terça-feira, 1 de agosto de 2017

O CALVÁRIO NO SINAI - Capítulo 9, por Paulo E. Penno Jr., M. Div. Andrews University



O  CALVÁRIO  NO  SINAI


A  LEI  E  OS  CONCERTOS  NA  HISTÓRIA  ADVENTISTA  DO    DIA

Por Paulo E. Penno Jr.

M. Div.
Andrews University


[pág. 39] Capítulo 9, A Conspiração da Califórnia1

             À medida que a Conferência Geral de 1888 se aproximava, a delegação da Associação da Califórnia sentiu que era proveitoso se reunir. Eles anteciparam certos assuntos para que surgissem na assembleia. O principal entre eles seria a lei em Gálatas 3.
Os delegados se encontraram em "Camp Necessity", perto de Oakland, nos dias 25 e 26 de junho de 1888. Os presentes eram: E. J. Waggoner, A. T. Jones, C. H. Jones, gerente da editora Pacific Press; William C. White, filho de E. G. White, membro da  Comissão Executiva da Associação Geral; e alguns outros.
William C. White tomou notas sobre as discussões. Em 26 de junho de 1888, eles discutiram Gálatas 3:23 e 4:21. Especificamente, a “lei ordenada (*"lei adicionada") de Gálatas 3:19 estava determinada a significar "falada" comparando Deuteronômio 5:22 e Hebreus 12:19. Estes textos eram "ambos referentes à Lei Moral o mesmo no original de Gál. 3:19 ... Em nenhum caso é aplicado à lei cerimonial".2 Foi demonstrado que J. N. Andrews tomou a mesma posição sobre a lei moral em Gálatas em seus primeiros escritos na Review and Herald. O apoio a este ponto de vista foi também derivado dos sermões de Wesley.3
O pastor William White, mais tarde, lembrou a reunião "Camp Necessity" por escrito para Dan Jones, secretário da Associação Geral:
Foi proposto que os editores dos Sinais dos Tempos, C. H. Jones e eu (*o pastor W. White), e quantos ministros da Califórnia, pudessem juntar-se a nós, deveríamos sair para as montanhas e passar alguns dias no estudo bíblico. ... O Irmão McClure estava conosco parte do tempo. Nós gastamos ... um dia ouvindo o do pastor Butler sobre a Lei em Gálatas, e outros tópicos sobre essa questão, no final de qual o Irmão Waggoner leu alguns MS (*Manuscritos de E. G. White) que ele preparara em resposta ao panfleto do pastor Butler. ... No final do nosso estudo, o irmão Waggoner nos perguntou se seria correto para ele publicar seus MSS (*manuscritos de E. G. White) e na próxima Assembleia da Conferencia Geral distribuí-los aos delegados, assim como fizera o pastor Butler. Achamos que isso seria correto e o encorajamos a ter quinhentas cópias [pág. 40] impressas. Não fizemos nenhum segredo disto, nem nos esforçamos para torná-lo público.4
E. J. Wagoner preparou sua carta de resposta à Lei em Gálatas do pastor Butler, intitulada "O Evangelho em Gálatas".
Muitos anos mais tarde, em 1921, o irmão Alonzo T. Jones escreveu suas lembranças desse retiro por escrito para C. H. Holmes.
Algum tempo antes de começar com esse instituto, C. H. Jones, gerente geral da editora Pacific Press, W. C. White e alguns outros pediram ao Ir. Waggoner e eu para irmos com eles por alguns dias e sairmos e todos nós estudamos juntos as Escrituras sobre essas questões "heréticas" que certamente apareceriam no instituto e na assembleia (*de Mineápolis em 1888). Influências desta pequena e inocente atitude nossa levou os irmãos em Battle Creek a interpretar como uma confirmação adicional de sua visão estabelecida que o irmão Waggoner e eu, em prol do nosso esquema para revolucionar a doutrina da denominação, estávamos trabalhando junto a outros irmãos em favor de nosso esquema, de modo a chegar ao instituto e à Assembleia da Associação Geral em Minneapolis fortemente estabelecidos quanto ao nosso esquema. Nós não soubemos senão após o instituto e a Assembleia da Associação Geral estarem por concluir que os homens da Associação Geral em Battle Creek mantinham essas ideias a nosso respeito, e nunca em nossa vida pensamos que tal coisa viesse ao instituto e Assembleia da Associação Geral com desconhecimento do que os outros homens estavam imaginando quanto ao nosso pensamento. E então, em toda inocência, chegamos à reunião (*em Mineápolis) esperando apenas um estudo simples da Bíblia para conhecer a verdade.5
Então aconteceu algo inesperado no acampamento da Califórnia em setembro de 1888. De acordo com o pastor William White:
...Um espírito muito amargo foi manifestado por alguns em relação aos irmãos Waggoner e Jones, instigados em parte, eu presumo, pelas pessoas mencionadas no panfleto do pastor Butler, decorrente, em parte, de um antigo ressentimento familiar contra o irmão Waggoner pai (*J. H. Waggoner, o pai de E.J. Waggoner). Tivemos um Conselho de ministros no qual quase todas as declarações desses irmãos tratando direta [pág. 41] ou remotamente da questão em Gálatas foi criticada, mas os irmãos que se opuseram aos seus ensinamentos não consentiram num exame justo do assunto nem deixariam a questão quieta. Eles preferiram a alternativa de um processo vagaroso. ...6
O "vento" que "fez esvoaçar" o relatório deste "concílio de ministros" para os homens da Associação Geral em Battle Creek foi mais tarde revelado por William C. White e Ellen White.
W. M. Healey era ministro e evangelista na Associação da Califórnia. O Pastor William C. White escreveu:
O que o Irmão Healey escreveu para o Pr. Butler, eu não sei, mas parece ter dado a impressão de que estávamos secretamente trabalhando num esquema, enquanto, como supúnhamos, estávamos trabalhando em perfeita harmonia com os planos do Pr. Butler.7
Ellen White escreveu ao Pr. W. M. Healey:
Suas suposições quanto à posição e ao trabalho dos irmãos A. T. Jones e E. J. Waggoner estavam incorretas. Suas cartas ao Pr. Butler, para avisá-lo contra algo, eram inteiramente enganosas. Ele queimou essas cartas, de modo a que ninguém tomasse conhecimento da fonte de sua luz. Essas cartas resultaram em retardar o trabalho de Deus há anos e trouxe severo e desgastante esforço sobre mim.
Uma experiência como a que tivemos em Minneapolis, como resultado de suas cartas imprudentes, é suficiente. Esta experiência deixou a impressão pelo tempo e pela eternidade. Ó meu irmão, imploro-te a, por amor de Deus, que sejas cauteloso em como plantas sobre outras mentes as sementes da incredulidade, para produzir resultados tão tristes como os que vimos no passado.8
Ela dissera a Healey numa ocasião anterior: "Porque eu vim da costa do Pacífico, eles entenderam que eu tinha sido influenciada por meu filho William C. White, Dr. Waggoner e A. T. Jones".9 Ela explicou que, como [pág. 42] resultado de Healey escrever ao presidente da Associação Geral, ela era suspeita de ser influenciada pelo trio.
Isso levou ao entendimento entre Butler e Smith de que Ellen White estava sendo influenciada por E. J. Wagoner, A. T. Jones e seu filho William White. Assim, dúvida foi lançada sobre a validade dos conselhos dela para a igreja. Deste modo, os irmãos em Battle Creek foram levados a crer que havia uma conspiração da Califórnia.
Ellen White confirmou que esse sentimento existia na época da Assembleia de Minneapolis e antes disso.
Foi dito a meu respeito estar eu falando coisas falsas, quando fiz a afirmação de que não tinha havido nenhuma conversa entre mim e os Irmãos Jones e Waggoner nem com meu filho William sobre a Lei em Gálatas. Se eles tivessem sido francos comigo quanto eles conversarem entre si contra mim, eu poderia ter-lhes esclarecido este assunto para eles. Repito isso muitas vezes, porque vi que eles estavam determinados a não aceitar meu testemunho. Eles achavam que todos tínhamos chegado à assembleia com um perfeito entendimento e um acordo para estabelecer uma posição sobre a Lei em Gálatas.10
Os apelos dela, para a investigação das Escrituras e a discussão aberta na vindoura Assembleia da Associação Geral em Mineápolis, cairam em ouvidos moucos na sede da igreja em Batle Creeck. A partir da informação que estavam recebendo, eles entenderam que ela estava sendo influenciada pelos irmãos da Costa do Pacífico.
Os irmãos da Associação Geral em Batle Creeck estavam tentando excluir a discussão da lei da assembleia de Minaépolis. Parecia-lhes que os pedidos de abertura de Ellen White estavam tocando nas mãos de Waggoner, Jones e William White. Este último tinha estado escrevendo o Pr. Butler sobre realizar um instituto no qual questões doutrinárias seriam discutidas. Agora, tudo que eles planejaram parecia estar ruindo. A liderança da igreja estava convencida de que um esforço concertado seria feito para sabotar doutrinariamente a assembleia.
Opiniões foram estabelecidas. Eles criam na teoria da conspiração. Ellen White disse dos irmãos Battle Creek,...
Eles achavam que a lei em Gálatas surgira na Assembleia e iriam armados e equipados para resistir a tudo que viessem daqueles homens da Costa do Pacífico, os pastores novos e os idosos.11
[pág. 43] Uriah Smith confirmou que este era seu estado de espírito na Assebleia de 1888. Mais tarde (1890) escreveu sobre isso a Ellen White:
O próximo desafortunado movimento, penso eu, foi quando os irmãos da Califórnia se encontraram, pouco antes da Assembleia de Mineápolis e estabeleceram seus planos para publicar, e trazerem suas opiniões sobre os dez chifres e a lei em Gálatas àquela Assembleia. Nós só fomos informados disso por carta vinda da Califórnia, alguns dias antes do tempo de começar a se preparar para a Assembleia. Eu mal podia acreditar que isso fosse verdade, mas o relatório logo foi confirmado depois de chegar àquele lugar. O Irmão Haskell veio até mim e perguntou como eu pensava que essas questões deveriam ser melhor apresentadas. Eu lhe disse que achava melhor que não fossem introduzidas de modo algum; que elas apenas trariam confusão na Assembleia, e só prejudicam e não fariam bem algum. Mas ele disse que os irmãos da Califórnia estavam decididos a apresentá-los; e então eles foram apresentados, e quase arruinaram a Assembleia, como eu temia que acontecesse. Se essas questões perturbadoras não tivessem sido introduzidas, não vejo nenhuma razão para que não tivéssemos tido uma assemblea tão agradável e abençoada como nunca tivemos.12
A. T. Jones disse que não sabia que todas essas suspeitas estavam nas mentes dos irmãos. "...Em toda inocência, chegamos ao encontro, esperando apenas um estudo simples da Bíblia para conhecer a verdade".13
O Pr. William C. White, filho da irmã White, disse:
Quando fui à reunião de Minneapolis, estava tão inocente como uma ovelha, e enquanto meus velhos amigos em B. C. [Battle Creek] e até meus próprios parentes diziam coisas mui amargas contra mim. ...14
O Pr. William White foi a Minneapolis pensando que as coisas havia sido arranjadas com o Pr. Butler para uma discussão da lei em Gálatas no instituto.
 [pág. 44] O Pr. Waggoner veio preparado com seus "livros de referência". O que eles encontraram foi uma oposição decidida. Como disse o Pr. White
Por que nossos irmãos de B. C. [Battle Creek] deviam opor-se ao assunto e afirmando que a proposição para discutir essas questões fora uma surpresa, quando percebemos por suas próprias ações que não havia surpresa, nunca conseguimos entender.15
"Várias centenas" de exemplares do panfleto do Pr. Butler The Law in Gálatas foram distribuídos entre os delegados pelo Pr. Rupert. Portanto, as discussões foram antecipadas pelos irmãos de Battle Creek.
O pastor Butler esteve doente várias vezes ao longo de três anos. Ele disse que sua resistência foi reduzida por todo o estresse envolvido com suas pesadas responsabilidades como presidente da Associação Geral. Ele acreditava que a questão sobre a lei em Gálatas era um mal "desnecessário e injustificável".16 Até chegou a culpar Ellen White por sua doença de maio a agosto de 1888. Ele lhe escreveu: "Nunca tive dúvidas, mas tive tristeza de coração trazida sobre mim pela posição que a irmã tomou que me deu aqueles quatro meses de doença".17
Ellen White não respondeu da Suíça aos seus pedidos de ajuda contra Waggoner e Jones ao longo do ano de 1886. Então, a sua carta, em 18 de fevereiro de 1887, aos jovens era exatamente o que procurava em condenar a posição deles. Ele escreveu a Ellen White:
Havia simplesmente dois pontos de vista sobre este assunto da lei adicionada (*Gál. 3:19 em diante), no primeiro o Pr. Waggoner afirmou que a lei dicionada refere-se aos 10 mandamentos morais, a outra posição era que a lei adicionada se refere às leis particularmente judaicas. ... São os pontos em que toda a questão se transforma, que tem sido em debate e controvérsia por anos.18
O Pr. Butler protestou veementemente contra as lições da Escola Sabatina de Waggoner no periódico O Instrutor da Juventude durante o verão de 1886.19 Então a "longa série" sobre Gálatas 3 nas edições da revista Sinais dos Tempos, mais tarde no verão de 1886, [pág. 45] foi distribuída para cerca de 20 mil leitores.20 Isso foi visto como um desafio direto contra a liderança e autoridade doutrinal da igreja. Era dever do presidente dizer algo. O Pr. Butler reclamou: "Nunca me respondeste uma palavra sobre isso ou prestastes a menor atenção a essas coisas ..."21
Todas essas preocupações o deixaram bem doente, ele sentiu que agora estava pronto para diminuir seus fardos. Não poderia participar da Assembleia de Minneapolis. Outros teriam que aceitar a causa. Ele teria que cuidar de si mesmo e da saúde de sua esposa em casa em Battle Creek. Mas ele advertiu os irmãos leais para "ficarem firmes em defesa dos pontos doutrinários tradicionais".
Por sua parte, Ellen White não assumiria a culpa pela doença de Butler.
Se a minha carta causou tão grandes consequências para você como uma doença de cinco meses, não devo ser responsabilizada por isso; pois se a tivesses recebido no espírito certo, não terias causado tais resultados. Eu escrevi na angústia da minha alma em relação à atitude que tomaste na Assembleia da Associação Geral [de 1886] há dois anos. O Senhor não ficou satisfeito com essa reunião. Seu espírito, meu irmão, não estava certo. A maneira pela qual trataste o caso do Dr. Waggoner talvez tenha sido sua própria decisão, mas não segundo a vontade de Deus.22
Na época da Assembleia da Associação Geral de 1888, havia muitas suspeitas por parte dos irmãos da direção da Igreja em Battle Creek em relação aos delegados vindos da Califórnia de que eles acreditavam haver uma conspiração em mãos para sequestrar doutrinariamente a denominação sobre a lei em Gálatas 3. Os irmãos da Califórnia não conheciam essas suspeitas. Este foi o cenário para a fatídica Assembleia de 1888.

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Notas Finais:



1) Este é o título de um capítulo do livro De 1888 até a  Apostasia: O Papel Desempenhado por  A. T. Jones (Review and Herald, Washington, D. C.: 1987, págs. 31, 32;
2) William C. White, "Camp Nessessity", 25 e 26 de junho de 1888," Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág. 419;
3) Idem, pág. 418; escrita à mão, pág. 439;
4) William C. White, carta a Dan T. Jones, de 8 de abril de 1890, Boulder, Colorado. Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988), págs..167, 168;
5) A. T. Jones, carta a C. H. Holmes, de 12 de maio de 1921, Washington D. C. Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág. 328;
6) William C. White, obra citada, pág. 170;
7) Ibidem;
8) E. G. White, carta a W. M. Healey, de 21 de agosto de 1901, Los Angeles, California. Materiais de Ellen G. White sobre 1888, págs. 1759, 1760;
9. E. G. White, carta a W. M. Healey, de 9 de dezembro de 1888, Battle Creek, Mich., obra citada, pág. 186;
10) E. G. White, carta aos "Filhos do lar", de 12 de maio de 1889, obra citada, pág. 310, 311;
11. Idem, pág. 308;
12) Uriah Smith, carta a E. G. White, de 17 de fevereiro de 1890, Battle Creek, Michigan. Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág.154;
13) A. T. Jones, carta a C. H. Holmes, 12 de maio de 1921, Washington, D. C., Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág. 328;
14) William C. White, carta a Dan T. Jones, 8 de abril de 1890, Boulder, Colorado. Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág. 171;
15) Idem, pág.170;                
16) G. I. Butler, carta a E. G. White, de 1º de outubro de 1888, Battle Creek, Michigan. Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág. 80;
17) Idem, pág.82;
18) Idem, pág.88;
19) Idem, pág.91;
20) Idem, pág.92;
21) Idem, pág.94;
22) Idem, págs.96 e 97.


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