O CALVÁRIO NO SINAI
A LEI
E OS CONCERTOS
NA HISTÓRIA ADVENTISTA
DO 7º DIA
Por Paulo E. Penno Jr.
M. Div.
Andrews University
[pág. 39] Capítulo 9, A Conspiração da Califórnia1
À medida que a Conferência Geral de 1888 se aproximava, a delegação da Associação da Califórnia sentiu que era proveitoso se reunir. Eles anteciparam certos assuntos para que surgissem na assembleia. O principal entre eles seria a lei em Gálatas 3.
Os
delegados se encontraram em "Camp Necessity", perto de Oakland, nos
dias 25 e 26 de junho de 1888. Os presentes eram: E. J. Waggoner, A. T. Jones,
C. H. Jones, gerente da editora Pacific Press; William C. White, filho de E. G.
White, membro da Comissão Executiva da
Associação Geral; e alguns outros.
William
C. White tomou notas sobre as discussões. Em 26 de junho de 1888, eles
discutiram Gálatas 3:23 e 4:21. Especificamente, a “lei ordenada (*"lei
adicionada") de Gálatas 3:19 estava determinada a significar
"falada" comparando Deuteronômio 5:22 e Hebreus 12:19. Estes textos
eram "ambos referentes à Lei Moral o mesmo no original de Gál. 3:19 ... Em
nenhum caso é aplicado à lei cerimonial".2 Foi
demonstrado que J. N. Andrews tomou a mesma posição sobre a lei moral em
Gálatas em seus primeiros escritos na Review and Herald. O apoio a este ponto de
vista foi também derivado dos sermões de Wesley.3
O
pastor William White, mais tarde, lembrou a reunião "Camp Necessity"
por escrito para Dan Jones, secretário da Associação Geral:
Foi
proposto que os editores dos Sinais dos
Tempos, C. H. Jones e eu (*o pastor W. White), e quantos ministros da
Califórnia, pudessem juntar-se a nós, deveríamos sair para as montanhas e
passar alguns dias no estudo bíblico. ... O Irmão McClure estava conosco parte
do tempo. Nós gastamos ... um dia ouvindo o do pastor Butler sobre a Lei em
Gálatas, e outros tópicos sobre essa questão, no final de qual o Irmão Waggoner
leu alguns MS (*Manuscritos de E. G. White) que ele
preparara em resposta ao panfleto do pastor Butler. ... No final do nosso
estudo, o irmão Waggoner nos perguntou se seria correto para ele publicar seus
MSS (*manuscritos de E. G. White) e na
próxima Assembleia da Conferencia Geral distribuí-los aos delegados, assim como
fizera o pastor Butler. Achamos que isso seria correto e o encorajamos a ter
quinhentas cópias [pág. 40]
impressas. Não fizemos nenhum segredo disto, nem nos esforçamos para torná-lo
público.4
E.
J. Wagoner preparou sua carta de resposta à Lei
em Gálatas do pastor Butler, intitulada "O
Evangelho em Gálatas".
Muitos
anos mais tarde, em 1921, o irmão Alonzo T. Jones escreveu suas lembranças
desse retiro por escrito para C. H. Holmes.
Algum
tempo antes de começar com esse instituto, C. H. Jones, gerente geral da
editora Pacific Press, W. C. White e alguns outros pediram ao Ir. Waggoner e eu
para irmos com eles por alguns dias e sairmos e todos nós estudamos juntos as
Escrituras sobre essas questões "heréticas" que certamente apareceriam
no instituto e na assembleia (*de Mineápolis em 1888). Influências desta
pequena e inocente atitude nossa levou os irmãos em Battle Creek a interpretar
como uma confirmação adicional de sua visão estabelecida que o irmão Waggoner e
eu, em prol do nosso esquema para revolucionar a doutrina da denominação,
estávamos trabalhando junto a outros irmãos em favor de nosso esquema, de modo
a chegar ao instituto e à Assembleia da Associação Geral em Minneapolis
fortemente estabelecidos quanto ao nosso esquema. Nós não soubemos senão após o
instituto e a Assembleia da Associação Geral estarem por concluir que os homens
da Associação Geral em Battle Creek mantinham essas ideias a nosso respeito, e
nunca em nossa vida pensamos que tal coisa viesse ao instituto e Assembleia da
Associação Geral com desconhecimento do que os outros homens estavam imaginando
quanto ao nosso pensamento. E então, em toda inocência, chegamos à reunião (*em
Mineápolis) esperando apenas um estudo simples da Bíblia para conhecer a verdade.5
Então
aconteceu algo inesperado no acampamento da Califórnia em setembro de 1888. De acordo com o pastor William
White:
...Um
espírito muito amargo foi manifestado por alguns em relação aos irmãos Waggoner
e Jones, instigados em parte, eu presumo, pelas pessoas mencionadas no panfleto
do pastor Butler, decorrente, em parte, de um antigo ressentimento familiar
contra o irmão Waggoner pai (*J. H. Waggoner, o pai de E.J. Waggoner). Tivemos
um Conselho de ministros no qual quase todas as declarações desses irmãos
tratando direta [pág. 41]
ou remotamente da questão em Gálatas foi criticada, mas os irmãos que se
opuseram aos seus ensinamentos não consentiram num exame justo do assunto nem
deixariam a questão quieta. Eles
preferiram a alternativa de um processo vagaroso. ...6
O
"vento" que "fez esvoaçar" o relatório deste "concílio
de ministros" para os homens da Associação Geral em Battle Creek foi mais
tarde revelado por William C. White e Ellen White.
W.
M. Healey era ministro e evangelista na Associação da Califórnia. O Pastor William C. White
escreveu:
O que o Irmão Healey escreveu
para o Pr. Butler, eu não sei, mas parece ter dado a impressão de que estávamos
secretamente trabalhando num esquema, enquanto, como supúnhamos, estávamos
trabalhando em perfeita harmonia com os planos do Pr. Butler.7
Ellen White escreveu ao Pr. W.
M. Healey:
Suas
suposições quanto à posição e ao trabalho dos irmãos A. T. Jones e E. J.
Waggoner estavam incorretas. Suas cartas ao Pr. Butler, para avisá-lo contra
algo, eram inteiramente enganosas. Ele queimou essas cartas, de modo a que
ninguém tomasse conhecimento da fonte de sua luz. Essas cartas resultaram em
retardar o trabalho de Deus há anos e trouxe severo e desgastante esforço sobre
mim.
Uma
experiência como a que tivemos em Minneapolis, como resultado de suas cartas
imprudentes, é suficiente. Esta experiência deixou a impressão pelo tempo e
pela eternidade. Ó meu irmão, imploro-te a, por amor de Deus, que sejas
cauteloso em como plantas sobre outras mentes as sementes da incredulidade,
para produzir resultados tão tristes como os que vimos no passado.8
Ela
dissera a Healey numa ocasião anterior: "Porque eu vim da costa do
Pacífico, eles entenderam que eu tinha sido influenciada por meu filho William
C. White, Dr. Waggoner e A. T. Jones".9 Ela
explicou que, como [pág. 42]
resultado de Healey escrever ao presidente da Associação Geral, ela era
suspeita de ser influenciada pelo trio.
Isso
levou ao entendimento entre Butler e Smith de que Ellen White estava sendo
influenciada por E. J. Wagoner, A. T. Jones e seu filho William White. Assim,
dúvida foi lançada sobre a validade dos conselhos dela para a igreja. Deste
modo, os irmãos em Battle Creek foram levados a crer que havia uma conspiração
da Califórnia.
Ellen
White confirmou que esse sentimento existia na época da Assembleia de
Minneapolis e antes disso.
Foi
dito a meu respeito estar eu falando coisas falsas, quando fiz a afirmação de
que não tinha havido nenhuma conversa entre mim e os Irmãos Jones e Waggoner
nem com meu filho William sobre a Lei em Gálatas. Se eles tivessem sido francos
comigo quanto eles conversarem entre si contra mim, eu poderia ter-lhes
esclarecido este assunto para eles. Repito isso muitas vezes, porque vi que
eles estavam determinados a não aceitar meu testemunho. Eles achavam que todos
tínhamos chegado à assembleia com um perfeito entendimento e um acordo para
estabelecer uma posição sobre a Lei em Gálatas.10
Os
apelos dela, para a investigação das Escrituras e a discussão aberta na
vindoura Assembleia da Associação Geral em Mineápolis, cairam em ouvidos moucos
na sede da igreja em Batle Creeck. A partir da informação que estavam
recebendo, eles entenderam que ela estava sendo influenciada pelos irmãos da
Costa do Pacífico.
Os
irmãos da Associação Geral em Batle Creeck estavam tentando excluir a discussão
da lei da assembleia de Minaépolis. Parecia-lhes que os pedidos de abertura de
Ellen White estavam tocando nas mãos de Waggoner, Jones e William White. Este
último tinha estado escrevendo o Pr. Butler sobre realizar um instituto no qual
questões doutrinárias seriam discutidas. Agora, tudo que eles planejaram
parecia estar ruindo. A liderança da igreja estava convencida de que um esforço
concertado seria feito para sabotar doutrinariamente a assembleia.
Opiniões
foram estabelecidas. Eles criam na teoria da conspiração. Ellen White disse dos irmãos
Battle Creek,...
Eles
achavam que a lei em Gálatas surgira na Assembleia e iriam armados e equipados
para resistir a tudo que viessem daqueles homens da Costa do Pacífico, os
pastores novos e os idosos.11
[pág. 43] Uriah Smith
confirmou que este era seu estado de espírito na Assebleia de 1888. Mais tarde (1890) escreveu
sobre isso a Ellen White:
O
próximo desafortunado movimento, penso eu, foi quando os irmãos da Califórnia
se encontraram, pouco antes da Assembleia de Mineápolis e estabeleceram seus
planos para publicar, e trazerem suas opiniões sobre os dez chifres e a lei em
Gálatas àquela Assembleia. Nós só fomos informados disso por carta vinda da
Califórnia, alguns dias antes do tempo de começar a se preparar para a
Assembleia. Eu mal podia acreditar que isso fosse verdade, mas o relatório logo
foi confirmado depois de chegar àquele lugar. O Irmão Haskell veio até mim e
perguntou como eu pensava que essas questões deveriam ser melhor apresentadas.
Eu lhe disse que achava melhor que não fossem introduzidas de modo algum; que
elas apenas trariam confusão na Assembleia, e só prejudicam e não fariam bem
algum. Mas ele disse que os irmãos da Califórnia estavam decididos a apresentá-los;
e então eles foram apresentados, e quase arruinaram a Assembleia, como eu temia
que acontecesse. Se essas questões perturbadoras não tivessem sido
introduzidas, não vejo nenhuma razão para que não tivéssemos tido uma assemblea
tão agradável e abençoada como nunca tivemos.12
A.
T. Jones disse que não sabia que todas essas suspeitas estavam nas mentes dos
irmãos. "...Em toda inocência, chegamos ao encontro, esperando apenas um
estudo simples da Bíblia para conhecer a verdade".13
O Pr. William C. White, filho
da irmã White, disse:
Quando fui à reunião de Minneapolis, estava tão inocente
como uma ovelha, e enquanto meus velhos amigos em B. C. [Battle Creek] e até
meus próprios parentes diziam coisas mui amargas contra mim. ...14
O Pr. William White foi a
Minneapolis pensando que as coisas havia sido arranjadas com o Pr. Butler para
uma discussão da lei em Gálatas no instituto.
[pág. 44] O Pr. Waggoner veio preparado com seus "livros de
referência". O que eles encontraram foi uma oposição decidida. Como disse
o Pr. White
Por
que nossos irmãos de B. C. [Battle Creek] deviam opor-se ao assunto e afirmando
que a proposição para discutir essas questões fora uma surpresa, quando
percebemos por suas próprias ações que não havia surpresa, nunca conseguimos
entender.15
"Várias
centenas" de exemplares do panfleto do Pr. Butler The Law in Gálatas foram distribuídos entre os delegados pelo Pr.
Rupert. Portanto, as discussões foram antecipadas pelos irmãos de Battle Creek.
O
pastor Butler esteve doente várias vezes ao longo de três anos. Ele disse que
sua resistência foi reduzida por todo o estresse envolvido com suas pesadas
responsabilidades como presidente da Associação Geral. Ele acreditava que a
questão sobre a lei em Gálatas era um mal "desnecessário e injustificável".16 Até chegou a culpar Ellen White por sua doença de
maio a agosto de 1888. Ele lhe escreveu: "Nunca tive dúvidas, mas tive
tristeza de coração trazida sobre mim pela posição que a irmã tomou que me deu
aqueles quatro meses de doença".17
Ellen
White não respondeu da Suíça aos seus pedidos de ajuda contra Waggoner e Jones
ao longo do ano de 1886. Então, a sua carta, em 18 de fevereiro de 1887, aos
jovens era exatamente o que procurava em condenar a posição deles. Ele escreveu a Ellen White:
Havia simplesmente dois pontos de vista sobre este
assunto da lei adicionada (*Gál. 3:19 em diante), no primeiro o Pr. Waggoner
afirmou que a lei dicionada refere-se aos 10 mandamentos morais, a outra
posição era que a lei adicionada se refere às leis particularmente judaicas.
... São os pontos em que toda a questão se transforma, que tem sido em debate e
controvérsia por anos.18
O
Pr. Butler protestou veementemente contra as lições da Escola Sabatina de
Waggoner no periódico O Instrutor da Juventude durante o verão de 1886.19 Então a "longa série" sobre Gálatas 3 nas
edições da revista Sinais dos Tempos,
mais tarde no verão de 1886, [pág.
45] foi distribuída para cerca de 20 mil leitores.20 Isso
foi visto como um desafio direto contra a liderança e autoridade doutrinal da
igreja. Era dever do presidente dizer algo. O Pr. Butler reclamou: "Nunca
me respondeste uma palavra sobre isso ou prestastes a menor atenção a essas
coisas ..."21
Todas essas preocupações o
deixaram bem doente, ele sentiu que agora estava pronto para diminuir seus
fardos. Não poderia participar da Assembleia de Minneapolis. Outros teriam
que aceitar a causa. Ele teria que cuidar de si mesmo e da saúde de sua esposa
em casa em Battle Creek. Mas ele advertiu os irmãos leais para "ficarem
firmes em defesa dos pontos doutrinários tradicionais".
Por
sua parte, Ellen White não assumiria a culpa pela doença de Butler.
Se a minha carta causou tão grandes consequências para
você como uma doença de cinco meses, não devo ser responsabilizada por isso;
pois se a tivesses recebido no espírito certo, não terias causado tais
resultados. Eu escrevi na angústia da minha alma em relação à atitude que
tomaste na Assembleia da Associação Geral [de 1886] há dois anos. O Senhor não
ficou satisfeito com essa reunião. Seu espírito, meu irmão, não estava certo. A
maneira pela qual trataste o caso do Dr. Waggoner talvez tenha sido sua própria
decisão, mas não segundo a vontade de Deus.22
Na
época da Assembleia da Associação Geral de 1888, havia muitas suspeitas por
parte dos irmãos da direção da Igreja em Battle Creek em relação aos delegados
vindos da Califórnia de que eles acreditavam haver uma conspiração em mãos para
sequestrar doutrinariamente a denominação sobre a lei em Gálatas 3. Os irmãos
da Califórnia não conheciam essas suspeitas. Este foi o cenário para a fatídica
Assembleia de 1888.
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Notas Finais:
1) Este é o título de um
capítulo do livro
De 1888 até a Apostasia: O Papel Desempenhado por A. T. Jones (Review and Herald, Washington, D. C.: 1987, págs. 31, 32;
2) William C. White, "Camp Nessessity", 25 e 26
de junho de 1888," Manuscripts
and Memories of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa
Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág. 419;
3) Idem, pág. 418; escrita à mão, pág. 439;
4) William C. White, carta
a Dan T. Jones, de 8 de abril de 1890, Boulder, Colorado. Manuscripts and
Memories of Minneapolis (Manuscritos
e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise,
Idaho: 1988), págs..167, 168;
5)
A. T. Jones, carta a C. H.
Holmes, de 12 de maio de 1921, Washington D. C. Manuscripts and Memories of
Minneapolis (Manuscritos e
Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise,
Idaho: 1988), pág. 328;
6) William C.
White, obra citada, pág. 170;
7) Ibidem;
8) E. G. White, carta a W.
M. Healey, de 21 de agosto de 1901, Los Angeles, California. Materiais de Ellen G. White sobre 1888, págs.
1759, 1760;
9. E. G. White, carta a W.
M. Healey, de 9 de dezembro de 1888, Battle Creek, Mich., obra citada,
pág. 186;
10) E. G. White, carta aos "Filhos do lar", de 12 de maio de 1889,
obra citada, pág. 310, 311;
11. Idem, pág. 308;
12) Uriah Smith, carta a E. G. White, de 17 de fevereiro de 1890, Battle
Creek, Michigan. Manuscripts and Memories
of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do
Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág.154;
13) A. T. Jones, carta a C. H. Holmes, 12 de maio de 1921, Washington, D. C., Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos
e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do Pacífico, Boise,
Idaho: 1988), pág. 328;
14) William C. White, carta a Dan T. Jones, 8 de abril de 1890, Boulder,
Colorado. Manuscripts and Memories
of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do
Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág. 171;
15) Idem, pág.170;
16)
G. I. Butler, carta a E. G. White, de 1º de outubro de 1888, Battle Creek,
Michigan. Manuscripts and Memories
of Minneapolis (Manuscritos e Memórias de Minneapolis) (Casa Publicadora do
Pacífico, Boise, Idaho: 1988), pág. 80;
17) Idem, pág.82;
18) Idem, pág.88;
19) Idem, pág.91;
20) Idem, pág.92;
21) Idem, pág.94;
22) Idem, págs.96 e 97.
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