Para 19 a 26 de agosto de 2017
Podemos separar o nosso entendimento do evangelho, da forma
como tratamos as outras pessoas? São
a nossa teologia e nossos relacionamentos "separáveis"? É realmente possível ter teologia
correta e atitudes erradas? Existe
uma relação de causa e efeito entre a forma como vemos Deus relacionando-Se
conosco por meio do evangelho, e como nos relacionamos com os outros em nossas
vidas diárias? Isto é o que Paulo
quer desesperadamente que nós compreendamos na lição desta semana. Se você já
se perguntou a si mesmo, "como é que os meus relacionamentos com os outros
são tão superficiais ou negativos, quando eu sei tanta verdade
(teologia)", então essa lição é para você — e para mim!
Ao longo de Gálatas, Paulo vem apresentando o caso teológico
para o evangelho "correto", em termos de concertos, ilustrações (Agar
e Sara, Isaque e Ismael, Jerusalém de cima e Jerusalém terrena, Monte Sião e
Monte Sinai, etc.), justificação
pela fé versus justificação pelas obras, etc. Toda a verdade vital, mas verdade
que pode nos fazer sentir intelectualmente edificados, mas experimentalmente
secos. Em nosso texto desta
semana, Paulo vai revelar-nos as consequências interpessoais, emocional e
experiencial da má teologia — de uma experiência errada do evangelho.
O fundamento é colocado em Gal. 4:8-9. "Antes
que vocês, gentios, conhecessem a Deus, vocês eram escravos dos chamados deuses
que nem sequer existem. Então
agora que vocês conhecem a Deus. . . ,
por que vocês querem voltar novamente e tornarem-se escravos, outra vez mais
aos princípios fracos e inúteis espirituais deste mundo?" (NBLH). Observe o que Paulo está dizendo. Antes de os gálatas gentios se tornarem
cristãos, eles eram adoradores de ídolos — eles não conheciam a Deus. Mas agora ele pergunta a eles por que
eles querem voltar àquele sistema religioso. Mas
sabemos do resto de Gálatas, que eles não estavam indo de volta para a adoração
de ídolos, mas foram se tornando legalistas. Assim,
Paulo está essencialmente dizendo aos gálatas (e a nós), que o legalismo e o
paganismo são a mesma coisa. Embora
superficialmente, o legalismo e o paganismo aparentem ser completamente
diferentes — por exemplo, o hinduísmo (adoração de ídolos) em comparação com a
seca adoração cristã obrigatória, formal (legalismo) — a realidade é que eles
são exatamente o mesmo em sua imagem ou percepção de Deus.
Em ambos, o paganismo e o legalismo, a ideia básica é que
algo que fazemos — ou que alguém o faça — muda a atitude ou postura ou
sentimentos de Deus em relação a nós. Ao
invés do entendimento do verdadeiro evangelho de que a salvação é tudo sobre
Deus mudar nossa atitude ou postura ou sentimentos em relação a Ele. No
paganismo, a oferta que trazemos, ou sacrifícios que fazemos, pretendem fazer
com que o deus, ou deuses se relacionem conosco de uma forma mais favorável. No cristianismo legalista, os
comportamentos corretos ou teologia correta ou a nossa
fé/arrependimento/confissão, etc, fazem com que Deus Se relacione conosco de
modo mais favorável. Ou, mais
sutilmente, o que Jesus faz por nós (intercedendo em nosso favor), ou fez por
nós (na cruz), faz com que Deus nos ame mais, ou seja mais misericordioso para
conosco, ou Se relacione conosco de uma maneira mais positiva. Em todas essas idéias, o princípio
básico fundamental é que algo ou alguém fora de Deus faz com que Ele Se
relacione conosco de uma maneira mais favorável ou generosa ou positiva.
Mas agora, em nossa passagem para hoje, Paulo vai explicar aos
gálatas e a nós, que a consequência de ver Deus como a parte interessada na
salvação precisando ser mudado, versus, reconhecendo que nós somos aqueles que
Deus está tentando mudar, é
evidenciada na forma como nos relacionamos com os outros.
Observe a linguagem de como os gálatas se relacionaram com
Paulo no início de sua experiência cristã — "me
recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo" (4:14), "que, se possível fora, arrancaríeis os
vossos olhos, e mos daríeis" (4:15). Mas
note como eles se relacionam com Paulo agora ao eles mudarem sua teologia para
longe da genuína justificação pela fé (Deus está tentando me mudar), ao
legalismo (Jesus e/ou eu muda a atitude de Deus para comigo) — "Fiz-me vosso inimigo" (4:16),
"receio de vós" (4:11),
etc. Uma mudança no evangelho deles (isto é, uma mudança na forma como eles
entendiam a Deus relacionado-Se com eles e como Ele os salvava) resultou em uma
mudança na forma como eles se
relacionavam com um amigo íntimo a quem deviam a sua própria salvação. Eles
agora viam seu amigo como um inimigo.
Qual é o teste mais sensível do nosso entendimento do
evangelho? Se eu lhe entrevistar,
ou a irmãos adventistas do sétimo dia, ou a outros cristãos, e lhes perguntar
quantos creem na justificação pela fé, versus quantos creem na salvação pelas
obras, sabemos que todas as mãos se erguerão para a primeira hipótese. Se eu perguntasse, por outro lado,
quantos de nós realmente — do fundo de nossos corações — amamos os nossos
inimigos, poderíamos levantar nossas mãos? Quantos
de nós demonstramos paciência com aqueles que discordam de nós na classe da
Escola Sabatina, ou com o pastor que não vê as coisas da maneira que nós vemos? Quantos de nós demonstramos genuíno
amor cristão e paciência e tolerância para com o nosso cônjuge?
Podemos sentir que conquanto não estejamos vivendo ao nível do
padrão de Cristo em nossa experiência, pelo menos, nós compreendemos a verdade
teologicamente. Mas é possível,
que a nossa experiência e as relações com os outros sejam um marcador mais
sensível de nosso verdadeiro nível de entendimento do evangelho. É a nossa teologia que está à frente
de nossa experiência, ou a nossa experiência que deveria soar campainhas de
alerta sobre a nossa verdadeira compreensão teológica?
Em Gálatas capítulo quatro, Paulo está dizendo aos gálatas
que, em suas atitudes e sentimentos em relação a ele, estão apenas vendo o
fruto do seu mal entendimento do evangelho. A
evidência do que eles realmente são não está contido no que eles pensam que
sabem, mas a evidência do que eles realmente sabem está contida na forma como
se relacionam e tratam os outros.
A prova final dessa realidade vai atuar no fim dos tempos,
quando um grupo vai pensar que são representantes de Cristo e que eles entendem
o evangelho, mas a verdade vai ser vista em seu desejo de destruir aqueles que
discordam deles (Apoc.13:15-17, Jonas 16:1-2). Enquanto outro grupo vai estar
disposto a desistir de suas vidas se isto pudesse ajudar a salvar os seus
inimigos (Apoc. 12: 11).
O que você crê sobre Deus e salvação tem real, inerente
consequência que irá se manifestar na forma como nos relacionamos com os
outros. E isso pode ser abaixo do
nosso nível de pensamento consciente. Que
possamos ser mudados por contemplar a Deus em Jesus Cristo, para que nossa
experiência possa nos ensinar o que realmente sabemos sobre Deus, em vez de
crer que a teologia correta e a experiência errada sejam compatíveis.
—Bob Hunsaker
O irmão Roberto Hunsaker é
adventista por muitos anos, médico, e diretor do ministério pessoal de sua
Igreja Adventista do Sétimo Dia, na área de Boston, MA., U.S.A., e também
professor de sua unidade evangelizadora. Tem, também, um programa semanal na
rádio (AM WEZE 590) aos domingos à
noite, às 19:30 horas, em parceria com o Pr. Bill Brace, intitulado Portraits of God (Quadros de Deus).
_____________________