Para 5 a 12 de agosto de 2017
"De
maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela
fé fossemos justificados" (Gálatas 3:24). Provavelmente todos nós
tivemos uma experiência com um professor
de escola que lhe era impossível agradar e dava tarefas difíceis. Não importava
o quanto esforo você empregasse, nunca poderia — pelo menos na mente do tal
professor — produzir qualquer coisa que fosse digna das melhores notas.
Provavelmente isso lhe desencorajou de pensar que poderia alcançar a perfeição
no curso que você estava tomando; a exigência era muito alta.
Muitas pessoas olham para Deus e para a Sua lei da
mesma maneira. Eles O veem como colocando diante de nós uma tarefa impossível
quando diz: "Sede vós pois perfeitos,
como é perfeito o vosso Pai que está nos céus " (Mateus 5:48). Muitos
acreditam que a exigência pela perfeição do caráter (superar todas as
propensões e inclinações pecaminosas) é um objetivo muito elevado para a nossa
natureza cheia de pecado. Como resultado, o apelo de Paulo em 2ª Coríntios
5:20, 21 — "reconcilieis com
Deus." (*Porque) Àquele que não conheceu pecado, O fez pecado
por nós; para que nEle fossemos feitos justiça de Deus" — é visto como
um conselho para modificar nosso relacionamento com Deus em vez de ser uma
admoestação para vencer o pecado.
Pensa-se que o conselho de Paulo está abordando a
necessidade de um "bom relacionamento" com Deus como o único requisito
necessário, e esse "bom relacionamento" é o caminho da fé, levando à
renovação espiritual. Com essa visão, somos informados de que o
"relacionamento" deve ser mantido através do estudo bíblico, oração e
boas obras. Mas pense nessa ideia por um momento. Nessa situação, quem tem o
fardo de manter o "relacionamento"? Quem é responsável por garantir
que a ligação entre Deus e o indivíduo permaneça firmemente estabelecida?
A ideia de "manter um relacionamento com
Deus" é uma forma sutil de velho concertismo. Mesmo que você tenha
respondido a última pergunta dizendo: Bem, sou eu e Deus juntos que fazemos o
relacionamento funcionar, ainda estará se colocando sob o velho concerto. A salvação não é uma parceria.
"O que ocasiona todo o problema é que, mesmo quando
os homens estão dispostos a reconhecer o Senhor como o Senhor, eles querem
fazer barganhas com Ele. Eles querem que ele seja uma transação "mútua"
e igualitária, pela qual eles podem se considerar a par com Deus. Mas quem lida
com Deus deve lidar com Ele em Seus próprios termos, isto é, com base no fato
de — que não somos nada e não nada temos, e Ele é tudo, tem tudo e e nos dá
tudo".1
"Aqui não há um jogo de palavras. A questão é vital. A controvérsia está no meio de salvação, seja por Cristo somente, seja por algo diferente, seja por Cristo e por algo mais, ou por outra pessoa. Muitos imaginam que devem se salvar por se tornarem bons. Muitos pensam que Cristo é um valioso adjunto, um bom assistente de seus esforços. Outros estão dispostos a dar-lhe o primeiro lugar, mas não o único lugar. Eles se consideram igualmente bons. É o Senhor e eles que fazem a obra."2
Quando "a glória do homem é colocada no pó", então estamos prontos para ser preenchidos com o caráter perfeito de Cristo através da obra do Espírito Santo. "Visto como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento dAquele que nos chamou pela Sua glória e virtude; pelas quais nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo" (2ª Pedro 1: 3, 4). Esta é a única maneira de nos tornar justos "praticantes da lei". Humildemente deixamos que a fé de Jesus que foi dada a cada homem "opere" em nossas vidas (Romanos 12: 3, Filipenses 2:12, Gálatas 2:16). Desta forma, "nos tornamos praticantes da lei, não por fazer, mas por crer" na preciosa promessa de Deus a nós.3
A "parceria" da nossa salvação reside na Divindade e no Seu concerto eterno que faz justos todos os que crerem em Sua promessa a nós. "Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por Si mesmo ... querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade de Seu conselho aos herdeiros da promessa Se interpôs com juramento; para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta" (Heb. 6: 13-18).
"Para todos os que se lembram do juramento de Deus para Abraão, foi uma revelação da grandeza maravilhosa da promessa de Deus, porque toda a justiça que a lei exige, Ele jurou dar a todos os que confiam nEle ... Os preceitos de Deus são promessas; devem necessariamente ser tais, porque Ele sabe que não temos poder! Tudo o que Deus exige é o que Ele dá".4
A maravilhosa boa nova do concerto eterno de Cristo e da Sua justiça é que não estamos sob nenhum fardo para produzir a justiça em nossas vidas. O fardo não está em nossos ombros, mas foi posto sobre os ombros do nosso Salvador. Nós não estamos "sob a lei" para guardar todos os preceitos e exemplos através de nosso próprio poder (o que não possuímos de qualquer maneira). Não estamos "sob a lei" como recebendo apenas uma condenação da lei quebrada, porque “Deus, Àquele que não conheceu pecado O fez pecado por nós; para que nEle fossemos feitos justiça de Deus" (2ª Coríntios 5: 21).
“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que
estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e
da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela
carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado
condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que
não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rom.
8:1-4).
É a fé de Cristo trabalhando dentro e através de nós que produz a justiça necessária. "A Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé de Jesus Cristo fosse dada aos crentes" (Gálatas 3:22). A eterna promessa do concerto vem a nós pela "fé de Jesus Cristo" que nos foi dada (novamente, marque essa pequena palavra de duas letras "de"). A "Escritura" a que Paulo está se referindo neste versículo são os escritos do que chamamos agora de "Antigo Testamento", que eram os únicos "escritos sagrados" naquela época através dos quais o conhecimento do pecado poderia ser conhecido (Gál. 3:19; Rom. 7: 7). A justiça de Cristo foi pregada desde o tempo em que Adão caiu.
A controvérsia sobre a lei em Gálatas que surgiu em 1886 dizia respeito à lei que Paulo estava discutindo nos versos focados de nossa lição nesta semana. O "aio" era a lei cerimonial, a lei moral, ou eram o dois? Qual lei é que nos leva à condenação, a lei cerimonial ou moral? Qual é a lei que deve ser guardada para tornar alguém justo? Os cristãos judaizantes a quem Paulo dirigiu esta carta faziam a mesma confusão.
Em 1886 e nos anos seguintes, George I. Butler, Uriah Smith e outros consideraram que a lei a que Paulo estava se referindo em Gálatas 3: 21-25 era a lei cerimonial. Para apoiar sua posição, Butler comparou a discussão em Gálatas com a história da igreja primitiva encontrada em Atos 15, alegando que o contexto da discussão de Paulo dizia respeito às questões "cerimoniais" de adoração de ídolos, dieta (consumo de animais com o sangue) e fornicação (Atos 15:19, 20, 28, 29). O argumento fundamental de Butler era que "este tem sido o assunto de Paulo até então nesta carta". Butler baseou seu argumento em favor da lei cerimonial sobre o fato de que Paulo estava falando da circuncisão nos capítulos anteriores de Gálatas.5
No entanto, a circuncisão nunca foi parte da lei
cerimonial (do santuário). Quando Deus deu a Abraão o rito da circuncisão, foi
concebido como uma parábola que ensinaria a Abraão e seus descendentes a
inutilidade de seus esforços para cumprir a promessa eterna do concerto de Deus
através de suas próprias obras. Circuncisão, ou corte na carne, mostrou que a "carne para nada aproveita"
(João 6:63; Gálatas 5: 6). A salvação requer uma circuncisão do coração, que é
obra de Deus (Deut. 30: 6; Col. 2:11, 12).
Portanto, "a única maneira possível em que alguém
pode estar sob o pecado é por aquela lei pela qual ‘vem o conhecimento do pecado’ (Rom 3:20) (*‘eu não conheci o pecado senão pela lei’) (7: 7), por aquela lei que é
"a força do pecado" (1ª
Cor. 15:56), aquela lei da qual o "pecado" é "a
transgressão". (1ª João 3: 4). Essa lei é a lei que diz: "Não cobiçarás" (Rom. 7:
7-13). E é a lei de Deus, os dez mandamentos. Isto é tão certo que não pode
haver dúvida sobre isso".6
O problema que Paulo estava abordando em sua carta aos Gálatas não era que "os judeus ensinassem [os gentios] a quebrar os [dez] mandamentos, mas porque eles estavam confiando em algo além de Cristo, e o homem que faz isso não pode parar de pecar, não importa o quanto ele tente".7
Dirigindo-se ao cerne do argumento de Butler, Waggoner perguntou: "Queres dizer com isso [alegar que a lei em Gálatas 3: 18-21 é a lei cerimonial] que sempre houve um tempo em que qualquer pessoa pudesse se aproximar de Deus, exceto através de Cristo? Se não, a linguagem nada significa. Suas palavras parecem implicar que, antes do primeiro advento, os homens se achegavem a Ele por meio da lei cerimonial e depois disso se achegavam dEle através do Messias, mas teremos que sair da Bíblia para encontrar algum apoio à ideia de que alguém pode se aproximar de Deus, exceto através de Cristo. Amós 5:22; Miquéias 6: 6-8, e muitos outros textos mostram de forma conclusiva que a lei cerimonial sozinha nunca poderia permitir que as pessoas seachegassem a Deus".8
Se a lei cerimonial não fosse o meio pelo qual as pessoas no Antigo Testamento se achegavam a Deus, qual era o propósito dos rituais do santuário? "Para que o homem possa perceber a enormidade do pecado, que tiraria a vida sem pecado do Filho de Deus, era obrigado a trazer um cordeiro inocente, confessar seus pecados sobre a sua cabeça, então, com suas mãos, tirava a vida, um Tipo da vida de Cristo. Essa oferta pelo pecado foi queimada, tipificando que, através da morte de Cristo, todo pecado seria finalmente destruído nos fogos do último dia".9
Como os Dez Mandamentos são um "aio" (*tutor)? Em si mesmo, a lei dos Dez Mandamentos não tem piedade e não pode fazer nada para tornar alguém justo, não importa o quanto tentemos guardá-los. Seu objetivo é agir como um espelho do caráter perfeito de Deus, e quando olhamos para eles, vemos o quão sujo é o nosso rosto. No Sinai, eles foram "adicionados" em forma escrita, em "detalhes mais explícitos", devido à dureza dos corações das pessoas. "Foi dado sob as circunstâncias da mais terrível majestade como uma advertência aos filhos de Israel que por sua incredulidade estavam em perigo de perder a herança prometida".10
"... é claro que, se o homem for despertado pela lei para a consciência mais aguda de sua condição, e a lei o continuará aguilhoando, não lhe dando descanso, fechando todos os outros modos de escapar, o homem deve finalmente encontrar o porta de segurança, pois está aberta. Cristo é a cidade do refúgio ... somente em Cristo, o pecador encontrará a libertação da lei, porque em Cristo é cumprida a justiça da lei, e por Ele é cumprida em nós."11
—Ann Walper
Notas:
1) E. J. Waggoner, The Glad Tidings (Boas Novas), um
estudo de Gálatas, verso-por-verso, pág. 71, edição CFI (2016);
2) Idem, pág. 69, ênfase do original;
3) Veja na mesma obra à pág. 56;
4) Idem, pág. 77, ênfase do original;
5) G. I. Butler, The Law in the Book of
Galatians, Is It the Moral Law or Does It Refer to That System of Laws
Peculiarly Jewish? (A Lei no Livro de
Gálatas, é ela a Lei Moral ou se Refere àquele Sistema de Leis Peculiarmente
Judáicas?) Review and Herald, Battle
Creek, Mich., pág. 37 (1886);
6) A. T. Jones, Studies in Galatians (Estudos em Gálatas)
de 3 de abril de 1900;
7) E. J. Waggoner, The Gospel in the Book of Galatians, A Review
(O Evangelho no livro de Gálatas — Uma Revisão) Oakland, Calif., pág. 11
(1888);
8) Idem, págs. 11 e 12;
9) S. N. Haskell, The Cross and Its
Shadow (A Cruz e sua Sombra) págs. 20, 21 (1914).
10) E. J. Waggoner, The Glad Tidings (Boas Novas), um
estudo de Gálatas, verso-por-verso, págs. 73 e 74, edição CFI (2016);
11) Idem, pág. 82, ênfase no original.
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Notas:
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Biografia
da autora:
A irmã Ana Walper é
uma adventista dedicada à pesquisa bíblica e às atividades da igreja.
Atualmente ela é diretora dos departamentos de liberdade religiosa; escola
sabatina; saúde e temperança, e é coordenadora de uma das unidades
evangelizadoras da escola sabatina. É também ativa instrutora bíblica.
Profissionalmente é enfermeira padrão, e durante as férias escolares ela
trabalha como enfermeira voluntária em acampamentos da juventude adventista nos
estados de Tenneessee e Kentucky nos EUA. Ela é também escritora independente já por 16
anos em jornais de sua cidade sobre as boas novas de Cristo e Sua Justiça.
Atenção: Asteriscos (*) indicam
acréscimos do tradutor.
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