O CALVÁRIO NO SINAI
A LEI
E OS CONCERTOS
NA HISTÓRIA ADVENTISTA
DO 7º DIA
Por Paulo E. Penno Jr.
M. Div.
Andrews University
[pág.73] Capítulo 13, Ellen White Endossa o
Concerto
A
controvérsia sobre os dois concertos não foi resolvida pela igreja no instituto
dos ministros de 1890. Continuou a ser uma questão de controvérsia nos anos que
se seguiram. Mas Ellen White fez um anúncio público durante o instituto sobre
onde a autoridade divina repousou. As Escrituras eram a base para a doutrina e
a prática. A
Bíblia teria que resolver o assunto.
Havia
alguns, um sendo o Pr. J. O. Corliss, que estudou a Bíblia e entrou em acordo
sobre a lei e os dois concertos com E. J. Waggoner. Evidentemente, D. T.
Bourdeau era outro, uma vez que apresentara uma palestra com Waggoner em apoio
do melhor entendimento.
Ellen
White viu a questão sobre a lei em Gálatas como uma questão menor. Certamente,
não foi uma doutrina pioneira "histórica" da
igreja. Esta foi a razão pela qual ela não conseguiu entender por que causava
um "conflito incompreensível"1 em
Minneapolis. Mas na questão dos concertos, ela estava prestes a quebrar seu
silêncio.
Desde
a Assembleia de Minneapolis, Ellen White encorajou o estudo da Bíblia sobre
esse assunto. Nem E. J. Waggoner nem a palavra de Uriah Smith deveriam ser
tomadas pela verdade. Ela mesma tentou ficar fora da controvérsia ao não tomar
posição sobre a lei em Gálatas ou os dois concertos.
Agora
chegou a hora. A luz foi enviada do alto. Na quinta-feira, 6 de março de 1890,
Ellen White recebeu uma visão sobre o que o céu pensava sobre os dois
concertos. Ela
escreveu uma carta ao Pr. Smith no sábado seguinte, 8 de março.
Na
noite antes da última, foi-me mostrado que as evidências em relação aos concertos
eram claras e convincentes. Tu mesmo, o Irmão Dan T. Jones, o Irmão Porter e
outros estão gastando seus poderes de investigação por nada para produzir uma
posição sobre os concertos para divergir da posição que o Irmão Waggoner
apresentou. Se vocês tivessem recebido a verdadeira luz que brilha, não teríeis
imitado nem seguido a mesma maneira de interpretação e má interpretação das
Escrituras como os judeus. O que os tornou tão zelosos? Por que torciam as
palavras de Cristo? Por que espiões O seguiam para anotar as Suas palavras que
podiam repetir e interpretar mal e torcer de forma a significar o que suas
próprias mentes não santificadas os fariam interpretar. Dessa forma, enganaram
as pessoas. Eles criaram problemas falsos. Lidaram com essas [pág.74] coisas para poderem
anuviar e enganar as mentes das pessoas. A questão do concerto é uma questão
clara e será recebida por toda mente sincera e sem preconceitos, mas fui levada
aonde o Senhor me deu uma visão desta questão. Vós vos desviastes da luz
simples porque temiam que a questão da lei em Gálatas fosse aceita. Quanto à
lei em Gálatas, não tenho posição e nunca tive.2
Este
foi um forte endosso de Ellen White em relação aos dois concertos, conforme
apresentado por E. J. Waggoner. Evidentemente, o Senhor observava a grande
desunião na liderança da igreja. Ele queria juntá-los na verdade como está em
Jesus — se eles apenas caminhassem na luz como apresentada pelas Escrituras.
Uma
ilustração particularmente penetrante que Ellen White tirou da Escritura em
relação ao endosso da teologia do concerto de Waggoner foi a comparação entre
os judeus dos dias de Cristo e a liderança da igreja na época. Ela disse que
haviam confundido ideias que confundiam as pessoas.
Observamos
que, no contexto dos concertos, os judeus acreditavam que o concerto sinaítico
era a eleição indisputável de Deus do povo hebreu. Portanto, rejeitaram a
Cristo quando afirmava ser o Mediador do concerto de Deus.
Do
mesmo modo, o Pr. Smith apresentou uma visão do velho concerto que representava
Israel como o povo eleito de Deus
por meio do concerto com Abraão. A questão da condição do coração e da fé em
relação a Cristo era secundária às eleições de Deus. Havia um sabor
predestinariano em suas opiniões sobre o velho concerto. Ao apresentar suas
opiniões confusas, afirmando que o novo concerto não era mais a continuação do
velho concerto, o Pr. Smith estava atuando exatamente como os judeus fizeram
nos dias de Cristo, que torciam todas as Suas palavras e O interpretavam
mal para o povo. Ellen White disse: "Fortalecestes as mãos e as mentes de
homens como Larson, Porter, Dan T. Jones, Eldridge, Morrison e Nicola e um
grande número através deles. Todos vos citam, e o inimigo da justiça parece
satisfeito".3
Ellen White advertiu o Pastor Smith:
Se
te desviares de um raio de luz, temendo que ele implique uma aceitação de
posições que não desejas receber, [pág.75] essa luz torna-se-te em escuridão, que se estivesses em
erro, honestamente afirmarias que seria verdade.4
É claro, o Pr. Smith temeu que,
se concordasse com o ponto de diferença entre os dois concertos, então teria
que concordar com a questão da lei moral em Gálatas 3.
O
Pr. Smith tinha acabado de escrever para Ellen White em 17 de fevereiro de
1890, sobre essa preocupação. Ele podia ler a escrita na parede em relação a
qual direção ela estava se direcionando, e isso o perturbava muito. Ele teve
uma tal dissonância cognitiva que estava fazendo com que questionasse os
Testemunhos (*Testemunhos Para a Igreja,
hoje em 9 volumes). Se uma peça do dominó caísse em toda a sua teoria, então
todas iriam cair. O
Pastor Smith havia escrito a Ellen White sobre a (*posição de) Waggoner:
...A posição
sobre Gálatas, que considero errônea. . . . ele [E. J. Waggoner] assumiu sua posição
sobre Gálatas, a mesma que condenaste no pai dele [J. H. Waggoner].5
O
significado que ele colocou sobre esta questão foi esclarecido quando ele disse
a ela em termos inequívocos:
Como
me parece, depois da morte do irmão [Tiago] White, a maior desgraça que caiu
sobre a nossa causa foi quando o Dr. Waggoner colocou seus artigos do livro de
Gálatas através da revista Sinais dos
Tempos. Eu supunha que a questão da lei em Gálatas fora resolvida em 1856.
... Fiquei surpreso com os artigos, porque eles me pareciam, e ainda me
parecem, contrariar tão diretamente o que escrevestes para J. H. Waggoner. ...6
Smith
se opunha firmemente aos pontos de vista de Waggoner sobre a distinção entre os
dois concertos por causa de sua posição sobre a lei cerimonial em Gálatas 3.
Agora, no domingo, 9 de março de 1890, no dia seguinte ao
ela ter enviado o seu endosso sobre a questão do concerto para o Pr. Smith, Ellen White confidenciou ao seu filho William C. White:
[pág.76] Não tenho freios para aplicar
agora. Fico em perfeita liberdade, chamando luz, luz, e escuridão, escuridão.
Eu lhes disse ontem que a posição dos concertos como cria era a apresentada no
livro Patriarcas e Profetas, (*págs. 367 a 373). Se a posição do Dr. Waggoner
fosse aquela, ele tinha a verdade.7
A
liderança da igreja junto com Ellen White se reuniu no sábado, 8 de março, à
tarde, no escritório da capela da Review
and Herald.8 Na
segunda-feira, ela novamente escreveu para o filho dela:
Estou
muito satisfeita por saber que o professor Prescott está dando as mesmas lições
em sua aula aos estudantes que o irmão Waggoner tem dado. Ele está apresentando
os concertos. ... Desde que fiz a declaração, no último sábado, de que a visão
dos concertos, como foi ensinado pelo Irmão Waggoner, era a verdade, parece que
grande alívio veio a muitas mentes.9
No
domingo, 9 de março, Ellen White relatou o que aconteceu na reunião da tarde do
sábado:
Havia
um grande número de pessoas presentes. Os pastores Olsen10 e
Waggoner lideraram a reunião. A bênção de Deus veio sobre mim, e todos sabiam
que o Espírito e o poder de Deus estavam sobre mim, e muitos foram grandemente
abençoados. Falei
com seriedade e decisão. ...11
Ela
dirigiu sua atenção para a declaração do livro Patriarcas e Profetas, (*págs. 367 a 373). "(A Lei e os Concertos") sobre os
concertos e declarou estar em harmonia com o Dr. Waggoner. Esta foi uma reunião
pública crucial, porque o endosso da visão de Waggoner sobre os concertos foi
feito por carta ao Pr. Uriah Smith, [pág.77] William C. White e Mary White. Agora ela tornou a
"luz" conhecida num culto público.12
Ellen
White levantou-se para falar aquela tarde do sábado na capela do escritório
(*da Review and Herald). Disse-lhes
exatamente onde estava no conflito atual. Ela se referiu à revelação que lhe
fora dada na noite de quinta-feira, 6 de março, e disse:
...A
luz que me veio na noite anterior colocou tudo claro novamente perante mim, exatamente a influência que estava na
obra, e exatamente onde isso levaria. ... Estais caminhando sobre o mesmo
terreno que eles (*os judeus) percorreram nos dias de Cristo. Tivestes a
experiência deles; mas Deus nos livre. ... Bloqueastes o caminho de Deus. A
terra deve ser iluminada com a Sua glória (*referência a Apoc 18:1), e se vos
postardes onde vos postais hoje, podereis dizer com rapidez que o Espírito de
Deus foi o espírito do diabo. ...
...Não
fiqueis com o irmão Smith. Em
nome de Deus eu vos digo que ele não está na luz. Ele não tem estado
na luz desde que estava em Minneapolis. . . .
...Deixe
a verdade de Deus entrar em vossos corações; abri a porta. Agora digo-vos aqui
diante de Deus, que a questão do concerto, tal como foi apresentada (*pelo
irmão Waggoner), é a verdade.13
Ellen
White fez ligação da verdade da distinção dos dois concertos, conforme
apresentado por E. J. Waggoner como luz do Espírito Santo.
Esta
era a mesma luz do evangelho eterno que iluminaria a terra com a Sua glória
(Apocalipse 18: 1). Rejeitar a verdade dos concertos foi rejeitar o Espírito de
Deus e chamá-Lo de demônio. Este foi o mesmo tipo de trato que os judeus
praticaram com a verdade que Cristo apresentou.
Dar
credito à visão do Pr. Smith sobre os concertos era correr nos canais da
escuridão. Sua visão dos concertos foi revisada muitas vezes. Então, àquelas
alturas devia ter havido uma distinção clara entre o que era verdade e erro. Não havia dúvida de onde [pág.78] Ellen White estava a respeito dos concertos. Ela estava com E. J.
Waggoner. O concerto eterno era a luz da
justificação pela fé. Era a luz a ser compartilhada com o mundo (*ver Testemunhos para Minsitros, pág.92). Com a sua recepção, a bênção do Espírito Santo terminaria a obra.
No
início de 1890, Ellen White estava trabalhando em uma expansão do Volume Um da
série Espírito da Profecia (*hoje Patriarcas e Profetas. Veja as págs. 367 a 373, o capítulo: "A Lei e os Concertos). Quando recebeu a confirmação divina em 6 de março de
1890, da posição de Waggoner sobre os dois concertos, ela o incorporou em sua
edição revista intitulada Patriarcas e
Profetas.14 Este
era um material completamente novo. Foi uma das melhores declarações sobre a
relação entre os concertos e a justiça pela fé.15
Patriarcas e Profetas foi publicado em 26 de agosto de 1890.16 Ellen White disse:
O
concerto de graça foi feito primeiramente com o homem no Éden. ... Este mesmo
concerto foi renovado a Abraão. ... Esta promessa apontava para Cristo. Assim
Abraão a compreendeu (veja Gálatas 3: 8, 16), e confiou em Cristo para perdão
dos pecados. Foi esta fé que lhe foi atribuida como justiça. O Concerto com
Abraão mantinha também a autoridade da lei de Deus. ...(*Patriarcas e Profetas, pág.370)
A
lei de Deus foi a base desse concerto, que era simplesmente uma disposição
destinada a levar os homens de novo à harmonia com a vontade divina,
colocando-os onde poderiam obedecer à lei de Deus.(*ìdem, pág. 371)
Outro
pacto, chamado na Escritura o "velho" concerto, foi formado entre
Deus e Israel no Sinai, e foi então ratificado pelo sangue de um sacrifício. O
concerto abraâmico foi ratificado pelo sangue de Cristo, ...17 (*Ibidem).
Ellen
White distinguiu entre os dois concertos sobre quando e como foram ratificados.
Ela não os
confundiu com fez o Pr. Porter.
Então
ela afirmou a validade do novo concerto para os tempos do Antigo Testamento.
Que
o novo concerto era válido nos dias de Abraão evidencia-se do fato de que foi
confirmado tanto pela promessa como pelo juramento de Deus, "duas coisas imutáveis, nas quais é
impossível que Deus minta". Hebreus
6:18.18 (*Ibidem).
Ellen White continuou suas
observações sobre os concertos:
Mas,
se o concerto abraâmico continha a promessa da redenção, por que se formou
outro concerto no Sinai? Em seu cativeiro, o povo em grande parte perdera o
conhecimento de Deus e os princípios do concerto abraâmico. Libertando-os do
Egito, Deus procurou revelar-lhes Seu poder e misericórdia, a fim de que fossem
levados a amá-Lo e confiar nEle. Trouxe-os ao Mar Vermelho — onde, perseguidos
pelos egípcios, parecia impossível escaparem — a fim de que se compenetrassem
de seu completo desamparo, e da necessidade de auxílio divino; e então lhes
operou o livramento. Assim eles se encheram de amor e gratidão para com Deus, e
de confiança em Seu poder para os ajudar. Ele os ligara a Si na qualidade de
Libertador do cativeiro temporal. ... (*Ibidem).
Vivendo
no meio da idolatria e corrupção, não tinham uma concepção verdadeira da
santidade de Deus, da excessiva pecaminosidade de seu próprio coração, de sua
completa incapacidade para, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e
de sua necessidade de um Salvador. Tudo
isso deveria ser-lhes ensinado. ... (*Ibidem).
...O
povo não compreendia a pecaminosidade de seus corações, e que sem Cristo lhes
era impossível guardar a lei de Deus; e prontamente entraram em concerto com
Deus. Entendendo que eram capazes de estabelecer sua própria justiça,
declararam: "Tudo o que o Senhor tem
falado, faremos e obedeceremos" (Êxodo 24: 7). . . . Apenas algumas
semanas se passaram antes que violassem seu concerto com Deus e se curvassem
para adorar uma imagem esculpida. Não poderiam esperar o favor de Deus mediante
um concerto que tinham violado; e agora, vendo sua índole pecaminosa e
necessidade de perdão, foram levados a sentir que necessitavam do Salvador
revelado no concerto abraâmico e prefigurado nas ofertas sacrificais. Agora,
pela [pág.80] fé e
amor, uniram-se a Deus como seu Libertador do cativeiro do pecado. Estavam
então, preparados para apreciar as bênçãos do novo concerto. (*Idem, págs. 371 e 372)
As
condições do "velho concerto" eram: Obedece e vive ... O "novo
concerto" foi estabelecido com
"melhores promessas:" promessas
do perdão dos pecados, e da graça de Deus
para renovar o coração e levá-lo à harmonia com os princípios da lei de Deus.19 (*Idem, pág.372)
Aqui,
ela pegou o tema de Waggoner de que não havia "esperança para o favor de
Deus" em seu concerto quebrado. A sua pecaminosidade tornou-se óbvia. Eles
sentiram "sua necessidade de perdão". Foram levados ao Salvador do
concerto abraâmico. Agora, em vez de chegar com suas promessas, eles se ligavam
a Deus por "fé e amor genuínos". Eles tiveram uma nova apreciação por
Sua libertação da "escravidão" do pecado.
Refletidos
em suas declarações foram os termos exatos que Waggoner usou para descrever as
relações entre o velho e o novo concertos. Se o Espírito Santo alguma vez endossou
um conceito mais claramente, foi o concerto eterno da mensagem de 1888.
Ellen
White enfatizou o ponto de Waggoner de que o velho concerto era o legalismo. A
promessa do novo concerto por si só proporcionava o perdão do pecado e o
auxílio divino. A declaração de Patriarcas
e Profetas foi um dos comentários mais bonitos e sucintos sobre as boas
novas do concerto eterno já escrito à parte da Escritura.
Ao
terem oportunidade em vários locais, aqueles com a luz dos consertos expuseram
a verdade às pessoas. Isto
foi recebido por alguns no campo.
Podemos resumir brevemente os
eventos significativos do instituto bíblico dos ministros.
No
sábado, 8 de março de 1890, Ellen White deu testemunho à liderança da igreja.
Ela recebeu uma visão noturna, em 6 de março, confirmando que o Pr. Waggoner
teve a luz sobre a questão do concerto. Ela também confirmou isso por cartas
escritas para Uriah Smith e William C. White.
Embora
Dan Jones não estivesse presente no dia 8 de março, quando Ellen White
pronunciou seu apoio público aos pontos de vista do concerto de E. J. Waggoner,
certamente era de conhecimento público. Ao retornar a Battle Creek, ele deve
ter sido informado do que ela disse. Apesar
do endosso dela, Dan Jones escreveu:
[pág.81] Parecia por algum
tempo que a Irmã White iria sair e endossar a posição do Dr. Waggoner sobre a
questão do concerto completamente, e foi uma grande perplexidade para mim saber
como considerar o assunto; pois parecia-me claro que suas posições não estavam
corretas. Mas ... a questão da doutrina não era o ponto importante da questão.
A Irmã White e o Dr. Waggoner disseram que não se importavam com o que
acreditávamos na lei em Gálatas ou nos concertos. ...20
Dan
Jones presumia que nem Ellen White nem E. J. Waggoner achavam que a lei ou os
concertos eram questões cruciais.
No
entanto, a evidência indica que E. J. Waggoner nunca renunciou à sua posição
sobre a lei moral em Gálatas 3 ou a distinção entre o velho e novo concertos.
Quanto a Ellen White, ela endossou sua visão dos concertos, mas ainda não disse
nada sobre a questão da lei.
Outra
falsa suposição segundo a qual Dan Jones estava operando era que Waggoner havia
aceitado um ponto-chave de seu ensino. Dan Jones escreveu que Waggoner havia
"abandonado a posição de que no velho concerto as promessas eram todas da
parte do povo e nenhuma por parte de Deus".21 Não
havia nenhuma evidência de que Wagoner desistiu dessa posição.
Dan
Jones parecia aliviado quando escreveu para J. H. Morrison:
Compreendi
que havia uma importância considerável em relação aos pontos de doutrina
envolvidos nas questões da lei em Gálatas e nos dois cocertos.22
Então,
se não houvesse uma questão doutrinária real, onde o conflito reside?
Em
sua própria mente, Dan Jones descobriu o problema real. Ele escreveu para R. M.
Kilgore:
É
somente o espírito que se manifestou a que ela se opôs, e a que o Pr. Waggoner
toma exceção. Tanto a Irmã White quanto o Dr. Waggoner declararam que as
questões doutrinários não eram os pontos em questão. Então, isso remove o ponto
real que estava na minha mente o tempo todo.23
Ele
havia racionalizado que essa doutrina não era importante. Desta forma, ele
poderia criar alguma aparência de ordem em sua mente conflituosa.
Mas
suas racionalizações esperançosas não lhe trouxeram paz porque ele disse:
"... A escola dos ministros está quase acabando. A investigação sobre a
questão do concerto fechou sem maior satisfação do que antes de começado"24 Pobre Dan Jones! Uma vez que o Espírito da verdade
tinha sido fechado, tornou-se mais fácil para ele caminhar à luz de sua própria
iluminação. A
verdade tornou-se muito confusa para ele.
No
domingo, 16 de março, realizou-se outra reunião na capela do escritório. Alguns
dos principais irmãos reuniram-se. Ellen White relatou o que aconteceu. Ela escreveu ao filho William
C. White:
O irmão Dan Jones falou então. Ele
afirmou que estava tentado a desistir dos Testemunhos
Para a Igreja; mas se ele fizesse isso, ele sabia que ele devia desistir de
tudo, pois tínhamos considerado os testemunhos como interligados com a mensagem
do terceiro anjo; e falou de terríveis cenas de tentações. Eu realmente tinha
pena do homem.25
Esta
deve ter sido uma cena triste para ela testemunhar. Ellen White falou da
resistência teimosa por parte de alguns líderes à mensagem de Deus.
No
domingo de manhã, embora cansada e quase desanimada, arrisquei-me na reunião.
... Destaquei diante deles o que fizeram para não produzir nenhum efeito sobre
o que o Senhor estava tentando fazer e por quê. A lei em Gálatas era o seu único pedido.
"Por
que", perguntei, "a vosa interpretação da lei em Gálatas é-vos mais
cara, e sois mais zelosos para manter suas ideias sobre este ponto, do que
reconhecer o trabalho do Espírito de Deus? Tendes pesado cada precioso
Testemunho enviado por vossas próprias balanças na interpretação da lei em
Gálatas". Nada poderia vos alcançar em relação à verdade e ao poder de
Deus, a menos que traga a vossa impressão, as preciosas ideias que tendes
entesourado sobre a lei de Gálatas.
Estes
testemunhos do Espírito de Deus, os frutos do Espírito de Deus, não têm peso a
menos que estejam marcados [pág.83]
com vossas ideias da lei em Gálatas. Tenho medo de vós e tenho medo de vossa
interpretação de qualquer passagem que tenha revelado um espírito tão
destituido de Cristo como manifestastes e me custou tanto trabalho
desnecessário. Se sois tão cautelosos e tão críticos em não receber algo que
não esteja de acordo com as Escrituras, quero que suas mentes olhem essas
coisas na verdadeira luz. Deixai vossa cautela ser exercida na linha do temor,
que estejais cometendo o pecado contra o Espírito Santo. Acaso as vossas mentes
críticas vos levaram essa visão do assunto? Digo-vos que se vossas opiniões
sobre a lei em Gálatas e seus frutos são do caráter que eu vi em Minneapolis e
desde então até agora, minha oração é que eu esteja tão longe de vossa
compreensão e interpretação das Escrituras quanto me for possível. Tenho medo
de qualquer aplicação da Escritura que precise de tal espírito e tenha como
frutos a sua manifestação. Uma coisa é certa, nunca vou entrar em harmonia com
esse espírito, desde que Deus me conserve a razão. ...
Agora,
irmãos, não tenho nada a dizer, nenhum peso em relação à lei em Gálatas. Esta
questão me parece de menor importância em comparação com o espírito que
trouxestes para a vossa fé. É exatamente da mesmo tipo que manifestaram os
judeus em referência ao trabalho e missão de Jesus Cristo. O testemunho mais
convincente que podemos dar a outros de que temos a verdade é o espírito que
acompanha a defesa dessa verdade. Se santifica o coração do receptor, se torna
a pessoa gentil, amável, tolerante, verdadeiro e semelhante a Cristo, então
esta dará alguma evidência de que tem a verdade genuína. Mas se age como os
judeus quando suas opiniões e ideias eram contrariadas, certamente não podemos
receber tal testemunho, pois não produz os frutos da justiça. Suas próprias
interpretações da Escritura não eram corretas, mas os judeus não receberiam
evidências da revelação do Espírito de Deus, quando suas ideias fossem
contrariadas, e até mesmo matariam o Filho de Deus.26
Ficou
claro que o erro trouxe consigo um espírito de perseguição. A verdade foi
evidenciada pelo Espírito de Deus manifestado na vida. Ellen White tinha o dom
do discernimento. Ela não queria nada com [pág.84] as interpretações humanas da Bíblia que
conduziam a tal atitude que, se a elas se dessem rédeas soltas, até
"matariam o Filho de Deus".
O
Espírito Santo os conduziu a uma verdade adicional em relação à distinção dos
dois concertos e justiça pela fé, mas eles estavam resistindo à luz.27 Temiam que, se acreditassem nos dois concertos como
ensinados por Waggoner, eles teriam que desistir de suas noções acaloradas
sobre a lei cerimonial em Gálatas 3.
Estava
claro até este ponto que Ellen White não tinha adotado uma posição sobre a lei
em Gálatas 3. Ela tomou uma posição pública sobre a distinção entre os dois
concertos, endossando a visão de Waggoner. Os irmãos estavam se apegando a suas
interpretações arraigadas da lei em Gálatas 3 ser a cerimonial. Não queriam
admitir a questão dos concertos por temor do que com isso teriam que concluir
na questão da lei, e tornaram-se hostis para com os mensageiros do
Senhor sobre o assunto.
Neste
contexto, Ellen White disse: "A lei em Gálatas não é uma questão vital e
nunca foi".28 Ela
deixava claro o que estava rejeitando. "Sou forçada, pela atitude que meus
irmãos tomaram e o espírito evidenciado, dizer: Deus me livre de suas ideias
sobre a lei em Gálatas ..."29
Ela
estava se afastando da posição deles quanto à lei cerimonial. Discernia os
trágicos resultados do que estava fazendo para a igreja. O Espírito Santo e a
verdade estavam sendo rejeitados. Ela sentiu que "sua visão" não
poderia estar certa.
Ao
não apreciar o Espírito de Cristo, assumindo posições erradas na controvérsia
sobre a lei em Gálatas —
uma questão que muitos não compreendiam completamente antes de tomar uma
posição errada — a
igreja sofreu uma triste perda.30
Em
27 de fevereiro de 1891, Ellen White estava agora afirmando que a posição sobre
a lei cerimonial em Gálatas estava errada.
Ellen
White foi bastante contundente no sábado, 8 de março, quando endossou os
concertos apresentados por Waggoner.
[pág.85] Agora digo-vos aqui
diante de Deus, que a questão do concerto, tal como foi apresentada, é a
verdade. É a luz. Em linhas claras foi colocado diante de mim. E àqueles que
têm resistido à luz, pergunto se estão trabalhando para Deus, ou para o diabo.
... Eu falei ao irmão Dan Jones, não lhe direi minha opinião; minha fé. Busque na Bíblia.31
Ela
não comentou com Dan Jones a opinião dela. Endossou a luz que veio da Bíblia
sobre os dois concertos.
Além
disso, ela estava muito preocupada com o espirito que era revelado. Ela fez a
ligação disso com as opiniões errôneas deles sobre a lei e os concertos.
Estes
testemunhos do Espírito de Deus, os frutos do Espírito de Deus, não têm peso a
menos que estejam marcados com suas ideias da lei em Gálatas. Tenho medo de vós
e tenho medo de vossa interpretação de qualquer passagem que revele um espírito
tão destituido de Cristo como manifestastes e me custou tanto trabalho
desnecessário. ... Digo-vos que se vossas opiniões sobre a lei em Gálatas e os
frutos são do carater que eu vi em Minneapolis e desde então até agora, minha
oração é que eu esteja tão longe da vossa compreensão e interpretação das
Escrituras quanto me for possível. Tenho medo de qualquer aplicação da
Escritura que precise de tal espírito e tenha como frutos a sua manifestação.
Uma coisa é certa, nunca vou entrar em harmonia com esse espírito enquato Deus
me conservar a razão.32
Ela relacionou as suas
doutrinas como sendo a fonte do espírito deles.
Os
falsos ensinamentos exigiam um espírito severo e ditador para impô-los porque
não podiam ser demonstrados pelas Escrituras. Descartar a verdade por causa da
experiência foi um falso dilema. Ambos eram absolutamente essenciais para
produzir um resultado semelhante a Cristo.
Quatro
anos depois (1º de junho de 1894), Ellen White disse tanto de Butler quanto de
Smith, que eles "levaram seu próprio curso" quando se tratava da luz
de Deus.
O trabalho do Senhor precisava
de todo jota e til de experiência que Ele tinha concedido aos pastores Butler e
Smith, mas eles [pág.86]
tomaram o seu
próprio rumo em algumas coisas independentemente da luz que Deus concedeu.33
Isto
mais do que confirmou o valor das confissões oferecidas à igreja pelos pastores
Butler e Smith. Por mais sinceros que estivessem em suas desculpas, eles
continuaram a se opor à mensagem e aos mensageiros.
Eles
nunca apoiaram os conceitos-chave da distinção entre os dois concertos, tal
como aprovado por Ellen White. A. G. Daniells escreveu para William C. White
sobre esse fato anos depois (1902).
Não só os homens mais velhos que estavam na obra quando o
Irmão Butler, o Irmão Morrison e outros combateram nessa batalha, mas alguns
dos mais novos que estão vindo, têm absorvido essas antigas heresias dos homens
no campo, que ainda não estão convertidos para esta nova luz.34
E
assim a resistência à luz sobre a justiça pela fé e sua relação com os dois
concertos continuou por décadas.
O
conceito de E. J. Waggoner sobre os dois concertos incluía dois modelos
escriturísticos. Primeiro, o primeiro ou velho concerto ratificado pelo
sacrifício animal foi feito com a antiga nação israelita, tendo como base a
promessa do povo, "tudo o que o Senhor
tem falado, faremos" (Êxodo 19: 8). Para este concerto, Deus atribuiu
graciosamente as adições; ou seja, o sacerdócio levítico, o tabernáculo, os dez
mandamentos escritos em pedra, a lei dos sacrifícios e das festas, a fim de que
pudesse ensinar a Israel a respeito da necessidade da promessa graciosa de Deus
encontrada somente em Seu concerto eterno.
Em
segundo lugar, Waggoner ensinava o modelo igualmente bíblico do velho e novo
concertos como duas experiências distintas do coração derivadas de Gálatas 3. A
antiga experiência do coração do concerto era a promessa autossuficiente de
obedecer, das pessoas; enquanto o novo concerto
ou a experiência eterna do coração do concerto
era afirmativo de fé, "Amém",
fundamentada na promessa unilateral de Deus.
Embora
tenha sido escrito por Waggoner três anos após o artigo do Instituto dos
Ministros, intitulado "O Dia do
Descanso", expressava essas duas experiências do coração, chamando-as
de duas diferentes dispensações experienciais:
...A "dispensação
cristã" começou para o homem bem cedo, a partir da queda. Há, de fato, duas dispensações, uma dispensação de pecado e
morte, e uma dispensação de [pág.87] justiça e vida, mas essas
duas dispensações correm paralelas a partir da queda. Deus lida com os
homens como indivíduos, e não como nações, nem segundo o século em que vivem.
Não importa qual seja o período da história do mundo, um homem pode em qualquer
momento passar da antiga dispensação para a nova.35
O
velho concerto e o novo concerto foram duas experiências paralelas que
atravessaram os corredores do tempo: tanto na antiga dispensação cronológica
quanto na nova dispensação.
Waggoner
escreveu: "A lei e o Evangelho estavam
unidos no Sinai, como em qualquer outro
lugar. A glória do Calvário estava
brilhando no Sinai, tão claramente como brilha agora".36 O Calvário no Sinai expressou a unidade do
evangelho e a lei revelada ao antigo Israel. Sinai era o evangelho e a lei
combinada em Cristo. Cristo
na lei e a lei em Cristo.
As duas dispensações eram duas pistas paralelas que
haviam corrido paralelas desde a queda. "A antiga dispensação é o “eu”, mas a nova dispensação é Cristo".37 As dispensações
eram dois princípios diferentes em operação nos corações humanos. Eram
condições do coração. Quão belo e
simples era o concerto eterno de Deus.
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Notas Finais:
1) E. G. White, carta a Mary
White, de 4 de novembro de 1888, Minneapolis, Minnesota, obra citada, pág. 182;
2)
Ellen White, carta a Uriah Smith, de 8 de março de 1890, Battle Creek, Mich.,
carta 59, 1890, obra citada, pág. 604.;;
3) Idem, pág. 599;
4) Idem, pág. 605;
5) Uriah Smith, carta a E. G. White, de 17 de fevereiro
de 1890, Battle Creek, Michigan. Manuscripts and Memories of Minneapolis (Manuscritos
e Memórias de Minneapolis) Casa
Publicadora do Pacífico, Boise, Idaho: 1988, pág.154;
6) Ibidem, págs. 152, 153. Os artigos aos quais o pastor
Smith se referiu foram a série de nove partes de E. J. Wagoner "Comentários
sobre Gálatas 3", Signs of the Times
de 8 de julho a 2 de setembro de 1886);
7) E. G. White, carta a William C. White e Mary
White, de 9 de março de 1890, Battle Creek, Michigan, obra citada, pág. 617.
8) Ibidem;
9)
E. G. White, carta a seu filho William C. White e nora Mary White, de 10 de
março de 1890, Battle Creek, Michigan, obra citada, pág. 623;
10) Olsen relatou:
"...Eu acho que provavelmente há mais nesta questão do concerto do que
estamos cientes em algumas coisas. A sra. White se manifestou num modo muito
assinalado.” Carta de O. A. Olsen a R. A. Underwood, de 18 de março de 1890,
Battle Creek, Michigan;
11)
Carta de E. G. White a seu filho William C. White e nora Mary White, de 9 de
março de 1890, Battle Creek, Michigan. Materiais
de Ellen G. White sobre 1888, pág.
617;
12) Infelizmente, um líder importante não estava lá nessa
reunião. Dan Jones perdeu este anúncio crucial por dois dias. Ellen White escreveu
para seu filho William C. White: "Eu soube que o Irmão Don Jones chegou em
casa esta tarde." Isso foi em 10 de março. A carta de E. G. White, a
William C. White e Mary White, de 10 de março de 1890, Battle Creek, Michigan,
obra citada, pág. 623. Ele estava no estado de Tennessee para o julgamento de
King. Carta de Dan T. Jones, a R. M. Kilgore, de 16 de março de 1890;
13)
E. G. White, Sermão, de 8 de março de 1890, Battle Creek, Michigan, obra
citada, págs. 593, 594, 596;
14)
E. G. White, “The Law and the
Covenants,” (A
Lei e os Concertos), Patriarcas e
Profetas (Casa Publicadora do Pacífico, Oakland, Califórnia: 1890) págs.
363-373;
15)
Livro de Tim Crosby, “Ellen G. White and the Law in Galatians: A
Study in the Dynamics of Present Truth,” (Ellen G. White
e a Lei em Gálatas: um Estudo sobre a Dinâmica da Verdade Presente") pág.
28;
16)
Veja Ron Duffield, “The Return of the Latter Rain,” (O Retorno da Chuva Serôdia),
Manuscritos não publicados.
17) E. G. White, Patriarcas
e Profetas, págs. 370, 371;
18) Idem, pág. 371;
19) Idem, pág. 371, 372, ênfse acrescida;
20)
Dan T. Jones, carta a J. H. Morrison, de 17 de março de 1890, Battle Creek,
Michigan, pág. 3;
21) Idem, pág. 4;
22) Ibidem;
23) Dan T. Jones, carta a
R. M. Kilgore, 16 de março de 1890, pág. 2;
24) Ibidem;
25) E. G. White, carta a William C. White e Mary
White, de 16 de março de 1890, Battle Creek, Michigan. Materiais de Ellen G. White sobre 1888,
pág. 629;
26) Idem, págs. 631, 632, ênfase acrescida;
27) Nesta reunião da manhã de domingo, Ellen White falou
perante o instituto ministerial dizendo: "Eu sei que Ele tem uma benção
para nós. Ele teve isso em Minneapolis, e Ele teve isso para nós na Assembléia
da Associação Geral aqui. Mas não houve recepção. Alguns receberam a luz para o
povo e se alegraram com isso. Depois, havia outros que a rejeitaram, e sua
posição deu confiança aos outros para falar em descrença. ..." Materiais
de Ellen G. White sobre 1888, pág. 640;
28) Idem, pág. 841;
29) Ibidem;
30) E. G. White, Entrada no diário, 27 de fevereiro de
1891. Materiais de Ellen G. White sobre 1888, pág. 894. Ênfase acrescida.
31) E. G. White, "Sermão", de 8 de março de
1890, obra citada, págs. 596, 597;
32) E. G. White, carta a William C. White e esposa, de 13
de março de 1890, Materiais de Ellen G. White sobre 1888, págs. 631, 632. Aqui, ela discutiu as atitudes dos irmãos
oponentes;
33)
E. G. White, carta a S. N. Haskell, de 1º de junho de 1894. Obra citada pág.
1248;
34)
A. G. Daniells, Carta a William C. White, de 14 de abril de 1902, Battle Creek,
Michigan. Materiais de Ellen G. White sobre 1888, pág. 320;
35)
E. J. Wagoner, “The Day of Rest,” (O Dia do
Descanso, The Present Truth, pág. 356
de 7 de setembro de 1893).
36) Idem, pág. 357;
37) Idem, pág. 358.
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