O CALVÁRIO NO SINAI
A LEI
E OS CONCERTOS
NA HISTÓRIA ADVENTISTA
DO 7º DIA
Por Paulo E. Penno Jr.
M. Div.
Andrews University
[pág. 12] Capítulo 3, A revista The
Gospel Sickle (A Foice
do Evangelho)
A
posição de E. J. Waggoner sobre a lei moral em Gálatas 3 nos artigos da revista
Signs
of the Times (Sinais
dos Tempos)1 não passou
despercebida pelos líderes da igreja em Battle Creek, Michigan. O primeiro
sutil tiro que se tornaria numa guerra total sobre a lei em Gálatas e os
concertos, foi o surgimento de uma nova revista editada em Battle Creek. O
passo seguinte seria uma visita do próprio Presidente da Associação Geral, o
pastor George I. Butler. Ele viajaria para Healdsburg College, Califórnia, para
descobrir o que estava acontecendo na sala de aula onde Waggoner ensinava.
O Gospel Sickle foi publicado em Battle
Creek em concorrência com as edições da revista Signs of the
Times (Sinais
dos Tempos) publicadas em Oakland, Califórnia. Ellen White detectou a natureza
competitiva das duas revistas. Ela escreveu a E. J. Waggoner e A. T. Jones
sobre isso:
A "Gospel Sickle" foi iniciada
em Battle Creek, mas não projetada para tomar o lugar da Signs
of the Times (Sinais
dos Tempos) e eu não consigo ver que seja realmente necessária. A revista Signs
of the Times (Sinais
dos Tempos) é necessára e fará o que a "Gospel
Sickle" não pode. Sei que se a "Sinais
dos Tempos", for mantida cheia de artigos preciosos — alimento para o
povo, toda família deve tê-la. Mas uma dor vem ao meu coração cada vez que eu
vejo a "Gospel Sickle".
Digo que isto não é o que Deus deseja. Se Satanás puder semear dissensão entre
nós como um povo, ele ficará muito feliz.2
Os
pastores George Butler, Uriah Smith e D. M. Canright eram articulistas
regulares da Gospel Sickle usando-a
como um veículo para promover seus pontos de vista da lei e dos concertos em
oposição aos pontos de vista publicados na "Sinais
dos Tempos" por E. J. Waggoner. Pelo tempo que a Gospel Sickle foi publicada, de 1º de fevereiro de 1886 a dezembro
de 1888, Ellen White pôde detectar a "dissensão" nela.
O
pastor Dudley M. Canright, um dos principais colaboradores da Gospel Sickle, assim definiu seu
conceito dos concertos:
Ora,
o que é um concerto? O dicionário Webster assim o define: "Um
consentimento mútuo, ou acordo de duas ou mais pessoas para fazer ou tolerar
algum ato ou coisa, um contrato, uma escrita contendo os termos de um acordo ou
contrato entre as partes". Vê-se prontamente que este acordo feito [pág.13] entre Deus e Israel
em Êxodo capítulo 19, é um concerto no sentido mais amplo do termo. ...3
Canright
tomou sua definição do concerto bíblico do dicionário Webster. Assim, ele viu o
concerto de Deus como um contrato entre Ele e Israel.
Mais
tarde, Canright usou terminologia que revelou seus pressupostos subjacentes:
Algumas
pessoas afirmam que tudo o que Deus exigiu sob a velha dispensação era
simplesmente obediência externa à sua lei. ... Eles tinham o Espírito de Deus
na Velha Dispensação. ... O fato é que Deus intencionou que Seu povo fosse tão
espiritual durante a era do velho concerto como Ele o faz agora.4
Canright
associou a "era do velho concerto" com a "Velha
Dispensação". A suposição de Canright era que o Espírito de Deus estava em
cumprimento do velho concerto. Ele não entendeu que o concerto eterno de Deus
(o novo concerto) era o concerto que prometia o Espírito Santo. É verdade
"que Deus intencionou que Seu povo fosse tão espiritual durante ‘a Velha
Dispensação’ como Ele o faz agora. Mas isso nunca poderia ser possível com
"o velho concerto". Mais uma vez, o dispensacionalismo tipológico
bíblico era dominante no pensamento de Canright, negligenciando o paradigma
igualmente bíblico das duas experiências diferentes do coração do velho e dos
novo concetos.
Uriah
Smith estava em harmonia com a compreensão deste entendimento de Canright desta
ênfase tipológica dispensacionalista sobre o elemento tempo do velho e do novo
concertos, quando ele disse: "O novo concerto substituiu o velho quando
Cristo o ratificou com Seu próprio sangue na cruz".5 O
diagrama de Smith dos dois concertos publicados na Review and Herald indicava
seu entendimento tipológico de sua relação no Velho Testamento e no Novo
Testamento.6 Isso levou Smith e
seus pares a ignorar e excluir a experiência do coração do novo concerto antes
e depois da cruz.
[pág. 14] Esta experiência do
coração era a dimensão mais completa da verdade bíblica do concerto eterno.
Canright
insistiu:
O novo concerto, ou o evangelho, então, começou a ser
pregado por Jesus Cristo. ... O mediador do novo concerto tinha agora vindo
para substituir o velho concerto; mas Jesus teve o cuidado de ter o novo
concerto oferecido apenas aos judeus; porque o Senhor tinha prometido que este
novo concerto deveria ser feito com a casa de Israel.7
Aqui
Canright afirmava a sequência do velho concerto seguido pelo novo concerto.
Faz-se evidente em seu pensamento que o antigo concerto era o plano de salvação
de Deus para os judeus, mas foi substituído pelo novo concerto com a vinda de
Jesus. Isso parece apontar para um novo método e meio de salvação, ou uma
mudança fundamental nos tratos de Deus com o homem, ou ambos, implícitos numa
transição baseada no tempo do velho para o novo concerto. Isso mais tarde
criaria complicações incômodas para Canright, tornando difícil para ele manter doutrinas
bíblicas fundamentais, como o Sábado.
_______________________________
Notas Finais:
1. A revista Signs of the Times (Sinais dos
Tempos) de 28 de agosto a 18 de setembro de 1884.
2. E. G. White, carta a E. J. Wagoner e A. T. Jones, de
18 de fevereiro de 1887, Basileia, Suíça. Materiais
de Ellen G. White sobre 1888, pág. 25.
3. D. M. Canright, “The Law to the
Gentiles. 4.—Why God Made a Covenant with Israel, and How the Gentiles Were to
Come into It,” (A lei para os Gentios. 4. - Por que Deus fez um Concerto com Israel, e Como os
Gentios Iriam Entrar Nele), Revista The Gospel Sickle, de 1º de abril de 1886, pág. 37.
4. D. M. Canright, “The Law to the
Gentiles. 6.—God Required Spiritual
Service of His People During the Jewish Age,” (A lei para os Gentios 6. - Deus
Exigiu o Serviço Espiritual de Seu Povo Durante a Era
Judaica"), The Gospel Sickle, de 1º de maio de 1886), págs. 52, 53. Ênfase
dele.
5. U. Smith, "The Sanctuary" (O Santuário), The Gospel Sickle, de 15 de maio de 1886, pág. 58.
6. Para visualisar o diagrama do Pastor Urias Smith dos
dois concertos, veja na iternet, no “Apêndice A”, a última página de algum site
em inglês; ou na edição impressa em 2008 por “Books for Jesus,” versão
esta que usamos nesta tradução, pág. 99.
7. D. M. Canright, “The New Covenant” (O Novo Concerto),
The Gospel Sickle, de 15 de junho de 1886, págs. 76, 77. De autor
desconhecido: “The New Covenant Made
with the Jews,” (O Novo Concerto Feito com os Judeus) The Gospel Sickle, de 1º de julho de 1886, pág. 81. Ênfase
acrescida.
_______________________________