terça-feira, 1 de agosto de 2017

O CALVÁRIO NO SINAI - Capítulo 10, por Paulo E. Penno Jr., M. Div. Andrews University



O  CALVÁRIO  NO  SINAI


A  LEI  E  OS  CONCERTOS  NA  HISTÓRIA  ADVENTISTA  DO    DIA

Por Paulo E. Penno Jr.

M. Div.
Andrews University


[pág. 46] Capítulo 10, O Evangelho no Livro de Gálatas

Havia dois documentos principais no debate entre o Pr. George I. Butler e E. J. Waggoner. George Butler preparou uma carta aberta aos delegados da sessão da Associação Geral de 1886, intitulada The Law in the Book of Galatians (A Lei no Livro de Gálatas).1 A resposta de E. J. Waggoner foi intitulada "O Evangelho no Livro de Gálatas". Os dois títulos em si revelaram muito sobre o que cada autor considerava ser o tema da Epístola aos gálatas. Butler enfatizou a lei em Gálatas. Waggoner concentrou-se no evangelho em Gálatas. Esses dois documentos enquadraram as questões discutidas na Assembleia da Associação Geral de Minneapolis de 1888.
Em relação a Gálatas 3, o Pr. Butler disse:
A lei "adicionada por causa das transgressões", (*“ordenada por causa das transgressões", Almeida Fiel) indubitavelmente, aponta para um sistema corretivo, de duração temporária, "até que a semente venha" (*até que viesse a posteridade, Alm. Fiel). A lei moral é referida como a transgredida. Mas a lei "adicionada", de que Paulo está falando, providenciou o perdão dessas transgressões em figura, até o sacrifício real ser oferecido.2
Wagoner respondeu:
Embora a lei existisse em todas as suas forças antes do Êxodo, no entanto, "veio", "entrou", foi falada ou dada, ou "adicionada" naquele momento. E por que? Para que a ofensa possa abundar, isto é, "que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno" (*Rom. 7:13); que o pecado antes era pecado podesse ser visto com mais plenamente como pecado. Assim, ela entrou, ou foi acrescentada, "por causa de transgressões". Se não fosse pelas transgressões, não haveria necessidade de a lei entrar (*ou ser adicionada) no Sinai. Por que ela entrou por causa da transgressão? "para que a ofensa abundasse" (*Rom. 5:20); a fim de que o pecado parecesse maior do que nunca, de modo que os homens [pág.47] pudessem ser levados à graça superabundante de Deus, como se manifesta em Cristo. E assim tornou-se o aio, um pedagogo, para levar os homens a Cristo, a fim de que sejam justificados pela fé e sejam feitos a justiça de Deus nEle. E assim é afirmado mais tarde que a lei não é contra as promessas de Deus. Ela funciona em harmonia com a promessa, pois sem ela a promessa não teria efeito. E isso, de forma mais enfática, atesta a perpetuidade da lei.3
Quanto à lei (*que nos serviu) de aio, (*Gál. 3:24) Butler aplicou
...a esse sistema de direito temporário provisonal, no qual os judeus e prosélitos estavam "fechados", até que a "parede de separação" (*Efé. 2:14) fosse "derrubada". Era um sistema "severo", "jugo de escravidão" que não podiam suportar, "contra" eles e "contrário" a eles’.4
Várias afirmações que o Pr Butler fez indicaram sutis nuances de diferença no plano de salvação de uma dispensação para a próxima. Por exemplo, "Mas a lei ‘adicionada’, de que Paulo está falando, providenciou o perdão dessas transgressões em figura, até o sacrifício real ser oferecido".5 O perdão dos pecados não era uma realidade para os hebreus do Antigo Testamento, mas figurativo. Mais uma vez Butler argumentou sobre essa sutileza.
Por conseguinte, não havia nenhuma propriedade, em ainda manter o muro de separação entre eles e outros. Todos ficaram agora no mesmo nível aos olhos de Deus. Todos devem se aproximar dEle através do Messias que veio ao mundo; através dEle somente, o homem poderia ser salvo.6
Wagoner detectou dois métodos de salvação no esquema do Pr. Butler; um através do sistema de sacrifícios para os judeus antes do primeiro advento, e o outro através do Messias para judeus e gentios após a cruz. Waggoner respondeu diretamente ao Pr. Butler:
[pág. 48] Suas palavras parecem implicar que, antes do primeiro advento, os homens se aproximavam de Deus por meio da lei cerimonial, e que depois disso se aproximam dEle pelo Messias; mas teremos que sair da Bíblia para encontrar qualquer apoio à ideia de que alguém possa se aproximar de Deus, exceto através de Cristo. Amós 5:22; Miquéias 6: 6-8, e muitos outros textos mostram de forma conclusiva que a lei cerimonial sozinha nunca poderia permitir que as pessoas chegassem a Deus.7
O Pr. Butler falou de um perdão figurativo dos pecados antes do primeiro advento.
A lei moral é referida como a transgredida. Mas a lei "adicionada", de que Paulo está falando, fez provisão para o perdão dessas transgressões em figura, até o sacrifício real ser oferecido.8
Waggoner expressou sua consternação com a declaração de Butler:
...há uma ideia expressa na citação que acabei de fazer, que lamento ver ter sido ensinado ultimamente. E isso é que, na chamada dispensação judaica, o perdão dos pecados era apenas figurativo. Suas palavras indicam claramente que não houve perdão real de pecados até que Cristo, o sacrifício real, fosse oferecido. ...9
Waggoner afirmava que a teologia do Pr. Butler limitava a salvação apenas à geração que vivia durante o primeiro advento.
Mas você diz que o apóstolo está raciocinando das dispensações, e não das experiências individuais, e que levá-las a Cristo significa trazê-las para o Seu primeiro advento e "para o sistema de fé ali inaugurado". Essa, porém, é a posição mais fraca que você poderias assumir, pois se isso fosse o significado, então, a lei cumpriria o seu propósito apenas para a geração que vivia durante o primeiro advento de Cristo. Nenhuma outra pessoa chegou a Cristo, no sentido em que empregas o termo. Para que a lei levasse homens a Cristo, no sentido em que o aplicas, isto é, para o seu primeiro advento, teria que prolongar suas vidas. Adão teria que viver pelo menos 4.000 anos. Para, deixe-me repetir novamente: O texto não [pág. 49] diz que a lei era um aio para apontar homens para Cristo, mas para trazê-los a Ele.10
A posição de Butler de que o "aio" era a lei cerimonial durante a antiga dispensação forçava Gálatas 3:24 a dizer que os rituais "trazem" seus observadores ao Cristo da nova dispensação. Tal compreensão dispensacionalista do texto força um literalismo que é manifestamente absurdo. Como no caso de Adão que sacrificou um cordeiro por seus pecados, ele teria que manter-se vivo pela lei até o advento de Cristo para que o texto fosse verdade. Por outro lado, se Gálatas 3:24 é entendido como aplicando-se a "experiências individuais", então não é mais um texto dispensacionalista mas descritivo da experiência do coração quando a lei moral é condenada pelo pecado e pela justiça em Cristo.
O Pr. Butler reconhecia a justiça pela fé, mas manter a lei e o sábado eram as coisas mais importantes em sua agenda. Deus deu a Israel a lei cerimonial sob o velho concerto, a fim de distingui-los do resto do mundo como Seu povo especialmente escolhido. Se obedecessem a essas ordenanças, eles viveriam.
Os dois concertos eram quase dois métodos de salvação na teoria de Butler, ao ser enfatizado o propósito do símbolo, ou tipo, à custa da própria experiência do coração de que devia uma testemunha. O velho concerto era para Israel antes de Cristo e o novo concerto era para os israelitas espirituais após a vinda de Cristo. Era como se a salvação pelas obras fosse apenas para os judeus sob a velha dispensação. Eles foram eleitos sobre todos os outros.
E. J. Waggoner via a lei moral como ordenada para a vida. Quando o homem pecou, ​​ele foi condenado e punido. Os dez mandamentos foram "adicionados" ou "falados" no Sinai porque os filhos de Israel não reconheceram a sua pecaminosidade como seu pai Abraão. Deus enfatizou a lei moral para levar Israel a Cristo, a sua justiça. A lei não tinha uma função dispensacionalista. Os dez mandamentos sempre cumpriram o propósito de levar os pecadores culpados ao pé da cruz para que, pela fé de Jesus, pudessem ser salvos.
O antigo sistema provisório dos sacrifícios foi o meio pelo qual a fé era expressa em Cristo. Existiu antes do Sinai para Abel, Noé e Abraão. Esses patriarcas se valeram disso. Os sacrifícios não eram os meios pelos quais se obtinha o perdão dos pecados. Somente Cristo perdoou os pecados. Aqueles que, por fé em Cristo, participaram das ordenanças, demonstraram que sua fé era genuína no sacrifício antecipado de seu Salvador. Este sistema [pág. 50] não conservou mais qualquer significado como uma expressão pessoal de fé, uma vez que Cristo morreu na cruz.
Waggoner chegou a sua compreensão da justificação pela fé através de sua compreensão dos concertos. O velho concerto era essencialmente: "Obedecer e viver". Foi a promessa do povo em autosuficiência, "Tudo o que o Senhor falou, faremos". Uma afirmação tão jactanciosa não levava em conta a pecaminosidade da natureza humana. Colocava o que fazia a promessa sob um terrível jugo de escravidão, pois ele não podia, em seu próprio poder, obedecer a lei. A mentalidade do velho concerto era uma condição do coração. Portanto, o velho concerto não pode ser limitado pelo tempo. Todos os que tinham uma visão semelhante de si mesmos em relação a Deus estavam sob o jugo do velho concerto.
Por outro lado, o novo concerto era todo promessa de Deus. Deus concedeu a Sua salvação a todos os que creram em Cristo. A condição para a salvação era a perfeita obediência à lei de Deus. Esta condição foi cumprida por Cristo. Esta foi a promessa que Deus deu a Abraão, Isaque e Jacó. Deus renovou-a para Israel no Sinai, mas eles, em sua maior parte, a rejeitaram através de sua incredulidade.
O Concerto Eterno estava tanto em existencia nos tempos do Antigo Testamento quanto seguia o primeiro advento e a morte de Cristo na antecipação à cruz. No entanto, a eficácia da salvação antes da cruz não era menos real. Após a cruz, os crentes gozavam da realidade da confirmação do novo concerto e podiam olhar para o Calvário com fé.
Estas duas cartas abertas sobre Gálatas escritas por George I. Butler e E. J. Waggoner são uma fonte primária para determinar as questões discutidas na assembleia da Associação Geral de Minneapolis de 1888. Em resumo, a questão envolvia a justiça pela fé em seu próprio relacionamento com a lei de Deus. Waggoner considerava a justificação através do motivo dos antigo e novo concertos.
De acordo com a teologia de Waggoner, os Dez Mandamentos eram o aio que levava o pecador "a Cristo, para que possamos ser justificados pela fé".

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Notas Finais:

1) Carta de Waggoner a G. I. Butler datada de 10 de fevereiro de 1887, mas ele a continuou publicando até depois da sessão da Associação Geral de Minneapolis de 1888. R. Dewitt Hottell estava lendo The Gospel in Galatians (Evangelho em Gálatas) and The Law in the Book of Galatians (A Lei no Livro de Gálatas) após a Assembléia da Associação Geral de Minneapolis em 10 de novembro de 1888. Clinton L. Wahlen, obra citada, pág. 70;
2) G. I. Butler, The Law in the Book of Galatians: Is It the Moral Law, or Does It Refer to that System of Laws Peculiarly Jewish? (A Lei no Livro de Gálatas: É a Lei Moral, ou se refere a esse Sistema de Leis Peculiarmente Judaicas? (Review and Herald, Battle Creek, Michigan: 1886), pág. 44;
3) E. J. Wagoner, The Gospel in the Book of Galatians. (O Evangelho no Livro de Gálatas). Uma revisão (Casa Publicadora do Pacifico, Oakland, Califórnia: 1888), págs. 26, 27;
4) G. I. Butler, obra citada, pág. 53;
5) G. I. Butler, The Law in the Book of Galatians: Is It the Moral Law, or Does It Refer to that System of Laws Peculiarly Jewish? (A Lei no Livro de Gálatas: É a Lei Moral, ou se refere àquele Sistema de Leis Peculiarmente Judaicas? (Review and Herald, Battle Creek, Michigan: 1886), pág. 44;
6) G. I. Butler, obra citada, pág. 10;
7) E. J. Wagoner, obra citada, pág. 12;
8. G. I. Butler, obra citada, pág. 44. Ênfase acrescida;
9) E. J. Wagoner, obra citada, pág. 29. Ênfase acrescida;
10) E. J. Waggoner, Ibid., pág. 44.

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