segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Lição 9 — Apelo Pastoral de Paulo, por Bob Hunsaker



Para 19 a 26 de agosto de 2017

Podemos separar o nosso entendimento do evangelho, da forma como tratamos as outras pessoas? São a nossa teologia e nossos relacionamentos "separáveis"? É realmente possível ter teologia correta e atitudes erradas? Existe uma relação de causa e efeito entre a forma como vemos Deus relacionando-Se conosco por meio do evangelho, e como nos relacionamos com os outros em nossas vidas diárias? Isto é o que Paulo quer desesperadamente que nós compreendamos na lição desta semana. Se você já se perguntou a si mesmo, "como é que os meus relacionamentos com os outros são tão superficiais ou negativos, quando eu sei tanta verdade (teologia)", então essa lição é para você — e para mim!
Ao longo de Gálatas, Paulo vem apresentando o caso teológico para o evangelho "correto", em termos de concertos, ilustrações (Agar e Sara, Isaque e Ismael, Jerusalém de cima e Jerusalém terrena, Monte Sião e Monte Sinai, etc.), justificação pela fé versus justificação pelas obras, etc. Toda a verdade vital, mas verdade que pode nos fazer sentir intelectualmente edificados, mas experimentalmente secos. Em nosso texto desta semana, Paulo vai revelar-nos as consequências interpessoais, emocional e experiencial da má teologia — de uma experiência errada do evangelho.
O fundamento é colocado em Gal. 4:8-9. "Antes que vocês, gentios, conhecessem a Deus, vocês eram escravos dos chamados deuses que nem sequer existem. Então agora que vocês conhecem a Deus. . . , por que vocês querem voltar novamente e tornarem-se escravos, outra vez mais aos princípios fracos e inúteis espirituais deste mundo?" (NBLH). Observe o que Paulo está dizendo. Antes de os gálatas gentios se tornarem cristãos, eles eram adoradores de ídolos — eles não conheciam a Deus. Mas agora ele pergunta a eles por que eles querem voltar àquele sistema religioso. Mas sabemos do resto de Gálatas, que eles não estavam indo de volta para a adoração de ídolos, mas foram se tornando legalistas. Assim, Paulo está essencialmente dizendo aos gálatas (e a nós), que o legalismo e o paganismo são a mesma coisa. Embora superficialmente, o legalismo e o paganismo aparentem ser completamente diferentes — por exemplo, o hinduísmo (adoração de ídolos) em comparação com a seca adoração cristã obrigatória, formal (legalismo) — a realidade é que eles são exatamente o mesmo em sua imagem ou percepção de Deus.
Em ambos, o paganismo e o legalismo, a ideia básica é que algo que fazemos — ou que alguém o faça — muda a atitude ou postura ou sentimentos de Deus em relação a nós. Ao invés do entendimento do verdadeiro evangelho de que a salvação é tudo sobre Deus mudar nossa atitude ou postura ou sentimentos em relação a Ele. No paganismo, a oferta que trazemos, ou sacrifícios que fazemos, pretendem fazer com que o deus, ou deuses se relacionem conosco de uma forma mais favorável. No cristianismo legalista, os comportamentos corretos ou teologia correta ou a nossa fé/arrependimento/confissão, etc, fazem com que Deus Se relacione conosco de modo mais favorável. Ou, mais sutilmente, o que Jesus faz por nós (intercedendo em nosso favor), ou fez por nós (na cruz), faz com que Deus nos ame mais, ou seja mais misericordioso para conosco, ou Se relacione conosco de uma maneira mais positiva. Em todas essas idéias, o princípio básico fundamental é que algo ou alguém fora de Deus faz com que Ele Se relacione conosco de uma maneira mais favorável ou generosa ou positiva.
Mas agora, em nossa passagem para hoje, Paulo vai explicar aos gálatas e a nós, que a consequência de ver Deus como a parte interessada na salvação precisando ser mudado, versus, reconhecendo que nós somos aqueles que Deus está tentando mudar, é evidenciada na forma como nos relacionamos com os outros.
Observe a linguagem de como os gálatas se relacionaram com Paulo no início de sua experiência cristã — "me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo" (4:14), "que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis" (4:15). Mas note como eles se relacionam com Paulo agora ao eles mudarem sua teologia para longe da genuína justificação pela fé (Deus está tentando me mudar), ao legalismo (Jesus e/ou eu muda a atitude de Deus para comigo) — "Fiz-me vosso inimigo" (4:16), "receio de vós" (4:11), etc. Uma mudança no evangelho deles (isto é, uma mudança na forma como eles entendiam a Deus relacionado-Se com eles e como Ele os salvava) resultou em uma mudança na forma como eles se relacionavam com um amigo íntimo a quem deviam a sua própria salvação. Eles agora viam seu amigo como um inimigo.
Qual é o teste mais sensível do nosso entendimento do evangelho? Se eu lhe entrevistar, ou a irmãos adventistas do sétimo dia, ou a outros cristãos, e lhes perguntar quantos creem na justificação pela fé, versus quantos creem na salvação pelas obras, sabemos que todas as mãos se erguerão para a primeira hipótese. Se eu perguntasse, por outro lado, quantos de nós realmente — do fundo de nossos corações — amamos os nossos inimigos, poderíamos levantar nossas mãos? Quantos de nós demonstramos paciência com aqueles que discordam de nós na classe da Escola Sabatina, ou com o pastor que não vê as coisas da maneira que nós vemos? Quantos de nós demonstramos genuíno amor cristão e paciência e tolerância para com o nosso cônjuge?
Podemos sentir que conquanto não estejamos vivendo ao nível do padrão de Cristo em nossa experiência, pelo menos, nós compreendemos a verdade teologicamente. Mas é possível, que a nossa experiência e as relações com os outros sejam um marcador mais sensível de nosso verdadeiro nível de entendimento do evangelho. É a nossa teologia que está à frente de nossa experiência, ou a nossa experiência que deveria soar campainhas de alerta sobre a nossa verdadeira compreensão teológica?
Em Gálatas capítulo quatro, Paulo está dizendo aos gálatas que, em suas atitudes e sentimentos em relação a ele, estão apenas vendo o fruto do seu mal entendimento do evangelho. A evidência do que eles realmente são não está contido no que eles pensam que sabem, mas a evidência do que eles realmente sabem está contida na forma como se relacionam e tratam os outros.
A prova final dessa realidade vai atuar no fim dos tempos, quando um grupo vai pensar que são representantes de Cristo e que eles entendem o evangelho, mas a verdade vai ser vista em seu desejo de destruir aqueles que discordam deles (Apoc.13:15-17, Jonas 16:1-2). Enquanto outro grupo vai estar disposto a desistir de suas vidas se isto pudesse ajudar a salvar os seus inimigos (Apoc. 12: 11).
O que você crê sobre Deus e salvação tem real, inerente consequência que irá se manifestar na forma como nos relacionamos com os outros. E isso pode ser abaixo do nosso nível de pensamento consciente. Que possamos ser mudados por contemplar a Deus em Jesus Cristo, para que nossa experiência possa nos ensinar o que realmente sabemos sobre Deus, em vez de crer que a teologia correta e a experiência errada sejam compatíveis.


Bob Hunsaker 


O irmão Roberto Hunsaker é adventista por muitos anos, médico, e diretor do ministério pessoal de sua Igreja Adventista do Sétimo Dia, na área de Boston, MA., U.S.A., e também professor de sua unidade evangelizadora. Tem, também, um programa semanal na rádio (AM  WEZE 590) aos domingos à noite, às 19:30 horas, em parceria com o Pr. Bill Brace, intitulado Portraits of God (Quadros de Deus).

_____________________