Índice da 3ª parte - Capítulos 7 a 10
7 O Fim dos
2.300 Dias de Daniel 8:14 / 77
8 O
Glorioso Templo no Céu / 85
9 Nosso
Sumo Sacerdote no Santo dos Santos / 97
10 Encerramento do Ministério de Cristo no
Santuário Celestial / 109
CAPÍTULO 7 - O Fim dos 2.300
Dias de Daniel 8:14
[Pág. 77] Na profecia da
mensagem do primeiro anjo, no capítulo 14 de Apocalipse, é predito um grande
despertamento religioso sob a proclamação da breve vinda de Jesus. É visto um
anjo a voar "pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o
proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e
povo". "Com grande voz" ele proclama a mensagem: "Temei a
Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que
fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas." Apoc. 14:6 e 7.
É significativo o fato de afirmar-se ser um anjo o
arauto desta advertência. Pela pureza, glória e poder do mensageiro celestial,
a sabedoria divina foi servida de representar o caráter exaltado da obra a
cumprir-se pela mensagem, e o poder e glória que a deveriam acompanhar. E o vôo
do anjo "pelo meio do céu", "a grande voz" com que é
proferida a advertência, e sua proclamação a todos os "que habitam sobre a
Terra", "a toda a nação, e tribo, e língua, e povo", evidenciam
a rapidez e extensão mundial do movimento. ...
Como a grande reforma do século dezesseis, o
movimento do advento apareceu simultaneamente em vários países da cristandade.
Tanto na Europa como na América, homens de fé e [Pág. 78] oração foram levados a estudar as profecias e, seguindo o
relatório inspirado, viram provas convincentes de que o fim de todas as coisas
estava próximo. Em diferentes países houve grupos isolados de cristãos que,
unicamente pelo estudo das Escrituras, creram na proximidade do advento do
Salvador. ...
A Guilherme Miller e seus cooperadores coube a
pregação desta advertência na América do Norte. Este país se tornou o centro da
grande obra do advento. Foi aqui que a profecia da mensagem do primeiro anjo
teve o cumprimento mais direto. Os escritos de Miller e seus companheiros foram
levados a países distantes. Em todo o mundo, onde quer que houvessem penetrado
missionários, para ali se enviaram as alegres novas da breve volta de Cristo.
Por toda parte se propagou a mensagem do evangelho eterno: "Temei a Deus,
e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo." ...
Aguardando em Calma Expectação
Com inexprimível desejo, os que haviam recebido a
mensagem aguardavam a vinda do Salvador. O tempo em que esperavam encontrar-se
com Ele estava às portas. Com calma e solenidade viam aproximar-se a hora.
Permaneciam em doce comunhão com Deus, como que antegozando a paz que desfrutariam
no glorioso futuro. Pessoa alguma que haja experimentado esta confiante
esperança, poderá esquecer-se daquelas preciosas horas de expectativa. Algumas
semanas antes do tempo, as ocupações seculares foram em sua maior parte postas
de lado. Como se estivessem no leito de morte, e devessem dentro de poucas
horas cerrar os olhos às cenas terrestres, os crentes sinceros examinavam
cuidadosamente todos os pensamentos e emoções de seu coração. Não houve
confecção de "vestes para a ascensão"; todos sentiam, porém, a
necessidade de evidência íntima de que estavam preparados para encontrar-se com
o Salvador; suas vestes brancas eram a pureza da alma - o caráter purificado do
pecado pelo sangue expiatório de Cristo. Oxalá ainda houvesse entre o povo
professo de Deus o mesmo espírito de exame do coração, a mesma fé, ardorosa e
resoluta. Houvessem eles desta maneira continuado a humilhar-se perante o
Senhor, a instar com suas petições no propiciatório, e estariam de posse de uma
experiência muito mais rica do que aquela que ora possuem. Há muito pouca
oração, muita falta de verdadeira convicção do pecado, e a ausência de uma fé
viva deixa [Pág. 79] a muitos destituídos da graça tão ricamente provida por
nosso Redentor.
Deus intentara provar o Seu povo. Sua mão ocultou um
erro no cômputo dos períodos proféticos. Os adventistas não descobriram esse
erro; tampouco foi descoberto pelos mais instruídos de seus oponentes. Estes
últimos diziam: "Vossa contagem dos períodos proféticos é correta.
Qualquer grande acontecimento está prestes a ocorrer; mas não é o que o senhor
Miller prediz: é a conversão do mundo, e não o segundo advento de Cristo."
Passou-se o tempo de expectação e Cristo não
apareceu para o libertamento de Seu povo. Os que com fé e amor sinceros haviam
esperado o Salvador, experimentaram amargo desapontamento. Todavia, os
propósitos de Deus se cumpriam: estava Ele a provar o coração dos que
professavam estar à espera de Seu aparecimento. Muitos havia, entre eles, que
não tinham sido constrangidos por motivos mais elevados do que o medo. A
profissão de fé não lhes transformara o coração nem a vida. Não se realizando o
acontecimento esperado declararam essas pessoas que não se achavam
decepcionadas; nunca tinham crido que Cristo viria. Contavam-se entre os
primeiros a ridicularizar a tristeza dos verdadeiros crentes.
Mas Jesus e toda a hoste celestial olhavam com amor
e simpatia para os provados e fiéis, embora decepcionados. Pudesse descerrar-se
o véu que separava o mundo visível do invisível, e ter-se-iam visto anjos
aproximando-se daquelas almas constantes, escudando-as dos dardos de Satanás. O
Grande Conflito, págs. 355-374.
Reexaminadas as Escrituras
Quando se passou o tempo em que pela primeira vez
se esperou a vinda do Senhor, na primavera de 1844, os que pela fé haviam
aguardado o Seu aparecimento ficaram por algum tempo envoltos em perplexidade e
dúvida. Embora o mundo os considerasse inteiramente derrotados, e julgasse
provado que tivessem seguido uma ilusão, sua fonte de consolo era ainda a
Palavra de Deus. Muitos continuaram a pesquisar as Escrituras, examinando de
novo as provas de sua fé, e estudando cuidadosamente as profecias para obterem
mais luz. O testemunho da Bíblia em apoio de sua atitude parecia claro e
conclusivo. Sinais que não poderiam ser malcompreendidos apontavam para a vinda
de Cristo como estando próxima. A bênção especial [Pág. 80] do Senhor, tanto na
conversão de pecadores como no avivamento da vida espiritual, entre os
cristãos, havia testificado que a mensagem era do Céu. E, posto que os crentes
não pudessem explicar o desapontamento, sentiam-se seguros de que Deus os
guiara na experiência por que haviam passado.
Entretecida com as profecias que tinham considerado
como tendo aplicação ao tempo do segundo advento, havia instrução especialmente
adaptada ao seu estado de incerteza e indecisão e que os animava a esperar
pacientemente na fé segundo a qual o que então lhes era obscuro à inteligência
se faria claro no tempo devido. ...
No verão de 1844, período de tempo intermediário
entre a época em que, a princípio, se supusera devessem terminar os 2.300 dias,
e o outono do mesmo ano, até onde, segundo mais tarde se descobriu, deveriam
eles chegar, a mensagem foi proclamada nos próprios termos das Escrituras:
"Aí vem o Esposo!"
O que determinou este movimento foi descobrir-se
que o decreto de Artaxerxes para a restauração de Jerusalém, o qual estabelecia
o ponto de partida para o período dos 2.300 dias, entrou em vigor no outono do
ano 457 antes de Cristo, e não no começo do ano, conforme anteriormente se
havia crido. Contando o outono de 457, os 2.300 anos terminam no outono de
1844.
Tipos no Cerimonial do Santuário
Argumentos aduzidos dos símbolos do Antigo
Testamento apontavam também para o outono como o tempo em que deveria ocorrer o
acontecimento representado pela "purificação do santuário". Isto se
tornou muito claro ao dar-se atenção à maneira por que os símbolos relativos ao
primeiro advento de Cristo se haviam cumprido.
A morte do cordeiro pascal era sombra da morte de
Cristo. Diz Paulo: "Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós." I
Cor. 5:7. O molho das primícias, que por ocasião da Páscoa era movido perante o
Senhor, simbolizava a ressurreição de Cristo. ...
Aqueles símbolos se cumpriram, não somente quanto
ao acontecimento mas também quanto ao tempo. No dia catorze do primeiro mês
judaico, no mesmo dia e mês em que, durante quinze longos séculos, o cordeiro
pascal havia sido morto, Cristo, tendo comido a Páscoa com os discípulos,
instituiu a [Pág. 81] solenidade que
deveria comemorar Sua própria morte como o "Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo". Naquela mesma noite Ele foi tomado por mãos ímpias, para
ser crucificado e morto. E, como o antítipo dos molhos que eram agitados, nosso
Senhor ressurgiu dentre os mortos ao terceiro dia, como - "as primícias
dos que dormem" (I Cor. 15:20), exemplo de todos os ressuscitados justos,
cujo "corpo abatido" será transformado, "para ser conforme o Seu
corpo glorioso". Filip. 3:21.
De igual maneira, os tipos que se referem ao
segundo advento devem cumprir-se ao tempo designado no culto simbólico. No
cerimonial mosaico, a purificação do santuário, ou o grande dia da expiação,
ocorria no décimo dia do sétimo mês judaico (Lev. 16:29-34), dia em que o sumo
sacerdote, tendo feito expiação por todo o Israel, e assim removido seus
pecados do santuário, saía e abençoava o povo. Destarte, acreditava-se que
Cristo, nosso Sumo Sacerdote, apareceria para purificar a Terra pela destruição
do pecado e pecadores, e glorificar com a imortalidade a Seu povo expectante. O
décimo dia do sétimo mês, o grande dia da expiação, tempo da purificação do
santuário, que no ano 1844 caía no dia vinte e dois de outubro, foi considerado
como o tempo da vinda do Senhor. Isto estava de acordo com as provas já
apresentadas, de que os 2.300 dias terminariam no outono, e a conclusão parecia
irresistível. ...
Cuidadosa e solenemente os que receberam a mensagem
chegaram ao tempo em que esperavam encontrar-se com o Senhor. Sentiam como
primeiro dever, cada manhã, obter a certeza de estar aceitos por Deus. De
corações intimamente unidos, oravam muito uns com os outros e uns pelos outros.
A fim de ter comunhão com Deus, reuniam-se muitas vezes em lugares isolados, e
dos campos ou dos bosques as vozes de intercessão ascendiam ao Céu. A certeza
da aprovação do Salvador era-lhes mais indispensável do que o pão cotidiano; e,
se alguma nuvem lhes toldava o espírito, não descansavam enquanto não fosse
dissipada. Sentindo o testemunho da graça perdoadora, almejavam contemplar
Aquele que de sua alma era amado.
Desapontados, mas Confiantes
na Inabalável Palavra de Deus
Mas, de novo estavam destinados ao desapontamento.
O tempo [Pág. 82] de
expectação passou e o Salvador não apareceu. Com inabalável confiança tinham
aguardado Sua vinda, e agora experimentavam o mesmo sentimento de Maria quando,
indo ao túmulo do Salvador e encontrando-o vazio, exclamou em pranto:
"Levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." João 20:13. ...
O mundo estivera a olhar, na expectativa de que, se
o tempo passasse e Cristo não aparecesse, todo o sistema do adventismo seria
abandonado. Mas, enquanto muitos, sob forte tentação, deixaram a fé, alguns
houve que permaneceram firmes. Os frutos do movimento adventista: o espírito de
humildade e exame de coração, de renúncia ao mundo e reforma da vida,
acompanharam a obra, testificando que esta era de Deus. Não ousavam os fiéis
negar que o poder do Espírito Santo acompanhara a pregação do segundo advento,
e não podiam descobrir erro algum na contagem dos períodos proféticos. Os mais
hábeis de seus oponentes não conseguiram subverter-lhes o sistema de
interpretação profética. Não poderiam consentir, sem prova bíblica, em
renunciar posições que tinham sido atingidas por meio de ardoroso e devoto
estudo das Escrituras, feito por inteligências iluminadas pelo Espírito de
Deus, e corações ardentes de Seu vivo poder; posições que tinham resistido à
crítica mais severa e à mais amarga oposição dos mestres religiosos do povo e
dos sábios deste mundo, e que haviam permanecido firmes ante as forças
combinadas do saber e da eloqüência, contra os insultos e zombarias tanto das
pessoas de reputação como do vulgo.
Verdade é que houve erro quanto ao acontecimento
esperado, mas mesmo isto não podia abalar-lhes a fé na Palavra de Deus. ...
Deus não abandonou Seu povo; Seu Espírito ainda
permaneceu com os que não negaram temerariamente a luz que tinham recebido, nem
acusaram o movimento adventista. Na epístola aos Hebreus existem palavras de
animação e advertência para os provados e expectantes nesta crise: "Não
rejeiteis pois a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque
necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus,
possais alcançar a promessa. Porque ainda um poucochinho de tempo, e O que há
de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a Minha
alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se [Pág. 83] retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da
alma." Heb. 10:35-39.
Que este aviso se dirige à igreja dos últimos dias,
é evidente das palavras que apontam para a proximidade da vinda do Senhor:
"Porque ainda um poucochinho de tempo, e O que há de vir virá, e não
tardará." E claramente se subentende que haveria uma aparente tardança, e que
pareceria demorar-Se o Senhor. A instrução aqui proporcionada adapta-se
especialmente à experiência dos adventistas naquele tempo. O povo, a que a
passagem aqui se refere, estava em perigo de naufragar na fé. Tinham feito a
vontade de Deus, seguindo a guia de Seu Espírito e Sua Palavra; não podiam,
contudo, entender-Lhe o propósito na experiência passada, tampouco discernir o
caminho diante deles; e eram tentados a duvidar de que Deus, em verdade, os
estivesse a dirigir. A esse tempo se aplicavam as palavras: "Mas o justo
viverá da fé." Dado o fato de haver a brilhante luz do "clamor da
meia-noite" lhes resplandecido no caminho e terem visto descerrarem-se as
profecias, e em rápido cumprimento os sinais que declaravam estar próxima a
vinda de Cristo, haviam caminhado, por assim dizer, pela vista. Agora, porém,
abatidos por verem frustradas as esperanças, unicamente pela fé em Deus e em
Sua Palavra poderiam permanecer em pé. O mundo escarnecedor dizia: "Fostes
enganados. Abandonai vossa fé e dizei que o movimento do advento foi de
Satanás." Declarava, porém, a Palavra de Deus: "Se ele recuar, a
Minha alma não tem prazer nele." Renunciar então à fé e negar o poder do
Espírito Santo, que acompanhara a mensagem, seria recuar para a perdição. Eram
incentivados à firmeza pelas palavras de Paulo: "Não rejeiteis pois a
vossa confiança"; "necessitais de paciência", "porque ainda
um poucochinho de tempo, e O que há de vir virá, e não tardará." A única
maneira segura de proceder era reter a luz que já haviam recebido de Deus, apegar-se
firmemente às Suas promessas e continuar a examinar as Escrituras, esperando e
vigiando pacientemente, a fim de receber mais luz. O Grande Conflito, págs.
391-408.
CAPÍTULO 8 - O Glorioso Templo
no Céu
[Pág. 85] A
passagem que, mais que todas as outras, havia sido tanto a base como a coluna
central da fé do advento, foi: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs;
e o santuário será purificado." Dan. 8:14. Estas palavras haviam sido
familiares a todos os crentes na próxima vinda do Senhor. Era esta profecia
repetida pelos lábios de milhares, como a senha de sua fé. Todos sentiam que
dos acontecimentos nela preditos dependiam suas mais brilhantes expectativas e
mais acariciadas esperanças. Ficara demonstrado que esses dias proféticos
terminariam no outono de 1844. Em conformidade com o resto do mundo cristão, os
adventistas admitiam, nesse tempo, que a Terra, ou alguma parte dela, era o
santuário. Entendiam que a purificação do santuário fosse a purificação da
Terra pelos fogos do último grande dia, e que ocorreria por ocasião do segundo
advento. Daí a conclusão de que Cristo voltaria à Terra em 1844.
Mas o tempo indicado passou e o Senhor não
apareceu. Os crentes sabiam que a Palavra de Deus não poderia falhar; deveria
haver engano na interpretação da profecia; onde, porém, estava o engano? Muitos
cortaram temerariamente o nó da dificuldade, negando que os 2.300 dias
terminassem em 1844. Nenhuma razão se poderia dar para isto, a não ser que
[Pág. 86] Cristo não viera na
ocasião em que O esperavam. Argumentavam que, se os dias proféticos houvessem
terminado em 1844, Cristo teria então voltado para purificar o santuário
mediante a purificação da Terra pelo fogo; e, visto que Ele não aparecera, os
dias não poderiam ter terminado.
Integridade dos Períodos Proféticos
Aceitar esta conclusão equivalia a renunciar aos
cômputos anteriores dos períodos proféticos. Verificara-se que os 2.300 dias
começavam quando a ordem de Artaxerxes para a restauração e edificação de
Jerusalém entrou em vigor, no outono de 457 antes de Cristo. Tomando isto como
ponto de partida, havia perfeita harmonia na aplicação de todos os
acontecimentos preditos na explicação daquele período de Daniel 9:25-27.
Sessenta e nove semanas, os primeiros 483 anos dos 2.300, deveriam estender-se
até o Messias, o Ungido; e o batismo e unção de Cristo, pelo Espírito Santo, no
ano 27 de nossa era, cumpriu exatamente esta especificação. No meio da
setuagésima semana o Messias deveria ser tirado. Três e meio anos depois de Seu
batismo; na primavera do ano 31, Cristo foi crucificado. As setenta semanas, ou
490 anos, deveriam pertencer especialmente aos judeus. Ao expirar este período,
a nação selou sua rejeição de Cristo, pela perseguição de Seus discípulos, e,
no ano 34, os apóstolos voltaram-se para os gentios. Havendo terminado os
primeiros 490 anos dos 2.300, restavam ainda 1.810 anos. Contando-se desde o
ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem até 1844. "Então", disse
o anjo, "o santuário será purificado." Todas as especificações
precedentes da profecia se cumpriram, inquestionavelmente, no tempo designado.
Nesse cálculo, tudo era claro e harmonioso, exceção
feita de não se ter visto em 1844 nenhum acontecimento que correspondesse à
purificação do santuário. Negar que os dias terminaram naquele tempo equivalia
a envolver em confusão todo o assunto e renunciar a posições que tinham sido
estabelecidas por insofismáveis cumprimentos de profecia.
Deus, porém, estivera a dirigir o Seu povo no
grande movimento adventista; Seu poder e glória haviam acompanhado a obra, e
Ele não permitiria que ela finalizasse em trevas e desapontamento, para que
fosse vituperada como falsa excitação fanática. Não deixaria Sua palavra
envolta em dúvida e incerteza. Posto que muitos abandonassem a anterior
contagem dos períodos proféticos, negando a exatidão do movimento nela baseado, [Pág. 87] outros não estavam dispostos a
renunciar a pontos de fé e experiência que eram apoiados pelas Escrituras e
pelo testemunho do Espírito de Deus. Criam ter adotado, no estudo das
profecias, sólidos princípios de interpretação, sendo o seu dever reter
firmemente as verdades já adquiridas e continuar o mesmo método de exame
bíblico. Com fervorosa oração examinaram sua atitude e estudaram as Escrituras
para descobrir onde haviam errado. Como não pudessem ver engano algum no
cômputo dos períodos proféticos, foram levados a examinar mais particularmente
o assunto do santuário.
O Santuário no Velho Concerto
Aprenderam, em suas pesquisas, que não há nas
Escrituras prova que apóie a idéia popular de que a Terra é o santuário;
acharam, porém, na Bíblia uma completa explicação do assunto do santuário,
quanto à sua natureza, localização e serviços, sendo o testemunho dos
escritores sagrados tão claro e amplo, que punha o assunto acima de qualquer
dúvida. O apóstolo Paulo, na epístola aos Hebreus, diz: "Ora também o
primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre. Porque um
tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candeeiro, e a mesa, e
os pães da proposição, ao que se chama santuário. Mas depois do segundo véu
estava o tabernáculo que se chama o santo dos santos, que tinha o incensário de
ouro, e a arca do concerto, coberta de ouro toda em redor; em que estava um
vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha florescido, e as
tábuas do concerto; e sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no
propiciatório." Heb. 9:1-5.
O santuário, a que Paulo aqui se refere, era o
tabernáculo construído por Moisés, por ordem de Deus, como a morada terrestre
do Altíssimo. "E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles"
(Êxo. 25:8); foi a determinação de Deus a Moisés, enquanto este se achava com
Ele no monte. Os israelitas estavam a jornadear pelo deserto, e o tabernáculo
foi construído de maneira que pudesse ser levado de um lugar para outro; não
obstante, sua estrutura era de grande magnificência. ...
Depois da localização dos hebreus em Canaã, o
tabernáculo foi substituído pelo templo de Salomão, que, conquanto fosse uma
estrutura permanente e de maior escala, observava as mesmas proporções e era
guarnecido de modo semelhante.
[Pág. 88] Sob esta forma
existiu o santuário até a sua destruição pelos romanos, no ano 70 de nossa era,
exceção feita no tempo em que jazeu em ruínas, durante a época de Daniel.
Este é o único santuário que já existiu na Terra,
de que a Bíblia nos dá alguma informação. Declarou Paulo ser ele o santuário do
primeiro concerto. Mas não tem santuário o novo concerto?
O Santuário do Novo Concerto no Céu
Volvendo novamente ao livro de Hebreus, os
inquiridores da verdade acharam, subentendida nas palavras de Paulo já citadas,
a existência de um segundo santuário, ou santuário do novo concerto: "Ora
também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário
terrestre." E o uso da palavra "também" exige que Paulo haja
anteriormente feito menção deste santuário. Voltando-se ao princípio do
capítulo precedente, lê-se: "Ora a suma do que temos dito é que temos um
sumo sacerdote tal, que está assentado nos Céus à destra do trono da Majestade,
ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e
não o homem. " Heb. 8:1 e 2.
Aqui se revela o santuário do novo concerto. O
santuário do primeiro concerto foi fundado pelo homem, construído por Moisés;
este último foi fundado pelo Senhor, e não pelo homem. Naquele santuário os
sacerdotes terrestres efetuavam o seu culto; neste, Cristo, nosso Sumo
Sacerdote, ministra à destra de Deus. Um santuário estava na Terra, o outro no
Céu.
Demais, o tabernáculo construído por Moisés foi
feito segundo um modelo. O Senhor lhe ordenou: "Conforme a tudo o que Eu
te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus vasos,
assim mesmo o fareis." E novamente foi dada a ordem: "Atenta, pois,
que o faças conforme ao seu modelo, que te foi mostrado no monte." Êxo.
25:9 e 40. E Paulo diz que o primeiro tabernáculo era "uma alegoria para o
tempo presente em que se ofereciam dons e sacrifícios"; que seus lugares
santos eram "figuras das coisas que estão nos Céus"; que os sacerdotes
que ofereciam dons segundo a lei, serviam de "exemplar e sombra das coisas
celestiais", e que "Cristo não entrou num santuário feito por mãos,
figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós perante
a face de Deus". Heb. 9:9 e 23; 8:5; 9:24.
[Pág. 89] As Glórias do
Santuário Terrestre e o Templo Celestial
O santuário do Céu, no qual Jesus ministra em nosso
favor, é o grande original, de que o santuário construído por Moisés foi uma
cópia. ...
O esplendor sem-par do tabernáculo terrestre
refletia à vista humana as glórias do templo celestial em que Cristo, nosso
Precursor, ministra por nós perante o trono de Deus. A morada do Rei dos reis,
em que milhares de milhares O servem, e milhões de milhões estão em pé diante
dEle (Dan. 7:10), sim, aquele templo, repleto da glória do trono eterno, onde
serafins, seus resplandecentes guardas, velam a face em adoração - não poderia
encontrar na estrutura mais magnificente que hajam erigido as mãos humanas,
senão pálido reflexo de sua imensidade e glória. Contudo, importantes verdades
relativas ao santuário celestial e à grande obra ali levada a efeito pela
redenção do homem, eram ensinadas pelo santuário terrestre e seu culto.
Os lugares santos do santuário celeste são
representados pelos dois compartimentos do santuário terrestre. Sendo, em
visão, concedido ao apóstolo João vislumbrar o templo de Deus nos Céus,
contemplou ele, ali, "sete lâmpadas de fogo" que "diante do
trono ardiam". Apoc. 4:5. Vi um anjo, "tendo um incensário de ouro; e
foi-lhe dado muito incenso para o pôr com as orações de todos os santos sobre o
altar de ouro, que está diante do trono". Apoc. 8:3. Foi permitido ao
profeta contemplar o primeiro compartimento do santuário celestial; e viu ali
as "sete lâmpadas de fogo", e o "altar de ouro",
representados pelo castiçal de ouro e altar de incenso, do santuário terrestre.
De novo, "abriu-se no Céu o templo de Deus" (Apoc. 11:19), e ele
olhou para dentro do véu interior, ao lugar santíssimo. Ali viu "a arca do
Seu concerto", representada pelo receptáculo sagrado, construído por
Moisés, para guardar a lei de Deus.
Assim, os que estavam a estudar o assunto
encontraram prova indiscutível da existência de um santuário no Céu. Moisés fez
o santuário terrestre segundo o modelo que lhe foi mostrado. Paulo ensina que aquele
modelo era o verdadeiro santuário que está no Céu. E João dá testemunho de que
o viu no Céu.
O Ministério de Cristo no Santuário Celestial
No templo celestial, morada de Deus, acha-se o Seu
trono, estabelecido em justiça e juízo. No lugar santíssimo está a Sua [Pág. 90] lei, a grande regra da
justiça, pela qual a humanidade toda é provada. A arca que encerra as tábuas da
lei se encontra coberta pelo propiciatório, diante do qual Cristo, pelo Seu
sangue, pleiteia em prol do pecador. Assim se representa a união da justiça com
a misericórdia no plano da redenção humana. Somente a sabedoria infinita
poderia conceber esta união, e o poder infinito realizá-la; é uma união que
enche o Céu todo de admiração e adoração. Os querubins do santuário terrestre,
olhando reverentemente para o propiciatório, representam o interesse com que a
hoste celestial contempla a obra da redenção. Este é o mistério da misericórdia
a que os anjos desejam atentar: que Deus pode ser justo, ao mesmo tempo em que
justifica o pecador arrependido e renova Suas relações com a raça decaída; que
Cristo pode humilhar-Se para erguer inumeráveis multidões do abismo da ruína e
vesti-las com as vestes imaculadas de Sua própria justiça, a fim de se unirem
aos anjos que jamais caíram e habitarem para sempre na presença de Deus.
A obra de Cristo como intercessor do homem é
apresentada na bela profecia de Zacarias, relativa Aquele, "cujo nome é
Renovo". Diz o profeta: "Ele mesmo edificará o templo do Senhor, e
levará a glória, e assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e será sacerdote no
Seu trono, e conselho de paz haverá entre Eles ambos." Zac. 6:13.
"Ele mesmo edificará o templo do Senhor."
Pelo Seu sacrifício e mediação, Cristo é tanto o fundamento como o edificador
da igreja de Deus. O apóstolo Paulo indica-O como "a principal pedra de
esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no
Senhor. No qual também vós", diz ele, "juntamente sois edificados
para morada de Deus em Espírito". Efés. 2:20-22.
Ele "levará a glória". A Cristo pertence
a glória da redenção da raça decaída. Através das eras eternas, o cântico dos
resgatados será: "Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos
pecados, ... a Ele glória e poder para todo o sempre." Apoc. 1:5 e 6.
"E assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e
será sacerdote no Seu trono." Agora não está "no trono de Sua
glória"; o reino de glória ainda não foi inaugurado. Só depois que termine
a Sua obra como mediador, Lhe dará Deus "o trono de Davi, Seu pai",
reino que "não terá fim". Luc. 1:32 e 33. Como sacerdote, Cristo está
agora assentado com o Pai em Seu [Pág. 91] trono (Apoc. 3:21). No trono, com o Ser eterno e existente
por Si mesmo, é Ele o que "tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as
nossas dores levou sobre Si"; que "em tudo foi tentado, mas sem
pecado"; para que possa "socorrer aos que são tentados".
"Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai." Isa. 53:4; Heb.
4:15; 2:18; I João 2:1. Sua intercessão é a de um corpo ferido e quebrantado, de
uma vida imaculada. As mãos feridas, o lado traspassado, os pés cravejados,
pleiteiam pelo homem decaído, cuja redenção foi comprada com tão infinito
preço.
E conselho de paz haverá entre Eles ambos." O
amor do Pai, não menos que o do Filho, é o fundamento da salvação para a raça perdida.
Disse Jesus aos discípulos, antes de Se retirar deles: "Não vos digo que
Eu rogarei por vós ao Pai; pois o mesmo Pai vos ama." João 16:26 e 27.
"Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo." II Cor. 5:19.
E no ministério do santuário, no Céu, "conselho de paz haverá entre Eles
ambos." "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida
eterna." João 3:16.
Identificando o Santuário de Daniel 8:14
A pergunta - Que é o santuário? - é claramente
respondida nas Escrituras. O termo "santuário", conforme é empregado
na Bíblia, refere-se primeiramente, ao tabernáculo construído por Moisés, como
figura das coisas celestiais; e, em segundo lugar, ao "verdadeiro
tabernáculo", no Céu, para o qual o santuário terrestre apontava. À morte
de Cristo, terminou o serviço típico. O "verdadeiro tabernáculo", no
Céu, é o santuário do novo concerto. E como a profecia de Daniel 8:14 se cumpre
nesta dispensação, o santuário a que ela se refere deve ser o santuário do novo
concerto. Ao terminarem os 2.300 dias, em 1844, já por muitos séculos não havia
santuário sobre a Terra. Destarte, a profecia - "Até duas mil e trezentas
tardes e manhãs; e o santuário será purificado", aponta inquestionavelmente
para o santuário do Céu.
A questão mais importante, porém, ainda está para
ser respondida: Que é a purificação do santuário? Que houve tal cerimônia com
referência ao santuário terrestre, acha-se declarado nas Escrituras do Antigo
Testamento. Mas poderá no Céu haver alguma coisa a ser purificada? No capítulo
9 de Hebreus a purificação do santuário terrestre, bem como a do celestial, [Pág. 92] encontra-se plenamente
ensinada. "Quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue;
e sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário
que as figuras das coisas que estão no Céu assim se purificassem [com sangue de
animais]; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que
estes" (Heb. 9:22 e 23), ou seja, com o precioso sangue de Cristo.
Lições Práticas dos Tipos
A purificação, tanto no serviço típico como no
real, deveria executar-se com sangue: no primeiro com sangue de animais, no
último com o sangue de Cristo. Paulo declara, como razão por que esta purificação
deve ser efetuada com sangue, que sem derramamento de sangue não há remissão.
Remissão, ou ato de lançar fora o pecado, é a obra a efetuar-se. Mas, como
poderia haver pecado em relação com o santuário, quer no Céu quer na Terra?
Isto se pode compreender por uma referência ao culto simbólico; pois que os
sacerdotes que oficiavam na Terra serviam de "exemplar e sombra das coisas
celestiais". Heb. 8:5.
O serviço no santuário terrestre dividia-se em duas
partes: os sacerdotes ministravam diariamente no lugar santo, ao passo que uma
vez ao ano o sumo sacerdote efetuava uma obra especial de expiação no lugar
santíssimo, para a purificação do santuário. Dia após dia, o pecador
arrependido levava sua oferta à porta do tabernáculo, e, colocando a mão sobre
a cabeça da vítima, confessava seus pecados, transferindo-os assim,
figuradamente, de si para o sacrifício inocente. O animal era então morto.
"Sem derramamento de sangue", diz o apóstolo, "não há remissão
de pecado." "A vida da carne está no sangue." Lev. 17:11. A lei
de Deus, sendo violada, exige a vida do transgressor. O sangue, representando a
vida que o pecador perdera, pecador cuja culpa a vítima arrostava, era levado
pelo sacerdote ao lugar santo e aspergido diante do véu, atrás do qual estava a
arca contendo a lei que o pecador transgredira. Por esta cerimônia, o pecado
transferia-se, mediante o sangue, em figura, para o santuário. Em alguns casos
o sangue não era levado para o lugar santo; mas a carne deveria então ser
comida pelo sacerdote, conforme Moisés determinou aos filhos de Arão, dizendo:
"O Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da
congregação." Lev. 10:17. Ambas as [Pág. 93]
cerimônias simbolizavam, de igual modo, a
transferência do pecado do penitente para o santuário.
Esta era a obra que, dia após dia, se prolongava
por todo o ano. Os pecados de Israel eram assim transferidos para o santuário,
e uma obra especial se tornava necessária para a sua remoção. Deus ordenou que
fosse feita expiação para cada um dos compartimentos sagrados. "Fará
expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das
suas transgressões, segundo todos os seus pecados: e assim fará para a tenda da
congregação que mora com eles no meio das suas imundícias." Devia também
ser feita expiação pelo altar, para o purificar e santificar "das
imundícias dos filhos de Israel". Lev. 16:16 e 19.
Uma vez por ano, no grande dia da expiação, o
sacerdote entrava no lugar santíssimo para a purificação do santuário. A obra
ali efetuada completava o ciclo anual do ministério. No dia da expiação dois
bodes eram trazidos à porta do tabernáculo, e lançavam-se sortes sobre eles,
"uma sorte pelo Senhor, e a outra sorte pelo bode emissário". Lev.
16:8. O bode, sobre o qual caía a sorte do Senhor, deveria ser morto como
oferta pelo pecado do povo. E devia o sacerdote trazer o sangue do bode para
dentro do véu e aspergi-lo sobre o propiciatório e diante do propiciatório.
Devia também aspergir o sangue sobre o altar de incenso, que estava diante do
véu.
"E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça
do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel,
e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados; e os porá sobre a
cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para
isso. Assim, aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra
solitária." Lev. 16:21 e 22. O bode emissário não mais vinha ao
acampamento de Israel, e exigia-se que o homem, que o levara, lavasse com água
a si e suas vestes, antes de voltar ao acampamento.
Toda esta cerimônia tinha por fim impressionar os
israelitas com a santidade de Deus e o Seu horror ao pecado; e, demais,
mostrar-lhes que não poderiam entrar em contato com o pecado sem se poluir.
Exigia-se que, enquanto a obra de expiação se efetuava, cada homem afligisse a
alma. Todas as ocupações deviam ser postas de parte, e toda a congregação de
Israel passar o dia em solene humilhação diante de Deus, com oração, jejum e
profundo exame de coração.
[Pág. 94] Importantes
verdades concernentes à expiação eram ensinadas pelo culto típico. Um
substituto era aceito em lugar do pecador; mas o pecado não se cancelava pelo
sangue da vítima. Provia-se, desta maneira, um meio pelo qual era transferido
para o santuário. Pelo oferecimento do sangue, o pecador reconhecia a
autoridade da lei, confessava sua culpa na transgressão e exprimia o desejo de
perdão pela fé num Redentor vindouro; mas não ficava ainda inteiramente livre
da condenação da lei. No dia da expiação o sumo sacerdote, havendo tomado uma
oferta da congregação, entrava no lugar santíssimo com o sangue desta oferta, e
o aspergia sobre o propiciatório, diretamente sobre a lei, para satisfazer às
suas reivindicações. Então, em caráter de mediador, tomava sobre si os pecados
e os retirava do santuário. Colocando as mãos sobre a cabeça do bode emissário,
confessava todos esses pecados, transferindo-os assim, figuradamente, de si
para o bode. Este os levava então, e eram considerados como para sempre
separados do povo.
Apenas um Tipo das Realidades Celestiais
Tal era o serviço efetuado como "exemplar e
sombra das coisas celestiais". E o que se fazia tipicamente no ministério
do santuário terrestre, é feito na realidade no ministério do santuário
celestial. Depois de Sua ascensão, começou nosso Salvador a obra como nosso
Sumo Sacerdote. Diz Paulo: "Cristo não entrou num santuário feito por
mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós
perante a face de Deus." Heb. 9:24.
O ministério do sacerdote, durante o ano todo, no
primeiro compartimento do santuário, "para dentro do véu" que formava
a porta e separava o lugar santo do pátio externo, representa o ministério em
que entrou Cristo ao ascender ao Céu. Era a obra do sacerdote no ministério
diário, a fim de apresentar perante Deus o sangue da oferta pelo pecado, bem
como o incenso que ascendia com as orações de Israel. Assim pleiteava Cristo
com Seu sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores, apresentando também, com
o precioso aroma de Sua justiça, as orações dos crentes arrependidos. Esta era
a obra ministerial no primeiro compartimento do santuário celeste.
Para ali a fé dos discípulos acompanhou a Cristo,
quando, diante de seus olhos, Ele ascendeu. Ali se centralizara sua esperança,
e esta esperança, diz Paulo, "temos como âncora da alma segura e firme, e
que penetra até o interior do véu, [Pág. 95] onde Jesus, nosso
Precursor, entrou por nós, feito eternamente Sumo Sacerdote". "Nem
por sangue de bodes e bezerros mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário,
havendo efetuado uma eterna redenção." Heb. 6:19 e 20; 9:12.
A Purificação do Santuário Celestial
Durante dezoito séculos este ministério continuou
no primeiro compartimento do santuário. O sangue de Cristo, oferecido em favor
dos crentes arrependidos, assegurava-lhes perdão e aceitação perante o Pai;
contudo, ainda permaneciam seus pecados nos livros de registro. Como no serviço
típico havia uma expiação ao fim do ano, semelhantemente, antes que se complete
a obra de Cristo para redenção do homem, há também uma expiação para tirar o
pecado do santuário. Este é o serviço iniciado quando terminaram os 2.300 dias.
Naquela ocasião, conforme fora predito pelo profeta Daniel, nosso Sumo
Sacerdote entrou no lugar santíssimo para efetuar a última parte de Sua solene
obra - purificar o santuário.
Como antigamente eram os pecados do povo colocados,
pela fé, sobre a oferta pelo pecado, e, mediante o sangue desta, transferidos
simbolicamente para o santuário terrestre, assim em o novo concerto, os pecados
dos que se arrependem são, pela fé, colocados sobre Cristo e transferidos, de
fato, para o santuário celeste. E como a purificação típica do santuário
terrestre se efetuava mediante a remoção dos pecados pelos quais se poluíra,
igualmente a purificação real do santuário celeste deve efetuar-se pela
remoção, ou apagamento, dos pecados que ali estão registrados. Mas antes que
isto se possa cumprir, deve haver um exame dos livros de registro para
determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito
aos benefícios de Sua expiação. A purificação do santuário, portanto, envolve
uma investigação - um julgamento. Isto deve efetuar-se antes da vinda de Cristo
para resgatar Seu povo, pois que, quando vier, Sua recompensa estará com Ele
para dar a cada um segundo as suas obras (Apoc. 22:12).
Destarte, os que seguiram a luz da palavra
profética viram que, em vez de vir Cristo à Terra, ao terminarem em 1844 os
2.300 dias, entrou Ele então no lugar santíssimo do santuário celeste, a fim de
levar a efeito a obra final da expiação, preparatória à Sua vinda.
Verificou-se também que, ao passo que a oferta pelo
pecado apontava para Cristo como um sacrifício, e o sumo [Pág. 96] sacerdote representava a Cristo como mediador, o bode emissário
tipificava Satanás, autor do pecado, sobre quem os pecados dos verdadeiros
penitentes serão finalmente colocados. Quando o sumo sacerdote, por virtude do
sangue da oferta pela transgressão, removia do santuário os pecados,
colocava-os sobre o bode emissário. Quando Cristo, pelo mérito de Seu próprio
sangue, remover do santuário celestial os pecados de Seu povo, ao encerrar-se o
Seu ministério, Ele os colocará sobre Satanás, que, na execução do juízo,
deverá encarar a pena final. O bode emissário era enviado para uma terra não habitada,
para nunca mais voltar à congregação de Israel. Assim será Satanás para sempre
banido da presença de Deus e de Seu povo, e eliminado da existência na
destruição final do pecado e dos pecadores. O Grande Conflito, págs. 409-422.
CAPÍTULO 9 - Nosso Sumo Sacerdote no
Santo dos Santos
[Pág. 97] O
assunto do santuário foi a chave que desvendou o mistério do desapontamento de
1844. Revelou um conjunto completo de verdades, ligadas harmoniosamente entre
si e mostrando que a mão de Deus dirigira o grande movimento do advento e
apontara novos deveres ao trazer a lume a posição e obra de Seu povo. Como os
discípulos de Jesus, depois da terrível noite de sua angústia e desapontamento,
"alegraram-se muito ao verem o Senhor", assim se regozijaram então os
que pela fé haviam aguardado o segundo advento. Esperavam que Ele aparecesse em
glória, para dar a recompensa a Seus servos. Vendo frustradas suas esperanças,
perderam de vista a Jesus e, como Maria, junto ao sepulcro, exclamaram:
"Levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." Então, no lugar
santíssimo, contemplaram de novo seu compassivo Sumo Sacerdote, prestes a
aparecer como Rei e Libertador. A luz proveniente do santuário iluminou o
passado, o presente e o futuro. Souberam que Deus os havia guiado por Sua providência
infalível. Se bem que, como aconteceu aos primeiros discípulos, não
compreendessem a mensagem por eles mesmos comunicada, era esta, no entanto,
correta em todos os sentidos. Proclamando-a, tinham cumprido o propósito de
Deus, e seu trabalho não [Pág. 98]
havia sido em vão no Senhor. Foram de novo
gerados "para uma viva esperança", regozijavam-se "com gozo
inefável e glorioso." I Ped. 1:3 e 8.
Tanto a profecia de Daniel 8:14 - "Até duas
mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado" - como a mensagem
do primeiro anjo - "Temei a Deus e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora
do Seu juízo" - indicavam o ministério de Cristo no lugar santíssimo, o
juízo investigativo, e não a vinda de Cristo para resgatar o Seu povo e
destruir os ímpios. O engano fora, não na contagem dos períodos proféticos, mas
no acontecimento a ocorrer no fim dos 2.300 dias. Por este erro, os crentes
sofreram desapontamento; entretanto, cumprira-se tudo que estava predito pela
profecia e que podiam eles com autoridade bíblica esperar. Ao mesmo tempo em
que lamentavam a ruína de suas esperanças, transcorrera o acontecimento que
fora predito pela mensagem, e que deveria cumprir-se antes que o Senhor
aparecesse para recompensar a Seus servos.
Cristo aparecera, não à Terra, como esperavam, mas,
conforme fora prefigurado tipicamente, ao lugar santíssimo do templo de Deus,
no Céu. É Ele representado, pelo profeta Daniel, como estando a vir, nesse
tempo, ao Ancião de Dias: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e
eis que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do homem: e dirigiu-Se"
não à Terra, mas - "ao Ancião de Dias, e O fizeram chegar até Ele."
Dan. 7:13.
Esta vinda é também predita pelo profeta Malaquias:
"De repente virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo do
concerto, a quem vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos exércitos."
Mal. 3:1. A vinda do Senhor a Seu templo foi súbita, inesperada, para Seu povo.
Não O buscaram ali. Esperavam que viesse à Terra, "como labareda de fogo,
tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao
evangelho". II Tess. 1:8.
O povo, porém, ainda não estava preparado para
encontrar-se com o Senhor. Havia ainda uma obra de preparo a ser por eles
cumprida. Ser-lhes-ia proporcionada luz, dirigindo-lhes a mente ao templo de
Deus, no Céu; e, ao seguirem eles, pela fé, ao Sumo Sacerdote em Seu ministério
ali, novos deveres seriam revelados. Outra mensagem de advertência e instrução
deveria dar-se à igreja. ...
Diz o profeta: "Quem suportará o dia da Sua
vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer? Porque Ele será como [Pág. 99] o fogo dos ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á,
afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará
como ouro e como prata: então ao Senhor trarão ofertas em justiça." Mal.
3:2 e 3. Os que estiverem vivendo sobre a Terra quando a intercessão de Cristo
cessar no santuário celestial, deverão, sem mediador, estar em pé na presença
do Deus santo. Suas vestes devem estar imaculadas, o caráter liberto de pecado,
pelo sangue da aspersão. Mediante a graça de Deus e seu próprio esforço
diligente, devem eles ser vencedores na batalha contra o mal. Enquanto o juízo
investigativo prosseguir no Céu, enquanto os pecados dos crentes arrependidos
estão sendo removidos do santuário, deve haver uma obra especial de
purificação, ou de afastamento de pecado, entre o povo de Deus na Terra. Esta
obra é mais claramente apresentada nas mensagens do capítulo 14 de Apocalipse.
...
Quando ela se houver realizado, os seguidores de
Cristo estarão prontos para o Seu aparecimento. "E a oferta de Judá e de
Jerusalém será suave ao Senhor, como nos dias antigos, e como nos primeiros
anos." Mal. 3:4. Então a igreja que nosso Senhor deve receber para Si, à
Sua vinda, será "igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa
semelhante". Efés. 5:27. Então ela aparecerá "como a alva do dia,
formosa como a Lua, brilhante como o Sol, formidável como um exército com
bandeiras". Cant. 6:10.
Além da vinda do Senhor a Seu templo, Malaquias
também prediz o segundo advento, Sua vinda para a execução do juízo, nestas
palavras: "E chegar-Me-ei a vós para juízo, serei uma testemunha veloz
contra os feiticeiros e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente,
e contra os que defraudam o jornaleiro, e pervertem o direito da viúva, e do
órfão, e do estrangeiro, e não Me temem, diz o Senhor dos exércitos." Mal.
3:5. À mesma cena se refere Judas quando diz: "Eis que é vindo o Senhor
com milhares de Seus santos; para fazer juízo contra todos, e condenar dentre
eles todos os ímpios por todas as suas obras de impiedade." Jud. 14 e 15.
Esta vinda, e a vinda do Senhor a Seu templo, são acontecimentos distintos e
separados.
Fundamentos Bíblicos
A vinda de Cristo ao lugar santíssimo como nosso
Sumo Sacerdote, para a purificação do santuário, a que se faz referência em
Daniel 8:14; a vinda do Filho do homem [Pág. 100] ao Ancião de Dias,
conforme se acha apresentada em Daniel 7:13; e a vinda do Senhor a Seu templo,
predita por Malaquias, são descrições do mesmo acontecimento; e isso é também
representado pela vinda do esposo ao casamento, descrita por Cristo na parábola
das dez virgens, de Mateus 25.
A proclamação: "Aí vem o Esposo!" foi
feita no verão de 1844. Desenvolveram-se então as duas classes representadas
pelas virgens prudentes e as loucas: uma classe que aguardava com alegria o
aparecimento do Senhor, e que se estivera diligentemente preparando para O
encontrar; outra classe que, influenciada pelo medo, e agindo por um impulso de
momento, se satisfizera com a teoria da verdade, mas estava destituída da graça
de Deus. Na parábola, quando o Esposo veio, "as que estavam preparadas
entraram com Ele para as bodas". A vinda do Esposo, aqui referida, ocorre
antes das bodas. O casamento representa a recepção do reino por parte de
Cristo. A santa cidade, a Nova Jerusalém, que é a capital e representa o reino,
é chamada "a esposa, a mulher do Cordeiro". Disse o anjo a João:
"Vem, mostrar-te-ei a esposa, a mulher do Cordeiro." "E levou-me
em espírito", diz o profeta, "e mostrou-me a grande cidade, a santa
Jerusalém, que de Deus descia do Céu." Apoc. 21:9 e 10. Claramente, pois,
a esposa representa a santa cidade, e as virgens que saem ao encontro do Esposo
são símbolo da igreja. No Apocalipse é dito que o povo de Deus são os
convidados à ceia das bodas (Apoc. 19:9). Se são convidados, não podem ser
também representados pela esposa. Cristo, conforme foi declarado pelo profeta
Daniel, receberá do Ancião de Dias, no Céu, o domínio, e a honra, e o
reino"; receberá a Nova Jerusalém, a capital de Seu reino, "adereçada
como uma esposa ataviada para o seu marido". Dan. 7:14; Apoc. 21:2. Tendo
recebido o reino, Ele virá em glória, como Rei dos reis e Senhor dos senhores,
para a redenção de Seu povo, que deve assentar-se "com Abraão, Isaque e
Jacó", à Sua mesa, em Seu reino (Mat. 8:11; Luc. 22:30), a fim de
participar da ceia das bodas do Cordeiro.
A proclamação: "Aí vem o Esposo!", feita
no verão de 1844, levou milhares a esperar o imediato advento do Senhor. No
tempo indicado o Esposo veio, não para a Terra, como o povo esperava, mas ao
Ancião de Dias, no Céu, às bodas, à recepção de Seu reino. "As que estavam
preparadas entraram com Ele [Pág. 101] para as bodas, e
fechou-se a porta." Elas não deveriam estar presentes, em pessoa, nas bodas;
pois que estas ocorrem no Céu, ao passo que elas estão na Terra. Os seguidores
de Cristo devem esperar "o seu Senhor, quando houver de voltar das
bodas". Luc. 12:36. Mas devem compreender o trabalho de Cristo e segui-Lo,
pela fé, ao ir Ele perante Deus. É neste sentido que se diz irem eles às bodas.
Na parábola, as que tinham óleo em seus vasos com
as lâmpadas, foram as que entraram para as bodas. Os que, com conhecimento da
verdade pelas Escrituras, tinham também o Espírito e graça de Deus, e que, na noite
de sua amarga prova, esperavam pacientemente, examinando a Bíblia a fim de
obterem mais clara luz - esses viram a verdade relativa ao santuário celestial
e a mudança no ministério do Salvador, e pela fé O acompanharam em Sua obra
naquele santuário. Todos os que, mediante o testemunho das Escrituras, aceitam
as mesmas verdades, seguindo a Cristo pela fé, ao entrar Ele à presença de Deus
para efetuar a última obra de mediação, e para, no final dela, receber o Seu
reino - todos esses são representados como estando a ir às bodas.
A mesma figura do casamento é apresentada na
parábola do capítulo 22 de Mateus, onde claramente se representa o juízo de
investigação como ocorrendo antes das bodas. Previamente às bodas vem o rei
para ver os convidados (Mat. 22:11), a fim de verificar se todos têm trajes
nupciais, vestes imaculadas do caráter lavadas e embranquecidas no sangue do
Cordeiro (Apoc. 7:14). O que é encontrado em falta, é lançado fora, mas todos
os que, sendo examinados, se verificar terem vestes nupciais, são aceitos por
Deus e considerados dignos de participar de Seu reino e assentar-se em Seu
trono. Esta obra de exame do caráter, para determinar quem está preparado para
o reino de Deus, é a do juízo de investigação, obra final do santuário do Céu.
Quando a obra de investigação se encerrar,
examinados e decididos os casos dos que em todos os séculos professaram ser
seguidores de Cristo, então, e somente então, se encerrará o tempo da graça,
fechando-se a porta da misericórdia. Assim, esta breve sentença - "As que
estavam preparadas entraram com Ele para as bodas, e fechou-se a porta" -
nos conduz através do ministério final do Salvador, ao tempo em que se
completará a grande obra para salvação do homem.
[Pág. 102] Ministério nos Dois
Compartimentos
No cerimonial do santuário terrestre, que, conforme
vimos, é uma figura do serviço no santuário celestial, quando o sumo sacerdote
no dia da expiação entrava no lugar santíssimo, cessava o ministério no
primeiro compartimento. Deus ordenara: "E nenhum homem estará na tenda da
congregação quando ele entrar a fazer propiciação no santuário, até que ele
saia." Lev. 16:17. Assim, quando Cristo entrou no lugar santíssimo para
efetuar a obra final da expiação, terminou Seu ministério no primeiro
compartimento. Mas, quando o ministério no primeiro compartimento terminou,
iniciou-se o do segundo compartimento. Quando, no cerimonial típico, o sumo
sacerdote deixava o lugar santo no dia da expiação, entrava perante Deus para
apresentar o sangue da oferta pelo pecado, em favor de todos os israelitas que
verdadeiramente se arrependiam de suas transgressões. Assim Cristo apenas
completara uma parte de Sua obra como nosso intercessor para iniciar outra, e
ainda pleiteia com Seu sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores.
Este assunto não foi entendido pelos adventistas em
1844. Depois de passado o tempo em que era esperado nosso Salvador, acreditavam
eles ainda estar próxima a Sua vinda; mantinham a opinião de haverem chegado a
uma crise importante, e de que cessara a obra de Cristo como intercessor do
homem perante Deus. Parecia-lhes ser ensinado na Escritura Sagrada que o tempo
de graça do homem terminaria um pouco antes da própria vinda do Senhor nas
nuvens do céu. Isto parecia evidenciar-se das passagens que indicam o tempo em
que os homens hão de procurar, bater e clamar à porta da graça, mas esta não se
abrirá. E surgiu entre eles a questão de saber se a data em que haviam
aguardado a vinda de Cristo não marcaria porventura o começo deste período que
deveria preceder imediatamente a Sua vinda. Tendo dado a advertência da
proximidade do juízo, sentiam que sua obra em favor do mundo se achava feita, e
não mais sentiam o dever de trabalhar pela salvação dos pecadores, enquanto o
escárnio ousado e blasfemo dos ímpios lhes parecia outra evidência de que o
Espírito de Deus Se retirara dos que rejeitavam a misericórdia divina. Tudo
isto os confirmava na crença de que o tempo da graça findara, ou como eles
então o exprimiam, "a porta da graça se fechara".
A Abertura de uma Outra Porta
Uma luz mais clara, porém, surgiu pela investigação
do assunto [Pág. 103] do santuário. Viam
agora que estavam certos em crer que o fim dos 2.300 dias em 1844 assinalava
uma crise importante. Mas, conquanto fosse verdade que se achasse fechada a
porta da esperança e graça pela qual os homens durante mil e oitocentos anos
encontraram acesso a Deus, outra porta se abrira, e oferecia-se o perdão dos
pecados aos homens, mediante a intercessão de Cristo no lugar santíssimo.
Encerrara-se uma parte de Seu ministério apenas para dar lugar a outra. Havia
ainda uma "porta aberta" para o santuário celestial, onde Cristo
estava a ministrar pelo pecador.
Via-se agora a aplicação das palavras de Cristo no
Apocalipse, dirigidas à igreja, nesse mesmo tempo: "Isto diz O que é
santo, O que é verdadeiro, O que tem a chave de Davi; O que abre e ninguém
fecha; e fecha, e ninguém abre. Eu sei as tuas obras; e eis que diante de ti
pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar." Apoc. 3:7 e 8.
Os que, pela fé, seguem a Jesus na grande obra da
expiação, recebem os benefícios de Sua mediação em seu favor; enquanto os que
rejeitam a luz apresentada neste ministério não são por ela beneficiados. Os
judeus que rejeitaram a luz dada por ocasião do primeiro advento de Cristo e se
recusaram a crer nEle como Salvador do mundo, não poderiam receber o perdão por
meio dEle. Quando Jesus, depois da ascensão, pelo Seu próprio sangue entrou no
santuário celestial, a fim de derramar sobre os discípulos as bênçãos de Sua
mediação, os judeus foram deixados em completas trevas, continuando com os
sacrifícios e ofertas inúteis. O ministério dos tipos e sombras cessara. A
porta pela qual anteriormente os homens encontravam acesso a Deus, não mais se
achava aberta. Recusaram-se os judeus a buscá-Lo pelo único meio por que
poderia então ser encontrado - pelo ministério no santuário celestial. Não
alcançaram, por conseguinte, comunhão com Deus. Para Eles a porta estava
fechada. Não conheciam a Cristo como o verdadeiro sacrifício e o único mediador
perante Deus; daí o não poderem receber os benefícios de Sua mediação.
O estado dos judeus incrédulos ilustra a condição
dos indiferentes e incrédulos entre os professos cristãos, que voluntariamente
ignoram a obra de nosso misericordioso Sumo Sacerdote. No cerimonial típico,
quando o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo, exigia-se de todos os
israelitas que se reunissem em redor do santuário, e do modo mais solene
humilhassem a alma perante Deus, para que recebessem o perdão [Pág. 104] dos pecados e não fossem extirpados
da congregação. Quanto mais importante não é que neste dia antitípico da
expiação compreendamos a obra de nosso Sumo Sacerdote, e saibamos quais os
deveres que de nós se requerem!
Trágico Resultado da Rejeição da Mensagem
Divina de Advertência
Os homens não podem impunemente rejeitar as
advertências que Deus em Sua misericórdia lhes envia. No tempo de Noé, uma
mensagem do Céu foi endereçada ao mundo, e a salvação do povo dependia da
maneira como a recebesse. Rejeitada a advertência, o Espírito de Deus foi
retirado da raça pecadora, e pereceram nas águas do dilúvio. Nos dias de
Abraão, a misericórdia cessou de contender com os culposos habitantes de
Sodoma, e todos, com exceção de Ló, a esposa e duas filhas, foram consumidos
pelo fogo enviado do Céu. Assim foi nos dias de Cristo. O Filho de Deus
declarara aos judeus incrédulos daquela geração: "Vossa casa vai ficar-vos
deserta." Mat. 23:38. Olhando através dos tempos para os últimos dias, o
mesmo Poder infinito declara a respeito dos que "não receberam o amor da
verdade para se salvarem": "Por isso Deus lhes enviará a operação do
erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não
creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade." II Tess. 2:10-12.
Sendo rejeitados os ensinos de Sua Palavra, Deus retira o Seu Espírito e os
deixa entregues aos enganos que amam.
Cristo, porém, intercede ainda em favor do homem, e
luz será concedida aos que a buscam. Posto que isto não fosse a princípio
compreendido pelos adventistas, tornou-se mais tarde claro, ao começarem a
desvendar-se-lhes as passagens que definem a sua verdadeira posição.
O transcurso do tempo em 1844 foi seguido de um
período de grande prova para os que ainda mantinham a fé do advento. Seu único
alívio, no que dizia respeito a determinar sua verdadeira posição, era a luz
que lhes dirigia o espírito ao santuário celestial. Alguns renunciaram à fé na
contagem anterior dos períodos proféticos, e atribuíram a forças humanas ou
satânicas a poderosa influência do Espírito Santo que acompanhara o movimento
adventista. Outra classe sustentava firmemente que o Senhor os guiara na
experiência por que passaram; e, como esperassem, vigiassem e orassem, a fim de
conhecer a vontade de Deus, viram que seu grande Sumo Sacerdote começara a [Pág. 105] desempenhar outra parte do ministério, e, seguindo-O pela fé, foram
levados a ver também a obra final da igreja. Obtiveram mais clara compreensão
das mensagens do primeiro e segundo anjos, e ficaram habilitados a receber e
dar ao mundo a solene advertência do terceiro anjo de Apocalipse 14. O Grande
Conflito, págs. 423-432.
O Sábado e o Santuário
"Abriu-se no Céu o templo de Deus e a arca do
Seu concerto foi vista no Seu templo." Apoc. 11:19. A arca do concerto de
Deus está no santo dos santos, ou lugar santíssimo, que é o segundo
compartimento do santuário. No ministério do tabernáculo terrestre, que servia
como "exemplar e sombra das coisas celestiais", este compartimento se
abria somente no grande dia da expiação, para a purificação do santuário. Portanto,
o anúncio de que o templo de Deus se abrira no Céu, e de que fora vista a arca
de Seu concerto, indica a abertura do lugar santíssimo do santuário celestial,
em 1844, ao entrar Cristo ali para efetuar a obra finalizadora da expiação. Os
que pela fé seguiram seu Sumo Sacerdote, ao iniciar Ele o ministério no lugar
santíssimo, contemplaram a arca de Seu concerto. Como houvessem estudado o
assunto do santuário, chegaram a compreender a mudança operada no ministério do
Salvador, e viram que Ele agora oficiava diante da arca de Deus, pleiteando com
Seu sangue em favor dos pecadores.
A arca do tabernáculo terrestre continha as duas
tábuas de pedra, sobre as quais se achavam inscritos os preceitos da lei de
Deus. A arca era mero receptáculo das tábuas da lei, e a presença desses
preceitos divinos é que lhe dava valor e santidade. Quando se abriu o templo de
Deus no Céu, foi vista a arca do Seu testemunho. Dentro do santo dos santos, no
santuário celestial, acha-se guardada sagradamente a lei divina - a lei que foi
pronunciada pelo próprio Deus em meio dos trovões do Sinai, e escrita por Seu
próprio dedo nas tábuas de pedra.
A lei de Deus no santuário celeste é o grande
original, de que os preceitos inscritos nas tábuas de pedra, registrados por
Moisés no Pentateuco, eram uma transcrição exata. Os que chegaram à compreensão
deste ponto importante, foram assim levados a ver o caráter sagrado e imutável
da lei divina. Viram, como nunca dantes, a força das palavras do Salvador:
[Pág. 106] "Até que o céu
e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei." Mat. 5:18. A
lei de Deus, sendo a revelação de Sua vontade, a transcrição de Seu caráter,
deve permanecer para sempre, "como uma fiel testemunha no Céu".
Nenhum mandamento foi anulado; nenhum jota ou til se mudou. Diz o salmista:
"Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no Céu." São
"fiéis todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes para todo o
sempre". Sal. 119:89; 111:7 e 8.
No próprio centro do decálogo está o quarto
mandamento, conforme foi a princípio proclamado: "Lembra-te do dia do
sábado para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o
sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem
teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal,
nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez
o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia
descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou."
Êxo. 20:8-11.
O Espírito de Deus tocou o coração dos que
estudavam a Sua Palavra. Impressionava-os a convicção de que haviam
ignorantemente transgredido este preceito, deixando de tomar em consideração o
dia de repouso do Criador. Começaram a examinar as razões para a observância do
primeiro dia da semana em lugar do dia que Deus havia santificado. Não puderam
achar nas Escrituras prova alguma de que o quarto mandamento tivesse sido
abolido, ou de que o sábado fora mudado; a bênção que a princípio destacava o
sétimo dia nunca fora removida. Sinceramente tinham estado a procurar conhecer
e fazer a vontade de Deus; agora, como se vissem transgressores de Sua lei,
encheu-se-lhes o coração de tristeza, e manifestaram lealdade para com Deus,
santificando Seu sábado.
Muitos e tenazes foram os esforços feitos para
subverter-lhes a fé. Ninguém poderia deixar de ver que, se o santuário
terrestre era uma figura ou modelo do celestial, a lei depositada na arca, na
Terra, era uma transcrição exata da lei na arca, que está no Céu; e que a
aceitação da verdade concernente ao santuário celeste envolvia o reconhecimento
dos requisitos da lei de Deus, e da obrigatoriedade do sábado do quarto
mandamento. Aí estava o segredo da oposição atroz e decidida à exposição
harmoniosa das Escrituras, que revelavam o ministério de Cristo no santuário
celestial. Os homens procuravam [Pág. 107] fechar a porta que
Deus havia aberto, e abrir a que Ele fechara. Mas "O que abre, e ninguém
fecha; e fecha, e ninguém abre", tinha declarado: "Eis que diante de
ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar." Apoc. 3:7 e 8. Cristo
abrira a porta, ou o ministério, do lugar santíssimo; resplandecia a luz por
aquela porta aberta do santuário celestial, e demonstrou-se estar o quarto
mandamento incluído na lei que ali se acha encerrada; o que Deus estabeleceu
ninguém pode derribar.
Os que aceitaram a luz relativa à mediação de
Cristo e à perpetuidade da lei de Deus, acharam que estas eram as verdades
apresentadas no capítulo 14 de Apocalipse. As mensagens deste capítulo constituem
uma tríplice advertência, que deve preparar os habitantes da Terra para a
segunda vinda do Senhor. O anúncio: "Vinda é a hora do Seu juízo" -
aponta para a obra finalizadora do ministério de Cristo para a salvação dos
homens. Anuncia uma verdade que deve ser proclamada até que cesse a intercessão
do Salvador, e Ele volte à Terra para receber o Seu povo. A obra do juízo que
começou em 1844, deve continuar até que os casos de todos estejam decididos,
tanto dos vivos como dos mortos; disso se conclui que ela se estenderá até ao
final do tempo de graça para a humanidade. A fim de que os homens possam
preparar-se para estar em pé no juízo, a mensagem lhes ordena temer a Deus e
dar-Lhe glória, "e adorar Aquele que fez o céu e a Terra, e o mar, e as
fontes das águas". O resultado da aceitação destas mensagens é dado nestas
palavras: "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus, e a fé de
Jesus." A fim de se prepararem para o juízo, é necessário que os homens
guardem a lei de Deus. Esta lei será a norma de caráter no juízo. O Grande
Conflito, págs. 433-436.
Os que receberam a luz concernente ao santuário e à
imutabilidade da lei de Deus, encheram-se de alegria e admiração, ao verem a
beleza e harmonia do conjunto de verdades que se lhes desvendaram ao entendimento.
O Grande Conflito, pág. 454.
CAPÍTULO 10 - Encerramento do Ministério de Cristo
no Santuário Celestial
[Pág. 109] A pregação de um
tempo definido para o juízo, na proclamação da primeira mensagem, foi ordenada
por Deus. O cômputo dos períodos proféticos nos quais se baseava aquela
mensagem, localizando o final dos 2.300 dias no outono de 1844, paira acima de
qualquer contestação. O Grande Conflito, pág. 457.
"Eu continuei olhando", diz o profeta
Daniel, "até que foram postos uns tronos, e um Ancião de Dias Se assentou;
o Seu vestido era branco como a neve, e o cabelo de Sua cabeça como a limpa lã;
o Seu trono chamas de fogo, e as rodas dele fogo ardente. Um rio de fogo manava
e saía de diante dEle; milhares de milhares O serviam, e milhões de milhões
estavam diante dEle; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros." Dan.
7:9 e 10.
Assim foi apresentado à visão do profeta o grande e
solene dia em que o caráter e vida dos homens passariam em revista perante o
Juiz de toda a Terra, e cada homem seria recompensado "segundo as suas
obras". O Ancião de Dias é Deus, o Pai. Diz o salmista: "Antes que os
montes nascessem, ou que Tu formasses a Terra e o mundo, sim, de eternidade a
eternidade, Tu és Deus." Sal. 90:2. É Ele, fonte de todo ser e de [Pág. 110] toda lei, que deve presidir ao juízo. E santos anjos, como
ministros e testemunhas, em número de "milhares de milhares, e milhões de
milhões", assistem a esse grande tribunal.
"E, eis que vinha nas nuvens do céu Um como o
Filho do homem; e dirigiu-Se ao Ancião de Dias, e O fizeram chegar até Ele. E
foi-lhe dado o domínio e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e
línguas O servissem; o Seu domínio é um domínio eterno, que não passará."
Dan. 7:13 e 14. A vinda de Cristo aqui descrita não é a Sua segunda vinda à
Terra. Ele vem ao Ancião de Dias, no Céu, para receber o domínio, a honra, e o
reino, os quais Lhe serão dados no final de Sua obra de mediador. É esta vinda,
e não o seu segundo advento à Terra, que foi predita na profecia como devendo
ocorrer ao terminarem os 2.300 dias, em 1844. Assistido por anjos celestiais,
nosso grande Sumo Sacerdote entra no lugar santíssimo, e ali comparece à
presença de Deus a fim de Se entregar aos últimos atos de Seu ministério em
prol do homem, a saber: realizar a obra do juízo de investigação e fazer
expiação por todos os que se verificarem com direito aos benefícios da mesma.
Os Únicos Casos Considerados
No cerimonial típico, somente os que tinham vindo
perante Deus com confissão e arrependimento, e cujos pecados, por meio do
sangue da oferta para o pecado, eram transferidos para o santuário, é que
tinham parte na cerimônia do dia da expiação. Assim, no grande dia da expiação
final e do juízo de investigação, os únicos casos a serem considerados são os
do povo professo de Deus. O julgamento dos ímpios constitui obra distinta e
separada, e ocorre em ocasião posterior. "É tempo que comece o julgamento
pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que
são desobedientes ao evangelho?" I Ped. 4:17.
Os livros de registro no Céu, nos quais estão
relatados os nomes e ações dos homens, devem determinar a decisão do juízo. Diz
o profeta Daniel: "Assentou-se o juízo, e abriram-se os livros." O
escritor do Apocalipse, descrevendo a mesma cena, acrescenta: "Abriu-se
outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que
estavam escritas nos livros, segundo as suas obras." Apoc. 20:12.
O livro da vida contém os nomes de todos os que já
entraram para o serviço de Deus. Jesus ordenou a Seus discípulos:
[Pág. 111] "Alegrai-vos antes por
estarem os vossos nomes escritos nos Céus." Luc. 10:20. Paulo fala de seus
fiéis cooperadores, "cujos nomes estão no livro da vida". Filip. 4:3.
Daniel olhando através dos séculos para um "tempo de angústia qual nunca
houve", declara que se livrará o povo de Deus, "todo aquele que se
achar escrito no livro". E João, no Apocalipse, diz que apenas entrarão na
cidade de Deus aqueles cujos nomes "estão inscritos no livro da vida do
Cordeiro". Dan. 12:1; Apoc. 21:27.
"Há um memorial escrito diante" de Deus,
no qual estão registradas as boas ações dos "que temem ao Senhor, e para
os que se lembram do Seu nome." Mal. 3:16. Suas palavras de fé, seus atos
de amor, acham-se registrados no Céu. Neemias a isto se refere quando diz:
"Deus meu, lembra-Te de mim; e não risques as beneficências que eu fiz à
casa de meu Deus." Nee. 13:14. No livro memorial de Deus toda ação de
justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo mal vencido,
toda palavra de terna compaixão que se proferir, acham-se fielmente
historiados. E todo ato de sacrifício, todo sofrimento e tristeza, suportado
por amor de Cristo, encontra-se registrado. Diz o salmista: "Tu contaste
as minhas vagueações; põe as minhas lágrimas no Teu odre; não estão elas no Teu
livro?" Sal. 56:8.
Há também um relatório dos pecados dos homens.
"Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está
encoberto, quer seja bom quer seja mau." "De toda a palavra ociosa
que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo." Disse o
Salvador: "Por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás
condenado." Ecl. 12:14; Mat. 12:36 e 37. Os propósitos e intuitos secretos
aparecem no infalível registro; pois Deus "trará à luz as coisas ocultas
das trevas, e manifestará os desígnios dos corações". I Cor. 4:5.
"Eis que está escrito diante de Mim: ... as vossas iniqüidades, e
juntamente as iniqüidades de vossos pais, diz o Senhor." Isa. 65:6 e 7.
A obra de cada homem passa em revista perante Deus,
e é registrada pela sua fidelidade ou infidelidade. Ao lado de cada nome, nos
livros do Céu, estão escritos, com terrível exatidão, toda má palavra, todo ato
egoísta, todo dever não cumprido, e todo pecado secreto, juntamente com toda
artificiosa hipocrisia. Advertências ou admoestações enviadas pelo Céu, e que
foram negligenciadas, momentos desperdiçados, oportunidades não [Pág. 112] aproveitadas, influência
exercida para o bem ou para o mal, juntamente com seus resultados de vasto
alcance, tudo é historiado pelo anjo relator.
A Lei de Deus é a Norma
A lei de Deus é a norma pela qual o caráter e vida
dos homens serão aferidos no juízo. Diz o sábio: "Teme a Deus, e guarda os
Seus mandamentos; porque este é o dever de todo o homem. Porque Deus há de
trazer a juízo toda a obra." Ecl. 12:13 e 14. O apóstolo Tiago admoesta a
Seus irmãos: "Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados
pela lei da liberdade." Tia. 2:12.
Os que no juízo forem "havidos por
dignos", terão parte na ressurreição dos justos. Disse Jesus: "Os que
forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dos
mortos, ... são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da
ressurreição." Luc. 20:35 e 36. E novamente Ele declara que "os que
fizeram o bem" sairão "para a ressurreição da vida". João 5:29.
Os justos mortos não ressuscitarão senão depois do juízo, no qual são havidos
por dignos da "ressurreição da vida". Conseqüentemente não estarão
presentes em pessoa no tribunal em que seus registros são examinados e decidido
seu caso.
Jesus, o Advogado
Jesus aparecerá como seu Advogado, a fim de
pleitear em favor deles perante Deus. "Se alguém pecar, temos um Advogado
para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." I João 2:1. "Porque Cristo
não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo
Céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus."
"Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a
Deus, vivendo sempre para interceder por eles." Heb. 9:24; 7:25.
Ao abrirem-se os livros de registro no juízo, é
passada em revista perante Deus a vida de todos os que creram em Jesus.
Começando pelos que primeiro viveram na Terra, nosso Advogado apresenta os
casos de cada geração sucessiva, finalizando com os vivos. Todo nome é
mencionado, cada caso minuciosamente investigado. Aceitam-se nomes, e
rejeitam-se nomes. Quando alguém tem pecados que permaneçam nos livros de
registro, para os quais não houve arrependimento nem perdão, seu nome será
omitido do livro da vida, e o relato de suas boas [Pág. 113]
ações apagado do livro memorial de Deus. O Senhor declarou a Moisés:
"Aquele que pecar contra Mim, a este riscarei Eu do Meu livro." Êxo.
32:33. E diz o profeta Ezequiel: "Desviando-se o justo da sua justiça, e
cometendo a iniqüidade, ... de todas as suas justiças que tiver feito não se
fará memória." Ezeq. 18:24.
Todos os que verdadeiramente se tenham arrependido
do pecado e que pela fé hajam reclamado o sangue de Cristo, como seu sacrifício
expiatório, tiveram o perdão acrescentado ao seu nome, nos livros do Céu;
tornando-se eles participantes da justiça de Cristo, e verificando-se estar o
seu caráter em harmonia com a lei de Deus, seus pecados serão riscados e eles
próprios havidos por dignos da vida eterna. O Senhor declara pelo profeta
Isaías: "Eu, Eu mesmo, sou O que apago as tuas transgressões por amor de
Mim, e dos teus pecados Me não lembro." Isa. 43:25. Disse Jesus: "O
que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu
nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de Meu Pai, e diante de
Seus anjos." "Qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o
confessarei diante de Meu Pai que está nos Céus. Mas qualquer que Me negar
diante dos homens, Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos Céus."
Apoc. 3:5; Mat. 10:32 e 33.
A Cena do Juízo no Céu
O mais profundo interesse manifestado entre os
homens nas decisões dos tribunais terrestres não representa senão palidamente o
interesse demonstrado nas cortes celestiais quando os nomes inseridos nos
livros da vida aparecerem perante o Juiz de toda a Terra. O Intercessor divino
apresenta a petição para que sejam perdoadas as transgressões de todos os que
venceram pela fé em Seu sangue, a fim de que sejam restabelecidos em seu lar
edênico, e coroados com Ele como co-herdeiros do "primeiro domínio".
Miq. 4:8. Satanás, em seus esforços para enganar e tentar a nossa raça, pensara
frustrar o plano divino na criação do homem; mas Cristo pede agora que este
plano seja levado a efeito, como se o homem nunca houvesse caído. Pede, para
Seu povo, não somente perdão e justificação, amplos e completos, mas
participação em Sua glória e assento sobre o Seu trono.
Enquanto Jesus faz a defesa dos súditos de Sua
graça, Satanás acusa-os diante de Deus como transgressores. O grande [Pág. 114] enganador procurou levá-los ao ceticismo, fazendo-os perder a confiança
em Deus, separar-se de Seu amor e violar Sua lei. Agora aponta para o relatório
de sua vida, para os defeitos de caráter e dessemelhança com Cristo, que
desonraram a seu Redentor, para todos os pecados que ele os tentou a cometer; e
por causa disto os reclama como súditos seus.
Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta
o seu arrependimento e fé, e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos
feridas perante o Pai e os santos anjos, dizendo: "Conheço-os pelo nome.
Gravei-os na palma de Minhas mãos. 'Os sacrifícios para Deus são o espírito
quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó
Deus!'" Sal. 51:17. E ao acusador de Seu povo, declara: "O Senhor te repreende,
ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende; não é este um
tição tirado do fogo?" Zac. 3:2. Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria
justiça, para que os possa apresentar a Seu Pai como "igreja gloriosa, sem
mancha, nem ruga, nem coisa semelhante". Efés. 5:27. Seus nomes permanecem
registrados no livro da vida, e está escrito com relação a eles: "Comigo
andarão de branco; porquanto são dignos disso." Apoc. 3:4.
Assim se realizará o cumprimento total da promessa
do novo concerto: "Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me
lembrarei dos seus pecados." "Naqueles dias, e naquele tempo, diz o
Senhor, buscar-se-á a maldade de Israel, e não será achada; e os pecados de
Judá, mas não se acharão." Jer. 31:34; 50:20.
"Naquele dia o Renovo do Senhor será cheio de
beleza e de glória; e o fruto da terra excelente e formoso para os que
escaparem de Israel. E será que aquele que ficar em Sião e o que permanecer em
Jerusalém, será chamado santo; todo aquele que estiver inscrito entre os vivos
em Jerusalém." Isa. 4:2 e 3.
A obra do juízo investigativo e extinção dos
pecados deve efetuar-se antes do segundo advento do Senhor. Visto que os mortos
são julgados pelas coisas escritas nos livros, é impossível que os pecados dos
homens sejam cancelados antes de concluído o juízo em que seu caso deve ser
investigado. Mas o apóstolo Pedro declara expressamente que os pecados dos
crentes serão apagados quando vierem "os tempos do refrigério pela
presença do Senhor", e Ele enviar a Jesus Cristo (Atos 3:19 e 20).
[Pág. 115] Quando se encerrar
o juízo de investigação, Cristo virá, e Seu galardão estará com Ele para dar a
cada um segundo for a sua obra.
O Encerramento das Cenas do Serviço Antitípico
No culto típico, o sumo sacerdote, havendo feito
expiação por Israel, saía e abençoava a congregação. Assim Cristo, no final de
Sua obra de mediador, aparecerá "sem pecado, ... para salvação" (Heb.
9:28), a fim de abençoar com a vida eterna Seu povo que O espera. Como o
sacerdote, ao remover do santuário os pecados, confessava-os sobre a cabeça do
bode emissário, semelhantemente Cristo porá todos esses pecados sobre Satanás,
o originador e instigador do pecado. O bode emissário, levando os pecados de
Israel, era enviado "à terra solitária" (Lev. 16:22); de igual modo
Satanás, levando a culpa de todos os pecados que induziu o povo de Deus a
cometer, estará durante mil anos circunscrito à Terra, que então se achará
desolada, sem moradores, e ele sofrerá finalmente a pena completa do pecado nos
fogos que destruirão todos os ímpios. Assim o grande plano da redenção atingirá
seu cumprimento na extirpação final do pecado e no livramento de todos os que
estiverem dispostos a renunciar ao mal.
Julgados com Base em Registros Infalíveis
No tempo indicado para o juízo - o final dos 2.300
dias, em 1844 - iniciou-se a obra de investigação e apagamento dos pecados.
Todos os que já professaram o nome de Cristo serão submetidos àquele exame
minucioso. Tanto os vivos como os mortos devem ser julgados "pelas coisas
escritas nos livros, segundo as suas obras".
Pecados de que não houve arrependimento e que não
foram abandonados, não serão perdoados nem apagados dos livros de registro, mas
ali permanecerão para testificar contra o pecador no dia de Deus. Ele pode ter
cometido más ações à luz do dia ou nas trevas da noite; elas, porém, estavam
patentes e manifestas Àquele com quem temos de nos haver. Anjos de Deus
testemunharam cada pecado, registrando-os nos relatórios infalíveis. O pecado
pode ser escondido, negado, encoberto, ao pai, mãe, esposa, filhos e
companheiros; ninguém, a não ser os seus autores culpados, poderá alimentar a
mínima suspeita da falta; ela, porém, jaz descoberta perante os seres
celestiais. As trevas da noite mais escura, os segredos de todas as artes [Pág. 116] enganadoras, não são suficientes para velar do conhecimento do Eterno
um pensamento que seja. Deus tem um relatório exato de toda conta injusta e de
todo negócio desonesto. Não Se deixa enganar pela aparência de piedade. Não
comete erros em Sua apreciação do caráter. Os homens podem ser enganados pelos
que são de coração corrupto, mas Deus penetra todos os disfarces e lê a vida
íntima.
Quão solene é esta consideração! Dia após dia que
passa para a eternidade, traz a sua enorme porção de relatos para os livros do
Céu. Palavras, uma vez faladas, e ações, uma vez praticadas, nunca mais se
podem retirar. Os anjos têm registrado tanto as boas como as más. Nem o mais
poderoso guerreiro pode revogar a relação dos acontecimentos de um único dia
sequer. Nossos atos, palavras, e mesmo nossos intuitos mais secretos, tudo tem
o seu peso ao decidir-se nosso destino para a felicidade ou para a desdita.
Ainda que esquecidos por nós, darão o seu testemunho para justificar ou
condenar.
Assim como os traços da fisionomia são reproduzidos
com precisão infalível sobre a polida chapa fotográfica, assim o caráter é
fielmente delineado nos livros do Céu. Todavia, quão pouca solicitude é
experimentada com referência àquele registro que deve ser posto sob o olhar dos
seres celestiais! Se se pudesse correr o véu que separa o mundo visível do
invisível, e os filhos dos homens contemplassem um anjo registrando toda
palavra e ação, que eles deverão novamente encontrar no juízo, quantas palavras
que diariamente se proferem ficariam sem ser faladas, e quantas ações sem ser
praticadas!
No juízo será examinado o uso feito de cada
talento. Como empregamos nós o capital que nos foi oferecido pelo Céu? Receberá
o Senhor à Sua vinda aquilo que é Seu, com juros? Empregamos nós as faculdades
que nos foram confiadas, nas mãos, no coração e no cérebro, para a glória de
Deus e bênção do mundo? Como usamos nosso tempo, nossa pena, nossa voz, nosso
dinheiro, nossa influência? Que fizemos por Cristo, na pessoa dos pobres,
aflitos, órfãos ou viúvas? Deus nos fez depositários de Sua Santa Palavra; que
fizemos com a luz e verdade que se nos deram para tornar os homens sábios para
a salvação? Nenhum valor existe na mera profissão de fé em Cristo; unicamente o
amor que se revela pelas obras é considerado genuíno. Contudo, é unicamente o
amor que, à vista do Céu, torna de valor qualquer ato. O que quer que seja
feito por amor, [Pág. 117] seja embora
pequenino na apreciação dos homens, é aceito e recompensado por Deus.
O oculto egoísmo humano permanece manifesto nos livros
do Céu. Existe o relato de deveres não cumpridos para com os semelhantes, do
esquecimento dos preceitos do Salvador. Ali verão quantas vezes foram cedidos a
Satanás o tempo, o pensamento, a força, os quais pertenciam a Cristo. Triste é
o relato que os anjos levam para o Céu. Seres inteligentes, seguidores
professos de Cristo, estão absortos na aquisição de posses mundanas ou do gozo
de prazeres terrenos. Dinheiro, tempo e força são sacrificados na ostentação e
condescendência próprias; poucos, porém, são os momentos dedicados à prece, ao
exame das Escrituras, à humilhação da alma e confissão do pecado.
Satanás concebe inumeráveis planos para nos ocupar
a mente, para que ela se não detenha no próprio trabalho com que deveremos
estar mais bem familiarizados. O arquienganador odeia as grandes verdades que
apresentam um sacrifício expiatório e um Todo-poderoso Mediador. Sabe que para
ele tudo depende de desviar a mente, de Jesus e de Sua verdade.
Aperfeiçoando a Santidade no Temor de Deus
Os que desejam participar dos benefícios da
mediação do Salvador, não devem permitir que coisa alguma interfira com seu
dever de aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. As preciosas horas, em vez
de serem entregues ao prazer, à ostentação ou ambição de ganho, devem ser dedicadas
ao estudo da Palavra da verdade, com fervor e oração. O assunto do santuário e
do juízo de investigação, deve ser claramente compreendido pelo povo de Deus.
Todos necessitam para si mesmos de conhecimento sobre a posição e obra de seu
grande Sumo Sacerdote. Aliás, ser-lhes-á impossível exercerem a fé que é
essencial neste tempo, ou ocupar a posição que Deus lhes deseja confiar. Cada
indivíduo tem uma alma a salvar ou perder. Cada qual tem um caso pendente no
tribunal de Deus. Cada um há de defrontar face a face o grande Juiz. Quão
importante é, pois, que todos contemplem muitas vezes a cena solene em que o
juízo se assentará e os livros se abrirão, e em que, juntamente com Daniel,
cada pessoa deve estar na sua sorte, no fim dos dias!
Todos os que receberam luz sobre estes assuntos
devem dar testemunho das grandes verdades que Deus lhes confiou. O santuário no
Céu é o próprio centro da obra de Cristo em [Pág. 118]
favor dos homens. Diz respeito a toda alma que vive
sobre a Terra. Patenteia-nos o plano da redenção, transportando-nos mesmo até
ao final do tempo, e revelando o desfecho triunfante da controvérsia entre a
justiça e o pecado. É da máxima importância que todos investiguem acuradamente
estes assuntos, e possam dar resposta a qualquer que lhes peça a razão da
esperança que neles há.
A intercessão de Cristo no santuário celestial, em
prol do homem, é tão essencial ao plano da redenção, como o foi Sua morte sobre
a cruz. Pela Sua morte iniciou essa obra, para cuja terminação ascendeu ao Céu,
depois de ressurgir. Pela fé devemos penetrar até o interior do véu, onde nosso
Precursor entrou por nós (Heb. 6:20). Ali se reflete a luz da cruz do Calvário.
Ali podemos obter intuição mais clara dos mistérios da redenção. A salvação do
homem se efetua a preço infinito para o Céu; o sacrifício feito é igual aos
mais amplos requisitos da violada lei de Deus. Jesus abriu o caminho para o
trono do Pai, e por meio de Sua mediação pode ser apresentado a Deus o desejo
sincero de todos os que a Ele se chegam pela fé.
"O que encobre as suas transgressões, nunca
prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia." Prov.
28:13. Se os que escondem e desculpam suas faltas pudessem ver como Satanás
exulta sobre eles, como escarnece de Cristo e dos santos anjos, pelo
procedimento deles, apressar-se-iam a confessar seus pecados e deixá-los. Por
meio dos defeitos do caráter, Satanás trabalha para obter o domínio da mente
toda, e sabe que, se esses defeitos forem acariciados, será bem-sucedido.
Portanto, está constantemente procurando enganar os seguidores de Cristo com
seu fatal sofisma de que lhes é impossível vencer. Mas Jesus apresenta em seu
favor Suas mãos feridas, Seu corpo moído; e declara a todos os que desejam
segui-Lo: "A Minha graça te basta." II Cor. 12:9. "Tomai sobre
vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e
encontrareis descanso para as vossas almas. Por que o Meu jugo é suave, e o Meu
fardo é leve." Mat. 11:29 e 30. Ninguém, pois, considere incuráveis os
seus defeitos. Deus dará fé e graça para vencê-los.
Vivemos Hoje o Grande Dia da Expiação
Vivemos hoje no grande dia da expiação. No
cerimonial típico, enquanto o sumo sacerdote fazia expiação por Israel,
exigia-se de todos que afligissem a alma pelo arrependimento do pecado [Pág. 119] e pela humilhação, perante o Senhor, para que não acontecesse serem
extirpados dentre o povo. De igual modo, todos quantos desejem seja seu nome
conservado no livro da vida, devem, agora, nos poucos dias de graça que restam,
afligir a alma diante de Deus, em tristeza pelo pecado e em arrependimento
verdadeiro. Deve haver um exame de coração, profundo e fiel. O espírito leviano
e frívolo, alimentado por tantos cristãos professos, deve ser deixado. Há uma
luta intensa diante de todos os que desejam subjugar as más tendências que
insistem no predomínio. A obra de preparação é uma obra individual. Não somos
salvos em grupos. A pureza e devoção de um, não suprirá a falta dessas
qualidades em outro. Embora todas as nações devam passar em juízo perante Deus,
examinará Ele o caso de cada indivíduo, com um exame tão íntimo e penetrante
como se não houvesse outro ser na Terra. Cada um deve ser provado, e achado sem
mancha ou ruga, ou coisa semelhante.
Solenes são as cenas ligadas à obra final da
expiação. Momentosos, os interesses nela envolvidos. O juízo ora se realiza no
santuário celestial. Há muitos anos esta obra está em andamento. Breve, ninguém
sabe quão breve, passará ela aos casos dos vivos. Na augusta presença de Deus
nossa vida deve passar por exame. Atualmente, mais do que em qualquer outro
tempo, importa a toda alma atender à admoestação do Salvador: "Vigiai e
orai; porque não sabeis quando chegará o tempo." Mar. 13:33. "Se não
vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei."
Apoc. 3:3.
Quando se encerrar a obra do juízo de investigação,
o destino de todos terá sido decidido, ou para a vida, ou para a morte. O tempo
da graça finaliza pouco antes do aparecimento do Senhor nas nuvens do céu.
Cristo, no Apocalipse, prevendo aquele tempo, declara: "Quem é injusto,
faça injustiça ainda; quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo, faça
justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e
o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra." Apoc.
22:11 e 12.
Os justos e os ímpios estarão ainda a viver sobre a
Terra em seu estado mortal: estarão os homens a plantar e a construir, comendo
e bebendo, todos inconscientes de que a decisão final, irrevogável, foi
pronunciada no santuário celestial. Antes do dilúvio, depois que Noé entrou na
arca, Deus o encerrou ali, e excluiu os ímpios; mas, durante sete dias, o povo,
não sabendo que seu destino se achava determinado, continuou em sua vida [Pág. 120] de descuido e de amor aos prazeres, zombando das advertências sobre o
juízo iminente. "Assim", diz o Salvador, "será também a vinda do
Filho do homem." Mat. 24:39. Silenciosamente, despercebida como o ladrão à
meia-noite, virá a hora decisiva que determina o destino de cada homem, sendo
retraída para sempre a oferta de misericórdia ao homem culpado.
"Vigiai, pois, ... para que, vindo de
improviso, não vos ache dormindo." Mar. 13:35 e 36. Perigosa é a condição
dos que, cansando-se de vigiar, volvem às atrações do mundo. Enquanto o homem
de negócios está absorto em busca de lucros, enquanto o amante dos prazeres
procura satisfazer aos mesmos, enquanto a escrava da moda está a arranjar os
seus adornos - pode ser que naquela hora o Juiz de toda a Terra pronuncie a
sentença: "Pesado foste na balança, e foste achado em falta." Dan.
5:27. O Grande Conflito, págs. 479-491.
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