terça-feira, 1 de outubro de 2013

1/10/13 - CRISTO EM SEU SANTUÁRIO, pelo patrimônio de Ellen G. White - 1ª parte




Índice geral:
  1 A Verdade do Santuário - uma Introdução  / 7
  2 Cristo no Sistema Sacrifical / 21
  3 O Santuário Celestial em Miniatura / 25
  4 O Evangelho em Tipo e Antítipo / 41
  5 A Mensagem do Juízo Agita a América / 47
  6 Daniel 8:14 e Passos nos Misteriosos Desígnios de Deus / 67
  7 O Fim dos 2.300 Dias de Daniel 8:14 / 77
  8 O Glorioso Templo no Céu / 85
  9 Nosso Sumo Sacerdote no Santo dos Santos / 97
10 Encerramento do Ministério de Cristo no Santuário Celestial / 109

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Índice da 1ª parte, capítulos 1 a 3:
  1 A Verdade do Santuário - uma Introdução  / 7

  2 Cristo no Sistema Sacrifical / 21
  3 O Santuário Celestial em Miniatura / 25


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CAPÍTULO 1 - A Verdade do Santuário - uma Introdução
[Pág. 7] Escrevendo sobre o que devia ser realizado antes da vinda do Senhor, pela Igreja Adventista do Sétimo Dia que despontava, Ellen G. White disse em 1883:
O espírito dos crentes devia ser dirigido ao santuário celeste, aonde Cristo entrara para fazer expiação por Seu povo. Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 67.
Numa situação de crise em 1906, quando vários dos ensinos básicos dos adventistas do sétimo dia estavam sendo ameaçados, ela escreveu:
A compreensão correta do ministério do santuário celestial constitui o alicerce de nossa fé. Evangelismo, pág. 221.
O Fim dos 2.300 Dias
Entre as profecias que formam a base do despertamento do movimento adventista na primeira década dos anos 1830 e 1840 estava a de Daniel 8:14: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Ellen White, que passou [Pág. 8] pela experiência, esclarece com respeito à aplicação dessa profecia:
Em conformidade com o resto do mundo cristão, os adventistas admitiam, nesse tempo, que a Terra, ou alguma parte dela, era o santuário. Entendiam que a purificação do santuário fosse a purificação da Terra pelos fogos do último grande dia, e que ocorreria por ocasião do segundo advento. Daí a conclusão de que Cristo voltaria à Terra em 1844. O Grande Conflito, pág. 409.
Este período profético chegou ao fim em 22 de outubro de 1844. Para os que esperavam encontrar o Senhor nesse dia, o desapontamento foi grande. Hiram Edson, um criterioso estudioso da Bíblia na área central do Estado de Nova Iorque, descreve o que aconteceu entre o grupo de crentes de que ele era parte:
Nossas expectativas haviam-se elevado alto, e assim aguardávamos a vinda de nosso Senhor, até que o relógio soou as doze horas da meia-noite. O dia havia-se passado então, e nosso desapontamento havia-se tornado uma certeza. Nossas mais profundas esperanças e expectativas desmoronaram-se, e sobre nós veio tal espírito de pranto como jamais havíamos experimentado antes. Parecia que a perda de todos os amigos terrestres não podia ter comparação. Choramos e choramos, até que o dia raiou. ...
Ponderando em meu coração, eu disse: "Minha experiência do advento tem sido a mais bela de toda a minha experiência cristã. ... Falhou a Bíblia? Não há Deus, nem Céu, nem cidade dourada e nem Paraíso? Não passa tudo isso de uma fábula habilidosamente engendrada? Não são reais nossas mais fundas esperanças e expectativas?" ...
Eu comecei a sentir que devia haver luz e auxílio para nós nesta hora de agonia. Eu disse a alguns dos irmãos: "Vamos para o celeiro." Entramos no celeiro, fechamos a porta, e dobramo-nos perante o Senhor. Oramos fervorosamente, pois sentíamos nossa necessidade. Prosseguimos em intensa oração até que nos fosse dado o testemunho do Espírito de que nossas orações eram aceitas, e luz ser-nos-ia concedida - nosso desapontamento explicado e satisfatoriamente esclarecido.
Depois do desjejum eu disse a um de meus irmãos: "Vamos sair e encorajar a alguns de nossos irmãos." Saímos, e enquanto caminhávamos através de um grande campo, fui impedido de continuar aproximadamente na metade do campo. O Céu parecia abrir-se ante meus olhos, e eu vi clara e distintamente que em vez [Pág. 9] de nosso Sumo Sacerdote haver saído do lugar santíssimo do santuário celestial para a Terra no décimo dia do sétimo mês, ao final dos 2.300 dias, Ele, pela primeira vez, entrava nesse dia no segundo compartimento daquele santuário, e que Ele tinha um trabalho a realizar no lugar santíssimo antes de vir à Terra; que Ele veio para as bodas, ou em outras palavras, ao Ancião de Dias, a fim de receber o reino, e o domínio e a glória; e que devíamos esperar Seu retorno das bodas. E minha mente foi dirigida para o décimo capítulo de Apocalipse, onde pude ver que a visão havia falado e não havia mentido. Review and Herald, 23 de junho de 1921.
Seguiu-se daí uma cuidadosa investigação das Escrituras, de todos os textos que tocavam neste assunto - particularmente os de Hebreus - por parte de Hiram Edson e dois íntimos associados, o Dr. F. B. Hahn, médico, e O. R. L. Crosier, professor. O resultado do estudo deste grupo foi escrito por Crosier e publicado, primeiro no The Day Dawn, um jornal de circulação limitada, e então reescrito e ampliado no formato num exemplar especial do Day-Star, em 7 de fevereiro de 1846. Este foi o jornal adventista mais amplamente lido, publicado em Cincinnati, Ohio. Por este meio foi alcançado certo número dos desapontados crentes do advento. A então extensa apresentação, bem comprovada pelas Escrituras, levou esperança e coragem ao coração deles, ao mostrar claramente que o santuário devia ser purificado ao fim dos 2.300 dias no Céu, e não na Terra, como haviam crido então.
Ellen G. White, numa afirmação escrita em 21 de abril de 1847, declarou sobre o artigo de Crosier a respeito da questão do santuário:
O Senhor me mostrou em visão, passado mais de um ano, que o irmão Crosier tinha a verdadeira luz sobre a purificação do santuário, etc.; e que foi Sua vontade que o irmão Crosier escrevesse a visão que ele nos apresentou no Day-Star Extra, em 7 de fevereiro de 1846. Sinto-me inteiramente autorizada pelo Senhor a recomendar este Extra a cada fiel. A Word to the Little Flock, pág. 12.
Posteriormente ela escreveu a respeito do rápido desenvolvimento da compreensão doutrinária que se seguiu ao desapontamento:
O passamento do tempo em 1844 foi um período de grandes eventos, abrindo-se a nossos olhos atônitos a purificação do [Pág. 10] Santuário que ocorria no Céu, e tendo decidida relação com o povo de Deus sobre a Terra. Manuscrito 13, 1889.
A Verdade Estabelecida Pelo Testemunho do Espírito Santo
As visões dadas a Ellen White, conquanto não alcançando além do estudo da Bíblia, confirmavam a solidez da posição assumida de que uma importante fase do ministério de Cristo no santuário celestial tivera início em 22 de outubro de 1844. Gradualmente a largura e a profundidade do assunto abriram-se perante os crentes do advento. Olhando retrospectivamente à experiência nos últimos anos, ela relembrou seus estudos e as manifestas provas da mão guiadora de Deus:
Muitos de nosso povo não reconhecem quão firmemente foram lançados os alicerces de nossa fé. Meu esposo, o Pastor José Bates, o Pai Pierce, o Pastor [Hiram] Edson, e outros que eram inteligentes, nobres e verdadeiros, achavam-se entre os que, expirado o tempo em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles, e estudávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra. Repetidas vezes esses irmãos se reuniram para estudar a Bíblia, a fim de que conhecessem seu sentido e estivessem preparados para ensiná-la com poder. Quando, em seu estudo, chegavam a ponto de dizerem: "Nada mais podemos fazer", o Espírito do Senhor vinha sobre mim, e eu era arrebatada em visão, e era-me dada uma clara explanação das passagens que estivéramos estudando, com instruções quanto à maneira em que devíamos trabalhar e ensinar eficientemente. Assim nos foi proporcionada luz que nos ajudou a compreender as passagens acerca de Cristo, Sua missão e sacerdócio. Foi-me tornada clara uma cadeia de verdades que se estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus, e transmiti aos outros as instruções que o Senhor me dera.
Durante todo o tempo eu não podia compreender o arrazoamento dos irmãos. Minha mente estava por assim dizer fechada, não podia compreender o sentido das passagens que estudávamos. Esta foi uma das maiores tristezas de minha vida.
[Pág. 11] Fiquei neste estado de espírito até que nos fossem tornados claros todos os pontos principais de nossa fé, em harmonia com a Palavra de Deus. Os irmãos sabiam que, quando não em visão, eu não compreendia esses assuntos, e aceitaram como luz direta do Céu as revelações dadas. Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 206 e 207.
A compreensão de que Cristo havia entrado no lugar santíssimo do santuário celestial para iniciar a parte final de Seu ministério em nosso favor, tipificada no serviço do santuário observado por Israel no passado, inculcava solenidade ao coração de nossos pioneiros adventistas. As verdades eram tão claras, tão grandiosas, tão vitais, que era difícil o senso de que sobre eles pesava a responsabilidade de comunicar esta luz a outros. Ellen White escreveu sobre a certeza de sua posição:
Temos de estar firmados na fé segundo a luz da verdade que nos foi dada em nossa primeira experiência. Naquele tempo, erro após erro procurava forçar entrada entre nós; ministros e doutores introduziam novas doutrinas. Nós estudávamos as Escrituras com muita oração, e o Espírito Santo nos trazia ao espírito a verdade. Por vezes noites inteiras eram consagradas à pesquisa das Escrituras, a pedir fervorosamente a Deus Sua guia. Juntavam-se para esse fim grupos de homens e mulheres pios. O poder de Deus vinha sobre mim, e eu era habilitada a definir claramente o que era verdade ou erro.
Ao serem assim estabelecidos os pontos de nossa fé, nossos pés se colocavam sobre um firme fundamento. Aceitávamos a verdade ponto por ponto, sob a demonstração do Espírito Santo. Eu era arrebatada em visão, e eram-me feitas explanações. Foram-me dadas ilustrações de coisas celestiais, e do santuário, de modo que fomos colocados em posição onde a luz sobre nós resplandecia em raios claros e distintos.
Eu sei que a questão do santuário se firma em justiça e verdade, tal como a temos mantido por tantos anos. Obreiros Evangélicos, págs. 302 e 303.
Os pioneiros do advento viram a verdade do santuário como básica para toda a estruturação da doutrina dos adventistas do sétimo dia. Tiago White, em 1850, republicou as partes essenciais da primeira apresentação do assunto feita por O. R. L. Crosier, e comentou:
O assunto do santuário deve ser cuidadosamente examinado, visto que relacionado com o fundamento de nossa fé e esperança. The Advent Review (número especial).
[Pág. 12] O Santuário e o Sábado
Foi no conjunto de uma visão sobre o santuário celestial que a verdade do sábado foi confirmada na visão dada a Ellen White em 3 de abril de 1847, no lar dos Howland em Topshan, Maine. Sobre isto ela escreve:
Sentíamos um incomum espírito de oração. E ao orarmos o Espírito Santo desceu sobre nós. Estávamos muito felizes. Logo perdi de vista as coisas terrestres e fui arrebatada em visão da glória de Deus. Vi um anjo que voava ligeiro para mim. Rápido levou-me da Terra para a Cidade Santa. Na cidade vi um templo no qual entrei. Passei por uma porta antes de chegar ao primeiro véu. Este véu foi erguido e eu entrei no lugar santo. Ali vi o altar de incenso, o castiçal com sete lâmpadas e a mesa com os pães da proposição. Depois de ter eu contemplado a glória do lugar santo, Jesus levantou o segundo véu e eu passei para o santo dos santos.
No lugar santíssimo vi uma arca, cujo alto e lados eram do mais puro ouro. Em cada extremidade da arca havia um querubim com suas asas estendidas sobre ela. Tinham os rostos voltados um para o outro, e olhavam para baixo. Entre os anjos estava um incensário de ouro. Sobre a arca, onde estavam os anjos, havia o brilho de excelente glória, como se fora a glória do trono da habitação de Deus. Jesus estava junto à arca, e ao subirem a Ele as orações dos santos, a fumaça do incenso subia, e Ele oferecia suas orações ao Pai com o fumo do incenso. Na arca estava a urna de ouro contendo o maná, a vara de Arão que florescera e as tábuas de pedra que se fechavam como um livro. Jesus abriu-as, e eu vi os Dez Mandamentos nelas escritos com o dedo de Deus. Numa das tábuas havia quatro mandamentos e na outra seis. Os quatro da primeira tábua eram mais brilhantes que os seis da outra. Mas o quarto, o mandamento do sábado, brilhava mais que os outros; pois o sábado foi separado para ser guardado em honra do santo nome de Deus. O santo sábado tinha aparência gloriosa - um halo de glória o circundava. Vi que o mandamento do sábado não fora pregado na cruz. Se tivesse sido, os outros nove mandamentos também o teriam, e estaríamos na liberdade de transgredi-los a todos, bem como o quarto mandamento. Vi que Deus não havia mudado o sábado, pois Ele jamais muda. Primeiros Escritos, págs. 32 e 33.
[Pág. 13] A Verdade do Santuário sob Fogo
Conquanto os que estavam ali vissem claramente os inegáveis reclamos da lei de Deus e começassem a observar o sábado do sétimo dia como indicado na lei de Deus, encontraram forte oposição. Sobre isso, e as razões para tanto, Ellen White explica:
Muitos e tenazes foram os esforços feitos para subverter-lhes a fé. Ninguém poderia deixar de ver que, se o santuário terrestre era uma figura ou modelo do celestial, a lei depositada na arca, na Terra, era uma transcrição exata da lei na arca, que está no Céu; e que a aceitação da verdade concernente ao santuário celeste envolvia o reconhecimento dos requisitos da lei de Deus, e da obrigatoriedade do sábado do quarto mandamento. Aí estava o segredo da oposição atroz e decidida à exposição harmoniosa das Escrituras, que revelavam o ministério de Cristo no santuário celestial. O Grande Conflito, pág. 435.
Não é muito de admirar que nos anos subseqüentes, pessoas que se haviam separado da Igreja Adventista do Sétimo Dia tenham feito da verdade do santuário um ponto de oposição. Foi assim com os Pastores Snook e Brinkerhof, funcionários do escritório do campo em Iowa, e com D. M. Canright, influente ministro, que deixou a Igreja Adventista do Sétimo Dia em 1887 para se tornar amargo inimigo e crítico. Nem é de estranhar que idéias panteístas por volta do século, defendidas e advogadas por médicos e obreiros ministeriais, ferisse diretamente essa doutrina fundamental. Foi nesse quadro que Ellen White, em palavras de advertência, escreveu em 20 de novembro de 1905:
Aos médicos missionários e ministros que têm estado a beber nos sofismas científicos e enfeitiçantes fábulas contra os quais tendes sido advertidos, eu gostaria de dizer: Vossa alma está em perigo. O mundo precisa saber qual a vossa posição e qual a posição da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Deus chama os que aceitaram esses enganos destruidores a que não mais mantenham duas posições. Se o Senhor é Deus, segui-O.
Satanás, com todo o seu exército, está no campo de batalha. Os soldados de Cristo devem agora se reunir em torno da bandeira ensangüentada de Emanuel. Em nome do Senhor, deixai a bandeira negra do príncipe das trevas, e assumi vossa posição com o Príncipe do Céu.
O que tem ouvidos para ouvir, ouça. Lede vossa Bíblia. De um terreno mais alto, sob a instrução que Deus me deu,
 [Pág. 14] Apresento estas coisas diante de vós. Está próximo o tempo em que os poderes enganadores de instrumentos satânicos serão amplamente desenvolvidos. De um lado está Cristo, a quem foi dado todo o poder no Céu e na Terra. Do outro está Satanás, exercendo continuamente seu poder para iludir, para iludir com fortes enganos espiritualistas, para remover o povo de Deus do lugar que deve ocupar na mente dos homens.
Satanás está continuamente se esforçando no sentido de introduzir fantasiosas suposições com relação ao santuário, rebaixando as maravilhosas representações de Deus e do ministério de Cristo para nossa salvação e coisas que satisfaçam a mente carnal. Ele remove do coração dos crentes o dominante poder desta verdade e supre o lugar com teorias fantásticas inventadas para tornar nulas as verdades da expiação, e destruir nossa confiança nas doutrinas que temos mantido como sagradas desde que foi dada a mensagem do terceiro anjo. Assim ele nos rouba em nossa fé na própria mensagem que nos tornou um povo separado, e deu caracterização e poder a nossa obra. Special Testimonies, Série B, nº 7, págs. 16 e 17.
Foi na moldura desta crise panteísta que Ellen White, presente à reunião da Associação Geral em 1905, declarou em palavras significativas para nós hoje:
No futuro, engano de toda espécie está para surgir, e precisamos de terreno firme para nossos pés. Queremos colunas sólidas para a edificação. Nem um só alfinete deve ser removido daquilo que o Senhor estabeleceu. O inimigo introduzirá falsas teorias, tais como a doutrina de que não existe santuário. Esse é um dos pontos em relação ao qual haverá um desvio da fé. Onde encontraremos segurança senão nas verdades que o Senhor nos deu nos últimos cinqüenta anos? Counsels to Writers and Editors, pág. 53.
Os pontos de vista panteístas, tão ardorosamente advogados por alguns, declarou Ellen White, "poriam a Deus fora" (Special Testimonies, Série B, nº 7, pág. 16), e invalidariam a verdade do santuário.
Cerca do mesmo tempo um de nossos pastores, a quem identificaremos como o "Pastor G", abraçou a idéia de que quando Cristo voltou para o Céu após Seu ministério na Terra, entrou à presença de Deus, e que onde Deus está, deve estar o lugar santíssimo, de modo que em 22 de outubro de 1844, não houve a entrada no lugar santíssimo do santuário celestial, como cremos e ensinamos. Esses dois conceitos, ambos os quais feriam a [Pág. 15] doutrina do santuário como a mantemos, levaram Ellen White a se referir várias vezes à solidez e integridade deste ponto de nossa fé. Em 1904 ela escreveu:
Eles [os filhos de Deus], quer por palavras quer por atos, não levarão ninguém a duvidar em relação à distinta personalidade de Deus, ou em relação ao santuário e seu ministério.
Todos precisamos conservar em mente o assunto do santuário. Deus nos livre de que o estardalhaço de palavras vindas de lábios humanos debilitem a crença de nosso povo na verdade de que existe um santuário no Céu, e que um santuário segundo este modelo foi uma vez construído na Terra. Deus deseja que Seu povo se familiarize com este modelo, tendo sempre em sua mente o santuário celestial, onde Deus é tudo em todos. Devemos ter nossa mente ancorada pela oração e o estudo da Palavra de Deus, para que possamos agarrar essas verdades. Carta 233, 1904.
Pontos Sustentados Apenas Pelo Uso Errado das Escrituras
Escrevendo particularmente a respeito do trabalho do "Pastor G" em minar a confiança na verdade do santuário, Ellen White pôs em destaque em 1905 o maléfico uso que ele fazia da evidência escriturística e da certeza de nossa compreensão da verdade do santuário. Eis o que ela disse:
Tenho estado a suplicar ao Senhor força e sabedoria para reproduzir os escritos das testemunhas que foram confirmadas na fé e na primitiva história da mensagem. Após a passagem do tempo em 1844, eles receberam a luz e andaram na luz, e quando os homens que pretendiam possuir novo esclarecimento vinham com suas maravilhosas mensagens acerca de vários pontos da Escritura, tínhamos, pela atuação do Espírito Santo, testemunhos bem definidos, que excluíam a influência de mensagens como as que o Pastor G tem devotado o tempo a apresentar. Esse pobre homem tem estado a trabalhar decididamente contra a verdade confirmada pelo Espírito Santo.
Quando o poder de Deus testifica daquilo que é a verdade, essa verdade deve permanecer para sempre como a verdade. Não devem ser agasalhadas quaisquer suposições [Pág. 16] posteriores contrárias ao esclarecimento que Deus proporcionou. Surgirão homens com interpretações das Escrituras que para eles são verdade, mas que não o são. Deu-nos Deus a verdade para este tempo como um fundamento para nossa fé. Ele próprio nos ensinou o que é a verdade. Aparecerá um, e ainda outro, com nova iluminação, que contradiz aquela que foi dada por Deus sob a demonstração de Seu Santo Espírito. Vivem ainda alguns que passaram pela experiência obtida quando esta verdade foi firmada. Deus lhes tem benignamente poupado a vida para repetir e repetir até ao fim da existência a experiência por que passaram da mesma maneira que o fez o apóstolo João até ao termo de sua vida. E os porta-bandeiras que tombaram na morte devem falar mediante a reimpressão de seus escritos. Estou instruída de que, assim, sua voz se deve fazer ouvir. Eles devem dar seu testemunho relativamente ao que constitui a verdade para este tempo.
Não devemos receber as palavras dos que vêm com uma mensagem em contradição com os pontos especiais de nossa fé. Eles reúnem uma porção de passagens, e amontoam-na como prova em torno das teorias que afirmam. Isto tem sido repetidamente feito durante os cinqüenta anos passados. E se bem que as Escrituras sejam a Palavra de Deus, e devam ser respeitadas, sua aplicação, uma vez que mova uma coluna do fundamento sustentado por Deus estes cinqüenta anos, constitui grande erro. Aquele que faz tal aplicação ignora a maravilhosa demonstração do Espírito Santo que deu poder e força às mensagens passadas, vindas ao povo de Deus.
As provas do Pastor G não são de confiar. Caso sejam recebidas, destruirão a fé do povo de Deus na verdade que fez de nós o que somos.
Importa que sejamos decididos quanto a esse assunto; pois os pontos que ele tem estado procurando provar pelas Escrituras não são seguros. Não provam que a experiência passada do povo de Deus fosse enganosa. Tínhamos a verdade; éramos dirigidos pelos anjos de Deus. Foi sob a direção do Espírito Santo que a apresentação do assunto do santuário foi proporcionada. É eloqüência da parte de cada um manter-se em silêncio a respeito dos aspectos de nossa fé em que não desempenhou qualquer parte. Deus nunca Se contradiz. São mal aplicadas provas bíblicas, uma vez que sejam forçadas para testificar daquilo que não é verdadeiro. Outros e mais outros [Pág. 17] se levantarão e introduzirão pseudo grande esclarecimento, e farão suas afirmações. Nós, porém, permanecemos com os velhos marcos. (I João 1:1-10.) Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 160-162.
Afirmada a Real Existência do Santuário Celestial
Repetidamente encontramos nos escritos de Ellen G. White afirmações sobre a realidade do santuário celestial, seu mobiliário, bem como seu ministério. Uma destas afirmações foi escrita na década de 1880, ao descrever ela a experiência dos crentes no advento após o desapontamento:
Como foi declarado, o santuário terrestre fora construído por Moisés, conforme o modelo a ele mostrado no monte. Era uma figura para o tempo então presente, no qual se ofereciam tanto dons como sacrifícios; seus dois lugares santos eram "figuras das coisas que estão no Céu" (Heb. 9:9 e 23); Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, é "ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". Heb. 8:2. Patriarcas e Profetas, pág. 356.
O santuário do Céu, no qual Jesus ministra em nosso favor, é o grande original, de que o santuário construído por Moisés foi uma cópia. ...
O esplendor sem-par do tabernáculo terrestre refletia à vista humana as glórias do templo celestial em que Cristo, nosso Precursor, ministra por nós perante o trono de Deus. O Grande Conflito, pág. 414.
Assim como o santuário na Terra tinha dois compartimentos: o santo e o santíssimo, assim há dois lugares santos no santuário no Céu. E a arca contendo a lei de Deus, o altar de incenso e outros instrumentos de serviço encontrados no santuário terrestre têm seu equivalente no santuário lá do alto. Em santa visão permitiu-se que o apóstolo João entrasse no Céu, e ele contemplou ali o candelabro e o altar de incenso, e, quando se abriu o templo de Deus, ele contemplou também "a arca do Seu concerto". Apoc. 11:19. Spirit of Prophecy, vol. 4, págs. 260 e 261.
Assim, os que estavam a estudar o assunto encontraram prova indiscutível da existência de um santuário no Céu. Moisés fez o santuário terrestre segundo o modelo que lhe foi mostrado. Paulo ensina que aquele modelo era o verdadeiro santuário que está no Céu. E João dá testemunho de que o viu no Céu. O Grande Conflito, pág. 415.
[Pág. 18] Antes ela havia escrito com ênfase sobre o mobiliário:
Foi-me também mostrado um santuário sobre a Terra, contendo dois compartimentos. Parecia-se com o do Céu, e foi-me dito que era uma figura do celestial. Os objetos do primeiro compartimento do santuário terrestre eram semelhantes aos do primeiro compartimento do celestial. O véu ergueu-se e eu olhei para o santo dos santos, e vi que a mobília era a mesma do lugar santíssimo do santuário celestial. Primeiros Escritos, págs. 252 e 253.
A Arca e a Lei no Santuário Celestial
Em diferentes ocasiões ela falou e escreveu sobre a arca no lugar santíssimo do santuário celestial. Uma dessas afirmações foi feita em um sermão pregado em Orebro, Suécia, em 1886.
Eu vos admoesto, não coloqueis vossa influência contra os mandamentos de Deus. A lei é tal como Jeová a escreveu no templo do Céu. O homem pode pisar sobre sua cópia aqui na Terra, mas o original está guardado na arca de Deus no Céu; e sobre a cobertura desta arca, logo abaixo da lei, está o propiciatório. Jesus permanece justo ali, perante a arca, para mediar em favor do homem. Ellen G. White, Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 1, pág. 1.109.
E em 1903 de novo ela escreveu sobre a real existência do santuário:
Muito eu poderia dizer sobre o santuário; a arca contém a lei de Deus; a cobertura da arca, que é o propiciatório; os anjos em ambas as extremidades da arca; e outras coisas relacionadas com o santuário celestial e com o grande dia da expiação. Eu poderia dizer muito sobre os mistérios do Céu, mas meus lábios estão fechados. Não tenho disposição para procurar descrevê-los. Carta 253, 1903.
Enganos dos Últimos Dias
não Envolverão a Verdade Vital
É claro que nosso adversário, Satanás, procurará abalar a fé do povo de Deus na doutrina do Santuário nestes "últimos dias". Ellen White escreveu:
O Salvador predisse que nos últimos dias apareceriam falsos profetas, e atrairiam os discípulos após si; e também que os que neste tempo de perigo permanecessem fiéis à verdade que está especificada no livro de Apocalipse, teriam de enfrentar erros doutrinários tão enganosos que, se possível, enganariam os próprios escolhidos.
[Pág. 19] Deus apreciaria que todo sentimento de fidelidade prevalecesse. Satanás pode habilmente disputar o jogo da vida com muitas pessoas, e ele age do modo mais disfarçado e enganador a fim de roubar a fé do povo de Deus e desencorajá-lo. ... Ele opera hoje como operou no Céu - dividir o povo de Deus justo nesta última fase da história da Terra. Procura criar dissensões e despertar contenda e discussões, e remover, se possível, os velhos marcos da verdade entregue ao povo de Deus. Ele procura fazer parecer como se o Senhor Se contradissesse a Si mesmo.
É quando Satanás aparece como anjo de luz que ele apanha as almas em seu laço, enganando-as. Homens que pretendem ter sido ensinados por Deus, adotarão teorias falsas, e em seu ensino adornarão essas teorias de modo a introduzirem enganos satânicos. Assim Satanás será apresentado como anjo de luz, e terá a oportunidade de mostrar suas agradáveis fábulas.
Esses falsos profetas terão de ser enfrentados. Eles farão esforço para enganar a muitos, levando-os a aceitar falsas teorias. Muitos textos bíblicos serão mal aplicados de tal modo que teorias enganadoras parecerão ser baseadas na palavra que Deus proferiu. A preciosa verdade será trabalhada de modo que fortaleça e confirme o erro. Esses falsos profetas, que pretendem ser ensinados por Deus, tomarão belos textos que foram dados para adornar a verdade, e os usarão como manto de justiça para cobrir teorias falsas e perigosas. E mesmo alguns dos que em tempos passados honraram ao Senhor, afastar-se-ão da verdade a ponto de advogar teorias extraviadoras referentes a muitos aspectos da verdade, inclusive a questão do santuário. Manuscrito 11, 1906 (destaque suprido).
Poucas semanas mais tarde ela acrescentou estas palavras sobre a importância de uma correta compreensão desta verdade:
Eu sei que a questão do santuário se firma em justiça e verdade, tal como a temos mantido por tantos anos. O inimigo é que desvia os espíritos para atalhos ao lado. Ele folga quando os que conhecem a verdade se absorvem em coligir textos escriturísticos para amontoar em torno de teorias errôneas, sem fundamento na verdade. As passagens bíblicas assim usadas, são mal-aplicadas; não foram dadas para confirmar o erro, mas para fortificar a verdade. Obreiros Evangélicos, pág. 303.
Com os Olhos Fixos no Santuário - Em tempo algum devemos perder de vista a importante obra [Pág. 20] que está sendo feita em nosso favor no santuário do Céu. Somos admoestados:
Como povo, devemos ser estudantes diligentes da profecia; não devemos sossegar sem que entendamos claramente o assunto do santuário, apresentado nas visões de Daniel e de João. Este assunto verte muita luz sobre nossa atitude e nossa obra atual, e dá-nos prova irrefutável de que Deus nos dirigiu em nossa experiência passada. Explica nosso desapontamento de 1844, mostrando-nos que o santuário a ser purificado não era a Terra, como supuséramos, mas que Cristo entrou então no lugar santíssimo do santuário celestial, e ali está realizando a obra final de Sua missão sacerdotal, em cumprimento das palavras do anjo, comunicadas ao profeta Daniel: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Dan. 8:14.
Nossa fé no tocante às mensagens do primeiro, segundo e terceiro anjos era correta. Os grandes marcos pelos quais passamos são inamovíveis. Conquanto as hostes do inferno intentem derrubá-los de seu fundamento, e exultar ao pensamento de que tiveram êxito, não atingirão o seu objetivo. Estes pilares da verdade permanecem tão firmes quanto os montes eternos, impassíveis ante todos os esforços combinados dos homens e de Satanás e suas hostes. Muito podemos aprender, e devemos estar constantemente pesquisando as Escrituras para ver se estas coisas são assim. Deve o povo de Deus ter agora os olhos fixos no santuário celestial, onde se está processando a ministração final de nosso grande Sumo Sacerdote na obra do juízo - e onde está intercedendo por Seu povo. Evangelismo, págs. 222 e 223.
Este Pequeno Livro
Com exceção de umas poucas notas de rodapé e as perguntas para estudo que se encontram no fim de cada capítulo, todo o material que se segue é exclusivamente da pena de Ellen G. White e consiste especialmente em capítulos extraídos de Patriarcas e Profetas e O Grande Conflito, com algum material mais de ligação, tirados de diferentes escritos já publicados de Ellen G. White. Em cada caso é indicada a fonte. Como muitos leitores terão à mão os livros de Ellen G. White, pareceu-nos desnecessário, em vista da desejável brevidade, incluir aqui porções de capítulos não imediatamente relevantes para o assunto: Cristo em Seu Santuário. Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White.

CAPÍTULO 2 - Cristo no Sistema Sacrifical
[Pág. 21] O pecado de nossos primeiros pais acarretou a culpa e a tristeza sobre o mundo, e se não fora a bondade e misericórdia de Deus, teria mergulhado a raça humana em irremediável desespero. Patriarcas e Profetas, pág. 61.
A queda do homem encheu o Céu todo de tristeza. O mundo que Deus fizera estava manchado pela maldição do pecado, e habitado por seres condenados à miséria e morte. Não parecia haver meio pelo qual pudessem escapar os que tinham transgredido a lei. ...
Entretanto o amor divino havia concebido um plano pelo qual o homem poderia ser remido. A lei de Deus, quebrantada, exigia a vida do pecador. Em todo o Universo não havia senão um Ser que, em favor do homem, poderia satisfazer as suas reivindicações. Visto que a lei divina é tão sagrada como o próprio Deus, unicamente um Ser igual a Deus poderia fazer expiação por sua transgressão. Patriarcas e Profetas, pág. 63.
Para o homem, a primeira indicação de redenção foi dada na sentença pronunciada sobre Satanás, no jardim. Declarou o [Pág. 22] Senhor: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar". Gên. 3:15. Esta sentença, proferida aos ouvidos de nossos primeiros pais, foi para eles uma promessa. Ao mesmo tempo em que predizia guerra entre o homem e Satanás, declarava que o poder do grande adversário finalmente seria quebrado. ... Posto que devessem sofrer pelo poder de seu forte adversário, poderiam olhar no futuro para a vitória final. Patriarcas e Profetas, págs. 65 e 66.
Anjos celestiais de maneira mais ampla patentearam a nossos primeiros pais o plano que fora concebido para a sua salvação. Afirmou-se a Adão e sua companheira que, apesar de seu grande pecado, não seriam eles abandonados ao domínio de Satanás. O Filho de Deus Se oferecera, para expiar, com Sua própria vida, a transgressão deles. Um período de graça lhes seria concedido e, mediante o arrependimento e a fé em Cristo, poderiam de novo tornar-se filhos de Deus. Patriarcas e Profetas, pág. 66.
O Caráter Sagrado da Lei de Deus
O sacrifício exigido por sua transgressão, revelava a Adão e Eva o caráter sagrado da lei de Deus; e viram, como nunca antes o fizeram, a culpabilidade do pecado, e seus funestos resultados. Patriarcas e Profetas, pág. 66.
A lei de Deus já existia antes que o homem fosse criado. Os anjos eram governados por ela. Satanás caiu porque transgrediu os princípios do governo de Deus. Depois que Adão e Eva foram criados, Deus lhes fez conhecida Sua lei. Ela não foi escrita então, mas repetida a eles por Jeová. ...
Após o pecado e queda de Adão, nada foi tirado da lei de Deus. Os princípios dos Dez Mandamentos existiam antes da queda, e eram de caráter adequado à condição de uma ordem de seres santos. Spirit of Prophecy, vol. 1, pág. 261.
Os princípios foram mais explicitamente afirmados perante o homem depois da queda e expressos de molde a enfrentar o caso de inteligências caídas. Isso foi necessário em virtude de ter a mente humana ficado cegada pela transgressão. Signs of the Times, 15 de abril de 1875.
Foi estabelecida então um sistema que requeria o sacrifício de animais, para que se mantivesse diante do homem caído aquilo que a serpente fizera Eva descrer: que a penalidade para a desobediência é a morte. A transgressão da lei de Deus tornou necessário que Cristo morresse como sacrifício, possibilitando [Pág. 23] assim ao homem escapar da penalidade, sendo ainda preservada a honra da lei de Deus. O sistema de sacrifícios devia ensinar ao homem a humildade, em vista de sua caída condição, e levá-lo a arrepender-se e a confiar em Deus somente, mediante o prometido Redentor, para o perdão de anterior transgressão da lei. Spirit of Prophecy, vol. 1, págs. 261 e 262.
O próprio sistema de sacrifícios foi planejado por Cristo, e dado a Adão como típico de um Salvador por vir. Signs of the Times, 15 de julho de 1880.
O Homem Oferece seu Primeiro Sacrifício
Para Adão, a oferta do primeiro sacrifício foi uma cerimônia dolorosíssima. Sua mão deveria erguer-se para tirar a vida, a qual unicamente Deus podia dar. Foi a primeira vez que testemunhava a morte, e sabia que se ele tivesse sido obediente a Deus não teria havido morte de homem ou animal. Ao matar a inocente vítima, tremeu com o pensamento de que seu pecado deveria derramar o sangue do imaculado Cordeiro de Deus. Esta cena deu-lhe uma intuição mais profunda e vívida da grandeza de sua transgressão, que coisa alguma a não ser a morte do amado Filho de Deus poderia expiar. E maravilhou-se com a bondade infinita que daria tal resgate para salvar o culpado. Uma estrela de esperança iluminou o futuro tenebroso e terrível, e o aliviou de sua desolação total. Patriarcas e Profetas, pág. 68.
A Adão foi ordenado que ensinasse a seus descendentes o temor do Senhor, e, por seu exemplo e humilde obediência, levá-los a considerar altamente as ofertas que tipificavam um Salvador que devia vir. Adão cuidadosamente entesourou o que Deus lhe havia revelado, e de forma oral transmitiu-o a seus filhos e aos filhos de seus filhos. Spirit of Prophecy, vol. 1, pág. 59.
Na porta do Paraíso, guardada pelos querubins, revelava-se a glória de Deus, e para ali vinham os primeiros adoradores. Ali erguiam os seus altares, e apresentavam suas ofertas. Patriarcas e Profetas, págs. 83 e 84.
Na oferta sacrifical sobre cada altar era visto um Redentor. Com a nuvem de incenso, subia de cada coração contrito a oração de que Deus aceitasse sua oferta como demonstração de fé no Salvador por vir. Review and Herald, 2 de março de 1886.
O sistema sacrifical, entregue a Adão, foi... [Pág. 24] pervertido por seus descendentes. Superstição, idolatria, crueldade e licenciosidade, corrompiam o culto simples e significativo que Deus instituíra. Mediante o prolongado trato com os idólatras, o povo de Israel misturara com seu culto muitos costumes gentílicos; portanto o Senhor lhes deu no Sinai instruções definidas com relação aos sacrifícios. Patriarcas e Profetas, pág. 364.

CAPÍTULO 3 -  O Santuário Celestial em Miniatura
[Pág. 25] Foi comunicada a Moisés, enquanto se achava no monte com Deus, esta ordem: "E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Êxo. 25:8), e foram dadas instruções completas para a construção do tabernáculo. Em virtude de sua apostasia, os israelitas ficaram despojados da bênção da presença divina, e por algum tempo impossibilitaram a construção de um santuário para Deus, entre eles. Mas, depois de novamente haverem sido recebidos no favor do Céu, o grande líder procedeu à execução da ordem divina.
Homens escolhidos foram especialmente dotados por Deus de habilidade e sabedoria para a construção do sagrado edifício. O próprio Deus deu a Moisés o plano daquela estrutura, com instruções específicas quanto ao seu tamanho e forma, materiais a serem empregados, e cada peça que fazia parte do aparelhamento que deveria a mesma conter. Os lugares santos, feitos a mão, deveriam ser "figura do verdadeiro", "figuras das coisas que estão no Céu" (Heb. 9:24 e 23) - uma representação em miniatura do templo celestial, onde Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, depois de oferecer Sua vida em sacrifício, ministraria em prol do pecador. Deus expôs perante Moisés, no monte, uma visão do santuário celestial, e mandou-lhe fazer [Pág. 26] todas as coisas de acordo com o modelo a ele mostrado. Todas estas instruções foram cuidadosamente registradas por Moisés, que as comunicou aos chefes do povo.
Para a edificação do santuário, grandes e dispendiosos preparativos eram necessários; grande quantidade dos materiais mais preciosos e caros era exigida; todavia o Senhor apenas aceitava ofertas voluntárias. "De todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a Minha oferta" (Êxo. 25:2), foi a ordem divina repetida por Moisés à congregação. A devoção a Deus e o espírito de sacrifício eram os primeiros requisitos ao preparar-se uma morada para o Altíssimo.
Todo o povo correspondeu unanimemente. "E veio todo o homem, a quem o seu coração moveu, e todo aquele cujo espírito voluntariamente o excitou, e trouxeram a oferta alçada ao Senhor para a obra da tenda da congregação; e para todo o seu serviço, e para os vestidos santos. E assim vieram homens e mulheres, todos dispostos de coração: trouxeram fivelas, e pendentes, e anéis, e braceletes, todo o vaso de ouro; e todo o homem oferecia oferta de ouro ao Senhor." Êxo. 35:21 e 22.
"E todo o homem que se achou com azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pêlos de cabra, e peles de carneiro tintas de vermelho, e peles de texugos, os trazia; todo aquele que oferecia oferta alçada de prata ou de metal, a trazia por oferta alçada ao Senhor; e todo aquele que se achava com madeira de setim, a trazia para toda a obra do serviço.
"E todas as mulheres sábias de coração fiavam com as suas mãos, e traziam o fiado, o azul e a púrpura, o carmesim, e o linho fino. E todas as mulheres, cujo coração as moveu em sabedoria, fiavam os pêlos das cabras. E os príncipes traziam pedras sardônicas, e pedras de engastes para o éfode e para o peitoral, e especiarias, e azeite para a luminária, e para o óleo da unção, e para o incenso aromático." Êxo. 35:23-28.
Enquanto a construção do santuário estava em andamento, o povo, velhos e jovens - homens, mulheres e crianças - continuou a trazer suas ofertas até que aqueles que tinham a seu cargo o trabalho acharam que tinham o suficiente, e mesmo mais do que se poderia usar. E Moisés fez com que se proclamasse por todo o acampamento: "Nenhum homem nem mulher faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais." Êxo. 36:6. As murmurações dos israelitas e as visitações dos juízos de Deus por causa [Pág. 27] de seus pecados, estão registradas como advertência às gerações posteriores. E sua devoção, zelo e liberalidade, são um exemplo digno de imitação. Todos os que amam o culto a Deus, e prezam as bênçãos de Sua santa presença, manifestarão o mesmo espírito de sacrifício ao preparar-se uma casa onde Ele possa encontrar-Se com eles. Desejarão trazer ao Senhor uma oferta do melhor que possuem. Uma casa construída para Deus não deve ser deixada em dívida, pois desta maneira Ele é desonrado. Uma porção suficiente para realizar o trabalho deve ser dada livremente, a fim de que os operários digam, como fizeram os construtores do tabernáculo: "Não tragais mais ofertas."
O Tabernáculo e sua Construção
O tabernáculo foi construído de tal maneira que podia ser todo desmontado e levado com os israelitas em todas as suas jornadas. Era, portanto, pequeno, não tendo mais de vinte metros de comprimento, e seis de largura e altura. Contudo, era uma estrutura magnificente. A madeira empregada para a edificação e seu aparelhamento era a acácia, menos sujeita a arruinar-se do que qualquer outra que se podia obter no Sinai. As paredes consistiam em tábuas verticais colocadas em encaixes de prata, e mantidas firmemente por colunas e barras que as ligavam; e todas estavam cobertas de ouro, dando ao edifício a aparência de ouro maciço. O teto era formado de quatro jogos de cortinas, sendo a mais interior de "linho fino torcido, e azul, púrpura, e carmesim; com querubins as farás de obra esmerada" (Êxo. 26:1); as outras três eram respectivamente de pêlo de cabras, pele de carneiro tingida de vermelho, e pele de texugo, dispostas de tal maneira que proporcionassem proteção completa.
O edifício era dividido em dois compartimentos por uma rica e linda cortina, ou véu, suspensa de colunas chapeadas de ouro; e um véu semelhante fechava a entrada ao primeiro compartimento. Estes véus, como a cobertura interior que formava o teto, eram das mais belas cores, azul, púrpura e escarlata, lindamente dispostas, ao mesmo tempo que trabalhados a fios de ouro e prata havia neles querubins para representarem a hoste angélica, que se acha em conexão com o trabalho do santuário celestial, e são espíritos ministradores ao povo de Deus na Terra.
A tenda sagrada ficava encerrada em um espaço descoberto chamado o pátio, que estava rodeado de cortinas ou anteparos, de linho fino, suspensos de colunas de cobre.
[Pág. 28] A entrada para esse recinto ficava na extremidade oriental. Era fechado com cortinas de custoso material e bela confecção, se bem que inferiores às do santuário. Sendo os anteparos do pátio apenas da metade da altura das paredes do tabernáculo aproximadamente, o edifício podia ser perfeitamente visto pelo povo do lado de fora. No pátio, e bem perto da entrada, achava-se o altar de cobre para as ofertas queimadas, ou holocaustos. Sobre este altar eram consumidos todos os sacrifícios feitos com fogo ao Senhor, e as suas pontas eram aspergidas com o sangue expiatório. Entre o altar e a porta do tabernáculo, estava a pia, que também era de cobre, feita dos espelhos que tinham sido ofertas voluntárias das mulheres de Israel. Na pia os sacerdotes deveriam lavar as mãos e os pés sempre que entravam nos compartimentos sagrados ou se aproximavam do altar para oferecerem uma oferta queimada ao Senhor.
No primeiro compartimento, ou lugar santo, estavam a mesa dos pães da proposição, o castiçal ou candelabro, e o altar de incenso. A mesa com os pães da proposição ficava do lado do norte. Com a sua coroa ornamental era ela coberta de ouro puro. Sobre esta mesa os sacerdotes deviam cada sábado colocar doze pães, dispostos em duas colunas, e aspergidos com incenso. Os pães que eram removidos, sendo considerados santos, deviam ser comidos pelos sacerdotes. Do lado do sul estava o castiçal de sete ramos, com as suas sete lâmpadas. Seus ramos eram ornamentados com flores artisticamente trabalhadas, semelhantes a lírios, e o todo era feito de uma peça de ouro maciço. Não havendo janelas no tabernáculo, nunca ficavam apagadas todas as lâmpadas a um tempo, mas espargiam sua luz dia e noite. Precisamente diante do véu que separava o lugar santo do santíssimo e da presença imediata de Deus, achava-se o áureo altar de incenso. Sobre este altar o sacerdote devia queimar incenso todas as manhãs e tardes; suas pontas eram tocadas com o sangue da oferta para o pecado, e era aspergido com sangue no grande dia de expiação. O fogo neste altar fora aceso pelo próprio Deus, e conservado de maneira sagrada. Dia e noite o santo incenso difundia sua fragrância pelos compartimentos sagrados, e fora, longe, em redor do tabernáculo.
Além do véu interior estava o santo dos santos, onde se centralizava a cerimônia simbólica da expiação e intercessão, e que formava o elo de ligação entre o Céu e a Terra. Nesse compartimento estava a arca, uma caixa feita de acácia, coberta de ouro por dentro e por fora, e tendo uma coroa de ouro em redor de [Pág. 29] sua parte superior. Fora feita para ser o receptáculo das tábuas de pedra, sobre as quais o próprio Deus escrevera os Dez Mandamentos. Daí o ser ela chamada a arca do testemunho de Deus, ou a arca do concerto, visto que os Dez Mandamentos foram a base do concerto feito entre Deus e Israel.
A cobertura da caixa sagrada chamava-se propiciatório. Este era feito de uma peça inteiriça de ouro, e encimado por querubins do mesmo metal, ficando um de cada lado. Uma asa de cada anjo estendia-se ao alto, enquanto a outra estava fechada sobre o corpo em sinal de reverência e humildade. Ezeq. 1:11. A posição dos querubins, tendo o rosto voltado um para o outro, e olhando reverentemente abaixo para a arca, representava a reverência com que a hoste celestial considera a lei de Deus, e seu interesse no plano da redenção.
Acima do propiciatório estava o shekinah, manifestação da presença divina; e dentre os querubins Deus tornava conhecida a Sua vontade. Mensagens divinas às vezes eram comunicadas ao sumo sacerdote por uma voz da nuvem. Algumas vezes uma luz caía sobre o anjo à direita, para significar aprovação ou aceitação; ou uma sombra ou nuvem repousava sobre o que ficava ao lado esquerdo, para revelar reprovação ou rejeição.
A lei de Deus, encerrada na arca, era a grande regra de justiça e juízo. Aquela lei sentenciava a morte ao transgressor; mas acima da lei estava o propiciatório, sobre o qual se revelava a presença de Deus, e do qual, em virtude da obra expiatória, se concedia o perdão ao pecador arrependido. Assim na obra de Cristo pela nossa redenção simbolizada pelo ritual do santuário, "a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram". Sal. 85:10.
Nenhuma linguagem pode descrever a glória do cenário apresentado dentro do santuário - as paredes chapeadas de ouro que refletiam a luz do áureo castiçal, os brilhantes matizes das cortinas ricamente bordadas com seus resplendentes anjos, a mesa e o altar de incenso, brilhante pelo ouro; além do segundo véu a arca sagrada, com os seus querubins, e acima dela o santo shekinah, manifestação visível da presença de Jeová; tudo não era senão um pálido reflexo dos esplendores do templo de Deus no Céu, o grande centro da obra pela redenção do homem.
Aproximadamente meio ano foi ocupado na construção do tabernáculo. Quando este se completou, Moisés examinou toda a obra dos construtores, [Pág. 30] comparando-a com o modelo a ele mostrado no monte, e com as instruções que de Deus recebera. "Como o Senhor a ordenara, assim a fizeram; então Moisés os abençoou." Êxo. 39:43. Com ávido interesse as multidões de Israel juntaram-se em redor para ver a estrutura sagrada. Enquanto estavam a contemplar aquela cena com satisfação reverente, a coluna de nuvem pairou sobre o santuário e, descendo, envolveu-o. "E a glória do Senhor encheu o tabernáculo." Êxo. 40:34. Houve uma revelação da majestade divina, e por algum tempo mesmo Moisés não pôde entrar ali. Com profunda emoção o povo viu a indicação de que a obra de suas mãos fora aceita. Não houve ruidosas manifestações de regozijo. Temor solene repousava sobre todos. Mas sua alegria de coração transbordou em lágrimas de regozijo, e murmuravam em voz baixa ardorosas palavras de gratidão de que Deus houvesse condescendido em habitar com eles.
Os Sacerdotes e Suas Vestimentas
Por determinação divina a tribo de Levi foi separada para o serviço do santuário. Nos tempos primitivos cada homem era o sacerdote de sua própria casa. Nos dias de Abraão, o sacerdócio era considerado direito de primogenitura do filho mais velho. Agora, em lugar dos primogênitos de todo o Israel, o Senhor aceitou a tribo de Levi para a obra do santuário. Por meio desta honra distinta manifestou Ele Sua aprovação à fidelidade da mesma, tanto por aderir ao Seu serviço como por executar Seus juízos quando Israel apostatou com o culto ao bezerro de ouro. O sacerdócio, todavia, ficou restrito à família de Arão. A este e seus filhos, somente, permitia-se ministrar perante o Senhor; o resto da tribo estava encarregada do cuidado do tabernáculo e de seu aparelhamento, e deveria auxiliar os sacerdotes em seu ministério, mas não deveria sacrificar, queimar incenso, ou ver as coisas sagradas antes que estivessem cobertas.
De acordo com as suas funções, foi indicada ao sacerdote uma veste especial. "Farás vestidos santos a Arão teu irmão, para glória e ornamento" (Êxo. 28:2) - foi a instrução divina a Moisés. A veste do sacerdote comum era de linho alvo, e tecida em uma só peça. Estendia-se até quase aos pés, e prendia-se à cintura por um cinto branco de linho, bordado de azul, púrpura e vermelho. Um turbante de linho, ou mitra, completava seu traje exterior. A Moisés, perante a sarça ardente, foi determinado que tirasse as sandálias, porque a terra em que estava era santa. Semelhantemente os sacerdotes não deveriam [Pág. 31] entrar no santuário com sapatos nos pés. Partículas de pó que a eles se apegavam, profanariam o lugar santo. Deviam deixar os sapatos no pátio, antes de entrarem no santuário, e também lavar tanto as mãos como os pés, antes de ministrarem no tabernáculo, ou no altar dos holocaustos. Desta maneira ensinava-se constantemente a lição de que toda a contaminação devia ser removida daqueles que se aproximavam da presença de Deus.
As vestes do sumo sacerdote eram de custoso material e de bela confecção, em conformidade com a sua elevada posição. Em acréscimo ao traje de linho do sacerdote comum, usava uma vestimenta de azul, também tecida em uma única peça. Ao longo das franjas era ornamentada com campainhas de ouro, e romãs de azul, púrpura e escarlate. Por sobre isso estava o éfode, uma vestidura mais curta, de ouro, azul, púrpura, escarlate e branco. Era preso por um cinto das mesmas cores, belamente trabalhado. O éfode não tinha mangas, e em suas ombreiras bordadas de ouro achavam-se colocadas duas pedras de ônix, que traziam os nomes das doze tribos de Israel.
Sobre o éfode estava o peitoral, a mais sagrada das vestimentas sacerdotais. Este era do mesmo material que o éfode. Era de forma quadrada, media um palmo, e estava suspenso dos ombros por um cordão de azul, por meio de argolas de ouro. As bordas eram formadas de uma variedade de pedras preciosas, as mesmas que formam os doze fundamentos da cidade de Deus. Dentro das bordas havia doze pedras engastadas de ouro, dispostas em fileiras de quatro, e como as das ombreiras, tendo gravados os nomes das tribos. As instruções do Senhor foram: "Arão levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do juízo sobre o seu coração, quando entrar no santuário, para memória diante do Senhor continuamente." Êxo. 28:29. Assim Cristo, o grande Sumo Sacerdote, pleiteando com Seu sangue diante do Pai, em prol do pecador, traz sobre o coração o nome de toda alma arrependida e crente. Diz o salmista: "Eu sou pobre e necessitado; mas o Senhor cuida de mim." Sal. 40:17.
O Urim e Tumim
À direita e à esquerda do peitoral havia duas grandes pedras de grande brilho. Estas eram conhecidas por Urim e Tumim. Por meio delas fazia-se saber a vontade de Deus pelo sumo sacerdote. Quando se traziam perante o Senhor questões para serem decididas, uma auréola de luz que rodeava a pedra preciosa à direita, era sinal do consentimento ou aprovação divina, [Pág. 32] ao passo que uma nuvem que ensombrava a pedra à esquerda, era prova de negação ou reprovação.
A mitra do sumo sacerdote consistia no turbante de alvo linho, tendo presa ao mesmo, por um laço de azul, uma lâmina de ouro que trazia a inscrição: "Santidade ao Senhor." Êxo. 28:36. Todas as coisas ligadas ao vestuário e conduta dos sacerdotes deviam ser de molde a impressionar aquele que as via, dando-lhe uma intuição da santidade de Deus, santidade de Seu culto, e pureza exigida daqueles que iam à Sua presença.
As Cerimônias do Santuário
Não somente o santuário em si mesmo, mas o ministério dos sacerdotes, deviam servir "de exemplar e sombra das coisas celestiais". Heb. 8:5. Assim, foi isto de grande importância; e o Senhor, por meio de Moisés, deu a mais definida e explícita instrução concernente a cada ponto deste ritual típico. O ministério no santuário consistia em duas partes: um serviço diário e outro anual. O cerimonial diário era efetuado no altar dos holocaustos, no pátio do tabernáculo, bem como no lugar santo; ao passo que o rito anual o era no lugar santíssimo.
Nenhum olho mortal a não ser o do sumo sacerdote devia ver o compartimento interno do santuário. Apenas uma vez ao ano podia o sacerdote entrar ali, e isto depois da mais cuidadosa e solene preparação. Com tremor entrava perante Deus, e o povo, com reverente silêncio, aguardava a sua volta, tendo erguido o espírito em oração fervorosa pela bênção divina. Diante do propiciatório o sumo sacerdote fazia expiação por Israel; e na nuvem de glória Deus Se encontrava com ele. Sua demora ali, além do tempo costumeiro, enchia-os de receio de que, por causa de seus pecados ou dos dele, houvesse sido morto pela glória do Senhor.
O culto cotidiano consistia no holocausto da manhã e da tarde, na oferta de incenso suave no altar de ouro, e nas ofertas especiais pelos pecados individuais. E também havia ofertas para os sábados, luas novas e solenidades especiais.
Toda manhã e tarde, um cordeiro de um ano era queimado sobre o altar, com sua apropriada oferta de manjares, [Pág. 33] simbolizando assim a consagração diária da nação a Jeová, e sua constante necessidade do sangue expiatório de Cristo. Deus ordenara expressamente que toda oferta apresentada para o ritual do santuário fosse "sem mácula". Êxo. 12:5. Os sacerdotes deviam examinar todos os animais levados para sacrifício, e rejeitar todo aquele em que se descobrisse algum defeito. Apenas uma oferta "sem mácula" poderia ser um símbolo da perfeita pureza dAquele que Se ofereceria como "um cordeiro imaculado e incontaminado". I Ped. 1:19. O apóstolo Paulo aponta para esses sacrifícios como uma ilustração do que os seguidores de Cristo devem tornar-se. Diz ele: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." Rom. 12:1. Devemos entregar-nos ao serviço de Deus e procurar que a oferta se aproxime o máximo possível da perfeição. Deus não Se agradará de coisa alguma inferior ao melhor que podemos oferecer. Aqueles que O amam de todo o coração, desejarão dar-Lhe o melhor serviço de sua vida, e estarão constantemente procurando pôr toda a faculdade de seu ser em harmonia com as leis que promoverão sua habilidade para fazerem a Sua vontade.
Na oferta do incenso o sacerdote era levado mais diretamente à presença de Deus do que em qualquer outro ato do ministério diário. Como o véu interno do santuário não se estendia até ao alto do edifício, a glória de Deus, manifestada por cima do propiciatório, era parcialmente visível no primeiro compartimento. Quando o sacerdote oferecia incenso perante o Senhor, olhava em direção à arca; e, subindo a nuvem de incenso, a glória divina descia sobre o propiciatório e enchia o lugar santíssimo, e muitas vezes ambos os compartimentos, de tal maneira que o sacerdote era obrigado a afastar-se para a porta do santuário. Como naquele cerimonial típico o sacerdote olhava pela fé ao propiciatório que não podia ver, assim o povo de Deus deve hoje dirigir suas orações a Cristo, seu grande Sumo Sacerdote que, invisível aos olhares humanos, pleiteia em seu favor no santuário celestial.
O incenso que subia com as orações de Israel, representa os méritos e intercessão de Cristo. Sua perfeita justiça, que pela fé é atribuída ao Seu povo, e que unicamente pode tornar aceitável a Deus o culto de seres pecadores. Diante do véu do lugar santíssimo, estava um altar de intercessão perpétua; diante do lugar santo, um altar de expiação contínua. Pelo sangue e pelo [Pág. 34] incenso deveriam aproximar-se de Deus - símbolos aqueles que apontam para o grande Mediador, por intermédio de quem os pecadores podem aproximar-se de Jeová, e por meio de quem unicamente, a misericórdia e a salvação podem ser concedidas à alma arrependida e crente.
Quando os sacerdotes, pela manhã e à tardinha, entravam no lugar santo à hora do incenso, o sacrifício diário estava pronto para ser oferecido sobre o altar, fora, no pátio. Esta era uma ocasião de intenso interesse para os adoradores que se reuniam junto ao tabernáculo. Antes de entrarem à presença de Deus pelo ministério do sacerdote, deviam empenhar-se em ardoroso exame de coração e confissão de pecado. Uniam-se em oração silenciosa, com o rosto voltado para o lugar santo. Assim ascendiam suas petições com a nuvem de incenso, enquanto a fé se apoderava dos méritos do Salvador prometido prefigurado pelo sacrifício expiatório. As horas designadas para o sacrifício da manhã e da tardinha eram consideradas sagradas, e, por toda a nação judaica, vieram a ser observadas como um tempo reservado para a adoração. E, quando, em tempos posteriores, os judeus foram espalhados como cativos em países distantes, ainda naquela hora designada voltavam o rosto para Jerusalém e proferiam suas petições ao Deus de Israel. Neste costume têm os cristãos um exemplo para a oração da manhã e da noite. Conquanto Deus condene um mero ciclo de cerimônias, sem o espírito de adoração, olha com grande prazer àqueles que O amam, prostrando-se de manhã e à noite, a fim de buscar o perdão dos pecados cometidos e apresentar seus pedidos de bênçãos necessitadas.
Os pães da proposição eram conservados sempre perante o Senhor como uma oferta perpétua. Assim, era isto uma parte do sacrifício cotidiano. Era chamado o pão da proposição, ou "pão da presença", porque estava sempre diante da face do Senhor. Êxo. 25:30. Era um reconhecimento de que o homem depende de Deus, tanto para o pão temporal como o espiritual, e de que este é recebido apenas pela mediação de Cristo. Deus alimentara Israel no deserto com pão do Céu e ainda dependiam eles de Sua generosidade tanto para o pão temporal como para as bênçãos espirituais. Tanto o maná como o pão da proposição apontavam para Cristo, o pão vivo, que sempre está na presença de Deus por nós. Ele mesmo disse: "Eu sou o pão vivo que desceu do Céu." João 6:48-51. O incenso era posto sobre os pães. Quando o pão era retirado cada sábado, para [Pág. 35] ser substituído por outro, fresco, o incenso era queimado sobre o altar, em memória, perante Deus.
A parte mais importante do ministério diário era a oferta efetuada em prol do indivíduo. O pecador arrependido trazia a sua oferta à porta do tabernáculo e, colocando a mão sobre a cabeça da vítima, confessava seus pecados, transferindo-os assim, figuradamente, de si para o sacrifício inocente. Pela sua própria mão era então morto o animal, e o sangue era levado pelo sacerdote ao lugar santo e aspergido diante do véu, atrás do qual estava a arca que continha a lei que o pecador transgredira. Por esta cerimônia, mediante o sangue, o pecado era figuradamente transferido para o santuário. Nalguns casos o sangue não era levado ao lugar santo; mas a carne deveria então ser comida pelo sacerdote, conforme instruiu Moisés aos filhos de Arão, dizendo: "O Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação." Lev. 10:17. Ambas as cerimônias simbolizavam semelhantemente a transferência do pecado, do penitente para o santuário.
Quando uma oferta pelo pecado era apresentada em favor de um sacerdote ou por toda a congregação, o sangue era levado ao lugar santo, e aspergido diante do véu, e posto nos cornos do altar de ouro. A gordura era consumida sobre o altar dos holocaustos, no pátio, mas o corpo da vítima era queimado fora do acampamento. Lev. 4:1-21.
Quando, porém, a oferta era em benefício de um príncipe ou alguém do povo, o sangue não era levado ao lugar santo, mas a carne devia ser comida pelo sacerdote, conforme o Senhor determinou a Moisés: "O sacerdote que a oferecer pelo pecado, a comerá; no lugar santo se comerá, no pátio da tenda da congregação." Lev. 6:26. Lev. 4:22-35.
Assim em outro lugar o autor descreve: "Os pecados do povo foram em figura transferidos para o sacerdote oficiante, que era um mediador para o povo. O sacerdote não podia ele mesmo tornar-se oferta pelo pecado e com sua vida fazer a expiação, pois era também pecador. Por isso, em vez de sofrer ele mesmo a morte, sacrificava um cordeiro sem mácula; a pena do pecado era transferida para o inocente animal, que assim se tornava seu substituto imediato, simbolizando a perfeita oferta de Jesus Cristo. Através do sangue dessa vítima o homem, pela fé, contemplava o sangue de Cristo, que serviria de expiação aos pecados do mundo." Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 230.
Tal era a obra que dia após dia continuava, durante o ano todo. Os pecados de Israel, sendo assim transferidos para o santuário, ficavam contaminados os lugares santos, e uma obra especial se tornava necessária para sua remoção. Deus ordenara que se fizesse expiação por cada um dos compartimentos sagrados, assim como pelo altar, para o purificar "das imundícias dos filhos de Israel", e o santificar. Lev. 16:19.
O Dia da Expiação
Uma vez ao ano, no grande dia da expiação, o sacerdote entrava [Pág. 36] no lugar santíssimo para a purificação do santuário. O cerimonial ali efetuado completava o ciclo anual do ministério.
No dia da expiação dois bodes eram trazidos à porta do tabernáculo, e lançavam-se sortes sobre eles, "uma sorte pelo Senhor, e a outra sorte pelo bode emissário". O bode sobre o qual caía a primeira sorte deveria ser morto como oferta pelos pecados do povo. E o sacerdote deveria levar seu sangue para dentro do véu, e aspergi-lo sobre o propiciatório. "Assim fará expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas transgressões, segundo todos os seus pecados; e assim fará para a tenda da congregação que mora com eles no meio das suas imundícias." Lev. 16:16.
"E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária." Lev. 16:21 e 22. Antes que o bode tivesse desta maneira sido enviado não se considerava o povo livre do fardo de seus pecados. Cada homem deveria afligir sua alma, enquanto prosseguia a obra da expiação. Toda ocupação era posta de lado, e toda a congregação de Israel passava o dia em humilhação solene perante Deus, com oração, jejum e profundo exame de coração.
Importantes verdades concernentes à obra expiatória eram ensinadas ao povo por meio deste serviço anual. Nas ofertas para o pecado apresentadas durante o ano, havia sido aceito um substituto em lugar do pecador; mas o sangue da vítima não fizera completa expiação pelo pecado. Apenas provera o meio pelo qual este fora transferido para o santuário. Pela oferta do sangue, o pecador reconhecia a autoridade da lei, confessava a culpa de sua transgressão, e exprimia sua fé nAquele que tiraria o pecado do mundo; mas não estava inteiramente livre da condenação da lei. No dia da expiação, o sumo sacerdote, havendo tomado uma oferta para a congregação, ia ao lugar santíssimo com o sangue e o aspergia sobre o propiciatório, em cima das tábuas da lei. Assim se satisfaziam os reclamos da lei, que exigia a vida do pecador. Então, em seu caráter de mediador, o sacerdote tomava sobre si os pecados e, saindo do santuário, levava consigo o fardo das culpas de Israel. À porta do tabernáculo colocava as mãos sobre a cabeça do bode emissário e confessava [Pág. 37] sobre ele "todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados", pondo-as sobre a cabeça do bode. E, assim como o bode que levava esses pecados era enviado dali; tais pecados, juntamente com o bode, eram considerados separados do povo para sempre. Este era o cerimonial efetuado como "exemplar e sombra das coisas celestiais". Heb. 8:5.
"Figura das Coisas que Estão no Céu"
Como foi declarado, o santuário terrestre fora construído por Moisés, conforme o modelo a ele mostrado no monte. Era uma figura para o tempo então presente, no qual se ofereciam tanto dons como sacrifícios; seus dois lugares santos eram "figuras das coisas que estão no Céu" (Heb. 9:9 e 23); Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, é "ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". Heb. 8:2. Sendo em visão concedida a João uma vista do templo de Deus no Céu, contemplou ele ali "sete lâmpadas de fogo" (Apoc. 4:5) que ardiam diante do trono. Viu um anjo, "tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono". Apoc. 8:3. Com isto permitiu-se ao profeta ver o primeiro compartimento do santuário celestial; e viu ali as "sete lâmpadas de fogo" e o "altar de ouro" representados pelo castiçal de ouro e o altar de incenso no santuário terrestre. Novamente, "abriu-se no Céu o templo de Deus" (Apoc. 11:19), e ele olhou para dentro do véu interno, no santo dos santos. Ali viu a "arca do Seu concerto", representada pelo escrínio sagrado construído por Moisés a fim de conter a lei de Deus.
Moisés fizera o santuário terrestre "segundo o modelo que tinha visto". (Atos 7:44) Paulo declara que "o tabernáculo e todos os vasos do ministério", quando se acharam completos, eram "figuras das coisas que estão no Céu". Heb. 9:21 e 23. E João diz que viu o santuário no Céu. Aquele santuário em que Jesus ministra em nosso favor, é o grande original, de que o santuário construído por Moisés era uma cópia.
Do templo celestial, morada do Rei dos reis, onde milhares de milhares O servem, e milhões de milhões estão diante dEle (Dan. 7:10), templo repleto da glória do trono eterno, onde serafins, seus guardas resplandecentes, velam o rosto em adoração; sim, desse templo, nenhuma estrutura terrestre poderia representar a vastidão e glória. Todavia, importantes [Pág. 38] verdades relativas ao santuário celestial e à grande obra ali prosseguida em prol da redenção do homem, deveriam ser ensinadas pelo santuário terrestre e seu cerimonial.
Depois de Sua ascensão, nosso Salvador iniciaria Sua obra como nosso Sumo Sacerdote. Diz Paulo: "Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus." Heb. 9:24. Assim como o ministério de Cristo devia consistir em duas grandes divisões, ocupando cada uma delas um período de tempo e tendo um lugar distinto no santuário celeste, semelhantemente o ministério típico consistia em duas divisões - o serviço diário e o anual - e a cada um deles era dedicado um compartimento do tabernáculo.
Assim como Cristo, por ocasião de Sua ascensão, compareceu à presença de Deus, a fim de pleitear com Seu sangue em favor dos crentes arrependidos, assim o sacerdote, no ministério diário, aspergia o sangue do sacrifício no lugar santo em favor do pecador.
O sangue de Cristo, ao mesmo tempo que livraria da condenação da lei o pecador arrependido, não cancelaria o pecado; este ficaria registrado no santuário até à expiação final; assim, no cerimonial típico, o sangue da oferta pelo pecado removia do penitente o pecado, mas este permanecia no santuário até ao dia da expiação.
Purificação do Registro de Pecados
No grande dia da paga final, os mortos devem ser "julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras". Apoc. 20:12. Então, pela virtude do sangue expiatório de Cristo, os pecados de todo o verdadeiro arrependido serão eliminados dos livros do Céu. Assim o santuário estará livre ou purificado, do registro de pecado. No tipo, esta grande obra de expiação, ou cancelamento de pecados, era representada pelas cerimônias do dia da expiação, a saber, pela purificação do santuário terrestre, a qual se realizava pela remoção dos pecados com que ele ficara contaminado, remoção efetuada pela virtude do sangue da oferta para o pecado.
Assim como na expiação final os pecados dos verdadeiros arrependidos serão apagados dos registros do Céu, para não mais serem lembrados nem virem à mente, assim no serviço típico eram levados ao deserto, para sempre separados da congregação.
[Pág. 39] Visto que Satanás é o originador do pecado, o instigador direto de todos os pecados que ocasionaram a morte do Filho de Deus, exige a justiça que Satanás sofra a punição final. A obra de Cristo para a redenção dos homens e purificação do Universo da contaminação do pecado, encerrar-se-á pela remoção dos pecados do santuário celestial e deposição dos mesmos sobre Satanás, que cumprirá a pena final. Assim no cerimonial típico, o ciclo anual do ministério encerrava-se com a purificação do santuário e confissão dos pecados sobre a cabeça do bode emissário. Em tais condições, no ministério do tabernáculo e do templo que mais tarde tomou o seu lugar, ensinavam-se ao povo cada dia as grandes verdades relativas à morte e ministério de Cristo, e uma vez ao ano sua mente era transportada para os acontecimentos finais do grande conflito entre Cristo e Satanás, e para a final purificação do Universo, de pecado e pecadores. Patriarcas e Profetas, págs. 343-358.