O CALVÁRIO NO SINAI
A LEI
E OS CONCERTOS
NA HISTÓRIA ADVENTISTA
DO 7º DIA
Por Paulo E. Penno Jr.
M. Div.
Andrews University
[pág. 46] Capítulo 10, O Evangelho no Livro de
Gálatas
Havia
dois documentos principais no debate entre o Pr. George
I. Butler e E. J. Waggoner. George Butler preparou uma carta aberta aos delegados da
sessão da Associação Geral de 1886, intitulada The Law in the Book of Galatians (A Lei no Livro de Gálatas).1 A resposta de E. J. Waggoner foi intitulada "O Evangelho no Livro de Gálatas".
Os dois títulos em si revelaram muito sobre o que cada autor considerava ser o
tema da Epístola aos gálatas. Butler enfatizou a lei em Gálatas. Waggoner
concentrou-se no evangelho em Gálatas. Esses dois documentos enquadraram as
questões discutidas na Assembleia da Associação Geral de Minneapolis de 1888.
Em
relação a Gálatas 3, o Pr. Butler
disse:
A
lei "adicionada por causa das
transgressões", (*“ordenada por causa das transgressões", Almeida
Fiel) indubitavelmente, aponta para um sistema corretivo, de duração
temporária, "até que a semente
venha" (*até que viesse a
posteridade, Alm. Fiel). A lei moral é referida como a transgredida. Mas a
lei "adicionada", de que Paulo está falando, providenciou o perdão
dessas transgressões em figura, até o sacrifício real ser oferecido.2
Wagoner
respondeu:
Embora
a lei existisse em todas as suas forças antes do Êxodo, no entanto,
"veio", "entrou", foi falada ou dada, ou
"adicionada" naquele momento. E por que? Para que a ofensa possa
abundar, isto é, "que pelo
mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno" (*Rom. 7:13); que
o pecado antes era pecado podesse ser visto com mais plenamente como pecado.
Assim, ela entrou, ou foi acrescentada, "por causa de transgressões".
Se não fosse pelas transgressões, não haveria necessidade de a lei entrar (*ou
ser adicionada) no Sinai. Por que ela entrou por causa da transgressão? "para que a ofensa abundasse"
(*Rom. 5:20); a fim de que o pecado parecesse maior do que nunca, de modo que
os homens [pág.47]
pudessem ser levados à graça superabundante de Deus, como se manifesta em
Cristo. E assim tornou-se o aio, um pedagogo, para levar os homens a Cristo, a
fim de que sejam justificados pela fé e sejam feitos a justiça de Deus nEle. E
assim é afirmado mais tarde que a lei não é contra as promessas de Deus. Ela
funciona em harmonia com a promessa, pois sem ela a promessa não teria efeito.
E isso, de forma mais enfática, atesta a perpetuidade da lei.3
Quanto à lei (*que nos serviu)
de aio, (*Gál. 3:24) Butler aplicou
...a
esse sistema de direito temporário provisonal, no qual os judeus e prosélitos
estavam "fechados", até que a "parede de separação" (*Efé.
2:14) fosse "derrubada". Era
um sistema "severo", "jugo de escravidão" que não podiam
suportar, "contra" eles e "contrário" a eles’.4
Várias
afirmações que o Pr Butler fez indicaram sutis nuances de diferença no plano de
salvação de uma dispensação para a próxima. Por exemplo, "Mas a lei
‘adicionada’, de que Paulo está falando, providenciou o perdão dessas
transgressões em figura, até o sacrifício real ser oferecido".5 O perdão dos pecados não era uma realidade para os
hebreus do Antigo Testamento, mas figurativo. Mais uma vez Butler argumentou sobre essa
sutileza.
Por
conseguinte, não havia nenhuma propriedade, em ainda manter o muro de separação
entre eles e outros. Todos ficaram agora no mesmo nível aos olhos de Deus.
Todos devem se aproximar dEle através do Messias que veio ao mundo; através
dEle somente, o homem poderia ser salvo.6
Wagoner
detectou dois métodos de salvação no esquema do Pr. Butler; um através do
sistema de sacrifícios para os judeus antes do primeiro advento, e o outro
através do Messias para judeus e gentios após a cruz. Waggoner respondeu diretamente
ao Pr. Butler:
[pág. 48] Suas palavras
parecem implicar que, antes do primeiro advento, os homens se aproximavam de
Deus por meio da lei cerimonial, e que depois disso se aproximam dEle pelo
Messias; mas teremos que sair da Bíblia para encontrar qualquer apoio à ideia
de que alguém possa se aproximar de Deus, exceto através de Cristo. Amós 5:22;
Miquéias 6: 6-8, e muitos outros textos mostram de forma conclusiva que a lei
cerimonial sozinha nunca poderia permitir que as pessoas chegassem a Deus.7
O Pr. Butler falou de um perdão
figurativo dos pecados antes do primeiro advento.
A
lei moral é referida como a transgredida. Mas a lei "adicionada", de
que Paulo está falando, fez provisão para o perdão dessas transgressões em
figura, até o sacrifício real ser oferecido.8
Waggoner
expressou sua consternação com a declaração de Butler:
...há
uma ideia expressa na citação que acabei de fazer, que lamento ver ter sido
ensinado ultimamente. E isso é que, na chamada dispensação judaica, o perdão
dos pecados era apenas figurativo. Suas palavras indicam claramente que não
houve perdão real de pecados até que Cristo, o sacrifício real, fosse oferecido.
...9
Waggoner
afirmava que a teologia do Pr. Butler limitava a salvação apenas à geração que
vivia durante o primeiro advento.
Mas
você diz que o apóstolo está raciocinando das dispensações, e não das
experiências individuais, e que levá-las a Cristo significa trazê-las para o
Seu primeiro advento e "para o sistema de fé ali inaugurado". Essa,
porém, é a posição mais fraca que você poderias assumir, pois se isso fosse o
significado, então, a lei cumpriria o seu propósito apenas para a geração que
vivia durante o primeiro advento de Cristo. Nenhuma outra pessoa chegou a
Cristo, no sentido em que empregas o termo. Para que a lei levasse homens a
Cristo, no sentido em que o aplicas, isto é, para o seu primeiro advento, teria
que prolongar suas vidas. Adão teria que viver pelo menos 4.000 anos. Para,
deixe-me repetir novamente: O texto não [pág. 49] diz que a lei era um aio para apontar
homens para Cristo, mas para trazê-los a Ele.10
A
posição de Butler de que o "aio" era a lei cerimonial durante a
antiga dispensação forçava Gálatas 3:24 a dizer que os rituais
"trazem" seus observadores ao Cristo da nova dispensação. Tal
compreensão dispensacionalista do texto força um literalismo que é
manifestamente absurdo. Como no caso de Adão que sacrificou um cordeiro por
seus pecados, ele teria que manter-se vivo pela lei até o advento de Cristo
para que o texto fosse verdade. Por outro lado, se Gálatas 3:24 é entendido
como aplicando-se a "experiências individuais", então não é mais um
texto dispensacionalista mas descritivo da experiência do coração quando a lei
moral é condenada pelo pecado e pela justiça em Cristo.
O
Pr. Butler reconhecia a justiça pela fé, mas manter a lei e o sábado eram as
coisas mais importantes em sua agenda. Deus deu a Israel a lei cerimonial sob o
velho concerto, a fim de distingui-los do resto do mundo como Seu povo
especialmente escolhido. Se
obedecessem a essas ordenanças, eles viveriam.
Os
dois concertos eram quase dois métodos de salvação na teoria de Butler, ao ser
enfatizado o propósito do símbolo, ou tipo, à custa da própria experiência do
coração de que devia uma testemunha. O velho concerto era para Israel antes de
Cristo e o novo concerto era para os israelitas espirituais após a vinda de
Cristo. Era como se a salvação pelas obras fosse apenas para os judeus sob a
velha dispensação. Eles
foram eleitos sobre todos os outros.
E. J. Waggoner via a lei moral
como ordenada para a vida. Quando o homem pecou, ele
foi condenado e punido. Os dez mandamentos foram "adicionados" ou
"falados" no Sinai porque os filhos de Israel não reconheceram a sua
pecaminosidade como seu pai Abraão. Deus enfatizou a lei moral para levar
Israel a Cristo, a sua justiça. A lei não tinha uma função dispensacionalista.
Os dez mandamentos sempre cumpriram o propósito de levar os pecadores culpados
ao pé da cruz para que, pela fé de Jesus, pudessem ser salvos.
O
antigo sistema provisório dos sacrifícios foi o meio pelo qual a fé era
expressa em Cristo. Existiu antes do Sinai para Abel, Noé e Abraão. Esses
patriarcas se valeram disso. Os sacrifícios não eram os meios pelos quais se
obtinha o perdão dos pecados. Somente Cristo perdoou os pecados. Aqueles que,
por fé em Cristo, participaram das ordenanças, demonstraram que sua fé era
genuína no sacrifício antecipado de seu Salvador. Este sistema [pág. 50] não conservou mais
qualquer significado como uma expressão pessoal de fé, uma vez que Cristo
morreu na cruz.
Waggoner
chegou a sua compreensão da justificação pela fé através de sua compreensão dos
concertos. O velho concerto era essencialmente: "Obedecer e viver".
Foi a promessa do povo em autosuficiência, "Tudo
o que o Senhor falou, faremos". Uma afirmação tão jactanciosa não
levava em conta a pecaminosidade da natureza humana. Colocava o que fazia a
promessa sob um terrível jugo de escravidão, pois ele não podia, em seu próprio
poder, obedecer a lei. A mentalidade do velho concerto era uma condição do
coração. Portanto, o velho concerto não pode ser limitado pelo tempo. Todos os
que tinham uma visão semelhante de si mesmos em relação a Deus estavam sob o
jugo do velho concerto.
Por
outro lado, o novo concerto era todo promessa de Deus. Deus concedeu a Sua
salvação a todos os que creram em Cristo. A condição para a salvação era a
perfeita obediência à lei de Deus. Esta condição foi cumprida por Cristo. Esta
foi a promessa que Deus deu a Abraão, Isaque e Jacó. Deus renovou-a para Israel
no Sinai, mas eles, em sua maior parte, a rejeitaram através de sua
incredulidade.
O
Concerto Eterno estava tanto em existencia nos tempos do Antigo Testamento
quanto seguia o primeiro advento e a morte de Cristo na antecipação à cruz. No
entanto, a eficácia da salvação antes da cruz não era menos real. Após a cruz,
os crentes gozavam da realidade da confirmação do novo concerto e podiam olhar
para o Calvário com fé.
Estas
duas cartas abertas sobre Gálatas escritas por George I. Butler e E. J. Waggoner
são uma fonte primária para determinar as questões discutidas na assembleia da
Associação Geral de Minneapolis de 1888. Em resumo, a questão envolvia a
justiça pela fé em seu próprio relacionamento com a lei de Deus. Waggoner
considerava a justificação através do motivo dos antigo e novo concertos.
De
acordo com a teologia de Waggoner, os Dez Mandamentos eram o aio que levava o
pecador "a Cristo, para que possamos ser justificados pela fé".
_____________________________
Notas Finais:
1) Carta de Waggoner a G. I.
Butler datada de 10 de fevereiro de 1887, mas ele a continuou publicando até
depois da sessão da Associação Geral de Minneapolis de 1888. R. Dewitt Hottell
estava lendo The Gospel in Galatians (Evangelho em Gálatas) and The Law in the Book of Galatians (A Lei no Livro de Gálatas) após a Assembléia da Associação Geral de
Minneapolis em 10 de novembro de 1888. Clinton L. Wahlen, obra citada, pág. 70;
2) G. I. Butler,
The
Law in the Book of Galatians: Is It the Moral Law, or Does It Refer to that
System of Laws Peculiarly Jewish? (A Lei no
Livro de Gálatas: É a Lei Moral, ou se refere a esse Sistema de Leis
Peculiarmente Judaicas? (Review and Herald, Battle Creek,
Michigan: 1886), pág. 44;
3) E. J. Wagoner, The
Gospel in the Book of Galatians. (O Evangelho no Livro de Gálatas). Uma
revisão (Casa Publicadora do Pacifico, Oakland, Califórnia: 1888), págs. 26, 27;
4)
G. I. Butler, obra citada, pág. 53;
5) G. I. Butler, The
Law in the Book of Galatians: Is It the Moral Law, or Does It Refer to that
System of Laws Peculiarly Jewish? (A Lei no
Livro de Gálatas: É a Lei Moral, ou se refere àquele Sistema de Leis
Peculiarmente Judaicas? (Review and Herald, Battle Creek,
Michigan: 1886), pág. 44;
6) G. I. Butler,
obra citada, pág. 10;
7)
E. J. Wagoner, obra citada, pág. 12;
8.
G. I. Butler, obra citada, pág. 44. Ênfase
acrescida;
9) E. J. Wagoner, obra citada,
pág. 29. Ênfase
acrescida;
10)
E. J. Waggoner, Ibid., pág. 44.
_____________________________