todo homem, não haveria posto a salvação ao alcance de todos. 
A pergunta seguinte é: em que medida Deus deu fé a cada homem? Encontramos a resposta no que acabamos de aprender. A fé que o Senhor concede é a fé de Jesus. Recebemos a fé de Jesus no dom do próprio Cristo. Ele Se entregou plenamente por todo homem. Provou a morte por todos (Hebreus 2:9) “... A graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo”. (Efésios 4:7). Cristo não está limitado; portanto, a cada homem é concedida a plenitude de nosso Senhor, e a plenitude de Sua fé. Essa é a única medida existente.
O corpo e seus membros: –Há “um corpo”. (Efésios 4:4), que é a igreja. Cristo é a cabeça (Efésios 1:22 e 23; Colossenses 1:18). “Porque somos membros do seu corpo”. (Efésios 5:30). No corpo há muitos membros, “conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros”.
Do mesmo jeito que acontece ao corpo humano, há no corpo de Cristo “muitos membros e nem todos têm a mesma função”, porém, estão a tal ponto integrados e unidos uns aos outros; são tão mutuamente dependentes, que nenhum deles pode vangloriar-se sobre os demais. “Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós.” (I Coríntios 12:21). Isso mesmo acontece na igreja de Cristo. Não há divisões nem orgulho; nenhum membro procura ocupar o lugar e nem fazer o trabalho de outro. Nenhum membro acha que é independente dos demais, e todos têm uma solicitude similar uns pelos outros.
Diversos dons: –Os membros não têm a mesma função e nem todos têm os mesmos dons. “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo... Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las. Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como Lhe apraz, a cada um, individualmente”. (I Coríntios 12:4-11).
“A proporção da fé”: –“Tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé”. Como já estudamos, não há mais que uma fé (Efésios 4:5), que é “a fé de Jesus”. Embora haja diversidade de dons, um só poder sustenta todos eles. “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas”. (I Coríntios 12:11) Assim, profetizar ou exercer qualquer outro dom “conforme a proporção da fé”, consistem em ministrá-los “na força que Deus supre” (I Pedro 4:11) “Cada um ponha a serviço dos demais o dom que recebeu, dispensando fielmente as diferentes graças de Deus”.
“Preferindo-vos em honra uns aos outros”: –Isso só é possível quando estamos dispostos a agir com “humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo”. (Filipenses 2:3) Essa ação, por seu turno, torna-se possível somente quando alguém está consciente de sua própria indignidade. Aquele que “sente a praga em seu coração”, não projetará sobre os demais suas próprias deficiências. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou...”
Como tratar os perseguidores: –“Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis”. Amaldiçoar não implica necessariamente no emprego de linguagem profana; mas significa falar com maldade. Eis o oposto de abençoar, que significa falar bem de algo ou alguém. Em certas ocasiões os homens perseguem de acordo com a lei; outras vezes, sem nenhum apoio legal. Seja como for desenfreada a violência das massas, não devemos proferir palavreado áspero  algum contra os que assim procedem. Pelo contrário, devemos falar o bem.
É impossível fazê-lo sem o Espírito de Cristo, que orou por aqueles que O entregaram e crucificaram; que também “não Se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele”, o diabo (Judas 9) Mostrar desdém pelos que nos perseguem não está de acordo com a instrução divina.
Alegrar-se e prantear: –Não é fácil ao homem natural alegar-se com os que estão alegres, nem chorar com os aflitos. Somente a graça de Deus lhe pode conferir essa simpatia. Quem sabe não seja particularmente difícil lamentar-se com os aflitos, porém, costuma ser menos fácil jubilar-se com os que estão alegres. Suponha, por exemplo, que seu vizinho receba algo que você deseja muito. E você ainda assiste o desfrute desse bem. Você vai necessitar de graça para se alegrar juntamente com ele.

“Tende paz”: –Devemos viver em paz com todos os homens até onde isso seja possível. Porém, qual é o limite da possibilidade? Alguns responderiam que “até o ponto em que a tolerância deixa de ser uma virtude”. Depois disso, dispõem-se a pagar na mesma moeda aos que lhes causaram dor. Muitos pensam que esse texto nos exorta a resistir tanto quanto pudermos, e a não tomar parte no problema até que a provocação seja “insuportável”. Contudo, o texto diz: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”.
Jamais devemos dar lugar a conflitos, tanto quanto dependa de nós. Nem sempre podemos evitar que os demais promovam batalhas, porém, podemos continuar mostrando nossa paz. “Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em Ti”. (Isaías 26:3) “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (Romanos 5:1) “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração...” (Colossenses 3:15) “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”. (Filipenses 4:7). Aquele que possui permanentemente essa paz de Deus jamais se achará em conflito com os demais”.