Índice da 2ª parte - capítulos 4 a 6:
4 O
Evangelho em Tipo e Antítipo / 41
5 A
Mensagem do Juízo Agita a América / 47
6 Daniel
8:14 e Passos nos Misteriosos Desígnios de Deus / 67
CAPÍTULO 4 - O Evangelho em Tipo
e Antítipo
[Pág. 41] Salomão pôs em
execução sabiamente o plano tão longamente acariciado por Davi, de construir um
templo ao Senhor. Durante sete anos Jerusalém esteve repleta de ocupados
obreiros, empenhados em aplainar o local escolhido, abrir as grandes valas,
assentar os amplos fundamentos - "pedras grandes, e pedras preciosas,
pedras lavradas" (I Reis 5:17), talhar os pesados troncos vindos das
florestas do Líbano, erguer o magnificente santuário.
Simultaneamente com a preparação da madeira e
pedra, em cuja tarefa muitos milhares estavam aplicando suas energias, a
manufatura do mobiliário para o templo ia progredindo constantemente, sob a
liderança de Hirão, de Tiro, "um homem sábio de grande entendimento,
..." hábil para "lavrar em ouro, e em prata, em bronze, em ferro, em
pedras e em madeira, em púrpura, em azul, e em linho fino, e em carmesim".
II Crôn. 2:13 e 14.
Perfeitamente em harmonia com os Modelos
Assim, à medida que o edifício sobre o Monte Moriá
ia sendo [Pág. 42] silenciosamente
erguido com pedras preparadas, "de maneira que nem martelo, nem machado,
nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a
edificavam" (I Reis 6:7), os belos utensílios eram trabalhados conforme os
modelos entregues por Davi a seu filho - "todos os vasos que eram para a
casa de Deus". II Crôn. 4:19. Eles compreendiam o altar de incenso, a mesa
dos pães da proposição, o castiçal com as lâmpadas, os vasos e instrumentos
relacionados com a ministração dos sacerdotes no lugar santo - tudo "de
ouro, do mais perfeito ouro". II Crôn. 4:21. O mobiliário de bronze - o
altar de ofertas queimadas, o grande lavatório sobre doze bois, as pias de
menor tamanho, com muitos outros vasos - "na campina do Jordão os fundiu o
rei na terra argilosa, entre Sucote e Zeredá". II Crôn. 4:17. Esse
mobiliário foi provido em abundância, para que não houvesse falta.
Um Templo de Esplendor sem Rival
De inexcedível beleza e inigualável esplendor era o
régio edifício que Salomão e seus homens construíram a Deus e ao Seu culto.
Guarnecido de pedras preciosas, circundado por espaçosos átrios com
magnificentes vias de acesso, revestido de cedro lavrado e ouro polido, a
estrutura do templo, com suas cortinas bordadas e rico mobiliário, era
apropriado emblema da igreja viva de Deus na Terra, a qual tem sido edificada
através dos séculos segundo o modelo divino, com material que se tem comparado
ao "ouro, prata e pedras preciosas", "lavradas como colunas de
um palácio". Patriarcas e Profetas, págs. 35 e 36.
Um santuário mais do que esplêndido tinha sido
construído, segundo o modelo mostrado a Moisés no monte, e posteriormente
apresentado pelo Senhor a Davi. Em adição aos querubins em cima da arca,
Salomão mandou fazer dois outros anjos de tamanho maior, ficando um em cada extremidade
da arca, os quais representavam os guardiões celestiais da lei de Deus. É
impossível descrever a beleza e esplendor deste santuário. Para dentro deste
recinto foi a sagrada arca introduzida com solene reverência pelos sacerdotes,
e posta em seu lugar sob as asas dos dois majestosos querubins que estavam
sobre a mesa de cobertura da arca.
Deus Indica Sua Aceitação
O sagrado coro ergueu suas vozes em louvor de Deus,
e a melodia [Pág. 43] foi
acompanhada por toda espécie de instrumentos musicais. E enquanto os átrios do
templo ressoavam com louvor, a nuvem da glória de Deus inundou a casa, como
havia anteriormente acontecido com o tabernáculo no deserto. "E sucedeu
que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor. E
não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem,
porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor." I Reis 8:10 e 11.
Como o santuário terrestre construído por Moisés
segundo o modelo que lhe foi mostrado no monte, o templo de Salomão, com todos
os seus serviços, era uma figura "para o tempo presente, em que se
oferecem dons e sacrifícios" (Heb. 9:9); seus dois lugares santos eram
segundo as coisas que estão no Céu; Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, é
"ministro do santuário, e verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou,
e não o homem". Heb. 8:2. Review and Herald, 9 de novembro de 1905.
Todo o sistema de tipos e símbolos era uma compacta
profecia do evangelho, uma representação em que se continham as promessas de
redenção. Atos dos Apóstolos, pág. 14.
O Antítipo é Perdido de Vista
O Senhor Jesus era o fundamento de toda a
dispensação judaica. Suas imponentes cerimônias foram ordenados por Deus. Foram
designados para ensinar ao povo, que no tempo determinado, viria Aquele ao qual
apontavam aquelas cerimônias. Parábolas de Jesus, pág. 34.
À medida que se apartavam de Deus, os judeus
perderam de vista em grande parte os ensinos do serviço ritual. Esse serviço
fora instituído pelo próprio Cristo. Era, em cada uma de suas partes, um
símbolo dEle; e mostrara-se cheio de vitalidade e beleza espiritual. Mas os
judeus perderam a vida espiritual de suas cerimônias, apegando-se às formas
mortas. Confiavam nos sacrifícios e ordenanças em si mesmos, em lugar de
descansar nAquele a quem apontavam. A fim de suprir o que haviam perdido, os
sacerdotes e rabis multiplicavam exigências por sua conta; e quanto mais
rígidos se tornavam, menos manifestavam o amor de Deus. O Desejado de Todas as
Nações, pág. 29.
As Cerimônias do Templo Perderam seu Significado
Cristo era o fundamento e a vida do templo. Os
cultos deste eram típicos do sacrifício do Filho de Deus.
[Pág. 44] O sacerdócio fora
estabelecido para representar o caráter mediador e a obra de Cristo. Todo o
plano do culto sacrifical era uma representação da morte do Salvador para
redimir o mundo. Não haveria eficácia nessas ofertas, quando o grande
acontecimento a que por séculos haviam apontado, se viesse a consumar.
Uma vez que toda a ordem ritual era simbólica de
Cristo, não tinha valor sem Ele. Quando os judeus selaram sua rejeição de
Cristo, entregando-O à morte, rejeitaram tudo quanto dava significação ao
templo e seus cultos. Sua santidade desaparecera. Estava condenado à
destruição. Daquele dia em diante, as ofertas sacrificais e o serviço com elas
relacionado eram destituídos de significado. Como a oferta de Caim, não
exprimiam fé no Salvador. Condenando Cristo à morte, os judeus destruíram
virtualmente seu templo. Quando Cristo foi crucificado, o véu interior do
templo se rasgou em dois de alto a baixo, significando que o grande sacrifício
final fora feito, e que o sistema de ofertas sacrificais cessara para sempre.
"Em três dias o levantarei". Por ocasião
da morte do Salvador as potências das trevas pareciam prevalecer, e exultaram
em sua vitória. Do fendido sepulcro de José, porém, saiu Jesus vitorioso.
"Despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles
triunfou em Si mesmo". Col. 2:15. Pela virtude de Sua morte e
ressurreição, tornou-Se o ministro do "verdadeiro tabernáculo, o qual o
Senhor fundou, e não o homem". Heb. 8:2. Foram homens que erigiram o
tabernáculo judaico; homens construíram o templo; o santuário de cima, porém,
do qual o terrestre era o símbolo, não foi construído por nenhum arquiteto
humano. "Eis aqui o Homem cujo nome é Renovo; Ele mesmo edificará o templo
do Senhor, e levará a glória, assentar-Se-á, e dominará no Seu trono".
Zac. 6:12 e 13. O Desejado de Todas as Nações, págs. 165 e 166.
Olhos Voltados Para o Verdadeiro Sacrifício
O serviço sacrifical que apontara a Cristo passou,
mas os olhos dos homens voltaram-se para o sacrifício verdadeiro pelos pecados
do mundo. O sacerdócio terrestre terminou; mas nós olhamos a Jesus, o ministro
do novo concerto, e "ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel".
Heb. 12:24. "O caminho do santuário não estava descoberto enquanto se
conservava em pé o primeiro tabernáculo, ... mas, vindo Cristo, o sumo
sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito
por mãos, ... mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez [Pág. 45] no santuário, havendo efetuado
uma eterna redenção". Heb. 9:8-12.
"Portanto, pode também salvar perfeitamente os
que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles".
Heb. 7:25. Conquanto o serviço houvesse de ser transferido do templo terrestre
ao celestial; embora o santuário e nosso grande Sumo Sacerdote fossem
invisíveis aos olhos humanos, todavia os discípulos não sofreriam com isso
nenhum detrimento. Não experimentariam nenhuma falha em sua comunhão, nem
enfraquecimento de poder devido à ausência do Salvador. Enquanto Cristo
ministra no santuário em cima, continua a ser, por meio de Seu Espírito, o
ministro da igreja na Terra. O Desejado de Todas as Nações, pág. 166.
Nosso Sumo Sacerdote, Nosso Advogado
"Porque Cristo não entrou num santuário feito
por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para comparecer, agora, por
nós, perante a face de Deus; nem também para a Si mesmo se oferecer muitas
vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santuário com sangue alheio. De
outra maneira, necessário Lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do
mundo; mas, agora, na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para
aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo." Heb. 9:24-26. "Mas
Este [Jesus], havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está
assentado para sempre à destra de Deus." Heb. 10:12. Cristo entrou uma vez
no santo lugar, tendo obtido para nós eterna redenção. "Por isso, também
pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para
interceder por eles." Heb. 7:25. Ele Se qualificou para ser não somente
representante do homem, mas seu Advogado, de modo que toda pessoa, se desejar,
possa dizer: Tenho um Amigo no tribunal, um Sumo Sacerdote que é sensível ao
sentimento de minhas enfermidades. Review and Herald, 12 de junho de 1900.
O santuário no Céu é o próprio centro da obra de
Cristo em favor dos homens. Ele diz respeito a cada um que vive na Terra. Abre
ante nossos olhos o plano da redenção, conduzindo-nos através do tempo ao
próprio fim, e revelando o triunfante resultado da controvérsia entre justiça e
pecado. É da máxima importância que todos investiguem inteiramente esses
assuntos, e sejam capazes de dar a cada um que lhes peça, a [Pág. 46] razão para a esperança que
neles há. Review and Herald, 9 de novembro de 1905.
CAPÍTULO 5 - A Mensagem do Juízo Agita
a América
[Pág. 47] Um lavrador íntegro
e de sentimentos honestos, que havia sido levado a duvidar da autoridade divina
das Escrituras e que no entanto desejava sinceramente conhecer a verdade, foi o
homem especialmente escolhido por Deus para iniciar a proclamação da segunda
vinda de Cristo. Como outros muitos reformadores, Guilherme Miller lutou no
princípio de sua vida com a pobreza, aprendendo assim as grandes lições de
energia e renúncia. Os membros da família de que proveio caracterizavam-se por
um espírito independente e amante da liberdade, pela capacidade de resistência
e ardente patriotismo, traços que também eram preeminentes em seu caráter. Seu
pai fora capitão no exército da Revolução, e, aos sacrifícios que fizera nas
lutas e sofrimentos daquele tempestuoso período, podem-se atribuir as
circunstâncias embaraçosas dos primeiros anos da vida de Miller.
Possuía ele robusta constituição física, e já na
meninice dera provas de força intelectual superior à comum. Com o passar dos
anos tornou-se isto ainda mais notório. Seu espírito era ativo e bem
desenvolvido, e ardente sua sede de saber. Conquanto não recebesse as vantagens
de uma educação superior, seu amor ao estudo e o hábito de pensar
cuidadosamente, bem como a [Pág. 48] aguda perspicácia, tornaram-no um homem de perfeito
discernimento e largueza de vistas. Era dotado de irrepreensível caráter moral
e nome invejável, sendo geralmente estimado por sua integridade, equilíbrio e
benevolência. À custa de energia e aplicação, adquiriu o necessário para viver,
conservando, no entanto, seus hábitos de estudo. Ocupou com distinção vários
cargos civis e militares, e as portas da riqueza e honra pareciam-lhe abertas
de par em par.
Sua mãe era mulher verdadeiramente piedosa, e na
infância estivera ele sujeito às impressões religiosas. No entanto, ao atingir
o limiar da idade adulta, foi levado a associar-se com deístas, cuja influência
foi tanto mais acentuada pelo fato de serem na maioria bons cidadãos, e homens
de disposições humanitárias e benevolentes. Vivendo no meio de instituições
cristãs, seu caráter tinha sido até certo ponto moldado pelo ambiente. As boas
qualidades que lhes conquistaram respeito e confiança, deviam-nas à Bíblia, e,
contudo, esses dons apreciáveis se haviam pervertido a ponto de exercer
influência contra a Palavra de Deus. Pela associação com esses homens, Miller
foi levado a adotar seus sentimentos. As interpretações corretas das Escrituras
apresentavam dificuldades que lhe pareciam insuperáveis; todavia, sua nova
crença, conquanto pusesse de lado a Escritura Sagrada, nada oferecia de melhor
para substituí-la, e longe estava ele de sentir-se satisfeito. Continuou,
entretanto, a manter estas opiniões durante mais ou menos doze anos. Mas com a
idade de trinta e quatro anos, o Espírito Santo impressionou-lhe o coração com
a intuição de seu estado pecaminoso. Não encontrou em sua crença anterior
certeza alguma de felicidade além-túmulo. O futuro era negro e tétrico. ...
Nesse estado continuou durante alguns meses.
"Subitamente", diz ele, "gravou-se-me ao vivo no espírito o
caráter de um Salvador. Pareceu-me que bem poderia existir um Ser tão bom e
compassivo que por nossas transgressões fizesse expiação, livrando-nos, assim,
de sofrer a pena do pecado. Compreendi desde logo quão amável esse Ente deveria
ser, e imaginei poder lançar-me aos Seus braços, confiante em Sua misericórdia.
Mas surgiu a questão: Como se pode provar a existência desse Ser? Além da Bíblia,
achei que não poderia obter prova da existência de semelhante Salvador, nem
sequer de uma existência futura. ...
"Vi que a Escritura Sagrada apresentava
precisamente um Salvador como o que necessitava; e fiquei perplexo por ver [Pág. 49] como um livro não inspirado
desenvolvia princípios tão perfeitamente adaptados às necessidades de um mundo
decaído. Fui constrangido a admitir que as Escrituras devem ser uma revelação
de Deus. Tornaram-se elas a minha alegria; e em Jesus encontrei um amigo. O
Salvador tornou-Se para mim o primeiro entre dez mil; e as Escrituras, que
antes eram obscuras e contraditórias, tornaram-se agora a lâmpada para os meus
pés e luz para meu caminho. Meu espírito tranqüilizou-se e ficou satisfeito.
Achei que o Senhor Deus é uma Rocha em meio do oceano da vida. A Bíblia
tornou-se então o meu estudo principal e, posso em verdade dizer, pesquisava-a
com grande prazer. Vi que a metade nunca se me havia dito. Admirava-me de que
me não tivesse apercebido antes, de sua beleza e glória; e maravilhava-me de
que já a pudesse haver rejeitado. Tudo que o coração poderia desejar, encontrei
revelado, como um remédio para toda enfermidade do espírito. Perdi todo o gosto
para outra leitura, e apliquei o coração a obter a sabedoria de Deus." Memórias
de Guilherme Miller, S. Bliss.
Miller professou publicamente sua fé na religião
que antes desprezara. Seus companheiros incrédulos, entretanto, não tardaram em
produzir todos os argumentos com que ele próprio insistira contra a autoridade
divina das Escrituras. Não estava então preparado para responder a eles, mas
raciocinava que, se a Bíblia é a revelação de Deus, deve ser coerente consigo
mesma; e que, como foi dada para a instrução do homem, deve adaptar-se à sua
compreensão. Decidiu-se a estudar as Escrituras por si mesmo, e verificar se as
aparentes contradições não se poderiam harmonizar.
Esforçando-se por deixar de lado todas as opiniões
preconcebidas, dispensando comentários, comparou passagem com passagem, com o
auxílio das referências à margem e da concordância. Prosseguiu no estudo de
modo sistemático e metódico; começando com Gênesis, e lendo versículo por
versículo, não ia mais depressa do que se lhe desvendava o sentido das várias
passagens, de modo a deixá-lo livre de toda dificuldade. Quando encontrava
algum ponto obscuro, tinha por costume compará-lo com todos os outros textos
que pareciam ter qualquer referência ao assunto em consideração. Permitia que
cada palavra tivesse a relação própria com o assunto do texto e, quando
harmonizava seu ponto de vista acerca dessa passagem com todas as referências
da mesma, deixava de ser uma dificuldade. Assim, quando quer que encontrasse
passagem difícil de entender, [Pág. 50] achava
explicação em alguma outra parte das Escrituras. Estudando com fervorosa oração
para obter esclarecimentos da parte de Deus, o que antes parecia obscuro à
compreensão agora se fizera claro. Experimentou a verdade das palavras do
salmista: "A exposição das Tuas Palavras dá luz e dá entendimento aos
símplices." Sal. 119:130.
O Estudo das Profecias
Com intenso interesse estudou os livros de Daniel e
Apocalipse, empregando os mesmos princípios de interpretação que para as demais
partes das Escrituras; e descobriu, para sua grande alegria, que os símbolos
proféticos podiam ser compreendidos. Viu que as profecias já cumpridas tiveram
cumprimento literal; que todas as várias figuras, metáforas, parábolas,
símiles, etc., ou eram explicados em seu contexto, ou os termos em que eram
expressos se achavam entendidos literalmente. "Fiquei assim convencido",
diz ele, "de ser a Escritura Sagrada um conjunto de verdades reveladas,
tão clara e simplesmente apresentadas que o viajante, ainda que seja um louco,
não precisa errar." Bliss. Elo após elo da cadeia da verdade recompensava
seus esforços, enquanto passo a passo divisava as grandes linhas proféticas.
Anjos celestiais estavam a guiar-lhe o espírito e a abrir as Escrituras à sua
compreensão.
Tomando a maneira por que as profecias se tinham
cumprido no passado como critério pelo qual julgar do cumprimento das que ainda
estavam no futuro, chegou à conclusão de que o conceito popular acerca do reino
espiritual de Cristo - o milênio temporal antes do fim do mundo - não é apoiado
pela Palavra de Deus. Essa doutrina, falando em mil anos de justiça e paz antes
da vinda pessoal do Senhor, afasta para longe os terrores do dia de Deus. Mas,
por agradável que seja, é contrária aos ensinos de Cristo e Seus apóstolos, que
declaravam que o trigo e o joio devem crescer juntos até à ceifa, o fim do
mundo (Mat. 13:30, 38-41); "mas os homens maus e enganadores irão de mal
para pior"; que "nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis"
(II Tim. 3:13 e 1); e que o reino das trevas continuará até o advento do
Senhor, sendo consumido pelo espírito de Sua boca e destruído com o resplendor
de Sua vinda. (II Tess. 2:8.)
A doutrina da conversão do mundo e do reino
espiritual de Cristo não era mantida pela igreja apostólica. Não foi geralmente
aceita pelos cristãos antes do começo do século dezoito, aproximadamente.
[Pág. 51] Como todos os outros
erros, seus resultados foram maus. Ensinava os homens a afastarem para um
longínquo futuro a vinda do Senhor, e os impedia de prestar atenção aos sinais
que anunciavam Sua aproximação. Infundia um sentimento de confiança e segurança
que não era bem fundado, levando muitos a negligenciarem o necessário preparo a
fim de se encontrar com seu Senhor.
Miller achou que a vinda de Cristo, literal,
pessoal, é plenamente ensinada nas Escrituras. Diz Paulo: "O mesmo Senhor
descerá do céu com alarido, e com voz de Arcanjo, e com a trombeta de
Deus." I Tess. 4:16. E o Salvador declara: "Verão o Filho do homem
vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. ... Assim como o
relâmpago sai do Oriente e se mostra até no Ocidente, assim há de ser a vinda
do Filho do homem." Mat. 24:30 e 27. Ele deverá ser acompanhado de todas
as hostes celestiais. O Filho do homem virá em Sua glória, "e todos os
santos anjos, com Ele". Mat. 25:31. "Ele enviará os Seus anjos com
rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos." Mat.
24:31.
À Sua vinda, os justos que estiverem mortos
ressuscitarão, os vivos serão transformados. "Nem todos dormiremos",
diz Paulo, "mas todos seremos transformados, num momento num abrir e
fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que
isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal
se revista da imortalidade." I Cor. 15:51-53. E em sua carta aos
tessalonicenses, depois de descrever a vinda do Senhor, diz ele: "Os que
morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos,
seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos
ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." I Tess. 4:16 e 17.
Não poderá o Seu povo receber o reino antes do
advento pessoal de Cristo. Disse o Salvador: "E, quando o Filho do homem
vier em Sua glória, e todos os santos anjos, com Ele, então, Se assentará no
trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dEle, e apartará
uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. E porá as ovelhas à
Sua direita, mas os bodes à esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à Sua
direita: Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo." Mat. 25:31-34.
[Pág. 52] Vimos pelos textos
citados que, quando o Filho do homem vier, os mortos serão ressuscitados
incorruptíveis, e os vivos serão transformados. Por esta grande mudança ficam
preparados para receberem o reino; pois Paulo diz: "Que carne e sangue não
podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção." I Cor.
15:50. O homem, em seu estado presente, é mortal, corruptível; o reino de Deus,
porém, será incorruptível, permanecendo para sempre. Portanto, o homem, em sua
condição atual, não pode entrar no reino de Deus. Mas, em vindo Jesus, confere
a imortalidade a Seu povo; e então os chama para possuírem o reino de que até
ali têm sido apenas herdeiros.
Estas e outras passagens provaram claramente ao
espírito de Miller que os acontecimentos que geralmente se esperava ocorrerem
antes da vinda de Cristo, como seja o reino universal de paz e o
estabelecimento do domínio de Deus sobre a Terra, deveriam ser subseqüentes ao
segundo advento. Além disso, todos os sinais dos tempos e as condições do mundo
correspondiam à descrição profética dos últimos dias. Foi levado, somente pelo
estudo das Escrituras, à conclusão de que estava prestes a terminar o período
de tempo concedido para a existência da Terra em sua condição presente.
O Impacto da Cronologia Bíblica
"Outra espécie de prova que vivamente me
impressionava o espírito", diz ele, "era a cronologia das Escrituras.
... Notei que os acontecimentos preditos, que se haviam cumprido no passado,
muitas vezes ocorreram dentro de um dado tempo. Os cento e vinte anos do
dilúvio (Gên. 6:3), os sete dias que o deviam preceder, com quarenta dias de
chuva predita (Gên. 7:4), os quatrocentos anos da permanência temporária da
semente de Abraão (Gên. 15:13), os três dias do sonho do copeiro-mor e do
padeiro-mor (Gên. 40:12-20); os sete anos de Faraó (Gên. 41:28-54), os quarenta
anos no deserto (Núm. 14:34), os três anos e meio de fome (I Reis 17:1; Luc.
4:25); o cativeiro de setenta anos (Jer. 25:11), os sete tempos de
Nabucodonosor (Dan. 4:13-16), e as sete semanas, sessenta e duas semanas, e a
semana, perfazendo setenta semanas, determinadas aos judeus (Dan. 9:24-27) são
tempos que limitaram acontecimentos que antes eram apenas assuntos de profecia,
cumprindo-se de acordo com as predições." Bliss.
Quando, portanto, encontrou em seu estudo da Bíblia
vários [Pág.
53] períodos cronológicos que segundo a sua
compreensão dos mesmos, se estendiam até à segunda vinda de Cristo, não pôde
senão considerá-los como os "tempos já dantes ordenados" (Atos
17:26), que Deus revelou a Seus servos. "As coisas encobertas", diz
Moisés, "são para o Senhor nosso Deus; porém as reveladas são para nós e
para nossos filhos, para sempre" (Deut. 29:29); e o Senhor declara pelo
profeta Amós que "não fará coisa alguma, sem ter revelado o Seu segredo
aos Seus servos, os profetas". Amós 3:7. Assim, os que estudam a Palavra
de Deus podem confiantemente esperar que encontrarão nas Escrituras da verdade,
claramente indicado, o acontecimento mais estupendo a ocorrer na história da
humanidade.
"Como eu estivesse plenamente convicto",
diz Miller, "de que 'toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa'
(II Tim. 3:16); de que ela não veio nunca pela vontade do homem, mas foi
escrita ao serem homens santos inspirados pelo Espírito Santo (II Ped. 1:21), e
dada 'para nosso ensino..., para que pela paciência e consolação das
Escrituras, tenhamos esperança' (Rom. 15:4), não poderia deixar de considerar
as porções cronológicas da Bíblia senão como uma parte da Palavra de Deus, e
com tanto direito à nossa séria consideração como qualquer outra porção dela.
Senti, pois, que, esforçando-me por compreender o que Deus em Sua misericórdia
achou conveniente revelar-nos, eu não tinha direito de omitir os períodos
proféticos." Bliss.
A Profecia de Daniel 8:14
A profecia que mais claramente parecia revelar o
tempo do segundo advento, era a de Daniel 8:14: "Até duas mil e trezentas
tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Seguindo sua regra de
fazer as Escrituras o seu próprio intérprete, Miller descobriu que um dia na
profecia simbólica representa um ano (Núm. 14:34; Ezeq. 4:6); viu que o período
de 2.300 dias proféticos, ou anos literais, se estenderia muito além do final
da dispensação judaica, donde o não poder ele referir-se ao santuário daquela
dispensação. Miller aceitou a opinião geralmente acolhida, de que na era cristã
a Terra é o santuário, e, portanto, compreendeu que a purificação do santuário
predita em Daniel 8:14 representa a purificação da Terra pelo fogo, à segunda
vinda de Cristo. Se, pois, se pudesse encontrar o exato ponto de partida para
os 2.300 dias, concluiu que se poderia facilmente determinar a ocasião do
segundo advento. ...
Com um novo e mais profundo fervor, Miller
continuou [Pág. 54] o exame das profecias, dedicando dias
e noites inteiras ao estudo do que agora lhe parecia de tão estupenda
importância e absorvente interesse. No capítulo 8 de Daniel ele não pôde achar
nenhum fio que guiasse ao ponto de partida dos 2.300 dias; o anjo Gabriel,
conquanto tivesse recebido ordem de fazer com que Daniel compreendesse a visão,
deu-lhe apenas uma explicação parcial. Quando a terrível perseguição a recair
sobre a igreja foi desvendada à visão do profeta, abandonou-o a força física.
Não pôde suportar mais, e o anjo o deixou por algum tempo. Daniel enfraqueceu e
esteve enfermo alguns dias. "Espantei-me acerca da visão", diz ele,
"e não havia quem a entendesse." Dan. 8:27.
Deus ordenou, contudo, a Seu mensageiro: "Dá a
entender a este a visão." Dan. 8:16. A incumbência devia ser satisfeita.
Em obediência a ela, o anjo, algum tempo depois, voltou a Daniel, dizendo:
"Agora, saí para fazer-te entender o sentido; ... toma, pois, bem sentido
na palavra, e entende a visão." Dan. 9:22 e 23. Havia, na visão do
capítulo 8, um ponto importante que tinha sido deixado sem explicação, a saber,
o que se refere ao tempo, ou seja, ao período dos 2.300 dias; portanto o anjo,
retomando a explicação, ocupa-se principalmente do assunto do tempo:
"Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa
cidade. ... Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para
edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, sete semanas e sessenta e duas
semanas; as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos.
E, depois das sessenta e duas semanas, será tirado o Messias e não será mais.
... E Ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e, na metade da
semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares." Dan. 9:24-27.
O anjo fora enviado a Daniel com o expresso fim de
lhe explicar o ponto que tinha deixado de compreender na visão do capítulo 8, a
saber, a declaração relativa ao tempo: "Até duas mil e trezentas tardes e
manhãs; e o santuário será purificado." Dan. 8:14. Depois de mandar Daniel
tomar bem sentido na palavra e entender a visão, as primeiras declarações do
anjo foram: "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a
tua santa cidade." Dan. 9:24. A palavra aqui traduzida
"determinadas" significa literalmente "separadas". Setenta
semanas, representando 490 anos, declara o anjo estarem separadas, referindo-se
especialmente aos judeus. Mas, separadas de quê? Como os 2.300 dias foram o
único período de tempo mencionado no capítulo 8, [Pág. 55] devem ser o período de que as setenta semanas se
separaram; estas devem ser, portanto, uma parte dos 2.300 dias, e os dois
períodos devem começar juntamente. Declara o anjo datarem as setenta semanas da
saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém. Se se pudesse encontrar a
data desta ordem, estaria estabelecido o ponto de partida do grande período dos
2.300 dias.
No capítulo 7 de Esdras acha-se o decreto (Esd.
7:12-26). Em sua forma completa foi promulgado por Artaxerxes, rei da Pérsia,
em 457 antes de Cristo. Mas em Esdras 6:14 se diz ter sido a casa do Senhor em
Jerusalém edificada "conforme o mandado [ou decreto, como se poderia
traduzir] de Ciro, e de Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia". Estes três
reis, originando, confirmando e completando o decreto, deram-lhe a perfeição
exigida pela profecia para assinalar o início dos 2.300 anos. Tomando-se o ano
457 antes de Cristo, tempo em que se completou o decreto, como data da ordem,
viu-se ter-se cumprido toda a especificação da profecia relativa às setenta
semanas.
"Desde a saída da ordem para restaurar e para
edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, sete semanas e sessenta e duas
semanas" (Dan. 9:25) - a saber, sessenta e nove semanas ou 483 anos. O
decreto de Artaxerxes entrou em vigor no outono de 457 antes de Cristo. A
partir desta data, 483 anos estendem-se até o outono do ano 27 de nossa era.
Naquele tempo esta profecia se cumpriu. A palavra "Messias" significa
o "Ungido". No outono do ano 27 de nossa era, Cristo foi batizado por
João, e recebeu a unção do Espírito. O apóstolo Pedro testifica que "Deus
ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude". Atos 10:38. E
o próprio Salvador declarou: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que
Me ungiu para evangelizar os pobres." Luc. 4:18. Depois de Seu batismo Ele
foi para a Galiléia, "pregando o evangelho do reino de Deus e dizendo: O
tempo está cumprido". Mar. 1:14 e 15.
De acordo com o sistema judaico de contagem, o
quinto mês (Ab) do sétimo ano do reinado de Artaxerxes foi de 23 de julho a 21
de agosto de 457 a.C. Depois da chegada de Esdras a Jerusalém no outono do ano,
o decreto do rei entrou em vigor. Para a certeza da data 457 a.C. como sendo o
sétimo ano de Artaxerxes. Ver S. H. Horn
e L. H. Wood, The Chronology of Ezra 7 (Review and Herald, 1953 e 1969; E. G.
Kraeling, The Brooklyn Museum Aramaic Papyri, págs. 191-193; Seventh-day
Adventist Bible Commentary, vol. 3, págs. 97-100.
"E Ele firmará um concerto com muitos por uma
semana." Dan. 9:27. A "semana", a que há referência aqui, é a
última das setenta, são os últimos sete anos do período concedido especialmente
aos [Pág. 56] judeus.
Durante este tempo, que se estende do ano 27 ao ano 34 de nossa era, Cristo, a
princípio em pessoa e depois pelos Seus discípulos, dirigiu o convite do
evangelho especialmente aos judeus. Ao saírem os apóstolos com as boas novas do
reino, a recomendação do Salvador era: "Não ireis pelo caminho das gentes,
nem entrareis em cidades de samaritanos; mas ide, às ovelhas perdidas da casa
de Israel." Mat. 10:5 e 6.
"Na metade da semana, fará cessar o sacrifício
e a oferta de manjares." Dan. 9:27. No ano 31 de nossa era, três anos e
meio depois de Seu batismo, nosso Senhor foi crucificado. Com o grande
sacrifício oferecido sobre o Calvário, terminou aquele sistema cerimonial de
ofertas, que durante quatro mil anos haviam apontado para o Cordeiro de Deus. O
tipo alcançou o antítipo, e todos os sacrifícios e ofertas daquele sistema
cerimonial deveriam cessar.
As setenta semanas, ou 490 anos, especialmente
conferidas aos judeus, terminaram, como vimos, no ano 34. Naquele tempo, pelo
ato do sinédrio judaico, a nação selou sua recusa do evangelho, pelo martírio
de Estêvão e perseguição aos seguidores de Cristo. Assim, a mensagem da
salvação, não mais restrita ao povo escolhido, foi dada ao mundo. Os
discípulos, forçados pela perseguição a fugir de Jerusalém, "iam por toda
parte, anunciando a Palavra". Atos 8:4. Filipe desceu à cidade de Samaria
e pregou a Cristo. (Atos 8:5.) Pedro, divinamente guiado, revelou o evangelho
ao centurião de Cesaréia, Cornélio, que era temente a Deus; e o ardoroso Paulo,
ganho à fé cristã, foi incumbido de levar as alegres novas "aos gentios de
longe". Atos 22:21.
Até aqui, cumpriram-se de maneira surpreendente
todas as especificações das profecias e fixa-se o início das setenta semanas,
inquestionavelmente, no ano 457 antes de Cristo, e seu termo no ano 34 de nossa
era. Por estes dados não há dificuldade em achar-se o final dos 2.300 dias.
Tendo sido as setenta semanas - 490 dias - separadas dos 2.300 dias, ficaram
restando 1.810 dias. Depois do fim dos 490 dias os 1.810 dias deveriam ainda
cumprir-se. Contando do ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem a 1844.
Conseqüentemente, os 2.300 dias de Daniel 8:14 terminam em 1844. Ao expirar
este grande período profético, "o santuário será purificado", segundo
o testemunho do anjo de Deus. Deste modo foi definitivamente indicado o tempo
da purificação do santuário, que quase [Pág. 57] universalmente se acreditava ocorresse por ocasião do
segundo advento.
Miller e seus companheiros a princípio creram que
os 2.300 dias terminariam na primavera de 1844, ao passo que a profecia
indicava o outono daquele ano. A compreensão errônea deste ponto trouxe
desapontamento e perplexidade aos que haviam fixado a primeira daquelas datas
para o tempo da vinda do Senhor. Isto, porém, não afetou nem de leve a força do
argumento que mostrava terem os 2.300 dias terminado no ano 1844, e que o
grande acontecimento representado pela purificação do santuário deveria ocorrer
então.
O Dever de Falar a Outros
Devotando-se ao estudo das Escrituras, como fizera,
a fim de provar serem elas uma revelação de Deus, Miller não tinha a princípio
a menor expectativa de atingir a conclusão a que chegara. ... Mas a prova das
Escrituras era por demais clara e forte para que fosse posta de parte.
Dois anos dedicara ele ao estudo da Bíblia, quando,
em 1818, chegou à solene conclusão de que dentro de vinte e cinco anos,
aproximadamente, Cristo apareceria para redenção de Seu povo. "Não
necessito falar", diz Miller, "do júbilo que me encheu o coração em
vista da deleitável perspectiva, nem do anelo ardente de minha alma para
participar das alegrias dos remidos. A Bíblia era então para mim um livro novo.
Considerava-a verdadeiramente um banquete para a razão; tudo que, em seus
ensinos, fora ininteligível, místico ou obscuro para mim, dissipara-se-me do
espírito ante a clara luz que ora raiava de suas páginas sagradas; e oh! quão
brilhante e gloriosa se me apresentava a verdade! Todas as contradições e
incoerências que eu antes encontrara na Palavra, desapareceram; e posto que
houvesse muitas partes de que eu não possuía uma compreensão que me
satisfizesse, tanta luz, contudo, dela emanara para a iluminação de meu
espírito antes obscurecido, que senti, em estudar as Escrituras, um prazer que
antes não supunha pudesse ser delas derivado." Bliss.
"Solenemente convencido de que as Santas
Escrituras anunciavam o cumprimento de tão importantes acontecimentos em tão
curto espaço de tempo, surgiu com força em minha alma a questão de saber qual
meu dever para com o mundo, em face da evidência que comovera a meu próprio
espírito." Bliss. Não pôde deixar de sentir que era seu dever [Pág. 58] comunicar a outros a luz que
tinha recebido. Esperava encontrar oposição por parte dos ímpios, mas confiava
em que todos os cristãos se regozijariam na esperança de ver o Salvador, a quem
professavam amar. Seu único temor era que, em sua grande alegria ante a
perspectiva do glorioso livramento, a consumar-se tão breve, muitos recebessem
a doutrina sem examinar suficientemente as Escrituras em demonstração de sua
verdade. Portanto, hesitou em apresentá-la, receando que estivesse em erro, e
fosse, assim, o meio de transviar a outros. Foi levado, desta maneira, a rever
as provas em apoio das conclusões a que chegara, e a considerar cuidadosamente
toda dificuldade que se lhe apresentava ao espírito. Viu que as objeções se
desvaneciam ante a luz da Palavra de Deus, como a névoa diante dos raios do
Sol. Cinco anos despendidos desta maneira, deixaram-no completamente convicto
da correção de suas opiniões.
E agora o dever de tornar conhecido a outros o que
cria ser ensinado tão claramente nas Escrituras, impunha-se-lhe com nova força.
...
Começou ele a apresentar suas opiniões em
particular, quando se lhe oferecia oportunidade, orando para que algum pastor
pudesse sentir a força das mesmas e dedicar-se à sua promulgação. Mas não pôde
banir a convicção de que tinha um dever pessoal a cumprir, em fazer a
advertência. Ocorriam-lhe sempre ao espírito as palavras: "Vai dizê-lo ao
mundo; seu sangue requererei de tuas mãos." Durante nove anos esperou,
pesando-lhe sempre este fardo sobre a alma, até que em 1831 pela primeira vez
expôs publicamente as razões de sua fé. ...
Começa um Despertamento Religioso
Foi somente às solicitações de seus irmãos, em
cujas palavras ele ouvia o chamado de Deus, que Miller consentiu em apresentar
suas opiniões em público. Contava então cinqüenta anos de idade, não estava
habituado a falar em público, e sentia-se oprimido ao reconhecer sua
incapacidade para a obra. Desde o princípio, porém, seus trabalhos para a
salvação das almas foram abençoados de modo notável. Sua primeira conferência
foi seguida de um despertamento religioso, no qual se converteram treze
famílias inteiras, com exceção de duas pessoas. Foi imediatamente convidado a
falar em outros lugares, e quase em toda parte seu trabalho resultava em
avivamento da obra de Deus.
[Pág. 59] Convertiam-se
pecadores, cristãos eram despertados a maior consagração, e deístas e
incrédulos reconheciam a verdade da Bíblia e da religião cristã. O testemunho
daqueles entre os quais trabalhava, era: "Atingia a uma classe de
espíritos fora da influência de outros homens." Bliss. Sua pregação era de
molde a despertar o espírito público aos grandes temas da religião, e sustar o
crescente mundanismo e sensualidade da época.
Em quase todas as cidades havia dezenas de
conversos, e em algumas, centenas, como resultado de sua pregação. Em muitos
lugares as igrejas protestantes de quase todas as denominações abriram-se-lhe
amplamente; e os convites para nelas trabalhar vinham geralmente dos pastores
das várias congregações. Adotava como regra invariável não trabalhar em
qualquer lugar a que não fosse convidado; e, no entanto, logo se viu
impossibilitado de atender à metade dos pedidos que choviam sobre ele.
Evidências de Bênção Divina
Muitos que não aceitaram suas opiniões quanto ao
tempo exato do segundo advento, ficaram convencidos da certeza e proximidade da
vinda de Cristo e de sua necessidade de preparo. Em algumas das grandes cidades
seu trabalho produziu impressão extraordinária. Vendedores de bebidas
abandonavam este comércio e transformavam suas lojas em salas de cultos; antros
de jogo eram fechados; corrigiam-se incrédulos, deístas, universalistas, e
mesmo os libertinos mais perdidos, alguns dos quais não haviam durante anos
entrado em uma casa de culto. Várias denominações efetuavam reuniões de oração,
em diferentes bairros, quase a todas as horas do dia, reunindo-se os homens de
negócios ao meio-dia para oração de louvor. Não havia nenhuma excitação
extravagante, mas sim uma sensação de solenidade quase geral no espírito do
povo. Sua obra, como a dos primeiros reformadores, tendia antes para convencer
o entendimento e despertar a consciência do que a meramente excitar as emoções.
Em 1833 Miller recebeu da Igreja Batista de que era
membro uma licença para pregar. Grande número dos pastores de sua denominação
aprovou-lhe também a obra, e foi com essa sanção formal que continuou com os
seus trabalhos. Posto que seus labores pessoais estivessem limitados
principalmente à Nova Inglaterra e aos Estados centrais, viajou e pregou
incessantemente.
[Pág. 60] Durante vários anos
suas despesas eram cobertas inteiramente por sua bolsa particular e
posteriormente nunca recebeu o bastante para custear as viagens aos lugares a
que era convidado. Assim, seus trabalhos públicos, longe de serem benefício
financeiro, eram-lhe pesado encargo às posses, que gradualmente diminuíram durante
este período de sua vida. Era chefe de numerosa família; mas como todos eram
sóbrios e industriosos, sua fazenda bastava para a manutenção de todos.
O Último dos Sinais
Em 1833, dois anos depois que Miller começou a
apresentar em público as provas da próxima vinda de Cristo, apareceu o último
dos sinais que foram prometidos pelo Salvador como indícios de Seu segundo
advento. Disse Jesus: "As estrelas cairão do céu." Mat. 24:29. E
João, no Apocalipse, declarou, ao contemplar em visão as cenas que deveriam
anunciar o dia de Deus: "E as estrelas do céu caíram sobre a Terra, como
quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento
forte." Apoc. 6:13. Esta profecia teve cumprimento surpreendente e
impressionante na grande chuva meteórica de 13 de novembro de 1833. Aquela foi
a mais extensa e maravilhosa exibição de estrelas cadentes que já se tem
registrado, "achando-se então o firmamento inteiro, sobre todos os Estados
Unidos, durante horas, em faiscante comoção! Neste país, desde que começou a
ser colonizado, nenhum fenômeno celeste já ocorreu que fosse visto com tão
intensa admiração por uns ou com tanto terror e alarma por outros".
"Sua sublimidade e terrível beleza ainda perdura em muitos espíritos. ...
Raras vezes caiu chuva mais densa do que caíram os meteoros em direção à Terra;
Leste, Oeste, Norte e Sul, tudo era o mesmo. Em uma palavra, o céu inteiro
parecia em movimento. ... O espetáculo, como o descreveu o diário do Prof.
Silliman, foi visto por toda a América do Norte. ... Desde as duas horas até
pleno dia, estando o céu perfeitamente sereno e sem nuvens, um contínuo jogo de
luzes deslumbrantemente fulgurantes se manteve em todo o firmamento."
Progresso Americano, ou Os Grandes Acontecimentos do Maior dos Séculos, R. M. Devens.
...
No Journal of Commerce, de Nova Iorque, de 14 de
novembro de 1833, apareceu um longo artigo considerando este maravilhoso
fenômeno, o texto continha esta declaração: "Nenhum filósofo ou sábio
mencionou ou registrou, suponho-o [Pág. 61] eu, um acontecimento semelhante ao de ontem de manhã. Um
profeta há mil e oitocentos anos predisse-o exatamente - se não nos furtarmos
ao incômodo de compreender o chuveiro de estrelas como a queda das mesmas, ...
no único sentido em que é possível ser isso literalmente verdade."
Assim se mostrou o último dos sinais de Sua vinda,
relativamente aos quais Jesus declarou a Seus discípulos: "Quando virdes
todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas." Mat. 24:33. Depois
destes sinais João contemplou, como o grande acontecimento a seguir
imediatamente, o céu retirando-se como pergaminho que se enrola, enquanto a
Terra tremia, montanhas e ilhas se removiam dos lugares, e os ímpios
procuravam, aterrorizados, fugir da presença do Filho do homem (Apoc. 6:12-17).
Muitos que testemunharam a queda das estrelas,
consideraram-na um arauto do juízo vindouro - "sinal espantoso, precursor
certo, misericordioso prenúncio do grande e terrível dia". The Old
Countryman. Deste modo a atenção do povo foi dirigida para o cumprimento da profecia,
sendo muitos levados a dar atenção à advertência do segundo advento. ...
A Bíblia e a Bíblia só
Guilherme Miller possuía grandes dotes
intelectuais, disciplinados pela meditação e estudo; e a estes acrescentava a
sabedoria do Céu, pondo-se em ligação com a Fonte da sabedoria. Era um homem de
verdadeiro valor, que inspirava respeito e estima onde quer que a integridade
de caráter e a excelência moral fossem apreciadas. Unindo a verdadeira bondade
de coração à humildade cristã e ao poder do domínio próprio, era atento e
afável para com todos, pronto para ouvir as opiniões de outrem e pesar seus
argumentos. Sem paixão ou excitação, aferia todas as teorias e doutrinas pela
Palavra de Deus; e seu raciocínio sadio e o profundo conhecimento das
Escrituras habilitavam-no a refutar o erro e desmascarar a falsidade.
Todavia, não prosseguiu ele o seu trabalho sem
tenaz oposição. Como acontecera com os primeiros reformadores, as verdades que
apresentava não eram recebidas favoravelmente pelos ensinadores populares da
religião. Não podendo manter sua atitude pelas Escrituras, viam-se obrigados a
recorrer aos ditos e doutrinas de homens, às tradições dos pais da igreja. A
Palavra de Deus, porém, era o único testemunho aceito pelos [Pág. 62] pregadores da verdade do advento.
"A Bíblia, e a Bíblia só", era a sua senha. A falta de argumentos das
Santas Escrituras, por parte dos oponentes, supriam-na eles pelo ridículo e o
escárnio. Empregavam tempo, meios e talentos para difamar aqueles cuja única
falta era esperar com alegria a volta de seu Senhor, e esforçar-se por viver
vida santa e exortar aos demais a prepararem-se para o Seu aparecimento. ...
O instigador de todo mal procurava não somente
contrariar o efeito da mensagem do advento, mas destruir o próprio mensageiro.
Miller fazia aplicação prática da verdade das Escrituras ao coração de seus
ouvintes, reprovando-lhes os pecados e perturbando-lhes a satisfação própria; e
suas palavras claras e incisivas despertaram inimizade. A oposição manifestada
pelos membros da igreja à sua mensagem, animava as classes inferiores a irem
mais longe; e conspiraram alguns dos inimigos para tirar-lhe a vida quando
saísse do local da reunião. Santos anjos, porém, estavam na multidão, e um
deles, certa vez, sob a forma de homem, tomou o braço desse servo do Senhor e
pô-lo a salvo da turba enfurecida. Sua obra ainda não estava terminada, e
Satanás e seus emissários viram seus planos frustrados.
A despeito de toda a oposição, o interesse no
movimento adventista continuou a aumentar. As congregações cresceram das
dezenas e centenas para milhares. Grande aumento houve nas várias igrejas, mas
depois de algum tempo se manifestou o espírito de oposição a esses conversos, e
as igrejas começaram a tomar providências disciplinares contra os que tinham abraçado
as opiniões de Miller. Este ato provocou uma resposta de sua pena, em escrito
dirigido aos cristãos de todas as denominações, insistindo em que, se suas
doutrinas eram falsas, se lhe mostrasse o erro pelas Escrituras.
"Que temos nós crido", disse ele,
"que não nos tenha sido ordenado pela Palavra de Deus, a qual, vós mesmos
o admitis, é a regra e a única regra de nossa fé e prática? Que temos nós feito
que provocasse tão virulentas acusações contra nós, do púlpito e da imprensa, e
vos desse motivo justo para excluir-nos [os adventistas] de vossas igrejas e
comunhão?" "Se estamos errados, peço mostrar-nos em que consiste
nosso erro. Mostrai-nos, pela Palavra de Deus, que estamos enganados. Temos
sido bastante ridicularizados; isso nunca nos poderá convencer de que estamos
em erro; a Palavra de Deus, unicamente, pode mudar nossas opiniões. Chegamos às
nossas conclusões depois [Pág. 63] de refletir
maduramente e muito orar, e ao vermos sua evidência nas Escrituras."
Bliss.
Diferentes Respostas
E por que foram a doutrina e pregação da segunda
vinda de Cristo tão mal recebidas pelas igrejas? Ao passo que para os ímpios o
advento do Senhor traz miséria e desolação, para os justos está repleto de
alegria e esperança. Esta grande verdade tem sido o consolo dos fiéis de Deus
através de todos os séculos. Por que se tornou ela, como seu Autor, "uma
pedra de tropeço e rocha de escândalo" a Seu povo professo? Foi nosso
Senhor mesmo que prometeu a Seus discípulos: "Se Eu for, e vos preparar
lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo." João 14:3. Foi o
compassivo Salvador que, antecipando-Se aos sentimentos de solidão e tristeza
de Seus seguidores, incumbiu anjos de confortá-los com a certeza de que Ele
viria outra vez, em pessoa, assim como fora para o Céu. Estando os discípulos a
olhar atentamente para cima a fim de apanhar o último vislumbre dAquele a quem
amavam, sua atenção foi despertada pelas palavras: "Varões galileus, por
que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima
no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir." Atos 1:11. Pela
mensagem do anjo acendeu-se de novo a esperança. Os discípulos "tornaram
com grande júbilo para Jerusalém. E estavam sempre no templo, louvando e
bendizendo a Deus". Luc. 24:52 e 53. Não se regozijavam porque Jesus deles
Se houvesse separado, e tivessem sido deixados a lutar com as provações e
tentações do mundo, mas por causa da certeza dada pelo anjo de que Ele viria
outra vez.
A proclamação da vinda de Cristo deveria ser agora,
como quando fora feita pelos anjos aos pastores de Belém, boas novas de grande
alegria. Os que realmente amam ao Salvador saudarão com alegria o anúncio
baseado na Palavra de Deus, de que Aquele em quem se centralizam as esperanças
de vida eterna, vem outra vez, não para ser insultado, desprezado e rejeitado,
como se deu no primeiro advento, mas com poder e glória, para remir Seu povo.
Os que não amam o Salvador é que não desejam Sua vinda; e não poderá haver
prova mais conclusiva de que as igrejas se afastaram de Deus do que a irritação
e a animosidade despertada por esta mensagem enviada pelo Céu.
Os que aceitaram a doutrina do advento
aperceberam-se da [Pág. 64] necessidade
de arrependimento e humilhação perante Deus. Muitos haviam por longo tempo
vacilado entre Cristo e o mundo; agora compreendiam que era tempo de assumir
atitude decisiva. "As coisas da eternidade assumiam para eles uma desusada
realidade. O Céu se lhes aproximava, e sentiam-se culpados perante Deus."
Bliss. Os cristãos despertaram para nova vida espiritual. Compenetraram-se de
que o tempo era breve, de que o que tinham a fazer pelos seus semelhantes
deveria fazer-se rapidamente. A Terra retrocedia, a eternidade parecia abrir-se
perante eles, e a alma, com tudo que diz respeito à sua felicidade ou miséria
eterna, sentia eclipsar-se todo o objetivo mundano. O Espírito de Deus
repousava sobre eles conferindo poder aos fervorosos apelos que faziam a seus
irmãos e aos pecadores, a fim de se prepararem para o dia de Deus. O testemunho
silencioso de sua vida diária era constante reprovação aos membros das igrejas,
seguidores de formalidades e destituídos de consagração. Estes não desejavam
ser perturbados em sua procura de prazeres, seu desejo de ganho e ambição de
honras mundanas. Daí a inimizade e a oposição suscitadas contra a fé no advento
e contra os que a proclamavam.
Desencorajada a Pesquisa
Como se verificassem irrefutáveis os argumentos
baseados nos períodos proféticos, os oponentes se esforçaram por desestimular o
estudo deste assunto, ensinando que as profecias estavam fechadas. ...
Pastores e povo declaravam que as profecias de
Daniel e do Apocalipse eram mistérios incompreensíveis. Cristo, porém, chamou a
atenção de Seus discípulos para as palavras do profeta Daniel, relativas aos
acontecimentos a ocorrerem na época deles, e disse: "Quem lê,
entenda." Mat. 24:15, Trad. Brasileira. E a afirmação de que o Apocalipse
é um mistério, que não pode ser compreendido, é contradita pelo próprio título
do livro: "Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu para mostrar a
Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer. ... Bem-aventurado aquele
que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela
estão escritas; porque o tempo está próximo." Apoc. 1:1-3. ...
Em vista do testemunho da Inspiração, como ousam os
homens ensinar que o Apocalipse é um mistério, fora do alcance da inteligência
humana? É um mistério revelado, um livro aberto. O estudo do Apocalipse
encaminha o espírito às [Pág. 65] profecias
de Daniel, e ambos apresentam importantíssimas instruções, dadas por Deus ao
homem, relativas a fatos a acontecerem no final da história deste mundo.
Foram reveladas a João cenas de profundo e
palpitante interesse na experiência da igreja. Viu ele a posição, os perigos,
os conflitos e o livramento final do povo de Deus. Ele registra as mensagens
finais que devem amadurecer a seara da Terra, sejam os molhos para o celeiro
celeste, ou os feixes para os fogos da destruição. Assuntos de vasta
importância lhe foram desvendados, especialmente para a última igreja, a fim de
que os que volvessem do erro para a verdade pudessem ser instruídos em relação
aos perigos e conflitos que diante deles estariam. Ninguém necessita estar em
trevas no que respeita àquilo que está para vir sobre a Terra.
Por que, pois, esta dilatada ignorância com
respeito a uma parte importante das Sagradas Escrituras? Por que esta
relutância geral em pesquisar-lhes os ensinos? É o resultado de um esforço
estudado do príncipe das trevas para esconder dos homens o que revela os seus
enganos. Por esta razão, Cristo, o Revelador, prevendo a luta que seria ferida
contra o estudo do Apocalipse, pronunciou uma bênção sobre os que lessem,
ouvissem e observassem as palavras da profecia. O Grande Conflito, págs.
317-342.
CAPÍTULO 6 - Daniel 8:14 e
Passos nos Misteriosos Desígnios de Deus [Pág. 67]
A obra de Deus na Terra apresenta, século após
século, uma surpreendente semelhança, em todas as grandes reformas ou
movimentos religiosos. Os princípios envolvidos no trato de Deus com os homens
são sempre os mesmos. Os movimentos importantes do presente têm seu paralelo
nos do passado, e a experiência da igreja nos séculos antigos encerra lições de
grande valor para o nosso tempo.
Nenhuma verdade é mais claramente ensinada na
Escritura do que aquela segundo a qual Deus, pelo Seu Espírito Santo, dirige de
maneira especial Seus servos sobre a Terra, nos grandes movimentos que têm por
objetivo promover a obra da salvação. Os homens são instrumentos nas mãos de
Deus, por Ele empregados para cumprirem Seus propósitos de graça e
misericórdia. Cada um tem a sua parte a desempenhar; a cada qual é concedida
uma porção de luz, adaptada às necessidades de seu tempo, e suficiente para o
habilitar a efetuar a obra que Deus lhe deu a fazer. Nenhum homem, porém, ainda
que honrado pelo Céu, já chegou a compreender completamente o grande plano da
redenção, ou mesmo a aquilatar perfeitamente o propósito divino na obra para o
seu próprio tempo. Os homens não compreendem plenamente o que Deus deseja [Pág. 68] cumprir pela missão que lhes
confia: não abrangem, em todos os aspectos, a mensagem que proclamam em Seu
nome. ...
Mesmo os profetas que eram favorecidos com
iluminação especial do Espírito, não compreendiam plenamente a significação das
revelações a eles confiadas. O sentido deveria ser desvendado de século em
século, à medida que o povo de Deus necessitasse das instruções nelas contidas.
...
Entretanto, ao mesmo tempo em que não era dado aos
profetas compreender completamente as coisas que lhes eram reveladas, buscavam
fervorosamente obter toda a luz que Deus fora servido tornar manifesta.
"Inquiriram e trataram diligentemente", "indagando que tempo ou
que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava."
Que lição para o povo de Deus na era cristã, para o benefício do qual foram
dadas aos Seus servos estas profecias! "Aos quais foi revelado que não
para si mesmos, mas para nós, eles ministravam." Considerai como os santos
homens de Deus "inquiriram e trataram diligentemente", com respeito a
revelações que lhes foram dadas para as gerações ainda não nascidas. Comparai
seu santo zelo com a descuidada indiferença com que os favorecidos dos últimos
séculos tratam este dom do Céu. Que reprovação àquela indiferença comodista e
mundana, que se contenta em declarar que as profecias não podem ser
compreendidas!
A Experiência dos Apóstolos: uma Lição Objetiva
Posto que a mente finita do homem não seja apta a
penetrar nos conselhos do Ser infinito, ou compreender completamente a
realização de Seus propósitos, muitas vezes é por causa de algum erro ou
negligência de sua parte que tão palidamente entendem as mensagens do Céu. Com
freqüência, a mente do povo, e mesmo dos servos de Deus, se acha tão cegada
pelas opiniões humanas, as tradições e falsos ensinos, que apenas pode
parcialmente apreender as grandes coisas que Ele revelou em Sua Palavra. Assim
foi com os discípulos de Cristo, mesmo quando o Salvador estava com eles em
pessoa. Seu espírito se havia imbuído da idéia popular acerca do Messias como
príncipe terreno, que exaltaria Israel ao trono do domínio universal, e não
compreendiam o sentido de Suas palavras predizendo Seus sofrimentos e morte.
O próprio Cristo os enviara com a mensagem: "O
tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no
evangelho." Mar. 1:15. Aquela mensagem [Pág. 69] era baseada na profecia de Daniel 9. As sessenta e nove
semanas, declarou o anjo, estender-se-iam até "o Messias, o Príncipe"
e com grandes esperanças e antecipado gozo aguardavam o estabelecimento do
reino do Messias, em Jerusalém, a fim de governar sobre a Terra toda.
Pregaram a mensagem que Cristo lhes confiara, ainda
que eles próprios compreendessem mal a sua significação. Ao passo que seu
anúncio se baseava em Daniel 9:25, não viam no versículo seguinte do mesmo
capítulo que o Messias deveria ser tirado. Desde o nascimento haviam fixado o
coração na antecipada glória de um império terrestre, e isto lhes cegava
igualmente a compreensão das especificações da profecia e das palavras de
Cristo.
Cumpriram seu dever apresentando à nação judaica o
convite de misericórdia e, então, no mesmo tempo em que esperavam ver o Senhor
ascender ao trono de Davi, viram-nO ser agarrado como malfeitor, açoitado,
escarnecido, condenado e suspenso à cruz do Calvário. Que desespero e angústia
oprimia o coração dos discípulos durante os dias em que seu Senhor dormia no
túmulo!
Cristo viera no tempo exato, e da maneira predita
na profecia. O testemunho das Escrituras fora cumprido em todos os detalhes de
Seu ministério. Pregara Ele a mensagem da salvação, e "Sua palavra era com
autoridade". O coração de Seus ouvintes havia testemunhado ser ela do Céu.
A Palavra e o Espírito de Deus atestavam a missão divina do Filho. ...
O que os discípulos haviam anunciado em nome do
Senhor, era correto em todos os pormenores, e os acontecimentos preditos
estavam mesmo então a ocorrer. "O tempo está cumprido, o reino de Deus
está próximo" - havia sido a sua mensagem. À terminação do
"tempo" - as sessenta e nove semanas de Daniel 9, as quais se deveriam
estender até ao Messias, "o Ungido" - Cristo recebera a unção do
Espírito, depois de batizado por João, no Jordão. E "o reino de
Deus", que eles declararam estar próximo, foi estabelecido pela morte de
Cristo. Este reino não era, como eles haviam sido ensinados a crer, um domínio
terrestre. Tampouco devia ser confundido com o reino futuro, imortal que será
estabelecido quando "o reino, o domínio, e a majestade dos reinos debaixo
de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" - reino eterno,
no qual "todos os domínios O servirão e Lhe obedecerão". Dan. 7:27.
Conforme é usada na Bíblia, a expressão "reino de Deus" [Pág. 70] designa tanto o reino da graça
como o de glória. O primeiro é apresentado por Paulo na epístola aos hebreus.
Depois de apontar para Cristo, o compassivo Intercessor que pode
"compadecer-Se de nossas fraquezas", diz o apóstolo: "Cheguemos,
pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia
e achar graça." Heb. 4:16. O trono da graça representa o reino da graça;
pois a existência de um trono implica a de um reino. Em muitas parábolas Cristo
usa a expressão "o reino dos Céus", para designar a obra da graça
divina no coração dos homens.
Assim, o trono de glória representa o reino de
glória; e a este reino fazem referência as palavras do Salvador: "Quando o
Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se
assentará no trono de Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante
dEle." Mat. 25:31 e 32. Este reino está ainda no futuro. Não será
estabelecido antes do segundo advento de Cristo.
O reino da graça foi instituído imediatamente
depois da queda do homem, quando fora concebido um plano para a redenção da
raça culpada. Existiu ele então no propósito de Deus e pela Sua promessa; e
mediante a fé os homens podiam tornar-se súditos seus. Contudo, não foi
efetivamente estabelecido antes da morte de Cristo. Mesmo depois de entrar para
o Seu ministério terrestre, o Salvador, cansado pela obstinação e ingratidão
dos homens, poderia ter-Se recusado ao sacrifício do Calvário. No Getsêmani, a
taça de amarguras tremia-Lhe na mão. Ele poderia naquele momento ter enxugado o
suor de sangue da fronte, abandonando a raça criminosa para que perecesse em
sua iniqüidade. Houvesse Ele feito isto, e não teria havido redenção para o
homem caído. Quando, porém, o Salvador rendeu a vida, e em Seu último alento
clamou: "Está consumado", assegurou-se naquele instante o cumprimento
do plano da redenção. Ratificou-se a promessa de libertamento, feita no Éden,
ao casal pecador. O reino da graça, que antes existira pela promessa de Deus,
foi então estabelecido.
Assim, a morte de Cristo - o próprio acontecimento
que os discípulos encararam como a destruição final de suas esperanças - foi o
que as confirmou para sempre. Conquanto lhes houvesse acarretado cruel
decepção, foi a prova máxima de que sua crença era correta. O acontecimento que
os enchera de pranto e desespero, foi o que abrira a porta da esperança a todo
filho de Adão, e no qual se centralizava a vida futura [Pág. 71] e a felicidade eterna de todos
os fiéis de Deus, de todos os séculos. ...
Depois de Sua ressurreição Jesus apareceu a Seus
discípulos no caminho para Emaús, e, "começando por Moisés, e por todos os
profetas, explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras".
Luc. 24:27. Comoveu-se o coração dos discípulos. Avivou-se-lhes a fé. Foram
"de novo gerados para uma viva esperança", mesmo antes que Jesus Se
lhes revelasse. Era propósito de Cristo iluminar-lhes o entendimento,
firmando-lhes a fé na "firme palavra da profecia". Desejava que no
espírito deles a verdade criasse sólidas raízes, não meramente porque fosse
apoiada por Seu testemunho pessoal, mas por causa da evidência inquestionável
apresentada pelos símbolos e sombras da lei típica e pelas profecias do Antigo
Testamento. Era necessário aos seguidores de Cristo ter fé inteligente, não só
em favor de si próprios, mas para que pudessem levar o conhecimento de Cristo
ao mundo. E, como primeiro passo no comunicar este conhecimento, Jesus
encaminhou Seus discípulos para "Moisés e os profetas". Este foi o
testemunho dado pelo Salvador ressuscitado quanto ao valor e importância das
Escrituras do Antigo Testamento.
Que mudança se operou no coração dos discípulos, ao
contemplarem mais uma vez o amado semblante do Mestre! Luc. 24:32. Em sentido
mais completo e perfeito do que nunca, haviam "achado Aquele de quem
Moisés escreveu na lei, e os profetas". A incerteza, a angústia e o
desespero deram lugar a segurança perfeita e esclarecida fé. Não admira que,
depois de Sua ascensão, estivessem "sempre no templo, louvando e
bendizendo a Deus". O povo, sabendo apenas da morte ignominiosa do
Salvador, procurava ver no rosto deles a expressão de tristeza, confusão e
derrota; viam, porém, ali, alegria e triunfo. Que preparo receberam estes
discípulos para a obra que se achava diante deles! ...
A Lição de 1844
A experiência dos discípulos que pregaram "o
evangelho do reino" no primeiro advento de Cristo, teve seu paralelo na
experiência dos que proclamaram a mensagem de Seu segundo advento. Assim como
saíram os discípulos a pregar: "O tempo está cumprido, o reino de Deus
está próximo", Miller e seus companheiros proclamaram que o período
profético mais longo e o último apresentado na Bíblia estava a ponto de
terminar, [Pág. 72] que
o juízo estava próximo, e que deveria ser inaugurado o reino eterno. A pregação
dos discípulos com relação ao tempo, baseava-se nas setenta semanas de Daniel
9. A mensagem apresentada por Miller e seus companheiros anunciava a terminação
dos 2.300 dias de Daniel 8:14, dos quais as setenta semanas fazem parte. Cada
uma dessas pregações se baseava no cumprimento de uma porção diversa do mesmo
grande período profético.
Do mesmo modo que os primeiros discípulos,
Guilherme Miller e seus companheiros não compreenderam inteiramente o
significado da mensagem que apresentavam. Erros, que havia muito se achavam
estabelecidos na igreja, impediam-nos de chegar a uma interpretação correta de
um ponto importante da profecia. Portanto, se bem que proclamassem a mensagem
que Deus lhes confiara para transmitir ao mundo, em virtude de uma errônea
compreensão do sentido, sofreram desapontamento.
Explicando Daniel 8:14 - "Até duas mil e
trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado" - Miller, conforme
já foi declarado, adotou a opinião geralmente mantida de que a Terra é o
santuário, crendo que a purificação deste representava a purificação da Terra
pelo fogo, à vinda do Senhor. Quando, pois, achou que o termo dos 2.300 dias
estava definidamente predito, concluiu que isto revelava o tempo do segundo
advento. Seu erro resultou de aceitar a opinião popular quanto ao que constitui
o santuário.
No cerimonial típico - sombra do sacrifício e
sacerdócio de Cristo - a purificação do santuário era o último serviço
realizado pelo sumo sacerdote no conjunto anual das cerimônias ministradas. Era
a obra finalizadora da expiação - uma remoção ou afastamento do pecado de
Israel. Prefigurava a obra final no ministério de nosso Sumo Sacerdote no Céu,
pela remoção ou obliteração dos pecados de Seu povo, que se achavam registrados
nos relatórios celestiais. Este trabalho envolve uma investigação e um
julgamento; e isto precede imediatamente a vinda de Cristo nas nuvens do céu,
com poder e grande glória. Quando Ele vier, pois, todos os casos estarão
decididos. Diz Jesus: "O Meu galardão está comigo, para dar a cada um
segundo a sua obra." Apoc. 22:12. É esta obra de julgamento, que precede
imediatamente a segunda vinda, que é anunciada na mensagem do primeiro anjo de
Apocalipse 14:7:
[Pág. 73] "Temei a Deus,
e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo."
Os que proclamaram esta advertência deram a
mensagem devida no devido tempo. Mas, assim como os primitivos discípulos,
baseados na profecia de Daniel 9, declararam - "O tempo está cumprido, e o
reino de Deus está próximo" - ao mesmo tempo em que deixaram de perceber
que a morte do Messias estava predita na mesma passagem, de igual modo, Miller
e seus companheiros pregaram a mensagem baseados em Daniel 8:14 e Apocalipse
14:7, e deixaram de ver que havia ainda outras mensagens apresentadas em
Apocalipse 14, que também deveriam ser dadas antes do advento do Senhor. Assim
como os discípulos estiveram em erro quanto ao reino a ser estabelecido no fim
das setenta semanas, também os adventistas se enganaram em relação ao fato a
ocorrer à terminação dos 2.300 dias. Em ambos os casos houve aceitação de erros
populares, ou antes, uma aderência a eles, cegando o espírito à verdade. Ambas
as classes cumpriram a vontade de Deus, apresentando a mensagem que Ele
desejava fosse dada, e ambas, pela sua própria compreensão errônea da
respectiva mensagem, sofreram desapontamento.
Não obstante, Deus cumpriu Seu misericordioso
propósito, permitindo que a advertência do juízo fosse feita exatamente como o
foi. O grande dia estava próximo e, pela providência divina, o povo foi provado
em relação ao tempo definido, a fim de que lhes fosse manifesto o que estava em
seu coração. A mensagem era destinada à prova e purificação da igreja. Esta deveria
ser levada a ver se suas afeições estavam postas neste mundo ou em Cristo e no
Céu. Professava amar o Salvador; deveria agora provar seu amor. Estavam os
crentes dispostos a renunciar às esperanças e ambições mundanas, acolhendo com
alegria o advento do Senhor? A mensagem tinha por fim habilitá-los a discernir
seu verdadeiro estado espiritual; foi misericordiosamente enviada a fim de
despertá-los para que buscassem o Senhor com arrependimento e humilhação.
O desapontamento, outrossim, embora resultado da
compreensão errônea, por parte dos crentes, da mensagem que apresentavam,
deveria redundar para o bem. Poria à prova o coração dos que haviam professado
receber a advertência. Em face de seu desapontamento, abandonariam eles
temerariamente sua experiência cristã, renunciando à confiança na Palavra de
Deus? ou procurariam, com oração e humildade, discernir em [Pág. 74] que tinham deixado de
compreender o significado da profecia? Quantos haviam sido movidos pelo temor,
por um impulso do momento ou excitação? Quantos eram de ânimo indeciso e
incrédulos? Multidões professavam amar o aparecimento do Senhor. Quando
chamadas a suportar o escárnio e o opróbrio do mundo, e a prova da demora e do
desapontamento, porventura renunciariam à fé? Porque não compreendessem de
pronto o trato de Deus, rejeitariam essas pessoas verdades sustentadas pelo
mais claro testemunho da Palavra divina?
Esta prova revelaria a força dos que com fé
verdadeira haviam obedecido ao que acreditavam ser o ensino da Palavra e do
Espírito de Deus. Ensinar-lhes-ia - o que unicamente tal experiência poderia
fazer - o perigo de aceitar as teorias e interpretações de homens, em vez de
fazer com que a Bíblia seja seu próprio intérprete. Aos filhos da fé, a
perplexidade e tristeza resultantes de seu erro operariam a necessária
correção. Seriam levados a um estudo mais acurado da palavra profética; seriam
ensinados a examinar mais cuidadosamente o fundamento de sua fé, e rejeitar
tudo que, conquanto amplamente aceito pelo cristianismo, não estivesse fundamentado
nas Escrituras da verdade.
Para estes crentes, assim como para os primeiros
discípulos, o que na hora da provação lhes parecia obscuro à inteligência, mais
tarde se faria claro. Quando vissem o "fim do Senhor" [Tia. 5:11],
saberiam que, apesar da provação resultante de seus erros, os divinos
propósitos de amor para com eles estiveram continuamente a cumprir-se.
Aprenderiam por uma bendita experiência que Ele é "muito misericordioso e
piedoso"; que todos os Seus caminhos "são misericórdia e verdade para
aqueles que guardam o Seu concerto e os Seus testemunhos". O Grande
Conflito, págs. 343-354.