terça-feira, 1 de agosto de 2017

O CALVÁRIO NO SINAI - Capítulo 3, por Paulo E. Penno Jr., M. Div. Andrews University



O  CALVÁRIO  NO  SINAI


A  LEI  E  OS  CONCERTOS  NA  HISTÓRIA  ADVENTISTA  DO    DIA

Por Paulo E. Penno Jr.

M. Div.
Andrews University


[pág. 12] Capítulo 3,  A revista The Gospel Sickle (A Foice do Evangelho)

A posição de E. J. Waggoner sobre a lei moral em Gálatas 3 nos artigos da revista Signs of the Times (Sinais dos Tempos)1 não passou despercebida pelos líderes da igreja em Battle Creek, Michigan. O primeiro sutil tiro que se tornaria numa guerra total sobre a lei em Gálatas e os concertos, foi o surgimento de uma nova revista editada em Battle Creek. O passo seguinte seria uma visita do próprio Presidente da Associação Geral, o pastor George I. Butler. Ele viajaria para Healdsburg College, Califórnia, para descobrir o que estava acontecendo na sala de aula onde Waggoner ensinava.
O Gospel Sickle foi publicado em Battle Creek em concorrência com as edições da revista Signs of the Times (Sinais dos Tempos) publicadas em Oakland, Califórnia. Ellen White detectou a natureza competitiva das duas revistas. Ela escreveu a E. J. Waggoner e A. T. Jones sobre isso:
A "Gospel Sickle" foi iniciada em Battle Creek, mas não projetada para tomar o lugar da Signs of the Times (Sinais dos Tempos) e eu não consigo ver que seja realmente necessária. A revista Signs of the Times (Sinais dos Tempos) é necessára e fará o que a "Gospel Sickle" não pode. Sei que se a "Sinais dos Tempos", for mantida cheia de artigos preciosos — alimento para o povo, toda família deve tê-la. Mas uma dor vem ao meu coração cada vez que eu vejo a "Gospel Sickle". Digo que isto não é o que Deus deseja. Se Satanás puder semear dissensão entre nós como um povo, ele ficará muito feliz.2
Os pastores George Butler, Uriah Smith e D. M. Canright eram articulistas regulares da Gospel Sickle usando-a como um veículo para promover seus pontos de vista da lei e dos concertos em oposição aos pontos de vista publicados na "Sinais dos Tempos" por E. J. Waggoner. Pelo tempo que a Gospel Sickle foi publicada, de 1º de fevereiro de 1886 a dezembro de 1888, Ellen White pôde detectar a "dissensão" nela.
O pastor Dudley M. Canright, um dos principais colaboradores da Gospel Sickle, assim definiu seu conceito dos concertos:
Ora, o que é um concerto? O dicionário Webster assim o define: "Um consentimento mútuo, ou acordo de duas ou mais pessoas para fazer ou tolerar algum ato ou coisa, um contrato, uma escrita contendo os termos de um acordo ou contrato entre as partes". Vê-se prontamente que este acordo feito [pág.13] entre Deus e Israel em Êxodo capítulo 19, é um concerto no sentido mais amplo do termo. ...3
Canright tomou sua definição do concerto bíblico do dicionário Webster. Assim, ele viu o concerto de Deus como um contrato entre Ele e Israel.
Mais tarde, Canright usou terminologia que revelou seus pressupostos subjacentes:
Algumas pessoas afirmam que tudo o que Deus exigiu sob a velha dispensação era simplesmente obediência externa à sua lei. ... Eles tinham o Espírito de Deus na Velha Dispensação. ... O fato é que Deus intencionou que Seu povo fosse tão espiritual durante a era do velho concerto como Ele o faz agora.4
Canright associou a "era do velho concerto" com a "Velha Dispensação". A suposição de Canright era que o Espírito de Deus estava em cumprimento do velho concerto. Ele não entendeu que o concerto eterno de Deus (o novo concerto) era o concerto que prometia o Espírito Santo. É verdade "que Deus intencionou que Seu povo fosse tão espiritual durante ‘a Velha Dispensação’ como Ele o faz agora. Mas isso nunca poderia ser possível com "o velho concerto". Mais uma vez, o dispensacionalismo tipológico bíblico era dominante no pensamento de Canright, negligenciando o paradigma igualmente bíblico das duas experiências diferentes do coração do velho e dos novo concetos.
Uriah Smith estava em harmonia com a compreensão deste entendimento de Canright desta ênfase tipológica dispensacionalista sobre o elemento tempo do velho e do novo concertos, quando ele disse: "O novo concerto substituiu o velho quando Cristo o ratificou com Seu próprio sangue na cruz".5 O diagrama de Smith dos dois concertos publicados na Review and Herald indicava seu entendimento tipológico de sua relação no Velho Testamento e no Novo Testamento.6 Isso levou Smith e seus pares a ignorar e excluir a experiência do coração do novo concerto antes e depois da cruz.
[pág. 14] Esta experiência do coração era a dimensão mais completa da verdade bíblica do concerto eterno.
Canright insistiu:
O novo concerto, ou o evangelho, então, começou a ser pregado por Jesus Cristo. ... O mediador do novo concerto tinha agora vindo para substituir o velho concerto; mas Jesus teve o cuidado de ter o novo concerto oferecido apenas aos judeus; porque o Senhor tinha prometido que este novo concerto deveria ser feito com a casa de Israel.7
Aqui Canright afirmava a sequência do velho concerto seguido pelo novo concerto. Faz-se evidente em seu pensamento que o antigo concerto era o plano de salvação de Deus para os judeus, mas foi substituído pelo novo concerto com a vinda de Jesus. Isso parece apontar para um novo método e meio de salvação, ou uma mudança fundamental nos tratos de Deus com o homem, ou ambos, implícitos numa transição baseada no tempo do velho para o novo concerto. Isso mais tarde criaria complicações incômodas para Canright, tornando difícil para ele manter doutrinas bíblicas fundamentais, como o Sábado.

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Notas Finais:

1. A revista Signs of the Times (Sinais dos Tempos) de 28 de agosto a 18 de setembro de 1884.
2. E. G. White, carta a E. J. Wagoner e A. T. Jones, de 18 de fevereiro de 1887, Basileia, Suíça. Materiais de Ellen G. White sobre 1888, pág. 25.
3. D. M. Canright, “The Law to the Gentiles. 4.—Why God Made a Covenant with Israel, and How the Gentiles Were to Come into It,” (A lei para os Gentios. 4. - Por que Deus fez um Concerto com Israel, e Como os Gentios Iriam Entrar Nele), Revista The Gospel Sickle, de 1º de abril de 1886, pág. 37.
4. D. M. Canright, “The Law to the Gentiles. 6.—God Required Spiritual Service of His People During the Jewish Age,” (A lei para os Gentios 6. - Deus Exigiu o Serviço Espiritual de Seu Povo Durante a Era Judaica"), The Gospel Sickle, de 1º de maio de 1886), págs. 52, 53. Ênfase dele.
5. U. Smith, "The Sanctuary" (O Santuário), The Gospel Sickle, de 15 de maio de 1886, pág. 58.
6. Para visualisar o diagrama do Pastor Urias Smith dos dois concertos, veja na iternet, no “Apêndice A”, a última página de algum site em inglês; ou na edição impressa em 2008 por “Books for Jesus,” versão esta que usamos nesta tradução, pág. 99.
7. D. M. Canright, “The New Covenant” (O Novo Concerto), The Gospel Sickle, de 15 de junho de 1886, págs. 76, 77. De autor desconhecido: “The New Covenant Made with the Jews,” (O Novo Concerto Feito com os Judeus) The Gospel Sickle, de 1º de julho de 1886, pág. 81. Ênfase acrescida.

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